quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

2009

Humm... Dizer o quê, na verdade?!
Não sei bem, admito. Mas 2008 está prestes a deixar-nos e, embora tenha andado particularmente caladinha neste ano, não quiz deixar de marcar a data.

Não faço balanços, aliás, como já não os fazia nos anos precedentes. Dizer o quê?!

Dizer que neste ano fui mãe e que me sinto infinitamente grata pela graça que ela representa. Que me sinto grata à vida, em suma. Muito grata. Mesmo que, por vezes não pareça, mesmo que por vezes me queixe, me lamente, mesmo que por vezes chegue mesmo a chorar.
Tenho uma familia maravilhosa. Sim, eu sei que é um lugar comum, mas é verdade.

Infinitamente grata, sim. Pela Mafalda, e pelo Pai dela. Por ter os meus pais, o meu irmão e os meus avós, por ter amigos.

2008 foi o ano mais atribulado da minha vida, mas também o mais importante. Bem vistas as coisas, e por mais que tenha dito outra coisa: o mais feliz!

Que 2009 seja, para todos, um ano cheio de paz, de saúde e de realização.

Um muito, muito feliz 2009!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Natal

Há um ano escrevi isto. E era a mais pura das verdades.
Este ano não há nada disso. Nada.
Não é de farinha e açucar que é feito o meu Natal. Não faço filhoses, nem mexidos nem, tão-pouco, haverá shortbread na mesa.
O pedaço de madeira que sobrou do lume da lareira da noite de Natal do ano passado não se irá juntar ao lume nesta noite de Natal.
O meu Natal, que era feito de farinha e açucar, este ano não o será.

Este ano, pela primeira vez em toda a minha vida, não passarei a noite de Natal com os meus pais e avós. Não os verei, sequer.
O Natal, dito festa da família, obriga a separações, afinal. A separações que ocorrem pela primeira vez e que custam a gerir.
Este ano, mais do que em qualquer outro, gostava de estar com eles. Com eles e com o meu irmão. E não estarei.

Não comprei um único presente.
Nunca gostei do excessivo consumismo associada à quadra. Hoje, mais do que nunca, isso desagrada-me.
Espero ter a capacidade para fazer entender à minha filha que o Natal não é isso, o Natal não são coisas, não é confusão. O Natal é tão outra coisa.
A ela, que é tão pequenina ainda que não entende, darei o pequeno crusifixo que recebi da minha Tia Maria, quando eu era pequenina. Não consegui pensar noutro presente para lhe dar que tivesse mais significado. Um dia ela há-de entendê-lo, por completo.

O Natal é a festa do nascimento de Cristo. E tão poucas pessoas o vivem como tal.
Muitas há que o comemoram mais como um Carnaval. E isso aflige-me.
Podia dizer-se que isso não é assunto meu, que cada um o vive como quiser

Há melancolia no Natal. Não a melancolia doce que aconchega. Há melancolia triste também, e esta é assim.
E, no entanto, há luz e esperança. E há o que comemorar.

Mas este Natal, tenho a minha filha. E no meio de toda a confusão da quadra, é isso que é importante. Ela existe e está comigo.
Esta noite, na passagem para o dia de Natal, hei-de tâ-la nos braços.
Ela é o melhor dos presentes que alguma vez poderia ter recebido, ela é o meu Natal e, apesar de tudo, ela, como todos os bebés, é o sinal de que o Natal, afinal faz sentido. Todo o sentido.

Feliz Natal!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Saudades...

Por mais idiota que possa parecer (e por mais irritante que seja para quem me lê, porque agora não falo de outro assunto), tenho umas saudades imensas da Mafalda recém-nascida, do tamanho 1 das fraldas, dos primeiros fatinhos que já não lhe servem, dela nos primeiros dias, dos olhinhos papudos ainda que pouco se abriam, do início de tudo.
Tantas saudades dela, pequenina, pequenina e, no entanto, ela tem apenas um mês e meio, mas já tão diferente de quando nasceu.
Que saudades já!

[E como se pode gostar sempre mais um bocadinho deles, em cada dia, quando já os Amamos muito para além do possível, desde o primeiro segundo ?!]

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Coisas para as quais [não] nos preparam em relação à maternidade

Ter filhos é, de facto, a melhor coisa do mundo. A melhor; a anos luz de qualquer outra coisa nesta vida. Anos luz!
É incomparável e inenarrável e, por isso mesmo, seria inútil e patética qualquer tentativa para explicar o que sinto.

