quinta-feira, 30 de junho de 2005

Em contagem decrescente

Daqui a um mês estarei de férias.
No dia 29 ainda tenho que trabalhar. Se não fosse por causa do cão, seguia logo nesse dia mas, assim, talvez só vá no dia 30 de manhã.

Quando chega a esta distância o tempo voa. Já sei que vou andar a correr para conseguir fazer tudo o que é preciso que fique feito até lá. Todos os anos é assim. Este ano será ainda pior!

E, não sei porquê, nunca fico feliz com a aproximação das férias!
É a coisa mais absurda do mundo! Passo o ano à espera que cheguem, quando as tenho espero que não acabem, e quando estão a chegar fico assim, um bocadinho contrariada!

E não é de hoje nem de ontem. Fui sempre assim!
Quando era bem pequena deram-me um girassol num vaso. O girassol cresceu e ficou maior do que eu. Quando estava quase a abrir a flor, chegou a altura de irmos para férias.
Foi uma tragédia! Não queria ir por nada!
Chorei que nem uma Madalena agarrada à "minha" Maria que tentava afastar-me do girassol.
A ideia de ir para o Algarve ( pois porque a "minha" praia não é a minha primeira praia. Só me mudei depois dos dez anos. A de origem mesmo, era Lagos) e de não chegar a ver a flor do girassol de que gostava tanto deixou-me verdadeiramente triste.
Lembro-me que tinha um vestido branco com flores pequeninas de todas as cores, e lembro-me que a viagem me pareceu interminável, e que chorei durante todo o caminho, para desespero dos meus pais!

E depois disto chorei quando acabei a primária e algumas das minhas amigas não iam para o mesmo colégio que eu.
E ficava sempre triste com a perspectiva de estar três meses sem ver pessoas com quem convivia, normalmente, todos os dias.

Fico sempre triste por deixar pessoas e sítios para trás.
As idas para o aeroporto nunca foram momentos alegres. Verdade seja dita que depois também não me apetece voltar, apesar das saudades. E que tenho mesmo que sair, porque a necessidade de ir é mais forte do que a tristeza de deixar coisas para trás.
Uma vez cheguei ao ponto de ter hotéis marcados, a viagem toda planeada (por uma amiga minha, porque eu não sou muito ordenada nessas coisas), bilhete de avião na mão e de lhe dizer: Afinal... não vou!
Mas acabei por ir. E ainda bem!

Realmente... sou muito complicadinha!
Estou sempre desesperada para ir, e sempre com saudades antecipadas do que deixo para trás!
Nem sei porque é isto! Afinal vão ser só vinte dias. E vinte dias passados dentro do país. E sei que quando lá estiver não vou querer sair de lá.
Também é verdade que, este ano, acho que também vou sentir a falta da internet e de pessoas que até não vejo - esta coisa dos bolgs...!!! - , mas...
O meu pai diz que sou assim, complexa, e com contradições, e sentimentos que se chocam, e inquietações, e emoções à flôr-da-pele, e sempre de coração nas mãos, por causa do signo - logo ele que até nem acredita nestas coisas. Imaginem se todos os Aquários fossem assim!

quarta-feira, 29 de junho de 2005

230 Km/h

Hoje, ao contrário do que tem acontecido, dediquei todo o dia ao meu segundo emprego. Isto porque era conveniente analisar umas coisas in loco. E o ideal mesmo era irmos alguns de nós, para avaliar diversos aspectos.
E fomos.

Fomos seis, dos dezasseis do grupo. E, como há sempre quem goste especialmente de guiar, lá acabaram por ir três carros para seis pessoas.
Para lá correu tudo muito bem. Saimos em grupos de duas pessoas, a horas ligeiramente diferentes, e todos lá chegámos a horas.

Para cá a coisa foi um bocadinho diferente.
Entraram os três carros na auto-estrada.
Dois Mercedes e um Audi. Os três com menos de um ano.
Ninguém queria ficar atrás.

Às tantas pareciamos miúdos a fazer corridas de biciclete.
Valia tudo para passar para a frente!
Eu não ia a guiar - Deus me livre destas coisas! - mas a verdade é que comecei a achar graça, e em vez defender um abrandamento da velocidade, acabei por entrar no espírito da brincadeira.

Quando olhei para os númerozinhos vi: 230! Íamos a 230 Km/h!
E, diz quem viu, que passámos por um carro da polícia.
A velocidade e as manobras... Valia tudo! Todos os outros carros pareciam que estavam parados nas faixas da auto-estrada, tal era a diferença de velocidade!

E agora, se me permitem, vou tentar perceber como é que cheguei viva a casa! Porque não consigo fazer mais nada!
E talvez amanhã reflicta, também, sobre a causa dos comportamentos tão estranhos que se têm manifestado neste grupo escolhido a dedo pela entidade pagante!

terça-feira, 28 de junho de 2005

Óculos

Passei pelo consultório da minha médica porque, como ela é também médica da minha Mãe fui convencida a ir lá buscar umas requisições de análises. É para coisas destas que servem as filhas.

Entrei com pressa. Ela riu-se e disse-me que nunca lá vou. Que devia ir a uma consulta de vez em quando, que toda a gente devia fazer isso.
Disse-lhe que não tinha tempo, nem necessidade, nem paciência.
Lá me convenceu a pesar-me, e acabou por medir-me ( como se não tivesse parado de crescer há já não sei quantos anos!), e mediu também a tensão e fez um teste à visão. Bolas! Quase um consulta! Fui muito parva!

57, 800Kg; 1,68m descalça; tensão máxima 11,80; tensão mínima 6,20. Estava tudo bem. Perfeitíssimo! Eu bem sabia que não precisava de ir a consultas.

No teste de visão espantou-se: Mas a Margarida tem uma visão superior a 100%!
Isso pode lá ser?! Existe alguma coisa a mais de 100%?!
O teste só pode estar mal feito!
Pois... eu sei que vejo bem, mas é que tinha uma mania.

Quando entrei para a faculdade meti na cabeça que queria usar óculos.
O meu primo V., que tinha entrado no ano anterior, tinha passado a usar óculos para ler.
Eu queria uns! Achava que dava um ar muito mais credível. Achava graça, sei lá porquê!

E meti na cabeça que precisava mesmo, que ia ler imenso, que me fazia falta.
Insisti em casa e insisti com a minha médica. Cheguei a inventar sintomas: dizia que ficava com dores de cabeça quando lia. Sobretudo à noite!
Ela achava que eu não precisava de nada, mas a insistência era tanta que lá me mandou fazer uma bateria de testes.
Fiquei farta de fazer tantos testes e percebi logo que não ia usar óculos nenhuns. Eu ainda insisti com o médico, queria uns! Mesmo fraquinhos! Só para descansar!

