quinta-feira, 29 de junho de 2006

Queres um figo?

(...)

- ... uma das últimas coisas que o meu avô M. fez, antes de morrer, foi plantar uma figueira e uma árvore que dá flores.

- O meu avô também. Plantar esta figueira foi das últimas coisas que fez antes de morrer. E dá figos que amadurecem nesta altura.


Ouvi tantas vezes o mesmo. Eu, como toda a gente.
Ouvi, como receita breve para a imortalidade ou para a realização plena de alguém: Ter um filho, escrever um livro e plantar uma árvore.

Ontem, depois de ter descido as escadas, depois da conversa ter sido interrompida, muito depois de ter tomado o rumo de outros assuntos; a meio da noite, enquanto passava os dedos pela dobra do lençól, numa tentativa para a endireitar, lembrei-me dos figos, das figueiras e de como é verdade e, ao mesmo tempo, tão natural e tão estranho, que quem as plantou continue assim, presente, nas conversas, nas memórias, na imagem das árvores e no doce dos figos.

quarta-feira, 28 de junho de 2006

Tiro na água

Não tido tempo nenhum para passar por aqui. Nenhum.
E agora, hoje, que arranjei uns minutos, não faço a mais pálida ideia do que escrever. E nem é que me faltem assuntos... Se calhar até é por isso mesmo...
Enfim... uma oportunidade desperdiçada!

Mas vou arranjando uns instantes para espreitar os blogs do costume. Espreitar é mesmo o termo certo!

segunda-feira, 19 de junho de 2006

A não esqucer!

Tinha-me esquecido de uma lei elementar de sobrevivência que acabou de me ser relembrada ao telefone.
Quando há um - um determinado; um preciso; não um qualquer - homem pelo meio, a mulher que está mais perto torna-se a nossa maior inimiga.

A não voltar a esquecer! E tomar a devidas distâncias... ou tentar assegurá-las, dependendo dos casos.

[Des]Conversas...

Sigo distraída pelo passeio, a caminho da loja de animais, para comprar o desparasitante para a cadela, enquanto pensava na antipatia e incompetência desmedidas da funcionária da EDP e no atraso do, simpático e eficaz, funcionário da PT.
Quase esbarro com o L., antigo colega de colégio e que vejo sempre com intervalos de anos, que vinha a sair da farmácia.

Ele ri-se por achar que vinha com a cabeça nas nuvens. Eu acho que era ele que vinha ainda mais ausente do que eu.
Pergunta-me pela minha amiga C. e eu respondo, sucintamente, num discurso de circunstância, como mandam as regras. Percebo que pretendia outro tipo de resposta e que o convite - a soar a pedido - tem tudo a ver com isso. Também sei que ele tem falado bastante mais com ela do que eu...

Com o sorriso leve e condescendente que concedemos aos homens que percebemos em apuros desta natureza, e só por isso, lá aceito tomar um chá, em vez de um café, na esplanada ali ao pé.

Diz-me que têm falado muito - isso já eu sabia! - mas que, inexplicavelmente, ela deixou de lhe telefonar e, não contente com isso, chega a não lhe atender o telefone e, quando atende é breve e distante.
Não é que ela me tenha falado longamente acerca do assunto, mas sabia bem que estava incomodada por achar que ele não a distinguia de muitas outras pessoas.

Ele seguia nas explicações: Trato-a bem... parecia que nos estavamos a entender... até gosto dela, sabes?... gosto... É por isso que me chateia esta coisa agora... Trato-a bem, ouviste? Como trato todas as outras pessoas!

Ora aí está!!! Todas as outras pessoas!
Mulher nenhuma quer ser tratada como todas as outras pessoas! Nenhuma!
Se calhar até prefere ser alvo de antipatia, como nenhuma outra pessoa. Do que ser muito atenciosamente tratada como todas as outras pessoas.

- É por isso L. Porque ela não quer ser mais uma! Somos assim! Que nos interessa que sejam uns cavalheiros, atenciosos, compreensivos, carinhosos e o que mais quiserem acrescentar, se forem isso para toda a gente?!
Temos que ser diferentes. Mesmo na mais simples amizade - e se calhar nem é bem esse o vosso caso. Não queremos ser mais uma amiguinha numa lista mais ou menos longa.
Ou somos diferenciadas, únicas, ou , ser igual a toda a gente não nos interessa.