Ninguém nos prepara para gostar tanto de alguém, ninguém consegue explicar-nos que, de repente, uma pessoa pequenina, que já julgavamos amar para além do possível, nos vem provar que não há, neste tipo de amor, impossíveis, nem limites, nem modo de quantificar seja o que for; que não há nada, nada comparável e que é tão forte que não parece, sequer, humano.
E ninguém nos prepara porque não há, de facto, modo de o fazer. Porque não há palavras para o descrever, nem categorias para o arrumar, nem nada com o que se possa comparar. Num instante um pequeno ser sai de nós, olha-nos pela primeirissima vez e a nossa vida começa também naquele instante.

Mas existem outras coisas também. Existe o outro lado da maternidade. E para este também ninguém nos prepara, e é pena. Mas também para este parece ser difícil fazê-lo.
Durante a minha gravidez duas pessoas apenas me alertaram para ele, a minha prima e uma outra pessoa que não linko porque creio que já não tem blog, numa tentativa de me aliviar o impacto a que, inevitávelmente, seria sujeita.
Essa parte menos cor-de-rosa da maternidade também existe, as dificuldades são muitas e é bom contarmos com elas.

Apesar do excelente atendimento que tive no local onde a Mafalda nasceu, dois dias depois (menos umas horas até) depois do parto, estava em casa com uma bebé nos braços, absolutamente apaixonada por ela, mas ainda a tentar cair em mim depois de tão grande reviravolta na minha vida. Eu e o pai, ali estavamos, pais de primeira viagem, com um ser indefeso a nosso cargo.
Ensinaram-me muitas coisas mas não me avisaram que,por exemplo, um dia depois de estar em casa, ela podia começar a chorar desesperadamente, a contorcer-se. E nós... bom, nós contorciamos o coração sem saber o que fazer.
Telefonei para o Saúde 24 e expliquei os sintomas, respondi a todas as perguntas e, do outro lado, dizem-me que ela tem que ser vista numa urgência pediatrica de imediato, no máximo de 4 horas. Assim mesmo, sem mais explicações. E eu tremo, e choro, e sinto faltar-me o chão debaixo dos pés, e pegamos nela e voamos para as urgências do Dona Estefânia. E eram cólicas. Apenas cólicas, coisa natural e, parece, inevitável. É o processo de amadurecimento dos intestinos. É natural e não há por que se preocupar.

Pois. Não estava preparada, não.
Sabia que os bebés tinham cólicas, mas não estava preparada para as ver na minha filha tão pequenina. Não estava sequer preparada para a ouvir chorar sem que eu conseguisse aliviar-lhe, como por magia, todos os males.

Muito menos estava preparada para o que a minha prima e a M. tentaram alertar-me durante a gravidez: ter filhos é complicado e doloroso, e não apenas na hora do parto.
Ter filhos deixa-nos com os nervos em franja e o coração em frangalhos, o mundo desaba-nos inteiro na nossa cabeça, tudo nos dói estupidamente, todos os medos são nossos, andamos cansadas, ninguém nos compreende, já não sabemos quem somos e para onde foi a pessoa que eramos antes, não nos reconhecemos nem no corpo, que já não é de grávida mas que continua pesado e sem as curvas de antes, nem na alma, que já não é a mesma, não temos tempo para nós nem para nada e, pior de tudo, estamos sózinhas nisto, e ninguém nos compreende.
Somos frágeis como o mais fino cristal mas, ao mesmo tempo, fortes como a mais alta montanha, se se trata de defender a nossa cria. Ferozes mesmo, num instinto de animal, muito para lá do racional, que deve ser a única coisa que herdamos dos tempos mais primitivos.

Ninguém nos prepara verdadeiramente para este impacto, porque, tal como não é possível prevenir-nos com realismo para a dimensão do amor que vamos sentir, também não o é para esse enorme impacto emocional que nos vira, por completo, do avesso.
Ouvi as palavras da minha prima e da M., ouvi-as com atenção e agradecida. Sabia que só podiam estar a dizer verdades, sabia que só por me quererem bem estavam a falar-me das coisas menos fácei e luminosas que me esperavam, enquanto todas as outras pessoas apenas referiam as maravilhas que aí vinham. Ouvia-as mas, apesar de ter muito presentes as suas palavras, eram apenas palavras e nenhuma palavra é suficiente para definir este "coice emocional".

Ter filhos não é fácil. Ter filhos também dói. Dói para além do parto, sim.
É bom que se tenha isso presente. É bom que não se mistifique e mitifique a experiência da maternidade.
Mas ter filhos é bom. Ter filhos é, de facto, a melhor coisa do mundo! Mesmo! Eles valem, tudo, tudo, tudo! E não há nada mais maravilhoso do que este anjo em forma de menina pequenina que dorme agora aqui mesmo ao meu lado.

Obrigada prima (não me esqueci do que te devo, apesar de parecer!)! Obrigada M.!