Nada! Recomendaram-me óculos de Sol e pronto! Esses sim, faziam-me falta porque, apesar de ter uns comuns olhos castanhos, lá detectaram que devia ter um gene recessivo azul que me fazia ter muita sensibilidade à luz.
E pronto! Parece que os únicos óculos que vou usar nos próximos tempos vão continuar a ser os de Sol, e é quando e se me apetecer! Mas agora também já não me importo nada!

domingo, 26 de junho de 2005

Northsound

Fim de Domingo e fim-de-semana...
Fim de dia...
Devia preparar umas coisas para amanhã, mas não me apetece. Nem um bocadinho.

O A., um velho professor reformado, escocês, que mora numa pequena casa num lugar aqui perto, esteve cá. Há muitos meses, quando lhe levei a casa uma caixinha com os últimos morangos e uvas da época, que lhe tinha dito que tinhamos que combinar um dia para ele cá vir.

A solidão dele apertava-me o coração. Já idoso, sózinho, a viver num país que não é o dele. Mas fiquei hoje bem mais confortável quando ele me explicou que era uma opção dele.
Claro que sabia que era uma decisão dele. Não estava a imaginar outra coisa. Mas, mesmo assim...
Mas ele foi muito claro: foi uma opção, uma decisão tomada com calma, ponderada, resultado de certezas. Fiquei contente, por ele.

Falámos, falámos...
Da Escócia, de Portugal, da Europa, da vida cheia dele, e da família que tem espalhada pelo mundo, dos seus dois gatos brancos, de mim...
Riu-se e disse-me que eu falava com sotaque do Norte, do norte da Grã-Bretanha, da Escócia, pois claro!
Suou-me a elogio. Senti-me aninhada nessa constantação.
Disse-me também, com os olhos marcados de rugas fixos nos meus, que se notava que tinha o espírito muito longe. Tão longe que se percebia que me sentia presa aqui.
Senti-os cheios de água. Apetecia-me dizer tanta coisa, mas fiquei calada. Afinal, eu própria, não percebo esta necessidade!

Mudámos de assunto.
O resto do dia decorreu pachorrento e bem disposto.
Havia tanta coisa de que falar. Coisas simples.
Quando se foi embora deu-me um beijo na testa e disse-me num tom carinhoso mas firme:

- Dont´t be afraid to go! Go, my dear, go!!!

Talvez! Talvez no fim de Novembro! Até lá... compromissos e compromissos!

sexta-feira, 24 de junho de 2005

Distracções

Esqueci-me do relógio.
Já nem posso dizer que é uma situação rara. Últimamente deu-me para isto.
Se fosse frequentadora de um psicanalista de certeza que me diria que era uma forma do meu subconsciente manifestar a minha necessidade de me libertar da prisão dos compromissos e das horas. Uma forma de pedir FÉRIAS, em suma.

E também me parece que me esqueci dos neurónios em algum sítio.
Estava com uma fominha que incomodava um bocadinho e resolvi ir comer um iogurte. Um daqueles que trazem mensagens nas tampas.

Abri e dizia, exactamente o seguinte:

! romA
Gosto de ti de trás para a frente.

Estranhei que o ponto de exclamação estivesse à frente da palavra, mas não liguei.
Estranhei que a última letra fosse uma maiúscula e a primeira uma minúscula. Mas era assim, era assim.
Fiquei a pensar: também gosto muito de Roma! Só lhe faz falta uma praia - a mensagem do subconsciente novamente!

Depois de olhar com mais atenção vi que a palavra era Amor!
Afinal era Amor escrito de trás para a frente. Pois claro! Ao contrário! É isso!
Mas Roma é mais acessível... A Alitalia tem viagens em conta e chega-se lá num instante. Claro que não é a mesma coisa, mas...

quinta-feira, 23 de junho de 2005

São João

Dois anos depois de ter acabado a licenciatura, estava, por esta altura do ano, em Braga.
Tinha um trabalho para fazer lá que tinha adiado até ao limite. Apesar da má vontade tive mesmo que ir.

Depois de lá estar não demorei muito a render-me à cidade e a perceber que tinha sido uma palerma.
Gastava do sítio onde estava, gostava de trocar o serviço de despertar pelo toque dos sinos, gostava de sair de manhã e sentir o ar mais fresco do que cá em baixo, de ir trabalhar a pé por ruas sem trânsito, de descobrir pessoas que, afinal, eram conhecidas dos meus pais e familiares afastados, do ritmo lá de cima, da comida, da simpatia das pessoas, da sensação estranha de conhecer tudo aquilo desde sempre.

Na véspera do S. João resolvi vir cá abaixo. Tinha mesmo que cá vir, e achei que era a altura ideal. Com a confusão que os preparativos para a festa faziam prever, devia ser muito difícil fazer o que quer que fosse lá por cima.
Ao pequeno-almoço perguntaram-me, com ar de espanto:

- Vai embora?! Mas volta, não volta?!

Pois claro que voltava. Só não disse quando.
Voltei três dias depois. Devagarinho. Demorei quase todo o dia na viagem porque, chegada ao Porto, dispensei a A3 e preferi ir por perto do mar. E como nem sempre se consegue, fui fazendo desvios e paragens - e não me perdi! - sem pressa, até chegar a Esposende e virar para dentro.

Quando cheguei percebi, pelo ar incrédulo das pessoas e pelos comentários, que devia ter cometido um enorme pecado. Tinha faltado ao São João!
Ainda argumentei que julgava que não tinha muita importância e que achava que o S. João a sério era no Porto.
Foi pior a emenda do que o soneto. Qual Porto?! Aqui é que é! Não há festa melhor, menina!, dizia-me, quase fora de si, o homem do parque de estacionamento!

Ainda havia fitas e balões nas ruas. Ainda havia grupos de pessoas, mais ou menos eufóricas, nas esplanadas. Ainda tive direito a um manjerico.
Não voltei a ficar em Braga. De cada vez que tenho coisas para fazer lá, fico, naturalmente, em Barcelos.
Nem pensei mais no S. João, mas foi a partir dessa estadia que comecei a telefonar para baixo a dizer, em tom de brincadeira, que não voltava. E, brincadeira aparte, foi desde essa altura que quase me convenci disso.

quarta-feira, 22 de junho de 2005

Quer-me parecer...

Quer-me parecer que vou, finalmente, dormir a noite toda. Não já! Daqui a umas horitas. Até porque ainda vou jantar!
Tenho reunidos dois condimentos importantíssimos: cansaço e paz de espírito!
Boa noite! :)

Cabeleireira

Ao contrário da maioria das mulheres, nunca gostei de ir à cabeleireira.
Não é que não vá. Mas vou quando preciso.

E até precisava. Há uma semana cheguei ao ponto de marcar hora e depois desmarcar porque estava mesmo sem tempo. Mas ontem tinha que ser. E lá fui.

Chego oito minutos atrasada. O que não é nada, dizem-me elas de sorriso nos lábios e desfeitas em simpatias.
Sento-me e digo que quero cortar o mínimo, não mais do que a largura de um dedo.
Concordam logo. Pois claro. É para cortar um bocadinho de nada!

Lavar, creme para hidratar. Tudo com muita paciência e atenção. Até ia adormecendo!

