domingo, 30 de dezembro de 2007

Feliz 2008!

Quando era pequenina ficava sempre um bocadinho triste porque na minha cabeça, aquela estória do novo ano, bebé, e do velho ano, velhinho e cansado, vergado pelo tempo, que nos deixa, sem que ninguém se compadeça dele, tinha o seu efeito em mim.
Pequena demais para entender metáforas, mas crescida o suficiente para entender o significado das palavras e o seu conteúdo, esfalfava-me à procura do velhinho abandonado que ninguém queria.
Quando, um ano, lá expliquei porquê que andava tão afincadamente às voltas do tronco do freixo e do eucalipto (vá-se lá perceber porquê, mas achava que seria por ali que o tal velhinho se ampararia antes de desaparecer para sempre), explicaram-me que a coisa não era bem assim, e que não havia velhinho nenhum, mas também se riram muito à minha custa.

Passados os anos, e sabendo muito bem que não existe velhinho nenhum (nem bebé nenhum, também), fica sempre uma nostalgiazinha pelo ano que nos deixa. Gosto do 7. Gosto do número. É até um número cabalistico, tem um significado especial. Chegada ao final deste ano, sei muito bem que tem um significado muito especial mesmo. Mas isso é pessoal.

Não foi um ano fácil. Já não me lembro de quando tive um ano fácil, também. Mas isso não me importa. Se mo perguntassem agora, diria que foi o mais duro de toda a minha vida. Mas não digo, porque talvez o tempo suavize as dores e as memórias, e daqui a algum tempo, tudo quanto ainda tem arestas tão asperas se torne mais suportável. Há perdas que não se podem compensar (mas que, com ajuda, afinal, se podem adoçar um bocadinho). E, infelizmente, só quando elas acontecessem nos deparamos com a dimensão inimaginável que têm.

Mas foi um ano muito especial. Talvez o melhor de todos, até agora (eu sei que parece contraditório, mas não é).
E, no fundo, é mesmo isto que há a reter.

Todos os anos, me baralho com as passas e os desejos. Perco-me na conta, perco-me nos desejos, confundo-me, e para além da dificuldade em engolir as passas (de que nem gosto, diga-se) não sei bem o que peço. O normal, acho. Mas sei que sobram sempre passas e badaladas.
Sempre me disseram que não sei pedir, nem deixo que me ajudem.

Apesar da tal nostalgia pela velho ano e apesar de sempre ter gostado, e continuar a gostar do número 7, acho que me vou deixando enternecer pelo número 8.
Nunca lhe achei graça, mas agora olho-o e vejo-o redondinho, rechonchudo e risonho, como esse tal bebé de ano novo, e apetece envolvê-lo num xaile de lã macio e quente, e aconhegá-lo ao colo. Este oito redondinho, desperta-me um sorriso e a minha parte boa.

Conquistada pelo que o ano de 2007 me trouxe, conquistada pelo que me tirou, conquistada com o que ficou, e ficará sempre, depois de tudo; desta vez, acolho de boa vontade e braços abertos este 2008. Sem euforias, mas sem amarguras. Em paz.

E este ano, não vou tentar engolir todas as passas, nem fazê-las coincidir com badaladas, nem vou pedir desejos.
Minto. Vou pedir sim. Vou pedir aquilo que já peço, agora: vou pedir que não volte a magoar quem gosto, que consiga sempre compreender os verdadeiros sentimentos e motivações por detrás das palavras que não entendo ou dos gestos que não percebo, vou pedir que não volte a ser precipitada nem injusta, nunca. Vou também pedir que consiga ter a capacidade de aceitar tudo o que a vida me der sem medos. Sem aqueles medos incontroláveis e medonhos que nos impedem de viver as coisas.
E não vou pedir mais nada, porque aprendi este ano, que não vale a pena pedir, porque, de facto, não sei fazê-lo. Não vou pedir porque este ano recebi muito mais do que poderia ter pedido. Porque nem sabia que podia pedir, porque nem sabia que algumas coisas existiam. Como é que se pode pedir o que não se conhece nem imagina? Não vou pedir, porque recebi muito mais do que alguma vez podia ter pedido. É isso.

Estamos quase a entrar no último dia de 2007, e se é altura de mudar de ano, que venha então o 2008!
Feliz Ano Novo!
Feliz 2008!

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Não sei bem que título pôr...

Ouço o telemóvel tocar e olho em volta. Não o vejo.
Procuro com mais atenção sobre a secretária e não o encontro. Ele continua a tocar, e eu a ouvi-lo perto.
Olho para a estante ao lado, e não o consigo ver.

Levanto-me, olho em volta e nada. Ele continua a tocar. E eu ouço-o perto.
Rodo sobre mim mesma e procuro ver onde pode estar, e de onde vem o som.
Dou uns passos e o som acompanha-me. Mas eu não o vejo nem imagino onde possa estar, e isso incomoda-me.

Levo a mão ao bolso e estava lá. O telemóvel estava no bolso. Esteve sempre ali, claro. E eu como uma tonta à procura dele, e com ele no bolso a tocar.
Uma daquelas coisas que só podem acontecer aos outros.
Uns diazitos de férias não fariam mal, não...

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

The day after

A tentar retomar a normalidade.
Não está ser fácil.

Ainda há demasiados vestígios e despojos destes dias.

Ir dormir mais cedo hoje e ler um bocadinho na cama, vai-me saber pela vida.

(Tenho muita pena de, neste Natal, não ter tido a capacidade de gerir o tempo de maneira a conseguir desejar um Feliz Natal a todas as pessoas que queria - e que mereciam. O Natal foi aquele que era possível que tivesse sido, mas isto, devia ter sido diferente.)

domingo, 23 de dezembro de 2007

Feliz Natal


Amassei os shortbread e cozem no forno a esta hora.
Amanhã, ainda de manhã, vou preparar raspas de laranja e limão, amassar farinha com açucar e ovos e abóbora cozida e aguardente. Depois vou afabar a massa e esperar que levede. Finalmente, já da parte da tarde, e já com mais gente em casa, fritarei as filhoses e o cheiro do Natal, espanha-se já pela casa.

Amanhã, durante a noite, entre a lenha do costume, arderá um tronco grande - tão grande quanto a lareira o permitir - e um resto dele, um pedaço de carvão, será guardado para se juntar ao lume do Natal do próximo ano.

Durante a ceia, arderão velas sobre a mesa, porque é assim que deve ser.
E mesmo que se retire da mesa todas as comidas, e todos os bolos, entres eles os bolos-reis, broas e filhoses, permacerão sobre a mesa os shortbread até ao fim do dia 25.

E no meio da confusão e do desgaste que se instalou nesta época, procuro alhear-me de quase tudo e prendo-me ao Natal através das mãos enfarinhadas.
É de farinha e açucar (entre outras coisas) que é feito o meu Natal, é de farinha e açucar a ponte que me leva às raízes, ao shortbread da Escócia, às filhoses da Beira (da Beira, de perto de Coimbra), aos mexidos do Minho (de Barcelos). E, de mãos assim enfarinhadas, como por magia, não existe distância nem tempo.
Eles, todos os eles, os que partiram há muitos séculos ou há muito pouco tempo, estão aqui, e eu estou lá com eles, eu faço parte deles e eles parte de mim.
E a separação que é feita de tempos e de espaços desaparece. De mãos assim enfarinhadas, não há ausências.
Não sei se são as minhas mãos que amassam ou as deles, nem sei se aprendi a fazer estes bolos, ou se esse saber fazia parte de mim. Faço-os a olho, e repito gestos e rituais como se me fossem inatos.

É de farinha e de açucar que é feito o que me aconchega no Natal, o que junta o passado todo, inteirinho, com todas as pessoas que lá moram, com o futuro feito de risos de crianças de gerações que não conheço, mas que quase ouço, com as mãos enfiadas em farinha e açucar.

É de farinha e açucar que é feito o meu milagre de Natal.
E porque o Natal é feito disto mesmo, de milagres, de luz, mesmo que nem sempre seja fácil vê-los, porque o Natal celebra o milagre da Vida (mesmo quando tudo possa parecer, aparentemente, escuro e sem sentido), porque esses milagres existem mesmo, desejo a todos um muito Feliz Natal!

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Destes dias...

Não é bonito dizer-se que não se gosta do Natal. E também não é isso que diria. Mas não gosto destes dias que correm.
Não gosto. Não me sinto bem neles. Não me encontro e desde que me levanto até que me deito, não consigo mais do que uma vã tentativa para me equilibrar entre o que tenho a fazer, as horas que me escorrem por entre os dedos e, se tenho de sair, o frustante esforço para não me sentir completamente desnorteada entre as ondas imensas de pessoas que se acotevelam em redor e dentro das lojas, enquanto eu tento, apenas, e a custo - muito custo - fazer aquilo a que sou obrigada.

Nestes dias nem devia ter agenda. Já o tinha percebido nos anos anteriores, e este ano ainda mais.
Chegada a Dezembro, e ao seu primeiro feriado (de que gosto, e o qual respeito muito), devia, pura e simplesmente, (não digo deitar fora, porque me custa fazê-lo, mas...) atirar a agenda para dentro de uma gaveta onde pudesse viver longos anos sem que voltar a encontrar-me.
É que não adianta nada programar as coisas. Por uma qualquer arte mágica que desconheço, a partir desta data, não consigo fazer nada daquilo a que me proponho ou daquilo que queria fazer, e limito-me a fazer as coisas urgentes e inadiáveis que surgem (multiplicadas por 100) nesta época (não sei bem porquê, também).

