segunda-feira, 30 de maio de 2005

Aluandra

Era uma vez um Rei Mouro que vivia tranquilamente no seu pequeno reino. Não era feliz nem infeliz. Os seus dias seguiam calmos, iguais uns aos outros.

Um dia um Rei Cristão, com o seu séquito, atravessou o Reino mouro em viajem.
O Rei Mouro fez questão de os receber no seu castelo. Levou-os a conhecer o castelo, serviu-lhes um jantar e mostrou-lhes jogos e danças que os cristãos do Norte não conheciam.

No séquito do Rei Cristão seguia a sua filha. E o Rei Mouro apaixonou-se por ela. Não podia pensar em deixá-la ir embora.
Pediu ao Rei Cristão que lhe desse a mão da Princesa, mas o Rei resistiu. Disse, no entanto, que consultaria a filha e que o que ela decidisse seria aquilo que seria feito.
Para espanto do pai, a jovem Princesa, confessou-lhe que também se tinha deixado encantar pelo Rei Mouro e que era sua vontade ficar com ele.
E ficou. Casaram e foram felizes durante muito tempo.

Mas o tempo foi passando e um dia a Princesa começou a entristecer. E cada dia estava mais triste apesar de todo o cuidado que o apaixonado Rei Mouro tinha com ela.
Quase não comia, nem falava, e não saia da janela do Castelo. Foi então que disse ao Rei que tinha muitas saudades da sua terra do Norte e dos seus campos brancos de neve.

O Rei ficou muito triste por não poder fazer nevar no seu reino para aliviar a tristeza da sua mulher. Até que se lembrou de mandar plantar um mar de pequenas árvores à volta do castelo.
Ninguém entendeu porquê, mas um dia, ao acordar, a Princesa encaminhou-se tristemente para a janela e viu uma imensidão de flores brancas. Tantas e tão brancas que parecia que tinha nevado. E foi isso mesmo que lhe pareceu: um imenso manto de neve.

A partir desse dia aquela árvore passou a chamar-se Aluandra, tal como a Princesa. E a Princesa do Norte e o Rei Mouro foram felizes para sempre no seu castelo.


Conhecia esta lenda desde pequena. Às aluandras também se chamam alandras ou cevadilhas. É cevadilhas que chamamos às que temos no jardim.
Umas dão flores brancas, outras cor-de-rosa.
Mas soube-me bem ouvir esta história, deitada numa cama de rede no alpendre de uma casa que tem uma linha de aluandras a separar o jardim do laranjal, contada pela pessoa que toma conta dessa casa e saber que, apesar de não poder garantir exactamente de que castelo se tratava, era ali muito, muito perto, naquelas terras do Sul.
E são coisinhas destas que me deixam de sorriso nos lábios apesar de ter que compensar agora o trabalho que deixei atrasar.

domingo, 29 de maio de 2005

E agora...

E agora já estou de regresso.
Pois, é alargado, é alargado mas passa a correr.

Grandes lições do fim-de-semana (quero dizer: dos quatro dias):

1ª - Aquele biquini que comprei por impulso e sem o experimentar porque sabia muito bem que era o meu número, era de facto o meu número. Mas era tão transparente que nem era preciso molhá-lo. Ainda bem que percebi antes de o usar na rua! Donde se conclui que se deve sempre experimentar sempre os biquinis antes de os comprarmos.

2ª - Descobri, finalmente, que alcagoitas são, afinal, amendoins.

quarta-feira, 25 de maio de 2005

Estou...

Estou de saída. Já! Agora!
Para um sítio mais azul.
Bom fim de semana! Alargado...!
:)

terça-feira, 24 de maio de 2005

Zodíaco

O meu segundo trabalho é um projecto pago pela CE e pelo Estado português, e posto em prática por uma entidade bancária.
Somos uma equipa de 16 pessoas, curiosamente, com áreas de formação académica completamente diferentes. Curiosamente para mim, porque me foi dito que o objectivo era mesmo esse, e que cada pessoa tinha sido escolhida a dedo.

Isto para dizer que as pessoas são, forçosamente, diferentes. Que ainda nos conhecemos mal mas que até tem sido divertido - apesar do trabalho - descobrirmos essas diferenças.