Passo para a cadeira para cortar e lá começa a tragédia.
Pergunta-me pela minha Mãe, comenta que o meu irmão tem caracóis e o cabelo parecido com o da minha Mãe ( mas de onde é que ela conhece o meu irmão?!), etc, etc.
As cabeleireiras sabem tudo das nossas vidas!

De repente olho para o chão e vejo bocados enormes de cabelo cortado.
Mais de quatro dedos! Mesmo mais!
Olho mas não digo nada. Para quê? Já estava cortado.

Começa então a falar-me em férias.
Ora praia para aqui, ora mar para ali... porque eu fazia muita praia, porque eu passava o tempo dentro de água ( tipo peixe, está visto), porque depois espigo o cabelo com o sal da água... Enfim. Estava justificado.
Ela fez uma avaliação dos meus hábitos e decidiu o que devia cortar em função disso.

As cabeleireiras são umas criaturas fantásticas: conhecem todos os nossos hábitos sem que nós nos tivessemos dado ao trabalho de as informar. E, melhor de tudo, decidem por nós.
Ora quem melhor do que ela para decidir por onde cortar o meu cabelo? Que importa a minha opinião, não é?
É por isso que nunca gostei de cortar o cabelo!

Martim

O Martim é um homem lindo.
É inteligente, afável, de conversa agradável, escreve bem, é sensível.
O Martim sempre teve paciência para ouvir as conversas acerca dos meus problemas e interesse em tudo o que eu fazia.
O Martim trazia-me tarte de maçã ou gelado de morango quando menos se esperava.
Mostrava-se disposto a ir ao mais absurdo dos sítios, desde que eu manifestasse interesse. Às mais improváveis das horas.
O Martim teve a paciência de ser chamado de meu namorado numa altura em que me afastei do A. por uns meses, convencida, nessa altura, que era para sempre ( mas não foi dessa vez) . E esperou pacientemente até que tudo voltou ao mesmo.
O Martim teve o sangue frio de me ouvir lamentar por causa de outra pessoa sem me dizer, como as minhas amigas, que devia virar-lhe as costas e que ele não prestava.
O Martim limpou-me as lágrimas que não provocou e esteve sempre comigo, mesmo no momento mais difícil da minha vida.

Devia tê-lo amado!
É tão bom e tão especial que talvez nem o merecesse. Se calhar é por isso que nunca me apaixonei por ele. Para mim é um irmão. E ele sabe disso.
Acho que só me apaixonarei por alguém com defeitos, como eu.

Ele merecia ser feliz. E para começar, merecia deixar de gostar de mim.
Felizmente, para ele, passa a maior parte do tempo fora do país.
Estava convencida que já não me via de outra forma senão como amiga.
Espero, sinceramente, que o consiga! E que seja feliz!

terça-feira, 21 de junho de 2005

Claramente... uma vergonha!

Depois de me ter visto na contigência de ter aceite a boleia possível, de ter feito uma viagem a horas absolutamente absurdas de Melgaço para cá, e de ter feito uma paragem em Barcelos a meu pedido, e dessa viagem ter demorado tanto, mas tanto, que cheguei de manhã, apesar de ter dormido a maior parte do caminho, estava um bocadinho tonta ontem. Tonta, cansada, um bocadinho melancólica...

Acontece que tinha uma reunião no meu trabalho número dois. Uma daquelas importantes, com aparato, concorrida. Daquelas sérias.
Sempre achei que marcar reuniões destas para depois do almoço não era a melhor das ideias, mas parece ser uma fatalidade.
Ora lá estávamos: 18 pessoas, tudo muito sério, e formal quanto baste.
O assunto era importante, e sério, e pertinente e até interessante. E até é por isso que nos pagam!

Duas dessas pessoas não fazem parte do grupo permanente. Foram apenas apresentar um estudo que tinham feito.
Era um homem e uma mulher. Ele bem mais velho, habituado a estas coisas, calmo e seguro dos seus argumentos. Ela novinha - bem... pouco mais nova do que eu - mas muito mais insegura do que ele.
Acontece que ela tinha, claramente, um tique: proferia a palavra claramente a cada dois segundos.

A páginas tantas começa a ser claramente difícil perceber o que ela queria dizer, e a tornar-se claramente notado por todos.
Ora é evidente que todos faziamos um esforço por nos abstrairmos desse pormenor e focarmos a nossa atenção no que, claramente, importava.
Eu então estava com uma vontade enorme de não estar ali. A cabeça estava entre o vazia e o pesada. Se existem dias maus este era um deles. Mas fazer o quê?! Tinha que ser!

Claro que, às tantas, começo a ter vontade de rir de cada vez que ela dizia claramente.
Naturalmente, olhei para alguns dos meus colegas - até porque a mesa é em U. Tinha mesmo que olhar.
Percebi que tinham vontade de rir. Pressentindo o perigo baixei os olhos e preferi fingir que estava a dar atenção aos papéis que tinha à minha frente.

Tudo teria corrido bem se o A., sentado do meu lado esquerdo não começasse a soluçar de riso. Mordi o lábio para me conter.
Olho para ele e não consigo não rir. Baixo um bocadinho a cabeça e puxo o cabelo para a frente para fazer de cortina.

Ele começa a rir.
Eu finjo que escrevo.
A I., do outro lado dele, começa também a rir. A F. ao meu lado também.
A S. ao lado da I. igualmente. E o outro A., ao lado da S. também não se controla.
E quanto mais tentava parar pior!
Quando quase conseguia lá o A. estragava tudo de novo. Não parava! Não parou! Não parámos, até ao fim!

Ora foi, claramente , uma enorme vergonha!
Pessoas crescidas, com alguma responsabilidade, a serem pagas - e bem, diga-se de passagem - para estarem ali e... portarem-se como um bando de crianças descontroladas!
Não me acontecia uma coisas destas para aí desde os meus 10 anos, no máximo, à mesa dos meus avós!

Resolvi responsabilizar o A.! Disse-lhe que parecia impossível! O mais velho de todos, 38 anos, pós graduações em gestão nos E.U.A., e fazer aquilo!
Agora, finalmente sem pessoas "estranhas", ele ria ainda mais!
Disse-me que também não tinha falta de habilitações académicas, ainda que fosse noutra área, e que quando eu tivesse 38 anos provavelmente teria tanto juízo como o que tenho hoje - excelente perspéctiva!
Lembrou-me que ganhava o mesmo que eu e que, consequentemente, a responsabilidade era a mesma. E disse-me que também não lhe acontecia uma coisa assim desde miúdo. Nem a ele nem a ninguém!
Eu também ria à gargalhada!
Na verdade ria ele, e eu, e a S., e a I., e a F, o outro A., a V., o P., o M., o L ...
Claramente uma vergonha! Mas, claramente, muito divertido! :)

domingo, 19 de junho de 2005

Fim de capítulo

Desde relativamente cedo na minha vida que tive a sensação que tinha caído dentro de um livro e que fazia parte dele. Que a minha vida era isso mesmo, parte de uma obra que não tinha escrito e da qual gostava de sair.