Não tenho tempo para o que queria, e menos ainda para quem eu gosto. Não consigo sair com as amigas, nem mesmo tempo para conversas (a que se possam chamar conversas ao telefone). Chegada a véspera de Natal, mal consigo responder às sms.
E no fim do dia de Natal, ao deitar a cabeça na almofada, confesso, envergonhada, que respiro sempre de alivio por já ter passado.

Não é que não dê valor ao Natal, porque dou, porque tive Natais de que tenho muitas saudades, porque ainda acredito que um dia os Natais voltem a fazer o mesmo sentido.
Acredito, sobretudo, no verdadeiro significado do Natal, aquele que me parece que está esquecido da maioria das pessoas que se agitam como formigas num formigueiro, na azáfama das compras.
E não é que não faça compras também. Tem de ser não é?! Pois, faço-as.
Mas mais fácilmente compro uma coisa para alguém por quem não nutra um especial afecto, mas a quem tenha a obrigação de presentear, do que para alguém de quem goste profundamente.
Para estas pessoas, para aquelas de quem gosto de verdade, se puder, prefiro comprar noutra altura, porque sim, porque me apeteceu, sem obrigação de parte a parte, sem ser esta troca obrigatória de objectos que se estabeleceu nesta época.

Nestes dias, lembro-me muito das pessoas de quem gosto. E lembro-me mais ainda das pessoas de quem gosto e que não posso ter comigo.
E nestes dias, deste ano, sinto muito uma falta. Muito.
Uma falta que chega a doer, de uma dor que chega a ser física e que parece que não cabe cá dentro.
Nestes dias, de celebração da vida e do nascimento, lido muito mal com a perda e a morte.
Estes dias, este ano, estão a custar-me muito.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Quarto crescente

Descobri uma coisa que deixa os jantares à luz de velas, a milhas. E essa coisa é um banho à luz de velas (se bem que, se seguir um jantar à luz de velas, acaba por ser ouro sobre azul).

À luz de velas, e com a água bem quente na pele.
E, ao sair, com a pele tão quente que nem se sente o frio que faz, olhar, distraidamente, pela janela e reparar que lá alta, no céu escuro, brilha uma lua, em quarto crescente.

Há muitas coisas boas...

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Tulipas # 2





Sei que já tinha dito que gostava de tulipas. Disse e gosto, mas nunca tinha comprado nem um bolbo.

Este ano, resolvi que, se gostava, era melhor fazer mais alguma coisa do que dizer que gosto.
Comprei sete bolbos, de tulipas brancas, as minhas preferidas.

Sem que alguma vez tivesse memória de ver uma planta de tulipa, tinha medo de as semear na altura errada, regar demais ou de menos, esconde-la demais do Sol ou expô-las demasiado à geada. Demasiados medos, em suma.
Mandei o medo para trás das costas e segui o instinto, no tipo de terra para as floreiras, na profundidade a que coloquei os bolbos, no local onde deixei as floreiras, na frequência das regas.

Hoje, reparei bem, e lá estavam elas. As sete a nascer, de espiguinho verde bem à vista. E soube-me tão bem!
Acho que vou comprar mais, de muitas mais cores.

Adenda: Estas túlipas são muito bonitas, pois são. Mas - lamento desiludi-las meninas - não são as minhas. As minhas nasceram, mas ainda é muito cedo para florirem. Lá para o início da Primavera cá as teremos e, nessa altura, terão direito a fotografias (e sim, Clara, minha querida, levo-te umas. mas conto visitar-te bem antes disso, senão podias mesmo "esperar sentada"! ;))

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

E eu [também] acredito no Natal...


O armazém da comunidade Vida e Paz onde estavam armazenados os bens para a Festa de Natal com os Sem-Abrigo foi assaltado na noite do último Sábado, quase anulando os esforços da organização para assegurar as 4500 refeições quentes e 5000 lanches e ceias!

Agora, a uma semana da Festa - que se realiza de 14 a 16 de Dezembro na cantina 1 da Universidade de Lisboa - precisamos URGENTEMENTE da TUA ajuda!

Partilhar o seu arroz, o feijão, a massa, as bolachas ou qualquer outra coisa da lista de necessidades que se encontra em http://www.cvidaepaz.org/ e entrega ou envia para:

Rua Domingos Bomtempo, 7
1700-142 Alvalade - Lisboa

Mapa:

Muito obrigada!... mesmo...

Retirado dela, porque sim, porque também acredito no Natal e porque [ainda] acredito, ainda mais, nos bons sentimentos das pessoas. E porque sei que ajudar, não custa nada e que quem mais recebe, na verdade, é quem dá.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Concha

Eu sou assim como umas criaturas que vivem no fundo do mar, e de que não sei o nome, que têm umas conchas e que lá estão, de nariz espetado entre algas, água e peixinhos, mas quando alguma coisa me ameaça ou atinge, ou magoa, fecho-me repentinamente na minha concha, fico lá enroladinha, e de lá não saio a não ser quando a coisa má passar (se passar).

Foi isso que aconteceu. Ferida, fechei a concha de repente.
Fechei por completo. E fechei o blog em vez de o apagar. Fechei-o apenas, nesse movimento rápido que faz parte do fechar da concha.

Também não queria falar de uma coisa que me fez mal, de uma coisa que dói e que me deixa triste, ainda e apesar de tudo. E não queria por diversas razões, a primeira delas talvez fosse, para não criar suspeitas que, por aqui, costumam atingir sempre a mesma pessoa. Porque não é verdade, não foi nada disso que se passou. Antes muito pelo contrário.

E pronto, dói sim. Ainda dói, mais ainda pelo que de mal isso trouxe a outra pessoa, do que a mim própria, mas também não acho justo bater assim com a porta na cara das pessoas que por aqui passam.
A vida também é composta de coisas tristes. Disso, e de pessoas muito especiais que nos puxam para fora dessas coisas.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Amigas

Domingo. E a casa vazia. Vazia menos eu, as duas gatas e a cadela. E estava bem assim.
O Sol entrava pelas aberturas das portadas da janela e eu deixei-me ficar, acordada, aninhada no calor aconchegante que os lençóis têm sempre de manhã. Ao Domingo não há pressas, e menos ainda com a casa vazia.

Nem pressa para o pequeno-almoço, que é quase sempre a refeição que melhor me sabe, nem para o almoço.
Fiz bolo de chocolate a seguir. Porque sim. Porque me apeteceu. E ficou bom.
Li um bocadinho ao Sol, sentada nas escadas de pedra que vão das laranjeiras para a horta (que não o tem sido há já muito tempo) e espreitei, com a noção da sorte que tinha, a águia pousada, pachorrenta, bem no topo de um carvalho, na mata ali ao pé.

A calçada do páteo à frente da casa, já tem as primeiras ervas a nascer entre as pedras. É sempre a mesma coisa, depois das primeiras chuvas. E estava húmida nas zonas onde estava sombra. Esteve assim todo o dia, e dava uma sensação de desconforto, apesar do Sol e do céu azul.

Uma amiga convidou-me para ir a casa dela, mas não me dava jeito. Veio cá ela, que era mais fácil e até fazia mais sentido.
No fim da semana vai para outro continente. Vai para África e isso faz-me um bocado de confusão, porque parece que vai estar fora anos. Mas não. Não vai para África, vai a África, o que é diferente. Pode até ser só uma semana. Mas fico sempre com a sensação que vai para muito longe, muito tempo.

Fizemos chá e acendemos a lareira.
Gastámos um bule inteiro e fizemos outro. Gastámos quase um cesto de lenha na lareira e comemos quase o bolo completo.
Mas, sobretudo, falámos. Falámos durante muito, muito tempo. Dissemos muitas coisas. Entre elas algumas, aparentemente, contraditórias.

Somos muito amigas. Muito. Amigas de verdade.
O destino pregou-nos a partida, até, de passarmos por coisas semelhantes com pouco tempo de intervalo uma da outra. Ficámos mais próximas, mais solidárias, identificamo-nos mais.
E no meio da conversa, eu pedi-lhe que compreendesse que havia assuntos que eu queria resguardar mais, que há vivências que requerem um espaço próprio, um espaço com porta.
Acho que me expliquei mal. Faltaram-me as palavras certas e agora passa-se o mesmo.

Sou mais amiga dela hoje do que ontem, e ontem mais do que no dia antes, e assim por aí fora.
Acho que com ela se passa o mesmo.
Mas há coisas... que, realmente, senti necessidade de resguardar, não porque não confie nela, não porque não tenha noção do tamanho e da solidez da nossa amizade, não que ache que ela não me compreenda, não que não tenha bem noção do valor de uma amizade verdadeira. Nada disso.
Há coisas que um dia percebemos (ou sentimos) claramente que são aparte do resto. Que é assim que são, que é essa a realidade, que essa é a única maneira válida de as vivermos, e que, até é assim que as queremos.

Pedi-lhe que compreendesse que sentia a necessidade, por vários motivos, de fechar a porta do quarto.
E porque continuo a ter noção que não consigo explicar-me bem, espero que a amizade lhe permita perceber o que as minhas palavras não explicam.
Porque este correr de cortina, não é nada mais do que isso, não significa uma quebra de confiança ou amizade, e parece-me até que lhe faria bem fazer o mesmo.
Não há assuntos interditos. Mas há uma altura em que sentimos necessidade de resguardar algumas coisas. Porque é a assim, porque é assim o rumo da vida e nós vivemos de acordo com isso apenas.
Nada mais muda. Nada! Porque a amizade é uma benção que todas as pessoas têm na vida e a dela é impagável.