Não sou pessoa de dar nas vistas.
Faço tudo para passar despercebida e falo muito pouco, se não conhecer as pessoas - e gostar delas. Sou muito mais de observar.
Quando o assunto me obriga a tornar-me o centro das atenções faço-o, mas a contragosto. Mas faço-o, porque é o meu dever.

Imaginava, por isso, que devia ser consensual a ideia de que era uma pessoa pacifica. Até que um colega meu - este, arquitecto - me pergunta:

- Margarida, tu desculpa, mas de que signo és?

Respondo que sou aquário de signo solar e que, segundo me disseram tinha como ascendente carangueijo e signo lunar leão.

Resposta dele:

- Ahh! Deves ser fresca, deves!!!

Eu??!!
Perfeitamente pacifica! Não faço mal a uma mosca desde que não me atinjam ou a alguém de quem goste! Desde que... enfim.
Bem... quando estão em jogo valores ou causas que considero inquestionáveis, nesse caso, sou mesmo do tipo antes quebrar que torcer. Mas, na maior parte do tempo, sou a mais pacifica das criaturas.
Estas coisas dos signos...!!! Eu sei lá o que é que isso significa! E ele também não explicou!

segunda-feira, 23 de maio de 2005

Waverly Novels

Com os músculos doridos, o cansaço da actividade física e a tranquilidade que um banho longo de água bem quentinha dá, não me apetecia fazer nada à noite.
Ler um bocadinho - coisa que tenho tido muito pouco tempo; ou vontade, de fazer - era uma boa hipótese.
Pus um CD, instalei-me em cima da cama, preguiçosamente acomodada pelas almofadas. Abri o livro. Cheio de batalhas da Inglaterra Medieval. No cima da página lia-se Waverley Novels e o número 182.

Prestei atenção à letra da música. E à letra da música seguinte.
Reparei que, à medida que o tempo passa, as letras das músicas me dizem mais. Porque a vida nos vai dando experiência. Porque vamos sabendo exactamente o que as palavras querem dizer, porque vamos reconhecendo sentimentos.

Reparei numa fotografia do verão em que tinha quatro anos. Lembrei-me muito bem. Tinhamos ido visitar os meus avós paternos à Nazaré. O meu pai tinha insistido em levar-me, pela mão, a tomar banho no mar. Eu não queria. Veio uma onda, passou por cima de mim e lembro-me da sensação da areia a bater-me misturada com a água e da força daquilo tudo, de perceber que era mesmo pequena e de me sentir agarrada. Sempre preferi desembaraçar-me sózinha no mar (mas só no mar!). E nunca gostei assim muito daquela praia, mas descobri, entretanto, que até tem umas ondas bem bonitas para se ver do lado Norte do faról.

Olhei para outra fotografia. Lá estavamos nós em Florença. Quatro amigas.
Lembrei-me de ter tido medo de subir à cúpula da catedral, de quase termos ficado uma noite na rua por termos perdido as horas para voltarmos para a pousada - que era linda, por sinal! Da perseguição dos alemães. De termos encontrado outros portugueses. E do restaurante do Georgious, o único sítio onde conseguimos comer sopa durante todo aquele tempo.

Os cães ladraram lá fora. Tentei perceber o que seria. Sem me mexer. Só pela intensidade dos latidos.
A minha cadela continuava a dormir estendida ao lado da cama. Não era, óbviamente, nada de sério.

Pensei se a minha égua estaria já a dormir. Devia estar cansada também. Como eu.

O telefone tocou. Não me apeteceu atender. Desliguei-o.
Voltei a dar atenção à música.

Acomodei-me mais nas almofadas.
Vi a fotografia da Maria, minha prima-afilhada. Está linda, com caracóis escuros. E tão crescida!
Lembrei-me do contacto bom dos abraços dela. Da graça que tem nas suas brincadeiras. Do dia em que soube que ela ia nascer, de saber, por intuição, que ia ser uma menina, muito antes da ecografia.
Da ansiedade dos dias antes do nascimento. Das lágrimas de alegria no dia em que nasceu naquele Domingo quente de Julho, ao meio dia em ponto, e de ter recebido a notícia à beira mar.
Pensei o quanto era injusto crescer sem a atenção do pai - meu primo! O quanto é injusto que as crianças paguem pelos erros dos pais. Que os pais não percebam! E que não se importem!