As outras pessoas escolhiam o rumo que tomavam. Escolhiam as pessoas com quem queriam ficar, o que queriam fazer, onde queriam morar.
Tudo sempre me pareceu tão simples e ordenado. Para os outros.

Comigo não.
Parece que fiz tudo o que quis, que escolhi as pessoas que quis. Que fiz e desfiz a meu gosto. Mas não! Nunca!
Não me apaixonei por quem quis, nem quando quis. Não me apaixonei pelas pessoas "certas". E as que não eram "certas", não eram "certas". Uma vez surge um curso longe que nos separa. Num segundo caso, uma fotografa, uma colega sonsa, uma rapariguinha atiradiça, e outra, e outra, e muitas, muitas "amigas"... e tudo o resto!
E sempre me deixei enlear por obrigações, por expectativas de outras pessoas. Sempre.

E em tudo...
Foi sempre assim. Eu sabia que não importava o que fizesse. No fim da história não aconteceria o normal, e muito menos o que eu queria; aconteceria o que tinha que acontecer, o que estava escrito. Sem lógica, mas impossível de mudar.

Sei que seguirei o caminho que tiver que seguir, não o que escolher. Que farei o que tiver que fazer. Onde tiver que ser. Mesmo que essa constatação me deixe de lágrimas nos olhos.
Sei que existem capítulos neste livro. Aprendi a identificá-los.
O mais recente terá, sensivelmente, a idade deste blog. E foi bom.

Juntei pedacinhos partidos, aprendi a olhar de novo para a vida, para as flores, para o céu. Selecionei amigos e até ganhei família.
A cada dia fui-me sentindo mais leve, mais alegre. Acho que foi um capítulo feliz! Fui feliz! Até muito.
Não o teria terminado. Não por minha vontade. Não agora nem assim.
Mas não escolho. É nestas alturas que sinto que não escolho nada. Que cumpro apenas qualquer coisa em que não tenho domínio.

Por alguma razão estou aqui enquanto podia estar lá fora, onde está toda a gente, na piscina desta quinta tão velhinha, tão cá no cimo do país.
Por alguma razão preferi ir de manhã a S. Gregório. Ao limite, ao fim. O fim de uma terra e o começo de outra.
Por alguma razão não sei porque vim. Porque até nem queria vir. Acho que não queria. Tenho feito quilómetros a mais. Devia descansar. E até precisava.
Mas porquê que não vinha?! Nem era eu que guiava. A Catarina é das minhas melhores amigas. E os amigos dela e os primos e até o irmão... Se calhar é porque não devia estar sózinha, mesmo que me apeteça.

E lá vou eu para um novo capítulo que presentia já há dias. Mesmo não querendo. Simplesmente porque este chegou ao fim. Só por isso.
Mesmo que não se note muito. Talvez nem se note neste blog. Ou talvez se note.
Mas é o fim deste! E já sinto umas saudades maiores do que o mundo!

sexta-feira, 17 de junho de 2005

As duas faces da moeda

Gosto:
Dos quilómetros de areal.
Do mar forte.
De não ser preciso pegar no carro para nada, enquanto lá estou.
Da casa espaçosa onde cabe sempre mais alguém.
Do meu quarto com vista para o mar.
Das manhãs húmidas.
Dos dias de Sol.
De vir da praia com os cabelos ainda molhados e já com as luzes da iluminação pública acessas.
Da sensação de calma e de ausência de horas.
Da água fria.
Do cheiro a maresia, sobretudo à noite.
Do bar sobre a praia.
Das conversas com os amigos de sempre, durante o dia e pela noite fora.
Da areia que se solta fácilmente da pele.
Dos toldos, que sendo sempre e só, alugados às mesmas famílias, naquela zona da praia, nos permitem disfrutar de espaço e calma, mesmo aos Domingos.
De passar para lá da rebentação e ficar a ver as pessoas serem arrastados pelas ondas como uma colónia de pinguins (eu sei que isto é feio!).
Dos passeios ao anoitecer com o cão à beira-mar.
De adormecer com o som do mar quando ele está bravo.

Mas não gosto:
De encontrar no início da época, dezenas de Mães de amigas e de ter que lhes relatar, uma a uma, toda a minha vida durante o ano que passou.
Que cada uma dessas conversas durem duas ou três horas.
De sair de casa de manhã e de não conseguir fazer os cinco minutos de caminho em menos de três horas, por encontrar pessoas conhecidas a quem é necessário falar.
De ter que contar tudo o que fiz a nível profissional.
Que insistam em querer saber como anda (ou não) a minha vida amorosa.
Que fiquem muito desiludidas por ainda não me ter decidido casar com um dos bons partidos disponíveis. Não contando nada para o caso o facto de não gostar de nenhum deles (que também não são tantos assim!).

Mas claro que isto só dura uns 5 ou 6 dias. Depois disso, curiosidades saciadas e cumprimentos anuais feitos, tudo volta à paz dos anjos.
Mas é por isso que agora, não volto lá até ir de férias de vez. Não me apetece gastar um dia que possa lá passar, a relatar a minha vida! Ou então vou pegar no telefone e faço o relato a cada uma delas. Organizado, como gostam. Assim, quando nos encontarmos já só preciso de lhes dar um beijinho e fugir em direcção ao mar.

quinta-feira, 16 de junho de 2005

Passou!

Passou a tristeza! Rápida! Quando me lembrei dela já cá não estava!
Pois... tenho que confessar que o blog foi uma boa ajuda! ;)

O cansaço ainda cá anda, mas... qualquer dia estou de férias. O qualquer dia é só mesmo no final de Julho, mas faz de conta que falta pouco!

A irritação também se evaporou!
O trabalho é que não. Ainda cá está!

Acabei por ir dormir à minha praia. De janela aberta, voltada para o mar - e não me constipei! Resulta sempre! Quase resulta...
Até me apetecia ir mais longe, mas hoje não é fim-de-semana e havia muitas coisas por fazer.
Sim, porque, decididamente, não me apetece despedir-me. Pelo menos por agora.
É que se fosse enumerar as vantagens deste trabalho, para além de ficar uma lista muito grande, era capaz de causar alguma inveja.
Claro que me apetece muitas outras coisas, e estar em outros sítios, e... Claro que estou mais que determinada a arranjar uma outra casa ( ainda que vá sempre manter esta), bem longe daqui. Mas não quero perder isto. Mesmo que viva noutro sítio, vou manter tudo debaixo de olho.

É verdade que vou ter que fazer serão, mas há compensações.
A verdade é que vim trabalhar tarde e ninguém me incomodou por isso e... estou a trabalhar de havainas, com o cão deitado ao lado da secretária e, reparei agora, até tenho areia dentro dos bolsos! :)

quarta-feira, 15 de junho de 2005

Temperamentalidades

Um bocadinho - ténue, embora - menos triste, mas manifestamente mais esgotada, e na sequência de um assunto que, de facto, me está a incomodar muito, irrompo aos gritos com o meu pai/patrão - ou na ordem inversa, neste caso!