Terminámos a dia a tagarelar e a rir muito.
(Acho que me entendeste!)

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Trajectória

Passei de O Príncipe do Maquievel, para O Principezinho do Saint-Exupéry.
E quando digo passei, estou a referir-me a bem mais do que à ordem cronológica por que conheci e li os livros.

Pode não ser uma evolução muito comum, mas olho (agora) para ela e sinto-me satisfeita por não ter sido na ordem inversa. Muito satisfeita, mesmo.

Tempo

É um dos temas mais recorrentes por aqui, senão mesmo o mais recorrente, mas se o é, é porque a falta dele é muito marcante.

Continuo a gerir tão mal o meu tempo.
E tenho tanta pena que ele não dê para metade do que queria e, mais ainda, para bem mais de metade do que gostava...

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Das noites frias


Se tenho saudades do frio, mesmo no Verão, é por causa disto. Do crepitar do lume, do cheiro que se espalha pela casa, da ar morno que nos envolve e da luz quente e ondulante.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Manel

Assim mesmo. Escrito sem "u".
Não é erro ortográfico. Não é erro, de todo.

Ando a namorar cada letra. Os contornos de cada uma delas. A forma que têm, dipostas assim, juntas, arrumadinhas.
Ando encantada pelo som. Pelos sons. Pronuciado depressa ou devagar, quase soletrado. Quase gritado ou sussurrado. Dito entre sorrisos ou entrecortado por soluços e lágrimas.
Ando enfeitiçada pela luz que irradia e pelo brilho que [quase] só eu vejo.

Em pequena, à conta de tantas histórias que me contaram, acreditava em coisas como fadas. E acreditava também em palavras mágicas. Agora sei que exitem, e a minha é Manel.
E acho impossível que as letras do alfabeto se consigam juntar para formar um som mais perfeito do que este.

(Não, não é um namorado. Nem de agora nem de nunca. Nem meu, nem de ninguém.)

Non-sense post

É isso que o post anterior parece. Um post para dizer que voltei, mas depois... parece é que desapareci.
Voltei mesmo. Tenho andado é assim... calada.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Breves

Voltei.
Estou exausta.
Apetece-me croissants de chocolate, quentinhos. Também me apetece, muito, ir já deitar-me.
O que me apetecia mesmo eram croissants de chocolate, quentinhos, comidos na caminha.
Como não os tenho, e antes que pense tanto no assunto que se torne penoso, vou mas é deitar-me. Até porque estou de tal forma cansada que devo adormecer em dois minutos e amanhã nem hei-de lembrar-me que agora uns croissants, mas de chocolate, e quentinhos, eram uma coisa muito importante.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Ilumina-me


Gosto de ti como quem gosta do Sábado,
Gosto de ti como quem abraça o fogo,
Gosto de ti como quem vence o espaço,
Como quem abre o regaço,
Como quem salta o vazio,
Um barco aporta no rio,
Um homem morre no esforço,
Sete colinas no dorso
E uma cidade p´ra mim


Gosto de ti como quem mata o degredo,
Gosto de ti como quem finta o futuro,
Gosto de ti como quem diz não ter medo,
Como quem mente em segredo,
Como quem baila na estrada,
Vestido feito de nada,
As mãos fartas do corpo,
Um beijo louco no porto
E uma cidade p´ra ti


Enquanto não há amanhã,
Ilumina-me, ilumina-me.
Enquanto não há amanhã,
Ilumina-me, ilumina-me.


Gosto de ti como uma estrela no dia,
Gosto de ti quando uma nuvem começa,
Gosto de ti quando o teu corpo pedia,
Quando nas mãos me ardia,
Como silêncio na guerra,
Beijos de luz e de terra,
E num passado imperfeito,
Um fogo farto no peito
E um mundo longe de nós


Enquanto não há amanhã,
Ilumina-me, ilumina-me.
Enquanto não há amanhã,
Ilumina-me, ilumina-me.




Porque há músicas que são também poesias.

E enquanto isso, enquanto me sinto como um ratinho às voltas dentro da gaiola, entontecido e com falta de ar, vou aproveitar um pretexto de semi-trabalho para sair um bocadinho da fronteira deste nosso rectângulozinho. Dois dias, três...

Até já!

Medos

(D. Quixote)

Nós mulheres sentimos coisas. E se as sentimos, elas são reais. O que se sente existe, quanto mais não seja, dentro da pessoa que sente.
E é do que sinto mas não vejo que tenho medo.


Não tenho medo das ondas grandes no mar. Elas mostram-se, são frontais. Podemos medir-lhes a força e a intenção. Podemos perceber se nos podemos juntar a elas ou se, pelo contrário, são uma ameaça. E mesmo quando o são, estão ali à nossa frente, tal como são. Francas. Com elas sei lidar.

Tenho medo das correntes.
Não se conseguem ver e, no entanto, muitas vezes estão lá.
Entramos na água, tranquila à superfície, a brilhar ao Sol, convidativa e, muitas vezes elas estão lá. Todo o mar as tem, em alguns dias, em algum ponto.
E elas sentem-se, mas não se conseguem ver. Sentem-se e existem. Existem e são poderosas. São poderosas, subterrâneas e perigosas. E sim, existem.
É do que não vejo, mas sinto, que tenho medo.

É o que se esconde e disfarça e camufula que temo.
É com essas coisas que não sei lutar e são elas que me podem fazer mal.

sábado, 10 de novembro de 2007

Creio...

Ao ouvir hoje, por acaso, de passagem no super-mercado e entre duas pessoas que não conheço de lado nenhum, a conhecida expressão portuguesa, Querer é poder, fiquei a pensar se, neste caso, se escreve querer ou crer.

É que embora assumisse, sempre que a ouvi, que se tratava do verbo querer, não vejo razão nenhuma para que não se trate, afinal, do verbo crer que, numa escala muito minha, é ainda mais especial do que o primeiro (e mais raro!).
E, cá para mim, o que o povo queria dizer na sua sabedoria simples e pragmática devia ser mesmo as duas coisas.

Dever ser preciso querer e crer. Ou, mesmo que não seja preciso, será, certamente, muito melhor assim.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Eu...

Eu... até há um pouco mais de um ano (acho, eu) quando estava mesmo aborrecida, mesmo em dia não, quando alguma coisa me fazia sentir mesmo mal. Mas mal, assim para o aborrecida, contrariada, impotente perante alguma coisa que me afligisse, injustiçada ou espectadora impotente de injustiças sob terceiros, desesperada e coisas assim nesta linha, atirava coisa às paredes. De preferência coisas que se partissem. E que se partissem tão sonoramente quanto possível.

Agora... curo estes estados (ou, pelo menos, apláco-os) de um outro modo: lavo roupa ou loiça (mas tem de ser à mão, que as máquinas nestas ocasiões não servem para nada), lavo chãos, arrumo armários, estendo roupa (ainda não me passou a mania de escolher as molas por cores, de acordo com a peça de roupa, mas a minha Mãe diz que isso um dia há-de passar), sacudo tapetes e faço doces. Cozinhar outra coisa não serve tão bem como se forem doces, como se o açucar anulasse os azedos.

Pode ser estranha esta forma de acalmar, mas se evolução tivesse sido ao contrário seria pior. Especialmente para quem me rodeia.

Adenda: Uma amiga insistiu para que referisse que eu não atirava coisas à parede com muita frequência. E é verdade. Fazia-o muito raramente. E que, para além disso, também faço estas coisas de muito boa vontade (irónicamente) quando estou bem disposta. Se bem que, quando estou bem disposta, posso juntar-lhes mais umas tarefas de maior minúncia. E ainda me compete dizer que hoje não estou mal disposta com ninguém, apenas um bocadinho ensonada.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Polaris


Polaris; é assim que ela se chama. Ou North Star, ou Estrela Polar ou outros nomes ainda.

Nestas noites límpidas e frias que este Outono nos tem oferecido o céu é mais brilhante do que em qualquer outra altura. Mais brilhante e mais transparente.
Tanto, que vale a pena desafiar o frio da noite e perdermo-nos de olhos postos nas estrelas.

A primeira que procuro é sempre ela, a Estrela do Norte, mas é sempre a constelação de Cassiopeia que me salta à vista. É fácil encontrá-la e identificá-la. E para além dela, outras.

Mas a ela, à Estrela Polar, não encontro como toda a gente faz. Olho para o céu e escolho uma estrela. A Estrela Polar é a estrela que eu escolher, a mais bonita, a mais brilhante, a que eu sentir que sim. Pelo menos é a estrela que marca o meu polo e é isso que conta.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Lugares

Lá em cima é assim. Chega-se, e é-se recebido primeiro pelos saltos entusiasmados do Soajo, bom e fiel cão de guarda.
De seguida, vem a E. à porta, quase sempre de pano na mão, vinda da cozinha. Ri-se e avança em nossa direcção de braços e sorriso abertos e repetindo, embevecida: ...as minhas meninas...
Abraça-nos de forma decidida, larga-nos, afasta-se um pouco para nos avaliar e diz sempre que estamos magrinhas e a precisar de descanso e das comidinhas que faz. Muitas vezes estamos mesmo. Não magras, mas a precisar de descanso e das suas comidinhas, já para não falar dos seus mimos.
Depois volta a abraçar-nos e de seguida empurra-nos para dentro de casa.

