Não sei se é dos dias de Sol, do S. Martinho, do muito trabalho, das rotinas, de alguma misteriosa conjuntura astral, da hipersensibilidade feminina, das nozes, das castanhas, da água pé, da mudança do gel de banho... Ou por outra, até sei.
Sei muito bem, mas não me apetece dizer, nem e mim, e não vejo mal nisso. Não tenho de analisar cuidadosamente tudo, descobrir e etiquetar todas as sensações e estados de espírito, todas as causas de alegrias e tristezas, sorrisos e lágrimas.
Tenho é de viver com elas. Quer queira e goste; quer não queira e, obviamente, não goste.
O facto agora, é que me apetece uma lufada de ar fresco, virar a mesa, ou outra qualquer expressão equivalente (ou complementar) que a nossa preciosa lingua nos forneça e que não me ocorra de momento.
Apetece-me mudar a decoração de todas as divisões da casa que são mais utilizadas por mim. Apetece mudar tudo: candeeiros, colchas, tapetes, quadros, almofadas, estantes, arrumação dos livros, mudar jarras e flores (esta última coisa, mais do que fácil, é sempre inevitável).
Apetece-me mudar de corte de cabelo, mudar de guarda roupa, deitar fora todo o calçado e comprar tudo de novo.
Apetece-me mudar de perfume e comprar quilos de make-up (que quase não uso) e usar brincos de pares diferentes.
Apetece-me ler coisas que não façam parte dos meus hábitos, que não conheça sequer, de preferência.
Apetece-me alterar horários, hábitos e rotinas.
Apetece-me falar com pessoas com quem não fale há muito (ou nunca tenha falado), sobre assuntos que não tenha o hábito de aflorar.
Apetece-me, mudar de trabalho e de casa.
Voltou a apetecer-me, depois de uma sensação de que aqui-é-que-estou-bem-e-não-quero-por-nada-nada-nada-deste-mundo-ir-para-longe-nem-um-cêntimetro-que-seja que durou vários meses, apanhar um avião e sair daqui, em direcção ao país dos scones (que não é a Inglaterra, mas a Escócia) de preferência sem data de regresso.
Pronto. Apetece-me... mas não posso. Encarar estas vontades e verbalizá-las é o mais longe que posso ir nestes anseios.
Valha-me a falta de tempo e a abundância de compromissos que me limitam; caso contrário era uma estragaceira de dinheiro e um furacão na minha vida onde nada ficaria no lugar.
É que, muitas vezes, entre aquilo que desejamos e aquilo que nos convém vai uma grande distância. E, outras tantas vezes, aquilo que nos move, que nos provoca estas súbitas e inesperadas vontades, não é um desejo autêntico, é sim uma reacção de fuga em frente, um abanar de cabeça como quem se nega a aceitar o que a vida lhe colocou no caminho.
Eu sei o que me move, sei que nem é apenas uma coisa, e sei também que uma delas até tinha a capacidade de quase anular os efeitos nefastos de outras.
Sei isso tudo, mas não quero saber. Prefiro abanar a cabeça como se isso me libertasse de tudo o que não é benéfico e respirar fundo para fazer entrar ar novo.