- Não quero saber de mais nada! Estou farta! Para mim chega! Não preciso disto! Posso muito bem viver de outras coisas! Não me importo nada de ganhar menos desde que me sinta com mais ar!

E, aparente e misteriosamente, inspirada numa música qualquer - mas muito conhecida - de uma cantora pimba, tão conhecida quanto a música, prossigo no mesmo tom:

-Não quero saber do seguro de saúde, que nem uso. Não preciso de ter três cartões de crédito! Pode ficar com isso tudo! Estou farta! Fique com tudo!

E não contente com o desempenho, agarro nas chaves, saio porta fora, digo que não preciso daquelas chaves todas e, num gesto largo, atiro-as fora.

O meu pai olha para mim sem pestanejar e diz-me calmamente e num tom baixo:

Faça o favor de apanhar a chaves e de as pôr onde estavam!

E eu fiquei parada a olhar para ele. Parei de gritar. Fui apanhar as chaves e voltei para dentro!
Claro que continuo muito incomodada com o assunto. Mas, ainda assim, é muito claro que me excedi um bocadinho. Um bocadinho grande.
Não sei o que me passou pela cabeça! Não estou numa fase boa...! Parece-me evidente!

terça-feira, 14 de junho de 2005

...

Ponto 1:
Estou a tornar-me cada vez mais convicta de que devemos fazer um esforço por não nos tornámos insubsituíveis no trabalho.
É bom que haja alguém, ou até mais do que uma pessoa, capazes de ocupar o nosso lugar em caso de ausência.
Quer-me parecer que tenho andado a ser muito palerma todo este ano. Nos outros também, mas neste muitíssimo mais!
Se quando não estou por umas horas o telemóvel não pára de tocar, então como será quando estiver de férias?!

Ponto 2:
Estou triste. Realmente triste.
Não é melancólica, nem nostálgica, nem irritada. Triste!
E não é por nenhum fantasma do passado. Não é por nenhum fantasma. Não é por nada do passado. E, imagine-se, nem tem nada a ver com o trabalho.
Mas que estou triste, estou! Daquelas tristezas mansas, que não dá para afastar com uns gritos na cara de alguém ou contra alguma coisa. Daquelas que nascem de mansinho, silênciosas, no coração. Mas até sei porque é.

segunda-feira, 13 de junho de 2005

Não há coincidências

É o título de um livro que me ofereceram hoje, de surpresa, porque disse que nunca tinha lido literatura light. Mas não se trata disso.
Não há coincidências...

Até há muitas. Coincidências, encontros, acasos e coisas que tais. Algumas deixam-nos arrepiados só de pensar que podiam não ter acontecido.
Mas há os outros. Os encontros que não são fruto de coincidências. Que são preparados e surpreendem só uma das partes. E foi o que me aconteceu no Sábado à tarde.

Estava num sítio previsível, a fazer uma coisa previsível, com as pessoas previsíveis, às horas previsíveis. Com o conhecimento de várias pessoas. Algumas delas minhas amigas de há muitos anos. Mas amigas também de mais alguém.

Um dia qualquer na nossa vida, algures na adolescência, todos descobrimos sentimentos novos. Um dia qualquer o coração bate mais depressa e o toque de alguém que era um amigo de colégio faz-nos tremer.
Um dia qualquer também, tudo isso passa. Esfuma-se. Consome-se.
E fica a lembrança, embelezada pela distância física e pelo tempo. Uma memória longínqua, doce, calma.
Não se espera retomar nada. Já não se sente nada por essa pessoa. Mas tem-se saudades desse tempo e desse sentimento, que ficou tão longe.
No entanto, ficamos a pensar se não podiamos ter criado um último capítulo a esta estória.

Não o via há anos. Não sabia onde estava a viver, o que estava a fazer, se estava sózinho, se tinha namorada, se tinha casado. E preferia não saber. Simplesmente porque não tinha que saber.
Sim, o coração disparou quando o vi à minha frente. Mas não foi por ele. Foi pelo tempo que tinha passado, pela inocência daquilo tudo que nunca tinha passado de muitas inquietações, algumas insónias, sonhos, mãos transpiradas e meia dúzia de beijos desajeitados.

Não havia nada a fazer nem a dizer.
Custou-me muito tê-lo à minha frente durante o jantar, mesmo havendo muito mais gente à mesa.
Tinha curiosidade em espreitar para dentro daqueles olhos azuis. Mas não queria que ele visse para além dos meus olhos. Tinham passado a ser território que lhe foi vedado.
A mãe já não tem o Porsche, a irmã do meio já casou e tem dois filhos, a pequenina já não é pequenina e é bióloga. Ele mora longe, sózinho, trabalha no que sempre gostou e ganha bem.

Continuas a morder o lábio! Estás incomodada?

Pois continuo. Parece que não mudei tanto assim.
Mas tudo o resto mudou. E há mesmo um tempo para tudo, coisas que devem ficar onde foram deixadas. E não se deve olhar para trás! Até porque me apetece muito mais olhar para a frente...

domingo, 12 de junho de 2005

Se calhar...

Se calhar já sei. Devo estar só um bocadinho contrariada por me deixar prender por compromissos que não me apeteciam.

Gosto muito de cavalos. Adoro a minha égua.
Mas não sou dada a grandes acontecimentos equestres que se transformam, na maioria das vezes, em feiras de vaidades. Com pessoas que nem gostam dos animais mas que os têm para os exibir.
Não suporto vaidades bacocas e galanteios enjoativos.
Não sei porquê que aceitei isto este ano. E o outro, e o outro antes.

Mas o que sei é que, porque tinha combinado isto, fiquei com o fim-de-semana estragado. E tive que ficar por cá. E até me apetecia ter aceite o outro convite. E sinto-me arreliada comigo por ter cedido.
Se fosse o meu irmão, à velocidade a que ele guia, ainda estava muito a tempo de fazer um bocadinho mais do que 300 quilometros e ir jantar a Barcelos. E a verdade é que é mesmo o que me apetece. Desde que estivesse cá amanhã à hora de almoço...

Hesitante...

É assim mesmo que me sinto.
Hesitante! Mas não sei sequer em relação a quê!
E gostava muito de saber!!!

quinta-feira, 9 de junho de 2005

Deus

Tenho uma conversa adiada com Deus desde as calendas gregas!
A minha cara Oumum marcou-me esta conversa, faz tempo. Mas eu tenho andado sem grande vontade de falar com Deus.
Tenho preferido dizer as coisas que me passam pela cabeça, ou até pelo coração, de uma forma imediata. Sem serem pensadas, sem me preocupar com a pertinência ou o sentido delas.

Mas hoje, que estou com um bocadinho mais de tempo porque não vou passar pelo meu outro trabalho, achei que era uma boa altura para a tal conversa.

Imagina que Deus marcou um encontro contigo num determinado restaurante perto da tua casa. Imagina-te sentado/a ao Seu lado, a dialogar com Ele. E agora pergunto eu:

1. Qual era a ementa que Lhe sugerias e porquê?
Nada em especial. Talvez uma espetada de lulas, simplesmente porque, com este calor, é das poucas coisas que consigo comer, com vinho verde daquele que trago de Valença (verde branco), muito fresquinho, e sorvette de morangos, dos meus, para a sobremesa. Mas aposto que a Ele o calor não incomoda nada!