Uma boa parte das vezes que lá vamos (sobretudo eu), é para curar feridas da alma. E ela adivinha-as no caminho que faz da porta, até ao carro.
Desta vez parou antes de nos abraçar pela primeira vez. Os olhos vermelhos de horas de choro, de dias (de semanas, de meses já), das suas meninas não enganavam. E bom mesmo foi poder dizer-lhe a que se deviam, sem medos nem rodeios. Lá, podemos sempre ser quem somos, sem esconder nada nem medo de julgamentos ou penalizações.
Benzeu-se com a convicção e força que as mulheres do Minho guardam. Pronunciou um Deus os guarde, de olhos postos no céu, e empurou-nos para a cozinha com determinação. E só depois de nos por à frente duas chavenas de chá de lúcia-lima, da horta, lhe vimos umas lágrimas na cara. Tentou disfarçar mas saltamos-lhes as duas para o seu pescoço. Estranho, mas é ali que me sinto em casa.

Durante esse fim-de-semana cuidou das suas meninas. Enquanto ia repetindo que não achava bem que estivessemos ali sózinhas. Levou-me o pequeno-almoço à cama enquanto se queixava que a cama era demasiado grande só para mim. Percebia bem o que queria dizer, mas aquela cama é a mesma onde sempre fiquei. Depois sentou-se na cama, deu-me um abraço demorado e passou-me a mão devagar pelos cabelos. Eu senti-me com cinco anos. Ela riu-se e disse que afinal se eu não estivesse sózinha não se sentiria à vontade para estar ali a dar-me mimo. A sabedoria de retirar as coisas boas de todas as situações...

Ela e aquela casa enorme de granito são uma fortaleza e, o mesmo tempo, um ninho.

E, não muito longe dali, a Lapela, sólida e protectora, agora como no Sec. XII, quando nasceu e foi menina. Quando o Lourenço de Abreu a contruiu, e quando o D. Afonso Henriques lhe deu um destino e uma função, ela protegia de outros males mas, 900 anos depois, continua a estender a sua sombra protectora aos netos de quem lhe deu origem. Outros tempos, outros males...

E o rio Minho, mesmo, mesmo aos seus pés, e a água fria, boa para os peixes. E os seixos que vou pisando até me esquecer do frio da água, e me atirar lá para dentro. No fim de semana passado, o Sol ainda reconfortava com o seu calor à saída da água. Às vezes (quase sempre), acho que aquelas águas são milagrosas.

E o tempo levou uma eternidade a passar, de um modo. E escorreu-me por entre os dedos, de outro.
Não queria ter voltado. Nunca quero. Sempre, desde pequena, achei que o meu caminho era mais para Norte. Não sei onde ainda. Mas mais para Norte, sempre soube que era.

Dizem que não devemos voltar aos sítios onde fomos felizes. Eu acho que há lugares onde devemos voltar sempre. Sempre.
Felizes, ou infelizes. Com energia ou cansados. Com sorrisos ou com lágrimas. Sózinhos ou acompanhados.
Há lugares onde se deve voltar sempre. E mesmo quando se parte, devemos levá-los sempre connosco.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Tesouros

Se ocorresse uma catástrofe e só pudesse salvar um número muito restrito de objectos, tão pequeno que pudessem caber num bolso, levaria estes.
E levaria sempre esses, independemente do número e das dimensões dos objectos que tivesse oportunidade de salvar.

Um vestido de bebé que me foi dado pelo meu Avô, pouco antes de morrer, que lhe tinha sido dado pela Avó dele, e que ele chegou a vestir.
Um terço que encontrei, acidentalmente, quase completamente enterrado num páteo de cá, e que me foi dito depois que tinha sido da minha Trisavó, de quem herdei o nome.
Uns brincos de ouro, que foram dessa mesma trisavó que, por sua vez, os tinha herdado de uma Avó.
Uma vieira, cuja história não revelo aqui.

E se tudo parece remeter para um passado, encerrado, nada é mais ilusório.
Podia discorrer longamente acerca do que cada um me diz e dá, mas isso, para além de ser demorado, é excessivamente privado para o fazer aqui.
Todos eles, à sua maneira, são bem o contrário disso. Sinal de que existe em tudo uma linha de continuidade, que os caminhos são longos, que tudo é complementar, que há ciclos longos e ciclos curtos, que há uns que se fecham, finalmente. Que há um sentido para as coisas, e que ele, a seu tempo, se tornará claro.

Nestes objectos estão, provavelmente todas as respostas de que preciso, incluindo uma que diz que não vale a pena querer saber tudo de uma vez, nem tentar agarrar o mundo todo de repente, que cada coisa acontece por um motivo e que, a seu tempo, tudo se encaixa num puzzle, finalmente, completo. Um dia...

Eram os objectos que salvaria.
Não eram os mais úteis. Na verdade, do ponto de vista prático, não teriam qualquer utilidade.
Também não eram os mais valiosos. Se excluirmos os brincos, o valor económico de todos eles é absolutamente insignificante. Incluíndo das rendas do vestido, apesar de serem finíssimas rendas trazidas da Flandres, do tempo em que tudo era trazido a cavalo. E mesmo os brincos, não são, de todo, a joia mais valiosa que existe em casa.
Mas são os mais importantes para mim. Os que me fazem falta. E cada um de nós, lá terá os seus tesouros, os principais dos quais nem serão visíveis.

Renascimentos

Para mim, para ele, e paz para o terceiro elemento.
Sendo que aqui não há primeiros, segundos e terceiros. Ou o terceiro é um segundo exequo. Ou então é um primeiro exequo.
Mas o elemento que não está exequo com os outros dois é que é o primeiro, afinal de contas, mesmo que seja o terceiro cronológicamente.

Renascimento, e ponto final.
Que é disso que se trata. Um certo tipo de renascimento, mas um renascimento assim mesmo.

[Post (aparentemente) confuso, efectivamente intrincado, hermético e muito privado. é, um dos mais sentidos de sempre, e julgo que não corro grandes riscos de errar se disser que é o mais sentido de todos, até hoje]

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Do fim-de-semana

Os meus lugares preferidos. Meus lugares, de facto. Ou, mais exactamente, lugares a que pertenço. Já não ia lá há mais de um ano.
E uma amiga que é uma verdadeira irmã.

E, ainda assim, um dos mais difíceis da minha vida. É o que há a contar.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Eternum

Esta música é a mais bonita do mundo (tens razão Gralha, é das coisas mais bonitas do mundo, a par dos sorrisos de quem amamos, pois). Não tenho muita paciência para as coisas doYou Tube, mas esta vale a pena.

Ouço-a, como sempre, desde há tanto tempo que nem tenho já memória, de olhos fechados. E vejo sempre luz, uma luz muito brilhante, e um céu muito azul e as asas de um anjo por cima de nuvens fofas e brancas. Sempre isto. E acho sempre, enquanto a música não acaba, que estou a subir para lá, para esse céu muito azul, e essa luz muito brilhante, na companhia desse anjo, a quem nunca vi o rosto. E a paz, a leveza... são indescritíveis.

As lágrimas e os sorrisos sempre se misturaram com esta música, em simultâneo, porque as lágrimas nem sempre são de tristeza.

Mas hoje queria ouvir esta música sem parar, entrar na Igreja de Santa Maria Maior, em Barcelos, atirar-me para o chão em frente à imagem da Nossa Senhora da Franqueira e desfazer-me em lágrimas até à última célula, ao último átomo. E entranhar-me para sempre, invisível, naquele chão.

E a alma, finalmente leve, que seguisse esse anjo e não voltasse nunca.

Porque há momentos em que não podemos mais e eu não consigo mais fingir o contrário. Aceito a minha fraqueza e rendo-me.

[Quase] Exclusividades

Encontrei, por acaso, uma senhora de uma aldeia escondia de Trás-os-Montes. E encontrei-a por detrás de um tear com muitos anos, a tecer um tapete como se fazem há séculos, com a lã dos rebanhos que pastam por aquelas serras de clima agreste, tingida e fiada como há séculos.
Encontrei-a por acaso, aqui pertinho, com esse tear. Amanhã volta ao seu sítio. Hoje perdi [ganhei] mais de uma hora, enfeitiçada por aqueles movimentos e embalada pela sua conversa ritmada e suave.

Deparei-me com um tapete grande, feito assim, e foi amor à primeira vista. Quero um desses para mim, talvez um nadinha maior. Mais tarde, porque agora não tenho onde o pôr.

A aldeia, que ninguém conhece, conheci-a eu, logo no ano em que comecei a trabalhar na tese de mestrado. Encontrei-a num pergaminho muito amarelicido pelos seus mais de setecentos anos. O nome era muito estranho, fixei-o.
Encontrei-a depois, muitas mais vezes.
Conheço-a tão bem que a senhora se admirou com o meu sorriso quando me disse de onde era: De X?! conheço tão bem!
Pois, conheço. Muito bem. Mas nunca lá estive. Mas conheço-a de olhos fechados, há séculos. Se calhar continua quase igual.

Os tapetes são lindos, os materias são os melhores, a forma como são confeccionados uma preciosidade e o sítio onde são feitos, um paraíso perdido. Os preços, até são baixos.
Eu quero um para mim, pois. Mais tarde. E hei-de ir lá buscá-lo, àquela senhora tão simpática, àquele sítio tão longe, onde nunca estive mas conheço tão bem.
Quero um tapete desses e nenhum outro, porque há coisas que se encaixam como peças de puzzles, como se tivessem sido destinadas assim e não de outro modo, mesmo que seja apenas um tapete.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Aldeia

E depois venham dizer-me que o mundo não é uma aldeia.
O mundo todo. Com o mundo virtual, inteirinho, lá dentro.
Não é uma aldeia, é uma aldeola.