Reparei depois que o tom, levemente acídulado, do comentário, nem lhe era destinado. Por instantes, pensei que pudesse estar a fazer paralelismos, sem ter disso consciência, e estar a descarregar nele esse desconforto. Depois percebi que, felizmente, não era de todo o caso; que aquele azedinho era comigo, com esta necessidade feminina de nos sentirmos únicas (até porque, de facto, o somos, tal como os homens). Na verdade, era mais um lamento.

- Ah pois! São únicas! São únicas, mas nisso são todas iguais!

- Sim! Nisso somos! Mas mesmo só nisso!

quarta-feira, 7 de junho de 2006

Margarida Atheling


Margaret Atheling 1045-1093
Pois é Avó, é verdade... tenho gerido mal o meu tempo.
Levo o dia a correr, não faço o que quero nem o que gostava, chego à noite cansada. Geria muito melhor o meu tempo antes... Nem tenho tempo para passar por aqui.
Também é verdade. Mudaram tantas coisas!
Já não preciso. Não preciso da mesma maneira. Mas sinto muito a falta.
Lembro-me bem de quando o criei o blog - coisas! coisas daquelas que não me passavam pela cabeça fazer! Lembro-me tão bem de me sentir aconchegada, como se me tivessem colocado uma mantinha por cima num dia frio.
O seu nome, por inteiro, e não só o primeiro, que herdei, fizeram-me sentir protegida.
Eu sei... sei que são coisas que não se explicam.
Também sei, Avó, que o longo caminho que aqui foi percorrido foi com ajuda. Sei, e sempre soube, porque sempre o senti. Obrigada!
Aqui, ficou a minha vida durante todo este tempo, cheia de avanços, de pequenos recuos, de medos, de decisões, de esperanças, de pequenos ciclos... Cheia de pessoas; das pessoas que já faziam parte da minha vida, e das que, felizmente, aqui surgiram.
Esta Margarida, que aqui está agora, é outra, como sabe, Avó. Ainda a aprender a viver estas diferenças, daí esta falta de tempo, esta ainda desorganização.
Aposto que se ri de mim! Tanta confusão para uma coisa tão simples: viver.
Mas, às vezes, viver é mudar, Avó. E isso não é tão fácil assim. Ficamos um bocadinho perdidos. Mas é bom! É tão bom!
Não me dá jeito nenhum anunciar um novo ciclo: Já senti, várias vezes, ao longo deste tempo, várias mudanças em mim - umas que me agradaram, outras nem tanto -, mudei muito neste espaço de tempo, mas a verdade, a verdade mais sincera, é que é isso que sinto. Há uma mudança profunda na minha vida; silênciosa, mansa, sem tumultos... mas profunda. Não é daquelas de que fui falando aqui. Essas eram pequeninas, quase pormenores. Esta é diferente, tão difente das outras.
Sabe o que me faz lembrar, Avó? aquele dia em que nós, meninas, nos descobrimos mulherzinhas. Essa mudança marca-nos. Esta, que ainda não consigo definir, também.
É mansa, morna, aconhegante como a sua presença, Avó; deixa-me mais sorridente, mais compreensiva, mais benevolente com as outras pessoas. Isto apesar do turbilhão desordenado que tem sido a minha vida profissional nos últimos meses.
Sabe o que é, não sabe Avó? Mas não me vai dizer... Eu sei que me cabe a mim decobrir. Mas uma das coisas que mudou, é que não corro desordenadamente para as coisas, não me precipito e depois tropeço. Espero.
Sei que tudo tem o seu tempo e a sua razão.
Mas os horários do dia-a-dia... ai Avó; estão uma confusão!

sábado, 3 de junho de 2006

Humpf...


As mulheres são criaturas estranhas.
Pensam nestas águas frescas, encolhem os ombros e aproveitam o fim-de-semana para lavar roupa; arrumar o guarda-fatos de cima abaixo; lavar ao pormenor frigorifico, balcões e armários da cozinha, fazer um bolo; mudar as flores das jarras, passear um livro de um lado para o outro e abri-lo inúmeras vezes sem avançar mais do que uma mísera página na leitura; cheirar as primeiras flores das tileiras e... pensar nestas águas frescas e encolher os ombros.