Olhei para o candeeiro e lembrei-me que tinha que ir pagar a luz. E que tinha mais uma quantidade de coisas para pagar hoje.
Pensei também no dia apertado que tenho pela frente.

Lembrei-me da P., a quem prometi uma visita há tanto tempo.
E na I. a quem não telefono.

No carro novo do meu irmão e de como ele partiu o outro sem se ter magoado.
Na caixa com dezenas de CDs que ele deixou esquecidos há uns dois meses na garagem.
Na lista de namoradas que ele tem tido, e eu conhecido. De como as coisas estão tão sérias com esta!

Pensei nas poucas cerejas que tinham sobrado do meu ataque da tarde, mas não me apeteceu levantar-me para as ir buscar.

Lembrei-me, nem sei porquê, da minha licenciatura. De alguns professores, de alguns colegas e de algumas matérias. Dos horários. Dos Combis comidos todos os fins de tarde quando tinhamos aulas até às 8H.
E das fugas a uma determinada aula. E de como, quase sempre, por mais que variássemos o itenerário, cruzávamos sempre com esse professor.
Dos lanches no Continental. Do chá e dos queques com noz!
Dos bilhetes trocados durante as aulas. Dos ataques de riso. De como foi bom! E fácil!
Reparei que já lá vão uns anos...

Lembrei-me, talvez por isso, que devia ter terminado o mestrado há muito! E de como arranjei uma desculpa credível para não o fazer de imediato. E fiquei a pensar que, bem vistas as coisas, até tinha muita vontade de o acabar já!

Lembrei-me de Expo... Sei lá porquê!
E disto e daquilo... Os olhos começaram a pesar. Devo tê-los fechado.
Reparei que o CD tinha acabo. Levantei-me e desliguei-o. Resolvi apagar o luz e dormir.
A página do livro dizia, no topo, Waverly Novels e tinha o número 182.

domingo, 22 de maio de 2005


Doem-me os músculos das pernas e dos braços. Estou cansada. Amanhã estarei ainda mais dorida. Mas estou muito orgulhosa desta menina! :) Posted by Hello

Há quem me acuse de não ser dura com ela e, de facto, não uso esporas, nem mesmo esporins, e não lhe bato. Mas, a realidade é que não preciso. E, não se vê logo, neste olhar, que o afecto é muito mais persuasivo do que a força bruta? Posted by Hello

sábado, 21 de maio de 2005

Há alguém...

Vou escovar a égua, entrançar as crinas, hidratar os cascos.
Vou calçar-lhe as cloches para lhe proteger os membros dianteiros.
Vou levá-la para a rua, passar à guia, fazer o aquecimento e até a vou selar.
Mas não haveria por ai uma alma caridosa que se oferecesse para pôr a cera líquida nos arreios?
É que é coisa de que nunca gostei! Mas tem que ser, eu sei!

sexta-feira, 20 de maio de 2005


Raramente uso anéis. Mas também há dias em que uso. Pensei usar este. Ainda o pus no dedo mas, depois, senti-me desconfortável com o peso dele. Foi-me dado por uma pessoa que já não tem nada a ver com a minha vida, há tempo. Se fosse outra coisa, provávelmente, continuaria a usar. Mas um anel... é diferente. Não vou voltar a usá-lo. Posted by Hello

quinta-feira, 19 de maio de 2005

Home

Ontem preferi ir jantar só quando tivesse tudo mais ou menos controlado. Nem vi as horas, mas era tarde. Muito tarde.
A seguir sai com a minha cadela e o silêncio da noite começou a saber-me bem. Fui até à minha casa. Fui à procura de uma dobradiça de uma janela para mandar fazer as que faltam, porque não se encontram à venda dobradiças iguais às que eram usadas no século XVII.

A noite estava relativamente escura e, por isso mesmo, via-se muito bem o mar de pirilampos que esvoaçavam no páteo. Encostei-me à parede para ficar um bocadinho a olhar para eles - às vezes as melhores coisas da vida são-nos assim dadas e nós nem olhamos para elas - e para decansar. Senti que ela me amparava.
Não era uma coisa qualquer. Tinha as costas encostadas a alguma coisa que me permitia descansar e me deixava calma. A alguma coisa que me protegia.