Vão lá ver o post do dia 27 de Setembro, deste senhor, e depois digam que não é assim.

(Por acaso nunca entrei numa sala de chat. nunca senti necessidade, nem sequer, a menor curiosidade. E, por mais do que um factor, cada vez menos. O que muito me tranquiliza.
Ou, se calhar, o que há a sublinhar daquilo, é a dificuldade que muitas pessoas têm em comunicar. O que se atendermos ao facto de que todas as relacções, em geral, e os casamentos em particular, terem de ser construidas e assentarem os seus alicerces nisso mesmo: na comunicação (para além dos afectos, claro) e na capacidade que ela gera de se chegar a um entendimento e a um ponto de convergência, então não nos podemos admirar dos descalabros que vemos acontecer. E o que é curioso, é que eles até conseguiam entender-se. Curioso, para não dizer desconcertante. Assim o tivessem tentado.
Desconcertante, ou trágico? Bom... isso daria uma longa conversa.
Porque as harmonias e cumplicidades não caiem do céu no nosso colo. Ah, pois, e como disse à criança, eu não tenho marido, mas relacionamentos temos todos e há verdades muito evidentes.)

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Das vindimas

Este ano não há fotografias destas, o ano não nos brindou com esta metamorfose das folhas de verde para vermelhos brilhantes.

E também não haverá posts como este ou este.

Porque eu ando cansada, porque o ano decorreu de outra forma, porque a colheita não é, nem em quantidade nem em qualidade, nada de admirável. Porque nestas coisas, a natureza funciona assim e se há coisa que aprendi nestes anos, foi a respeitar estes ciclos. É assim, naturalmente, sem dramas, nem inquietações, nem queixas. Se calhar, também, porque se instalou alguma habituação, alguma rotina e algum distânciamento emocional.
É assim, calmamente. E a calma, em si mesma, sabe-me bem.


terça-feira, 9 de outubro de 2007

Eu e o CCB


Este é um post um bocadinho para o maldizente, porque o é. Tenho de o admitir.
Eu até gosto do CCB, confesso. Polémicas à parte, eu gosto do edifício, gosto da arquitectura e até gosto do conceito da coisa. Acho que nos fazia falta. Foi um benefício.
Claro que gostaria que tivesse sido contruído mais um bocadinho ao lado, de modo a ocultar menos os Jerónimos, que podem ser mais velhinhos, mas de quem gosto ainda mais (bastante mais). Aliás, a idade e tudo o que por lá passou, só servem para ganhar o meu respeito, independentemente do valor artístico que tem.

Eu até lá ia muito nos primeiros tempos; eu até ia lá ver as exposições de que uma amiga foi guia, e outras. Eu até da papelaria do piso de baixo gostava, e adorava comprar papéis onde depois não escrevia, por os achar tão bonitos. E gostava até daquele jardim no terraço que dá para o lado do Tejo, excelente para tagarelar com as amigas em fins de tarde de tempo ameno.

Gostava, e gosto.
Mas confesso que nos últimos tempos a minha relação com o CCB parece não ser a mesma.
Em Fevereiro tive uma experiência do outro mundo, ao ir visitar a Besphoto.
Recomposta do trauma, andava a pensar que tinha de ir ver a exposição do Berardo. Andava a pensar, mas nem sequer tinha pensado numa data. Aconteceu por acaso, havia tempo, e foi no outro fim de semana.

Não foi nada de comparável com a experiência da Besphoto, mas confesso que foi uma desilusão. Não é traumático, mas não me conquistou, nem perto disso. A parte mais interessante da exposição foi a surpresa de não termos de pagar a entrada, e o pézinho da pessoa que me acompanhava dentro do lago, à saída.
Confesso que estou a ser exagerada. Até lá tem uns Picassos (mas gostei mais dos que vi numa exposição da Gulbenkian, há uns anos), e mais algumas outras coisitas que não desgostei. Mas fiquei desiludida.

Estava até um bocadinho preocupada comigo, por julgar que o mal só podia ser meu, que aquilo devia ser, indiscutivelmente, uma maravilha, mas que eu estava a ficar embrutecida para a arte. Depois, respirei fundo quando ela classificou a coisa como coisa-um-bocadinho-mediocre-do-Berardo. Afinal, não sou só eu.

Até acho que a exposição deve ser visitada. Nestas coisas acho que devemos sempre ver com os nossos olhos. E mesmo quando não ficamos conquistados, acho que ganhamos em ver, em conhecer coisas novas, em expormo-nos a novas correntes, enfim, acho que só há vantagens.

Ah! É que eu até nem sou fã por aí além de arte contemporânea, confesso. Sobretudo no que diz respeito à pintura (mas abro grandes excepções, porque há, de facto, grandes pintores, até nacionais e vivos) e um nadinha (mesmo nadinha) a um certo tipo de escultura e dança. Nas outras áreas das artes até acho que estamos a viver um bom momento.
Mas em compensação adoro outras épocas, tenho uma predileção acentuada pelos impressionistas e perco-me de amores pelo Monet.

Das crianças

Uma prima proclamava aos quatro ventos, ainda há muito pouco tempo, o meu jeito para as crianças, por oposição à total falta de jeito dela, mesmo para a sua própria criança. Há amigas minhas que dizem o mesmo, mas eu acho que não tenho jeito nenhum especial, e que nem é preciso. As crianças são simples, ou gostam ou não gostam, são sinceras. E são também muito engraçadas.

Ora eu, apesar de achar exagero essas apreciações acerca desse jeito, reconheço que não me custa tratar com as crianças, que gosto delas e que, por isso, até se revela fácil entendê-las. Houve uma, no entanto, que durante três dias seguidos me fez a mesma pergunta sem que eu lhe desse uma resposta que ele achasse aceitável, e sem me perguntar a mim mesma que raio tinha dado ao miúdo.

Todos os dias, assim que me via, perguntava tão sorridente quanto ansioso: O teu marido?
E eu, a cada dia mais perplexa, lá lhe respondia que não tinha marido, a que se seguia um: Tens sim!, amúado dele e um virar de costas em jeito de birra.

Ao terceiro dia lá acrescentou à pergunta de sempre: ... o senhôôôre que faz castelos de areia! E aqui percebi, finalmente, a quem ele se referia, e até entendi que na cabeça feita de dualidades de uma criança daquela idade fosse natural esse tipo de construção de realidades. Deixei de teimar com ele e passei a calá-lo, a cada manhã, com um simples: Esta a trabalhar.

A estratégia resultou, e a única coisa que tive de fazer foi repetir este ritual de respostas todas as manhãs até se terem acabado as férias da criança (antes do fim de semana seguinte), sem que lhe fosse possível voltar a posar os olhos em cima do meu marido.

Pois não é que, passado já algum tempo desde as férias, numa esplanada (sim, dei um saltinho a uma esplanada hoje ao fim da tarde para dar os parabéns e um presente de aniversário à mãe dele), quando chega acompanhado da Mãe, a primeira pergunta que me faz é: O teu marido?

Decididamente a criança afeiçoou-se, mas a coisa nem seria má por aí além se à minha resposta de sempre, em que digo que está a trabalhar, com o intuito de acabar a conversa por ali, ele não me tivesse respondido, de sobrancelhas franzidas, mãos na cintura e ar de [muita] censura: E achas bem?! É só ele que trabalha?!

Mas isto é normal?!?!



segunda-feira, 8 de outubro de 2007

"Onde é que andaste?"




Esta pergunta, a par de uma outra (O que é que estiveste a fazer?), não podem ser feitas por uma pessoa específica.
Não podem, é uma forma de dizer. Não devem! Deixam-me fora de mim e com a sensação de que me falta o ar e a liberdade de movimentos. É um trauma, concerteza, mas é assim.
As outras pessoas podem perguntar, não me incomoda nada. Até gosto que algumas perguntem. Há até de quem goste muito de ouvir perguntas deste teor ou parecidas.
Enfim... coisas minhas.


Pois estive a aproveitar estes dias de Outono solarengo.
Estive a brincar com os cães, deitava na erva.
Estive à procura das flores cor de rosa, do Outono, que nascem selvagens e de que tanto gosto.
Estive a deliciar-me com a companhia de uma amiga muito especial de quatro patas e a quem tenho dedicado muito pouco tempo.


Suponho que os as calças sujas de erva, a camisola cheia de palha, o cabelo em desalinho e o cheiro a cavalo com que entrei em casa deviam ter dado uma ideia aproximada.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Meninos de Luz #2

Já não sou a mesma. Já não gosto que uma gripe ou uma amigdalite, ou coisa afim, que me dê febre e leve todo o apetite, sirva para me deixar em casa. Já não gosto de ficar em casa assim.


Fecho-me aqui nas águas-furtadas para deixar mais longe as pessoas, e estar mais perto do céu.

Ouço, por acaso, isto na rádio (e vou carregando no replay um número de vezes a que perdi já a conta), e sinto saudades de Itália (apesar do clip ser rodado em Barcelona), e da Margarida desse tempo, da liberdade, das asas que sentia que tinha e que perdi, do calor das ruas de Roma, dos sustos quando nos perdiamos, das reprimendas sentidas que demos ao Francesco quando ele nos apresentou a segunda rapariga como namorada, e dos risos de caso perdido quando nos apresentou a sexta, em apenas 15 dias, das noites inteiras passadas a comer gelados e a rir na Fontana di Trevi, da comidinha do Georgio em Florença, do frio e das camisolas quentes em Siena, dos serões no hotel com cheiro a mofo e o piano desafinado que nos dava música, ainda assim, durantes horas, do mistério de Veneza, dos cappucinos tomados no quarto com vista para a Baia de S. Marcos e das viagens atribuladas nos vaporetti. Até dos insultos, em português, que a J. gritava aos rapazes que nos perseguiam, julgando nós que eles não nos entendiam, e de eles, no último dia, nos olharem com a maior das calmas e dizer que sempre nos tinham entendido porque falavam francês por viverem em França, mas eram filhos de portugueses.