2. Que motivo teria Deus para falar contigo?
Não faço ideia. Provávelmente porque até é um momento em que não seria eu a dar o primeiro passa para falar com Ele. Nem sei porquê... Se calhar, por isso mesmo, precisava que Ele viesse almoçar comigo.

3. Fazia-te perguntas acerca da Igreja. Que Lhe contavas?
Contava-lhe que a Igreja me parece muito distante daquilo que acredito que era a Sua vontade.
Que está cheia de pessoas que lá se instalaram e agem como se fossem suas donas e donas da verdade. Que algumas dessas pessoas até têm condutas muito reprováveis, mas que ocupam o tempo a apontar o dedo aos outros. Que algumas delas nem são membros do clero.
Dizia-Lhe que vou muito pouco à Igreja por isso mesmo.
E que não concebo que sejam pecados algumas das coisas que me dizem que são.
Mas que, apesar de tudo, acredito na boa vontade de algumas outras pessoas.

4. Dava-te a possibilidade de concretizar um desejo. Que pedias?
That´s a very private subject...

5. No final da refeição pedia-te uma recordação. Que Lhe oferecias?
Receio que nada de original. Um álbum de fotografias com as pessoas de quem gosto e de alguns lugares lindos, criados por Ele. Daqueles que me alimentam a alma. Para que Ele se lembrasse sempre deles, e os protegesse. Mais do que a mim!
O único problema é que tinha que Lhe pedir para esperar um bocadinho, porque tinha que ir a correr pedir fotografias a algumas pessoas!

6. Por fim oferecias-Lhe um café. Com ou sem açúcar? Porquê?
Com açucar. Porque o café, quando bebo, bebo com açúcar (mas não o pacote todo). É que Ele, de certeza, também pode. Não deve ter problemas com diabetes ou dietas!

7. Quem pagava a conta?
Eu! Com o maior dos prazeres! Embora essas coisas não Lhe interessem nada!

8.Quem vais sugerir (3 pessoas) para almoçar com Ele? E porquê?
Ninguém. Ele sabe muito bem que nunca passo correntes. Mas como, confesso, este "almoço" até me soube bem, acho que deve ir almoçar com Ele quem assim o entender, porque Ele deve conseguir almoçar com toda a gente!

Lição

Quando era pequena ensinaram-me a afastar-me das correntes de ar. Diziam que eram perigosas.
À noite tiravam-me as flores do quarto porque libertavam dióxido de carbono e podiam intoxicar-me.
Ritual de Mãe, ou Pai, à noite: ir ao quarto da menina Margarida - e ao do mano - tirar as flores (que voltavam sempre na manhã seguinte) e assegurar-se de que as janelas estavam fechadas.

Mas a menina cresceu.
Não tira as flores do quarto. Que preciosismo! Isso pode lá ser perigoso!
E não se importa com as correntes de ar. Muito menos em noites quentes!

E ontem estava quente. Demasiado.
Deitei-me mas acordei às três horas com calor. Levantei-me fui à cozinha e comi mais cereijas. Mas estava mesmo calor.
Solução: um duche quase frio; umas pragas contra o inventor dos pijamas e camisas de dormir, que em noites como estas servem para aquecer ainda mais; as duas janelas completamente abertas e ir dormir assim com o cabelo molhado, usando como cobertura os lençóis, porque chega muito bem.

Dormi lindamente! O resto da noite!
O contacto dos lençóis parecia-me tão agradável, a sensação do cabelo molhado na pele tão refrescante, a brisa que corria mesmo por cima da cama tão envolvente, o cantar dos grilos tão tranquilizante...
Mas hoje acordei com o nariz completamente entupido e a garganta a doer. Em vésperas de fim-de-semana alargado!!!
Ora a lição é: os pais têm, muitas vezes, razão! Ou algumas...
Quando tiver filhos vou tirar as flores à noite e assegurar-me que as janelas do quarto ficam fechadas!

quarta-feira, 8 de junho de 2005

Sempre o amor!!!

Uma amiga minha dizia-me ontem, angústiada, ao telefone, que o namorado, que está a viver a umas centenas de quilómetros, lhe tinha dito que tinham que resolver essa questão da distância.
Ela respondeu com uma citação da Marguerite Duras que dizia qualquer coisa do tipo: o amor vive-se mesmo quando só existem palavras.
E se não era isto, textualmente, era quase isto.

Ele acha que a situação não é confortável e que deviam resolvê-la.
Ela acha que têm tempo.

Ele acha que a citação não correspende a uma verdade. Ela diz que sim.
E é verdade. É verdade para nós, mulheres.
É possível. Conseguimos alimentar um sentimento assim, imaterial.
Se calhar até precisamos de fazê-lo um bocadinho para perceber se é verdadeiro.
Mas depois disso... há outros momentos. Espero que ela o entenda!
Sempre o amor a atormentar as pessoas!

terça-feira, 7 de junho de 2005

Cheguei a casa quase às nove.
A primeira coisa que fiz foi ver a minha égua. Com o dia de calor que esteve...
Já dentro de casa, fui à cozinha, tirei o meu jantar e pus tudo num tabuleiro. Agarrei no tabuleiro e fui para a rua.

- Mas onde é que vais?! Vais para a rua?!

- Vou! Vou jantar lá para fora.

- Sózinha?! Pássa-se alguma coisa?!

Não. Não se passava nada.
Uma vida inteira e ainda não é perceptível que gosto de uma refeição sózinha. Pelo menos de vez em quando - ou frequentemente.
O meu Avô entendia-me. Também gostava destas coisas. Mandou fazer uma mesa para pôr na alameda, era eu uma pirralha, para me satisfazer estes gostos. Mas já não existe essa mesa, e já não tenho a companhia do meu Avô.

O jardim não era boa opção. Não era isso que me apetecia.
Desci as escadas que dão para as laranjeiras, pensei sentar-me lá, mas também não era suficientemente desafogado.
Eram nove e quinze quando me sentei no socalco de pedra que separa as laranjeiras da cerca da égua.

O Sol já se tinha posto e o céu estava de um cor-de-rosa quase vermelho.
Finalmente espaço! E calma!
E o dia a começar a escurecer, e uma águia atrasada a baixar de altitude e a pousar num carvalho da mata, ali perto. Não sabia que ela passava lá a noite. E uma brisa. E o cheiro das tileiras em flôr.
E tempo... para mim. E não ter que manter conversas de circunstância.
Ás vezes gosto de estar assim sózinha: de viajar sózinha, de comer sózinha...Ás vezes!
Sou adepta incondicional do mais vale só do que mal acompanhada. E há momentos em que até sou adepta do mais vale só do que acompanhada. Mas claro que é só às vezes! Porque há ocasiões em que até me esqueço de mim...

segunda-feira, 6 de junho de 2005

A menina

A menina tem os ombros estreitos e é tão clarinha... A menina tem ar de menina do Norte!