Passei a mão na parede e soube-me bem sentir a textura. Desencostei-me e toquei nas cantarias da porta. Como se eu e aquelas pedras, que já lá estão há tanto tempo, nos cumprimentassemos.
Sentia-me tão tranquila e protegida ao mesmo tempo.

Lembrei-me, não sei bem porquê, de um email que me mandaram de Edimburgo há uns meses e que dizia:

Ask yourself when will you return home!

E eu tinha entendido, na altura. Porque para quem o enviou o facto de eu ser Scotland´s grandaugther fazia com que o meu lugar fosse lá (mas como também sou neta de outras coisas...).
Mas o que me ficou na cabeça foi a palavra home e o sentido dela.

A língua portuguesa é muito rica! Mas também tem lacunas.
Neste caso a língua inglesa leva a melhor.
Home é ... home!
Não é a frieza de casa, nem a pieguisse frágil de lar.
Aquilo a que eu estava encostada, aquelas paredes de pedra, grossas como muralhas, eram isso mesmo: home!
Forte para proteger, acolhedora para mimar!
Mesmo que, por decisão minha ou por um acaso, possa vir a viver pouco tempo nela. Seja muito tempo, ou quase tempo nenhum. Todos os dias, ou poucos dias na vida. Mesmo não sabendo quem mais lá viverá também, ou não. It´s home!

quarta-feira, 18 de maio de 2005

Parece-me...

Parece-me que a técnica funciona fora de água também!
Parece que está a resultar...
Estou espantada com a minha eficácia! Bem sei que não devia dizer isto, mas é a brincar!
:)

Respirar fundo...

Quando o cansaço nos vence, quando não conseguimos estar ao mesmo tempo em três sítios (mas precisamos mesmo!), quando não conseguimos controlar tudo ( e é muito mais do que nos parecia!) o que deviamos, quando a realidade transcende a imaginação... bebe-se café. E eu nem devia!

E o café pode tirar o sono. Mas não faz desaparecer o cansaço, nem ajuda a resolver nada, nem dá discernimento.
Se calhar devia ter bebido era água!

Ai! Ai!
Isto faz-me lembrar aquelas alturas em que, na praia, entro para dentro de água (e aquela praia tem o que se lhe diga!) e depois vem uma série de ondas enormes e não dá para sair.
Então o segredo é respirar fundo e mergulhar. Vir acima, respirar fundo e mergulhar. Mergulhar fundo. E repetir tudo, tantas vezes quanto for preciso.
Não entrar em pânico, procurar não me cansar demasiado e esperar que acalmem e haja uma altura em que dê para sair. Porque, mais tarde ou mais cedo, acaba por dar. Quando muito parte-se o relógio.
Mas passar uma de cada vez. Sem pensar em mais nada. Porque há-de passar.
Isto também! Respirar fundo... e passar uma de cada vez! Uma coisa de cada vez!

Cansada...

De vez em quando - deve acontecer a toda a gente - apetece-nos ficar mais tempo na cama. Porque temos sono, porque sabe bem...
Hoje apetecia-me ter ficado na cama, mas por outro motivo.
Até tinha - e tenho! - sono, mas não é por isso. É porque me sinto sem vontade de encarar o dia longo que sei que me espera - nem sei a que horas vou jantar...
E porque consigo antecipar todos os pequeninos aborrecimentos que me esperam hoje. E são tantos!
Nada de incontornável, nem nada de grave. Mas quando são muitos, e quando os conseguimos adivinhar, torna-se uma tortura porque os vivemos por antecipação. E como ando cansada...
Para começar bem o dia, uma carrinha nossa foi mandada parar pela polícia há minutos. Querem o comprovativo do pagamento do imposto de circulação de 2005. Ora eu só encontro cá o de 2004.
Sim, está cá tudo de todos. Mas nenhum de 2005. E todos os comercias têm os comprovativos de cada ano pagos em Julho. Ora se estamos em Maio quer-me parecer que ainda não pagámos os deste ano. Se calhar estou enganada... Eu nem percebo nada disto!
Bom... seja como for, este dia não tem mais de vinte e quatro horas e amanhã será, como diria alguém, um novo dia!

terça-feira, 17 de maio de 2005

A minha estreia culinária

Demorei muito a sentir alguma simpatia pela cozinha.
Sempre tive pessoas em casa e, por isso mesmo, não só não precisava de cozinhar como nem fazia sentido. O que é que eu ia fazer para a cozinha? Comia o que era feito para toda a gente.