Saudades de ter horizontes largos e do tempo em que a vida era feita destas coisas simples, do tempo em que quatro amigas dividiam lágrimas e multiplicavam gargalhadas, sem dores nem medos nem preocupações. Saudades... ou nostalgia...


E, enquanto isto, arrumo dezenas de artigos fotócopiados para a tese, e revistas que não quero deitar fora. E deparo-me com uma que já tem três anos. Um exemplar da Egoísta (nunca as compro, oferecem-mas. mas também nunca as deito fora), tem como título Luz.


Abro-a, com uma ligeira inquietação. Lembro-me de um texto que faz parte dela. Lembro-me só deste texto.

Procuro-o e encontro-o. É da Alexandra Quadros. Chama-se "Meninos de Luz".

Respiro fundo antes de o ler. É um daqueles que se cola a nós, que se lê, sente e respira. Daqueles que nos correm nas veias. E eu, que não costumo transcrever textos (nem quando devia, nas notas de rodapé dos trabalhos), não resisto a fazê-lo. Uma segunda vez. Mais sentida do que da primeira, admito. Sim, absolutamente sem dúvida, mais...


Dizem que são as crianças quem escolhe os pais.
Dizem que são pequenos seres de luz que andam pelos céus, a flutuar pelo ar à nossa volta e que observam formas de narizes, avaliam a honestidade dos sorrisos, analisam intenções de cada olhar ou a forma de uma mão, para finalmente dizerem, na sua linguagem mágica e incompreensível: "Este sim, esta não, este talvez me faça crescer".
Eu acredito nisso. E talvez por isso mesmo tenho tanta pena dos homens.
A força de uma criança na barriga é simplesmente o poder da luz a crescer cá dentro. Nós sentimo-la desde o primeiro dia.
Uma mulher sabe quando a luz resolveu escolhê-la.
Fazemos amor muitas vezes.
Mas um dia chega em que aquele acto de amor foi realmente diferente. Por isso damos por nós a chorar. De alegria. Porque sabemos que ela já cá está.
Quando a luz acontece a uma mulher ela percebe que existem sensações inenarráveis. Aprende o prazer de guardar um segredo precioso. O gozo da surpresa dos outros quando ela já sabia há tanto tempo.
Esta luz estica, abana, dá beleza ou abafa-a egoisticamente só para si. Provoca-nos enjôos, embate contra nós ás horas mais disparatadas do dia e da noite, afasta-se suavemente quando pressente que fazemos amor com aquele que ela escolheu para ser seu pai.
Quando uma criança nasce e é colocada sobre a mãe, a pele serve de veículo condutor dessa força que nos electriza mais uma vez e para o resto da vida.
Não é por acaso que as crianças vêem anjos, dizem coisas extraordinárias ou nos confortam em certos momentos como se fossem almas velhas e sabedoras. É que são mesmo.
Eu já perdi uma luz.
E foi assim mesmo.
Como se me apagassem por dentro.
Logo eu, que tenho tanto medo do escuro.



(Com um beijinho, para uma amiga, de todos os dias e todas as circunstâncias)




quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Três anos... e picos

Perguntam-me se continuo a ler os comentários. Continuo, pois. Os comentários e os blogs de quem gosto (sim, disse de quem e não de que, embora pudesse dizer as duas coisas), mesmo que muito caladinha.

Senti que devia escrever este post. Senti-o em mim mesma, em consciência, e os comentários deram um empurrão. Na verdade, já devia tê-lo feito há uns dias, e podia tê-lo feito, mas ficou para agora e ainda vai a tempo.

O post anterior foi escrito num momento muito doloroso, e complicado, e coisas assim. É isso que está reflectido nele (consigo calar, mas não consigo disfarçar). Mas a vida não é assim. É feita de momentos destes também, é verdade, mas a vida não é o que lá se reflecte.
E os momentos maus... Há cerca de ano e meio (será?) dei por mim a declarar que os momentos maus servem para aprendermos a valorizar o que temos de bom. Às vezes esqueço-me disto, mas continuo a acreditar que sim, que isto é verdade. E acredito também, agora, que eles servem para nos por à prova, para nos testar, para nos obrigar a olhar para as coisas com olhos de ver, para nos mostrar o que é importante, para nos levar a transcendermo-nos e a crescer com eles (acho que podemos crescer até ao dia em que morrermos). Sim, eles servem para nos fazer crescer, no plural ou no singular.
Nada de novo; é a lei universal da compensação. Saibamos ( e queiramos) nós aproveitá-la.

No fundo, era isto mesmo que queria dizer.
E o momento mau... passou, ficou lá atrás, mas com muitas lições aprendidas.

Quanto ao blog... sinto-lhe a falta, é um facto. Podia criar outro, ou muitos, mas não seria o mesmo.
Mas uma coisa é certa, o grau de exposição, a frequência dos posts, a maneira de lidar com o reflexo do que escrevo aqui e até o registo de escrita, terão, sem qualquer margem para dúvidas, de ser diferentes.
A privacidade (a nossa e de outros), a reserva necessária, exigem este preço, mas pago-o sem lamentar. Da mesma forma que não lamento já não fazer parte dos meus planos ir para a Escócia, ou que até o doutoramento no país aqui do lado seja muito improvável. Não vou chorar-me e dizer que deixei de fazer X por causa de Y, não é isso que se passa, e muitas vezes é assim que encaramos as coisas.
Quando deixamos de fazer alguma coisa, por causa de outra; quando isso é uma decisão e não uma cedência, então não temos do que nos lamentar; é sinal de que temos a sorte de ter alguma coisa nas nossas vidas que vale mais do que aquelas coisas de que abdicámos. Apenas isto.

E posto isto... tudo segue o seu curso.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Três anos

Este blog fez três anos ontem. Não reparei quando fez um ano, nem dois. Não reparei e, muito menos, comemorei.

Não comemorei, mas acho que podia tê-lo feito. Sei que um ano depois de o ter criado a minha vida estava melhor e eu era mais feliz. Sei, também, que dois anos depois dessa data a minha vida era ainda melhor e eu, mais feliz.
Coisas más durante este tempo? Houve, claro. A vida é feita de coisas tristes e alegres, de dias e de noites, de Sol e de chuva, de esperanças e desilusões. A vida é assim. Mas tudo somadinho, ela estava melhor. Valia a pena!

Se reparei na data desta vez, foi porque senti que chegou a altura de fechar o blog.
Há cerca de mês e meio aconteceu-me uma coisa que ainda não consegui superar completamente. Não há culpas a atribuir, não há intervenção de ninguém. São coisas que acontecem. Não disse o que foi nem quero fazê-lo; é um assunto para guardar comigo, como se isso, se o guardar muito para mim, possa servir-me de algum conforto.

A seguir vieram as férias. Providênciais, porque eu tinha chegado ao meu limite.
Acabaram, entretanto. E não acabaram só as férias, acabou também, entre outras coisas, qualquer coisa de bom para transmitir aos outros. Já não tenho nada de bom para transmitir às outras pessoas. Pela primeira vez na vida sinto-me mal na minha pele, pela primeira vez, arrancá-la-ia se pudesse.

Quando o blog foi criado, foi para mim mesma, sem ter noção nenhuma do meio de comunicação que podia ser, sem imaginar que através dele podiam chegar tantas pessoas à minha vida.
Ele foi feito para eu conversar comigo. Às vezes precisamos de falar connosco mesmos. Faz-nos bem.
Foi feito com esse fim mas, depois vieram as pessoas e, de uma forma geral, tive muita sorte nisso. Se como na vida cá fora, aqui encontrei pessoas que gostava que nunca tivessem cruzado a minha vida (uma ou outra gostava mesmo que não existissem na vida de ninguém), na esmagadora maioria fui mesmo muito bafejada pela sorte, e o único senão que tenho a apontar foi sempre o excesso de qualidades que me atribuiram. Eu não sou especial, nem melhor em nada que ninguém (embora achasse - mas já não sinta o mesmo- que também não seria pior).

Por isso, porque sei que desse lado estão pessoas, boas pessoas, porque algumas delas são muito minhas amigas (algumas já saltaram para o lado de cá e espero conservá-las para sempre, mesmo que quase nunca lhes dedique o tempo que mereciam), por isso... ainda que tivesse começado a apagar post por post, e tenha depois pensado apagar todo o blog, perdi a coragem e vou deixá-lo assim. Quem sabe se um dia...

Entretanto, mesmo reconhecendo que tenho muito pouca capacidade, continuarei a acompanhar, dentro dos possíveis, as pessoas (porque se trata de pessoas e não de blogs) de quem gosto. Talvez quase sempre em silêncio, mas a acompanhar.
E continuarei também disponível, se tiver capacidade para isso, e por esse motivo, o mail continuará activo.

Desejo-vos a maior das sortes!