Não percebi se era um elogio, uma crítica ou uma constatação. Não me interessou. Irritou-me só um bocadinho o uso repetido do menina em tão poucas palavras.

Também não sei se há um ar do Norte ou do Sul. Não sei se há assim marcas nas pessoas.
Na verdade sei. Sei que as pessoas são diferentes. O que não sei é se há o tal ar.

Estas coisas são muito simples. Existem os genes e os genes marcam. Ora os genes são herdados, e não se importam com o sítio onde nascemos.
Ora é verdade, a menina não é cá de baixo, nesse sentido.
É do Norte sim. Mais do Norte da Europa e mais do Norte de Portugal.

Sete gerações cá por baixo não contam nada.
Toda a gente vinha para a Corte, mas Lisboa - que é uma cidade linda! - não marca ninguém. Vive cá toda a gente!
Tenho ascendentes de Lisboa, mas isso não marca. Os outros, a maioria, são realmente do Norte (os que não são de outros países). São de Barcelos, e de Braga, de Caminha, da Póvoa, da Trofa...
Ora, suponho que sim, que a menina é do Norte.

A menina continua a ter primos em décimo grau, e mais afastados, lá por cima. Continuamos a visitar-nos como se fossemos primos direitos. E os primos, dos primos.
A menina continua a fugir lá para cima, quando pode. E a ter cada vez mais vontade de não regressar cá abaixo.
A menina dá-se melhor com o clima e as pessoas lá de cima. Bem mais directas, mais alegres, muito mais familiares...
A menina só tem sentido de orientação lá. Cá por baixo até perde o lugar onde o carro está estacionado!
A menina apanha a pronúncia do Norte num abrir e fechar de olhos. E sabe-lhe bem falar assim porque lhe sôa mais doce.
A menina retarda a vinda para baixo o mais que pode. Sempre! Até ao último dia, à última hora, ao último minuto. Com culpa também de quem me acolhe por lá, é verdade. Insistem para que fique, de vez! E algum dia fico!
Ora a menina é do Norte, sim senhor! O B.I., afinal, não conta nada!
E agora, a menina, vai mas é trabalhar que tem uma quantidade de coisas acumuladas, mesmo aqui, à minha beira!

sábado, 4 de junho de 2005

Um segredo

Acordei um bocadinho mais tarde do que o costume. Aliás, não acordei, fui acordada pela minha Maria que hoje cá está para lavar as paredes da cozinha.
Acordou-me devagarinho, como quando eu era pequenina. Como se nem me quisesse acordar. Mas perguntou-me, baixinho, se não tinha que ir trabalhar hoje. E tenho!
Eu sabia que ia pagar a factura daquela fuga da semana passada. Mas tenho suportado estóicamente. Só hoje começou a custar realmente.

Dormi mal.
Até dormi muito, porque se não tivesse dormido não tinha sonhado toda a noite. E sonhos estranhos.
Não eram pesadelos, mas eram esquisitos e desgastantes. Daqueles de que se acorda quase com falta de ar e cansada de tentar perceber que pessoas eram aquelas e o que é que ali estavam a fazer, e que sítios e situações eram aquelas.
Acho que é por isso que me sinto cansada e que tive tanta dificuldade em acordar.

Levantei-me ensonada e agarrei na escova do cabelo que tinha deixado em cima da secretária do quarto. Lá em cima está também uma caixa. Tem lá dentro apanas três fotografias. Há anos.
Três fotografias do meu sítio preferido. Abri-a, tirei uma e fiquei a olhar para ela.
Não há imagens que façam justiça àquele sítio!

Longe de povoações e de estradas. Sem sinais da civilização. No meio do nada. eu própria terei alguma dificuldade em encontrar o pequeno caminho que lhe dá acesso.
Não se vê, de lá, sinais do Homem. Só aquelas pedras velhas, com musgos. Mesmo lá dentro não há nada, mas era capaz de jurar que se ouvem os cânticos dos monges que deixaram aquele sítio há tantos séculos.
Cá fora, espera-se encontrar, ocupados nas suas vidas, fadas e faunos, princesas e principes, unicórnios e dragões.
E sentimo-nos invisíveis, como se tivessemos caído, inadvertidamente, numa história de encantar.

E aquele lugar é mágico! Seja lá o que for que a palavra signifique.
Tem uma força estranha que enfeitiça. De longe, há tempo...
Já era considerado mágico antes do cristianismo, continua a sê-lo depois de ter ficado sózinho.
De lá, sai-se a custo, com os olhos cheios de água, só porque alguma coisa nos prende.

Aqueceu-me a alma lembrar-me que este sítio está lá. Que posso lá voltar.
Sinto-o meu! Um tesouro que se guarda. Porque os tesouros não se exibem...
Reparei, admirada, que apesar de ser tão importante para mim, nunca levei lá ninguém. Não levei aquela pessoa que, durante algum tempo, julguei ser muito importante na minha vida. E sei que ele teria gostado.
Não lhe falei sequer neste sítio. Ainda bem!

Um dia levarei alguém. Daqui a pouco ou a muito tempo. Quem sabe?
Mas lá, levarei apenas uma pessoa. Ou nenhuma.
A única certeza que tenho é que, se levar, será a pessoa certa.
Por enquanto é só meu! E vou trabalhar com este sorrizinho idiota de quem guarda um segredo!

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sexta-feira, 3 de junho de 2005

Manias

Sou completamente desorganizada. Desorganizada por natureza.
E de tão desorganizada que sou tive que fazer um esforço para me organizar, e tornei-me, aparentemente, organizada.
Passei a ser organizada para poder poupar tempo para ser desorganizada.

Há anos que uso filofax. Primeiro um de couro castanho que durou anos. Depois fartei-me e comprei um, numas férias, cheio de pintainhos. Era o máximo exibir tão curioso padrão em frente de pessoas importantes.
Este ano cansei-me dos pintainhos e comprei uma agenda (que, reconheço agora, devia ser maior). E tenho que escrever todos os compromissos, muitas vezes de forma abreviada, se são de trabalho, ( esses estão todinhos, bem explicados na agenda do escritório), sob pena de não fazer nada do que era suposto fazer quando era suposto.

O meu quarto e o escritório, esses têm que estar muito arrumados, não por ser organizada, mas sim porque se não tiverem assim perco-me.
Tenho todas as datas e todos os números relacionados com o trabalho cuidadosamente sob controle, mas quanto ao resto... em relação às minhas coisas pessoais...

Se viajo não faço listas do que é suposto levar, como as minhas amigas.
O necessário é saber para onde vamos e por quanto tempo. Depois atiro tudo o que me lembro para cima da cama (cerca de uma hora antes de sair!!! Mesmo que o "sair" seja para o aeroporto!), escolho uma mala e selecciono o que é possível arrumar lá dentro. E nunca veio mal ao mundo por isso. O pior que me aconteceu foi ter que comprar umas roupitas mais quentes no local de destino.