Mas se há coisa com que começamos a sonhar quando começamos a ficar crescidinhos é em ficarmos sózinhos, sem adultos.
Também demorou algum tempo até o conseguir. Havia sempre gente em todo o lado!
Até que num Verão, e num intervalo em que os adultos não podiam estar connosco na praia, houve uma prova do campeonato de surf. O meu primo V. bateu o pé e disse que tinha que ir, porque um amigo ia participar. E tinha que ir, porque tinha que ir. Porque estava muito interessado, porque sim!
O meu irmão também! E eu... também!

Os pais do meu primo até acharam normal. Os meus pais até nem estranharam muito o meu irmão. Mas arregalaram os olhos quando eu disse, muito convicta, que também queria ir.
Não era o surf, só por si, que me movia. Na verdade até tinha um bocadinho de medo por causa de uma história complicada que tinha acontecido no ano anterior a uma prima de uma das minhas melhores amigas. Queria ir para lá porque gosto de lá estar e, principalmente, por ir "sózinha".

Foram lá deixar-nos, dessa vez na casa dos meus primos.
Foi a primeira vez que ficámos completamente por nossa conta. Estávamos eufóricos.
Mas foi aí que tive que me estrear na cozinha. Sim porque eles... não tinham tempo! Claro! Ou eram as provas ou eram os amigos! Na verdade eles nem tinham tempo para comer nem dormir.
Foi complicado arranjar tempo para fazer a minha vida normal e garantir a organização da casa. Compras, arrumação, limpeza e... alimentação!
Fui ao super-mercado e comprei daquelas embalagens de bacalhau-à-brás. Farta dos horários deles e já sem quase nada do que nos tinham deixado no frigorifico, lá segui as instruções que na altura me pareciam escritas em chinês.
Lá consegui a proeza de, pela primeira vez, fazer mais qualquer coisas de comer sem ser o pequeno-almoço.

De seguida fui ao frigorifico e tirei a única coisa que restava: arroz de tomate. Aqueci-o. Pus tudo na mesa, servi-me e mandei-os fazer o mesmo.
Vi que eles olharam um para o outro mas não liguei.
Durante a refeição disse-lhes:

Isto era melhor se fosse com arroz branco, mas era o que havia no frigorifico.

Risota geral!

Ó prima! Bacalhau-à-brás com arroz branco?!

Foi só nessa altura que percebi o que estavamos a comer: bacalhau-à-brás com arroz de tomate!!!

Ontem acabei por convidar o meu primo e a sua recém-mulher para jantar. Durante a refeição ele disse:

Quem te viu e quem te vê! O que tu mudaste!
Agora já não fazes bacalhau-à-brás com arroz de tomate, pois não?!

Acho que esse bacalhau me vai perseguir toda a vida. Mas, vários anos depois, ainda tenho saudades. Foram uns dias fantásticos!

segunda-feira, 16 de maio de 2005

Irmã mais velha

Numa manhã de Agosto o meu irmão chega ao pé de mim com ar submisso.
Estranhei o ar e estranhei estar acordade tão cedo - pois, porque o menino perde as noites em férias.

Encosta-se ao balcão da cozinha enquanto eu preparava o meu pequeno-almoço e começa a perguntar-me se não me importava que uma rapariga lá fosse tomar um duche e o pequeno-almoço.
Devo ter abrido os olhos de espanto. Uma rapariga?! Quem?! Porquê?!

Contou que o amigo dele, o N., tinha passado a noite no carro com uma rapariga e que ela era holandesa e precisava de, pelo menos, tomar um duche.
Achei muito estranho mas não pestanejei. Claro que podia tomar um duche.