Da Maddie

Há muito que deixei de crer que a tese de rapto fosse a mais plausível.
E também já não me causa incredulidade que os mais próximos, os que mais deviam amar, os que mais deviam defender, pura e simplesmente não o façam.
Não me causa espanto que os pais possam estar envolvidos na morte da Maddie. É uma hipótese possível. É provável.
Não creio que o tenham feito com dolo, e imagino (ou não) o sofrimento que a morte de uma menina tão encantadora lhes possa ter causado.

Mas não sei, realmente, o que se passou. E espero pelo fim da investigação.
A cada um o que sabe fazer. É a polícia que deve fazer este trabalho. E por isso demito-me de fazer comentários.

A verdade, irónicamente, é que nunca a frase: Please keep looking, please keep praying.*, fez tanto sentido. Sendo que o looking é aqui uma coisa muito agrangente.
Pela Maddie e pelas outras crianças.

* A frase não é proveniente do site, dito oficial, da Maddie. É do Miguel, mas desde o primeiro instante achei que condensava nela tudo o que era essencial.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Luz



A M. - muito minha M. - sente um especial fascínio por máquinas fotográficas, e na segurança surpreendente do seu palmo e meio de gente, aprende à primeira (não sei se aprende ou se adivinha) o modo de operar com a minha máquina (e com o meu telemóvel). A M. dispara centenas de vezes e, a par da predilecção que demonstra por fotografar vezes e vezes repetidas as pessoas de quem gosta, começa a sentir-se, já, atraída por motivos mais abstractos e de entre estes, gosta especialmente de fotografar luzes, nas suas mais diversas formas.


Eu gosto, mas não lhe digo, que ela goste de luzes, porque são o oposto das trevas, porque são o que ela é: a minha luzinha.


A M. é [quase] a única pessoa que consegue que eu me enfiei no aeroporto para a ir buscar quando o corpo, que ainda se sentia dorido, pedia para não sair de casa. A M. tem o poder de fazer as coisas más tornarem-se invisíveis com um sorriso rasgado, uma corridinha na minha direcção e um beijo e um abraço apertado, tão apertado e longo que quase não tinha fim.


A M. faz-me esquecer as horas e o mundo, faz-me rir e ser pequenina como ela. A M. faz-me ser grande, tão grande que sei ser capaz de a defender de todas as coisas más.

A M. é [quase] a única pessoa que consegue que me esqueça de mim, e isso é bom.


A M. não me larga um minuto e, no banco na Igreja, tenta pela primeira vez, entrelaçar os dedos demasiado pequeninos dela, nos meus, aperta com força, leva-me a mão à boca, beija-a, olha para mim com aqueles olhos enormes, doces e suplicantes e cola-se a mim como um gatinho, e eu, de coração apertadinho e olhos rasos de lágrimas, prometo a Deus e a mim mesma que sim, que não vou fraquejar nem desistir e que vou sempre, sempre estar ao lado dela.


O meu primo diz que é a química, a aponta para as veias do braço, como quem diz que é a química do sangue. Será. Será também, mas somos só primas, e eu só sinto isto por ela.


A M. faz-me ter força suficiente para correr pelo aeroporto com ela ao colo, numa corrida contra o tempo para não perder o avião, obriga-me a cerrar os dentes para não chorar na despedida e deixa-me com o seu boneco nos braços e o coração a doer já de saudades.

Não há volta a dar, o amor dói sempre, simplesmente porque é muito maior do que o coração.

domingo, 15 de julho de 2007

Dez dias?!

Passaram dez dias desde que escrevi aqui?! Dez dias, assim num ápice?!
Dez dias sem nem posts telegráficos, é verdade.

Não vou dizer que estive sempre, sempre a trabalhar, porque em dez dias vive-se, e dez dias de vida encerram em si muito mais do que o trabalho. Mas estive, quase sempre.
Agora, trabalho feito e entregue, horas de sono regularizadas, é tempo de voltar a uma certa normalidade.

Deseja-se o regresso a uma certa normalidade, mas como costumo escrever sobre aquilo que me domina no momento... lamento não ter nada minimamente interessante acerca do que escrever, porque o que me domina agora, apesar das várias horas dormidas, é o sono. Um sono persistente e invasor que deixa quase tudo parecer muito longe.
Por agora não me sinto capaz de muito mais do que vegetar pela casa, com as muitas páginas do Doutor Jivago debaixo do braço, aterrar, à vez, na sala, no quarto, nas águas-furtadas e deixar-me acormecer com o livro nas mãos. Tapar-me com uma manta leve e aninhar-me nas almofadas. E sentir uma paz preguiçosa e envolvente.

Ontem estava assim. Hoje, mais do que ontem.
Amanhã já deve ter passado.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Em género telegráfico*

Esta noite tive insónias. Já não tinha insónias há muito tempo.
Não tinha saudades disto. Não tendo sido especialmente penoso, fiquei só cansada por me parecer que o tempo, às vezes, parece passar tão lentamente.

Esta manhã cheirava a Verão no campo. Acho que hoje é, verdadeiramente, o primeiro dia de Verão.
Ainda não tinha cheirado a Verão este ano, a feno aquecido pelo Sol quente da manhã, a fruta madura e a ar morno.
Também já quase não me lembrava do cheiro do Verão; do Verão no campo, e apesar de não gostar de calor, hoje soube-me bem e senti-me reconfortada.

Andam a caiar os muros. E eu que, por acaso, não tenho qualquer costela alentejana, curiosamente gosto de ver caiar os muros e as paredes. Gosto daquele branco luminoso e puro, e gosto até de caiar.
Hoje, ao passar por lá não resisti. Salpiquei de branco os calções, a camisa, os sapatos, as pernas, os braços, a cara e o cabelo, mas fiz o que me apeteceu.
E depois almocei sentada no chão à sombra de umas árvores com as mulheres que andam a caiar. Comi bifanas e depois morangos, e muito pão daquele que só a M. sabe fazer. E ri-me genuinamente e descansada, junto de pessoas que me conhecem desde pequena e de quem sei que só me querem bem; muito bem.

E agora, volto ao trabalho normal.

* Como todos os que se prevêem nos tempos mais próximos. Por falta de tempo, só falta de tempo e nada mais do que isso.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Do cansaço

Estou cansada. Muito cansada. E, por isso mesmo, a tentar gerir as parcas energias e a falta de tempo que se imagina.
O meu Avô que, cada vez mais, acho que era um homem sábio dizia-me que: É o muito que deve ser bem governado, que o pouco por si se governa.
Sei bem o que ele queria dizer com isto mas, desta vez, neste caso especifíco, dou por mim a discordar dele. A energia que tenho é tão pouca que, por isso mesmo, tem de ser criteriosamente gerida.

(E sabes o que me apetecia, prima? uma noite daquelas, de conversa, até descobrirmos que lá fora o céu começa a ficar azul e o dia a nascer; daquelas conversas soltas; de saltarmos de uma para outra e para outra... sem preocupações de nexo; de juntá-las ao sabor do acaso e dos nossos apetites do momento, sem uma sequência previsível; dessas conversas de todas as cores como as pedrinhas de vidro daquele meu colar, que são só únidas por um fiozinho. Apetecia-me uma noite dessas apesar do cansaço... ou exactamente por causa dele.)

Sim, eu sei que é Segunda-feira, mas há fins-de-semana mais cansativos do que os dias da semana. E não, não foi de divertimento este fim-de-semana.

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Favoritos

Tenho de organizar os favoritos. Estão um caos!
Há coisas que nem sei porque lá estão, há outras que, afinal, não estão lá. Há uma lista enorme, avulsa, desorganizada e nada funcional.
Há coisas que, pura e simplesmente, não encontro.


Tenho de organizar os favoritos, mas os do computador, porque os do coração estão cá todos, e muito bem organizadinhos.

Balanço

O lado mau de trabalhar até às duas da manhã e começar o dia às horas de sempre, a que se juntam outros dias também a trabalhar mais horas do que é razoável, é que ficamos tão cansadas, mas tão cansadas que até perdemos a noção dos dias.

O lado bom de perder a noção dos dias é que julgo que hoje é Terça ( e não me convenço do contrário), e na verdade ser Quinta, e quando julgar que estou a meio da semana, estou no fim-de-semana.

O lado mau, é que tenho de trabalhar no Sábado.

O lado bom é que, ao menos, tenho o Domingo.

E não, não é uma queixa. Continuo tão bem disposta quanto antes.

terça-feira, 26 de junho de 2007

À Monsieur de La Palice

Não sei quem era o senhor, mas tem fama de dizer umas verdades anedóticamente evidentes.
A que se segue não é dele, é minha, mas bem podia ser dele.

- Sentirmo-nos bem é muito bom.

(Eu sei que estes estados de espírito são do mais entediante que há. Mas haja paciência! Já dura há um tempinho e não me vejo com vontade nenhuma de abdicar dele. Acho que lhe tomei o gosto; e o jeito também.)

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Contos Exemplares

Perdida de sono, cansada do dia, e com vontade de me deitar mesmo agora, ainda com a luz do dia lá fora, não deixo, no entanto de me sentir um bocadinho culpada.

Eu sei que tinha combinado falar com uma amiga, com quem já não falo há algum tempo (ando a falhar neste campo, por falta de tempo. e eu acho que é muito mau começarmos a aceitar que temos tempo a menos para os amigos). Eu sei que sim, e que não me sinto capaz de o fazer. Mas, tirando isto, não tenho nenhum motivo objectivo para me sentir culpada por me deitar tão cedo. Cumpri as minhas obrigações, estou cansada, posso deitar-me mesmo que o céu ainda esteja azul.