Nunca controlo as minhas contas bancárias (que também não são muito avultadas), mas tenho o instinto suficiente para não gastar para além do recomendável.
A única coisa que guardo desde sempre são os talões dos cartões de crédito. Desde sempre, quando um idiota me dizia: Tu tens lá idade para usar cartões de crédito! Mas, já agora, empresta aí...

Guardo todos na carteira. Quando chega o extracto confiro tudo. Depois deito fora alguns e guardo outros, porque me lembram alguns momentos bons.
É verdade que há alturas em que não tenho razão nenhuma para guardar nenhum, mas durante uns oito anos - que é o tempo há que tenho cartão de crédito - sempre se vai acumulando uns quantos.

O resultado é que a carteira vai ficando cada vez mais cheia o que me leva a comprar uma maior. Agora decidi que não compro nenhuma maior.
Ou vou ter que rever as recordações que, realmente, quero continuar a guardar, ou vou ter que os arrumar noutro sítio. Mas, se calhar, é melhor aproveitar a fase de arrumação e deitar [quase] tudo fora!

quinta-feira, 2 de junho de 2005

Infância

Li esta noite, em casa do meu primo V., num guia de praias, o seguinte texto acerca da minha:

A praia é frequentada essencialmente por praticantes de surfe, mas também por algumas famílias. O mar costuma ser instável. E não é recomendável a crianças: tem muitos fundões traiçoeiros e correntes fortes.

Não é recomendável a crianças?! Então e essas tais famílias não têm crianças?!

Sim. Tem alguns fundões (mas não muitos) que condicinam as correntes.
Ainda que o fundo do mar mude sempre um bocadinho, nunca muda assim muito. Portanto as correntes são sempre as mesmas (para Sul e depois para dentro) quase sempre no mesmo sítio, mais ou menos com a mesma intencidade.

Pois eu, como muitas, mas muitas outras crianças passámos lá os Verões. Foi lá que crescemos de verdade.
Deu-me umas saudades...! Tantas!!!

Saudades de contar os dias para o fim das aulas para ir para lá. De fazer a minha mala de uma forma atabalhoada ainda. De reencontrar os amigos de Verão, das roupas leves, dos lanches na praia, dos livros do cinco, dos passeios de biciclete sempre sob a orientação dos mais velhos do grupo, dos banhos (muitas vezes de areia) naquelas ondas enormes, de aprendermos a conhecer o mar para nos defendermos, de ficar na praia até ao pôr do Sol e de querermos tomar banho sempre nessa altura, de corrermos de casa para o mar de cada vez que chovia, das brincadeiras, dos risos despreocupados... Umas saudades!

Quando voltávamos para casa era uma tragédia. Toda a gente chorava! Até parece que iamos ficar a viver a milhares de quilómetros!
Mas regressávamos maiores. Por dentro e por fora.
Cresciamos e ganhávamos resistência naquele mar frio e forte e, ao mesmo tempo que nos tornávamos mais autónomos, tornávamo-nos também mais responsáveis e conscientes dos perigos e das nossas obrigações e, a pouco e pouco, fomos deixando de ser protegidos para proteger os mais novos.
Era a nossa vez de levar os mais pequenos para fora de pé e de lhes deitar a mão quando se atrapalhavam com alguma onda maior, de os ensinar a defenderem-se e a conhecer os perigos.

Essas vivências não têm preço. Seria, concerteza, diferente se não tivesse vivido assim. E seria, de certeza, pior.
Portanto, é aconselhável a crianças sim! E se um dia tiver filhos hão-de experimentar esse mar com ondas, fundões e correntes, e aprender tudo o que lá se pode aprender, e é muito! Com o mar e com as pessoas!
Ai que saudades doces de ser pequenina, lá!

quarta-feira, 1 de junho de 2005

Veneza

Uma amiga minha vai a Veneza. Daqui a perto de um mês.
Pediu-me os guias e os mapas. Passou por minha casa ontem à noite, dei-lhe o que me pediu, tomamos chá, conversámos muito e eu tentei convecê-la a não ir nesta altura. Inutilmente.

Quando lá fui, fui contrariada. Mesmo muito contrariada. Resmunguei todo o caminho com os meus botões. Já tinhamos chegado ao Tronchetto e ainda continuava a resmungar. Mas porque raio é que eu havia de ir para um sítio daqueles, apinhado de turistas de máquinas fotográficas em punho, com sorriso idiota a tirar fotografias aos pombos na Praça de São Marcos.
E as gôndolas! Aquela coisa irritante para aparecer em bilhetes postais!
Mas porquê que eu tinha ido?! Ainda por cima a minha prima G. tinha lá ido no Verão e tinha odiado. Os mosquitos que se desenvolviam naquela água com o calor e a maior praga de todas: os turistas!

Chegámos num dia de chuvisco. Agarrámos nas malas e metêmo-las no vaporetto.
Lá fomos nós naquele barco que fazia as vezes de autocarro. Desembarcámos e lá carregámos as malas até ao quarto: um espaço com beliches para quatro pessoas, mas com janela para a Baía de S. Marcos.
Por esta altura já estava bem mais animada.
Não havia mosquitos, a água não era nada estagnada mas, pelo contrário, bem batida. Tanto que os barcos balançavam bastante e molhámos os pés com a água que saltava quando desembarcámos. E também não se viam os magotes de turistas.

Rápidamente nos sentimos em casa. Lárgamos os mapas. Apanhávamos os barcos ao acaso, sem procurar saber para onde iam. Aprendemos a comer nos sítios mais baratos e escondidos, que eram também, de longe, os melhores e os mais verdadeiros. Descubrimos bairros onde os turistas não vão.
Deambulámos por ruas estreitas, escuras e húmidas que, mais cedo ou mais tarde, acabavam num canal.
Descobrimos que Veneza era habitada por pessoas de verdade, com vidas de verdade, bem longe do que se vê nos panfletos turisticos.
Descobrimos que Veneza tem muitas mais ilhas, que tem o Adriático. Que é misteriosa, envolvente e genuína.

Também é verdade que apanhámos uns sustos. Que uma vez apanhámos mesmo o barco errado e que fomos parar sózinhas, de noite, à ilha que é o cemitério, que uma outra noite, de temporal, apanhámos um barco no sentido contrário e nos fomos afastando cada vez mais de Veneza, propriamente dita, que fomos parar a um lugar sinistro sem luz e com gruas abandonadas que pareciam fantásmas, que depois até seguimos por mar batido, que o barco abanava imenso, que uma das minhas amigas estava enjoada, que todas estávamos com medo de dois homens estranhíssimos, que também estavam no barco, e que não tiravam os olhos de nós, provávelmente só por não perceber o que andávamos a fazer por ali e naquelas condições.

E descobrimos, durante o tempo que lá estivemos, uma verdade incontornável. Que quem lá está uns tempos, nestas condições, não vem de lá sem se apaixonar... por Veneza! Mas pela verdadeira!

Bom mesmo � apanhar assim os barcos, ao acaso, e sentirmo-nos completamente livres. Pelo menos por um bocadinho. Posted by Hello