Pouco tempo depois entram os dois com ar atrapalhado.
Ela era uma holandesa típica. Era simpática, mas muito tímida.
Tentei deixá-la à vontade, mostrei-lhe a casa, falei um bocadinho com ela, mas ela tinha o ar de uma menina pequena que tinha acabado de fazer uma grande maldade.
Dei-lhe o pequeno-almoço e ela começou a falar-me mais à vontade. Já se ria.

Ele, o N., não dizia nada. E só a custo tirava os olhos do chão.
Enquanto ela se vestia para irmos para a praia, quis saber o que era aquilo.
Ele contou-me que se tinham conhecido num chat, que falaram durante umas semanas, que ele a convidou para vir cá e ela veio (?!).
Disse-me que durante esse tempo nunca tinham falado de nada realmente pessoal, que quando a viu cá percebeu que não a conhecia. Que tinha pensado literalmente numa conquista e que tinham acabado por passar a noite toda no carro sem que tivesse acontecido o que quer que fosse. Que nem sequer falavam!

Vi que era a minha oportunidade. Vesti a pele de irmã mais velha (3 anos mais velha) do amigo, e passei-lhe um enorme sermão sobre a irresponsabilidade dele (a dela não era menor!).
Disse-lhe que era inaceitável que as pessoas se metessem em coisas dessas: falar com estranhos?!
Que as pessoas tinham que ser responsáveis e blá blá, blá blá...

Foram os três, como patinhos, comigo para a praia.
Voltaram comigo para casa. Almoçámos. Eu insistia para eles - o meu irmão e o amigo - falarem em inglês para ela perceber. Mas era complicado.
Ela era equitadora. À tarde lá fomos para um Centro Hípico que fica lá muito perto.
Voltámos ao fim do dia, jantaram lá em casa e depois ele foi deixá-la em Lisboa onde uns amigos estavam à espera dela.

Ficámos amigas.
Durante meses ela perguntava-me por ele e eu dava respostas evasivas.
Um dia ela irritou-se, com ele. Mudou o número de telefone, o contacto no MSN e o email. Não mudou de morada mas ele também nunca se lembrou de lhe escrever.

Recentemente ele começou a insistir comigo para lhe dar o contacto dela.
Um destes dias, em que já estava cansada, voltei a dar-lhe outro sermão, com o mesmo conteúdo. Ele, que sempre me tinha ouvido sem ripostar, volta-se para mim e pergunta-me:

Olha lá! E tu nunca falas com ninguém que não conheces na internet?

Engoli em seco. Disse que não própriamente. Que até falava com algumas pessoas mas que as conhecia porque conhecia os blogs e que isso era diferente de falar com pessoas de quem não se sabe nada. E que nunca tinha ido de um país para outro atrás de uma pessoa de quem não sabia rigorosamente nada.
Mas, em consciência, achei melhor calar-me! Esta capa de irmã mais velha já não me estava a assentar muito bem.
Ainda assim hesitei durante uns dias sobre se devia, ou não, dar-lhe o contacto da A. Até que me ocorreu, esta manhã, uma ideia brilhante: agarrei no telefone e perguntei-lhe o que devia fazer. Resposta:

Tell him! Please!

Ora! Se eles querem, quem sou eu para contrariar?!

Começou a chover lá fora! E eu gosto! Dá uma sensação de aconchego...  Posted by Hello

domingo, 15 de maio de 2005

Divagações

Ontem, depois de ter dado por terminado o dia de trabalho (sim! dia de trabalho!), precisei de falar com uma pessoa numa povoação dos arredores de Lisboa.
Um lugar que não conhecia, sede de uma freguesia. Sítio pequenino e aconchegado, com as casas arrumadas em duas encostas tão verdejantes quanto íngremes. Uma Sintra pequenina!

Dei asas a esta minha mania, que se tem manifestado últimamente, para deambular, e resolvi conhecer algumas dessas poucas ruas.
Fui andando ao acaso por ruas estreitas e curvas. Não existem passeios e as casas, na sua maioria cor-de-rosa com portadas de madeira verdes, apertam-se umas contra as outras.