E, no entanto, há um sentimento de culpa idiota que me leva a passar a vista pela estante para encontrar uma desculpa para mim mesma.
Pego num livro e levo-o para a cama. Não vou bem, bem deitar-me. Vou ler para a cama, o que é substâncialmente diferente.

Amanhã não vou dizer a ninguém que fui dormir bem antes das 10H da noite. Eu fui foi ler.
Esta noite levo os Contos Exemplares da Sophia de Mello Breyner para a cama. Não devo ler metade de um único conto, mas isso também não importa. Não é essa a sua função.

Eu serei sempre igual a mim mesma em algumas coisas, suponho. Outras há em que me espanto com as mudanças, é verdade. Mas há coisas em que não devo mudar mesmo.Eu deitei-me cedo sim. Mas acabei por ser acordada (e não me aborreci nada com isso) e a seguir, comecei a sentir fome a achei que o que vinha mesmo a calhar eram umas torradas. E fico na cama a pensar em torradas, estaladiças, quentinhas, com muita manteiga e como pensar muito faz mal, levanto-me, vou à cozinha preparo uma caneca com leite e faço duas torradas dessas, mesmo dessas em que estava a pensar. E fico para ali a comer devagarinho, sentada numa cadeira da cozinha com as pernas cruzadas, e saber-me bem o silêncio da casa. E depois disso... ainda li um conto da Sophia de Mello Breyner: Retrato de Mónica.Cada vez mais acho que não vale a pena programar muito as coisas (algumas coisas), e cada vez mais acho que é muito mais agradável viver assim.

A minha amiga C. diz...

... diz, uma coisa que é muito dela.



Atribui quase sempre, e de uma forma automática e instantânea, todos os meus estados de espírito, flutuações de humor, tomadas de decisão, manifestações da alma, evoluções, suspiros, risos, lágrimas, gargalhadas, cansaços, vontade para ir às compras, dias em que tenho mais sono, noites em que tenho insónias, apetite para cozinhar, determinações, hesitações, a forma como me sento na cadeira ou me estendo no sofá, músicas que ouço, e as que não ouço, espirros, momentos de preguiça e ocasiões de grande actividade, livros que leio, ou os que vou deixando na cabeceira, mergulhos no mar, olhares para as estrelas, o mais súbtil dos gestos, etc, etc... a uma única pessoa.

Ora essa pessoa a quem ela atribui tudo isso, dependendo dos [meus] momentos, umas vezes com quase veneração, outras com uma animosidade que só não me assusta porque existem uns quilómetros a separá-los, não pode com este peso todo. E não pode porque não é humanamente possível carregar tamanho peso, não pode porque não é justo, e não pode porque não é verdade. Que não há ninguém no mundo que posso ser responsablizado por tudo na vida de outra pessoa. Nem mesmo quando são coisas boas. Se nós nem pelas nossas próprias vidas nos podemos responsabilizar em absoluto; há tantas coisas que nos fogem ao controlo...
Não pode, porque eu digo que não pode.
Há pessoas que nos mudam a vida, mas não podem carregá-la às costas.
Livra, C.! Entendes agora, já que não me ouves?!



sexta-feira, 22 de junho de 2007

Cerejas



Não sou dada a grandes loucuras gastronómicas. E até nem me perco por doces.
Sou razoavelmente disciplinada e se não devo comer chocolate, mesmo gostando, não como. Não como quase nunca. Raramente. Em poucas ocasiões. Pronto... como relativamente poucas vezes, digamos assim. Mas tenho um mínimo de auto-controlo, porque tenho.


Mas com as cerejas não é assim. As cerejas são a excepção à regra. As cerejas fazem-me cair no pecado mortal da gula. Pura gula e puro pecado. Até a cor delas é a do pecado.
E eu não tenho a culpa, só não lhes resisto.


Há uns dias, andava eu a tratar dos meus (do trabalho) assuntos, tenho o azar de passar por uma frutaria (ainda existem frutarias em Lisboa. Boas frutarias, cheias de coisas boas e senhoras simpáticas a atender-nos), elas estavam mesmo à vista de quem passava, não lhes resisto, entro e compro 500g, com medo que mais me pudesse fazer mal.
A senhora diz que são mesmo das boas, que são da Cova da Beira, das que não se estragaram.

Eu esqueço as recomendações de que se deve lavar a fruta antes de a comer, esqueço a norma de educação que me enfiaram na cabeça em pequena que diz que não se deve comer na via pública (que é feio, e tal) e desato a comer cerejas.
E não vejo mais nada à frente, nem passadeiras, nem semáforos, nem números de portas... nada! Até que resolvo parar e comê-las todas, antes de ser vitíma de algum acidente, ainda por cima provocado por mim.
E é assim; não posso ir comprar nada que não venha logo com cerejas também. Não posso ir à cozinha sem ter de comer um monte delas se lá existirem.
E parar?! Custa tanto!

Por causa das cerejas, chego a inventar desculpas para sair do escritório e ir a casa em pleno horário de trabalho.
As cerejas são a minha perdição. E a minha frustação também; com tanto terreno, tantas espécies, tantas árvores, tantas frutas, tantas... e aqui não há cerejas, não há uma única cerejeira.
Quando for grande hei-de ter um pomar delas. Na Cova da Beira. Que a Senhora da frutaria diz que são as melhores, e são mesmo.
Nunca fui à Cova da Beira, mas um dia hei-de ter lá umas cerejeiras.



(Espero esquecer isto logo que passe a época das cerejas. O que é que eu havia de fazer com um pomar num sítio onde nunca fui e, na verdade (mesmo que envergonhada), não sei como lá se chega?! , i.e. tenho a ideia que fica entre a Serra da Estrela e a da Gardunha)

Nota: Afinal já sei mais umas coisas sobre as cerejas da Cova da Beira. Está lá tudo, aqui. E, até lá há mais coisas sobre outras frutinhas nacionais, e com receitas e tudo. Que eu cá nem nunca tinha ouvido falar deste site nem conheço quem o fez nem nada, nem nada... ;)

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Tílias

Ontem à noite quando saí de casa já o cheiro das flores das tileiras era tão forte que entontecia, um cheiro doce, envolvente, que se cola a nós. De manhã, quando regressei, não era tão forte, mas estava lá.


Foi sempre assim. Todos os anos, por esta altura ele volta, marca o tempo, a continuidade, a vida feita de ciclos que se repetem aparentemente ad eternum.
Os pirilampos nas primeiras noites de Primavera, o florir das sempre-noivas, as primeiras serenatas nocturnas de cada Primavera do rouxinol da mata, os grilos que andam tão calados, os melros que roubam os figos e os morangos, as noites estreladas, o cheiro enebriante das flores de tília. De noite. De noite é sempre entontecedor.
Mas essa aparente imutabilidade é ilusória. Eu não os sinto do mesmo modo. As mudanças dão-se. Até que idade cresceremos?


Pela primeira vez desde que tenho consciência de mim, reparo nestas marcas do tempo, do passar de cada estação sem olhar para trás, sem sentir saudades do que o tempo vai deixando mais longe. São memórias, só. Algumas doces, mas apenas memórias.
Pela primeira vez não sou teletransportada para os acontecimentos passados e fico presa a eles, ou neles.
Pela primeira vez desde que me lembro, alegro-me por encontrar estas marcas mas desta vez penso ao contrário: gosto do presente e não quero voltar para trás.
Pela primeira vez na vida a primeira expressão que me ocorre à cabeça ou à boca não é: Quando eu era... Que me importa isso?! Importa o que sou, hoje.


Quando muito, sorrio só para mim, e pergunto-me sem querer no entanto saber a resposta, no que pensarei para o ano, quando sentir o perfume das tílias, que nessa altura talvez não veja todos os dias.
E gosto tanto que seja assim.

Eu tenho uma amiga maluca

Telefona-me ontem de manhã, estranhei a hora e estranhei o tom de voz.
Notava-lhe a respiração irregular, o discurso aos solavancos com cortes no raciocínio ou, pelo menos, no sentido que transmitia. Estava nitídamente aflita, preocupada com alguma coisa, inquieta, um bocadinho de tudo isto e uns pózinhos de mais alguma coisa.

Inistiu que tinha de jantar com ela, que tinha que falar comigo, que era muito urgente, muito sério, muito difícil.
E muito complicado, concluí eu.

Mas a meio da semana, com tantas coisas atrasadas que tenho por aqui...
Bom, mas ela insiste que é mesmo importante eu também acho que sim, que tem de ser mesmo importante, ou não estaria a falar como estava.
Vou, claro.

Mas à hora de jantar não era nada! Nada!

- Mas ò C., então não havia uma coisa complicada sobre a qual querias falar-me? Então mas estavas tão aflita, lembras-te?! De manhã...

- Ah pois... mas passou! Foi confusão minha!

- Mas ò C., tu fazes uma "fita" daquelas, obrigas-me a vir jantar contigo a meio da semana e agora estás aí com esse ar de quem nem se lembra do que disse de manhã?!

- Já te disse que foi confusão minha, não é nada. A massa está boa, não está? E o Porto, fez-te bem, hein?!

- Fez, mas Estremoz, pelos vistos, fez-te mal a ti!

Eu tenho uma amiga maluca! Mas sim, a massa estava boa e a noite foi agradável.

terça-feira, 19 de junho de 2007

O Norte*


Escrever, às vezes, pode ser tão limitativo, que nem vale a pena tentar.
Às vezes as palavras não servem; ou a vida serve-nos tanto... que dispensamos até as palavras.

*Sempre me perdi de amores pela expressão "encontrar o Norte", por oposição ao "perder o Norte" ou ao "desnorteado".