Numa dessas ruas, a seguir a uma curva, deparei-me, bem à minha frente, com uma casa grande e abandonada.
Era defendida por um muro baixo, encimado por um gradeamento de ferro forjado. Tinha um pequeno portão aberto e, lá dentro, no pátio, ainda crescia uma roseira enorme que avança pelo espaço disponível de uma forma desordenada.
A porta estava aberta. As janelas dos dois andares estavam umas abertas e outras já arrancadas. Viam-se os tectos de estuque trabalhado e um painel de azuleijos azuis e irregulares dizia: "Vivenda Margarida".

Era linda!
Num instante já a via habitada por personagens do Lord Byron ou do Eça. Mulheres delicadas e leves, de cintura fina e vestidos claros. Apaixonadas por homens gentis e sensíveis.
Já ouvia o barulho das caudas dos vestidos e os risos dos apaixonados.
Tudo isto numa fracção de segundos, sem que tivesse sequer parado.

Entretanto, aproxima-se um carro branco conduzido por um jovem homem, português típico que, provavemente por não me conhecer dali, ou porque acha que é sua obrigação de homem, ao passar profere um gracioso piropo.
E lá acordei desse sonho tão breve e desci à terra.
Mas também... onde é que eu ando com a cabeça?

sábado, 14 de maio de 2005

Em mudanças

Não tive uma adolescência problemática. Cresci, simplesmente.
Não houve dramas nem crises. Só ajustamentos e descobertas.
Não foi fácil, porque nunca é. Mas não foi difícil. Longe disso!

Não dei reviravoltas. Não tive que me redescobrir.
Não mudei de estilo, nem de amigos, nem de gostos. Cresci.

Agora, já crescida, e depois de algumas coisas - de uma coisa - que não devia ter acontecido, respiro fundo e estranho-me.
Definitivamente, mudei, ou estou a mudar.
Ou, se calhar, esqueci-me de mim por uns tempos, e já não me lembrava.
Ou as duas coisas.

Dou por mim a olhar para as minha mãos como se não fossem minhas, ou para as pontas dos cabelos como se nunca os tivesse visto. E, no entanto, não é uma sensação má.

Mas estranho também os sentimentos e as sensações.
Olho para as nuvens de trovoada, grandes e brancas, como se nunca as tivesse visto, para o Sol, para as flores e as árvores.
A sensação de liberdade de um galope a rédeas soltas ou uns mergulhos num mar bravo.
Estranho sentimentos como se nunca tivesse sentido nada antes e, apesar disso, lembro-me de tanta coisa.

Não mudei no essêncial. Tenho os mesmos valores e os mesmos gostos. Conservo alguns amigos, mas desenvolvi afectos por outras pessoas.
Reajo de maneira diferente a várias coisas e, sobretudo, sinto de uma forma diferente.

Não foi hoje, nem ontem. Deve estar a acontecer desde os últimos meses, ou do último ano, ou um pouco mais. Mas foi um processo lento e progressivo. Uma coisa que foi crescendo, que só agora se sente. Tanto que não dá para ignorar. Como se fosse um acordar muito, muito lento.

Não estou com tempo para reflexões. Ou talvez nem queira fazê-las!
Está a agradar-me esta sensação de que tudo é novo. Até coisas tão simples como a sensação do vento na pele. Acho que vou deixar estar. Fechar os olhos e deixar-me levar.

Duarte

O meu priminho Duarte faz hoje anos, e eu não podia deixar passar a data em branco. Porque acho que o primeiro aniversário é uma data muito importante, quase uma passagem, em que os bebés começam a deixar de ser bebés (o que é uma pena!) ... e porque é meu primo, e pronto!
Muitos parabéns bebé!

quinta-feira, 12 de maio de 2005

A pedido da prima

A minha querida prima passou-me mais um dos inquéritos que parecem estar a aparecer como cogumelos por aí.
E como não se recusa um convite de uma boa prima, e o inquérito até tem piada, aqui vão as respostas:

* Que fazes neste momento?
Não sei quem inventou tal pergunta, mas é um bocadinho estranha. Então não se nota que estou a responder a este inquérito?!

*Que planos tens para o fim-de-semana?
Por acaso este fim-de-semana, porque aceitei o tal trabalho extra, tenho que trabalhar no Sábado.
No Domingo faço questão de não ter planos. É disso que gosto nos fins-de-semana: a ausência de coisas pré-estabelecidas. A menos que seja uma coisa que me interesse muito.
Mas vou acabar por me ocupar com uma das duas coisas que me limpam a alma: o mar ou os cavalos.

*Que coisas te causam stress neste momento?
Aquele tal trabalho, que me vai obrigar a estar amanhã fechada toda a tarde numa reunião, e me vai tirar liberdade.

* Que fizeste desde o acordar até agora?
Ai! Devia responder a esta pergunta ao levantar!
Hoje foi um dia muito fora do normal.
Levantei-me e fiz aquilo que qualquer pessoa faz: banho, vestir, pequeno-almoço.
Convenci-me que precisava muito do meu computador portátil, que tinha deixado na praia, para amanhã, e fui buscá-lo. Não resisti e tomei o meu primeiro banho de mar do ano. Estava com ondas estranhas, a corrente do costume, e fria.
Almocei num restaurante junto à areia (que não vou dizer qual é) e voltei para cá.
Vi os comentários do meu blog e visitei de passagem alguns outros (poucos).
Apesar de não ter nada a ver com as vendas, atendi um homem que queria, porque queria, compras umas coisas, independemente do preço e sem ter provado. Dizia que sabia o que estava a ver ??!! Eu disse quanto era e ele pagou. A pronto!
Fui ver a vinha, recém-plantada, de Cabernet, que está a crescer a olhos vistos.
Atendi o veterinário que veio ver a égua.
Comecei a conferir os movimentos das contas bancárias, coisa que tenho que acabar hoje, e que implica um bem longo serão.
E agora resolvi respender ao questionário, antes de jantar.

*A quem irás passar este teste magnifico?
A ninguém.
Nunca participei em correntes. Nem sequer abria aquelas cartas que percebia que eram cartas-corrente.
Por mais que entenda que é, na maioria das vezes, uma prova de amizade transmiti-las às pessoas por quem temos estima, prefiro, por uma questão de coerência, não a passar a ninguém. Isto apesar de até ter passado aquele outro inquérito sobre os livros, isso sim, uma incoerência!
Mas como até é engraçado, sugiro que responda quem gostar de o fazer!

quarta-feira, 11 de maio de 2005

O sapo

Era uma noite de Fevereiro. Húmida e fria.
Não me lembro das horas.
Não sei a que horas jantámos. Nem deviamos ter jantado. Depois do que se tinha passado naquele dia. Mas, por isso mesmo, não queriamos encarar ninguém. Nisso estávamos de acordo.
Saímos de carro. Ele tinha um compromisso. Passou-me a mão pelos cabelos, pela cara... Pensou adiá-lo. Lembrei-lhe que tinha que ir. Esperei no carro. Foi rápido. Voltou a sorrir! Mas eu evitava encará-lo nos olhos! Não queria ver!

Não tinhamos fome. Não sabiamos para onde queriamos ir, nem se queriamos. Tinhamos pressa, mas sem sentido.
Acabámos por comer qualquer coisa num McDonald´s. Foi a primeira e última vez que jantei num sítio desses em Portugal.
Ele falava, e eu não olhava para ele. Nem sei o que disse.
Lembro-me vagamente de falarmos num documento preciosíssimo que eu tinha descoberto nesse dia. Era só ele que estava empolgado.
Aquilo era uma despedida!

Lembro-me da viagem na auto-estrada.
Da chuva miúdinha. De ter tentado dormir e não conseguir. De ouvir a voz dele em conversas sem sentido. De sentir a mão dele e de me assustar com a condução.

Lembro-me de seguir por estradas familiares. Do escuro.
Havia um sapo na caminho... Ele parou o carro. Disse-me que adorava sapos. Como é que eu não sabia?! Como é que ainda havia coisas que eu não sabia acerca dele?!
O sapo não saía da estrada. Saí do carro para o obrigar a atravessar.
Aquele sapo... e a chuva miúdinha e persistente.

Mais tarde, lembro-me do calor. De ter reparado, ao fim de tanto tempo, como a minha pele era mais clara do que a dele, de ouvir, ao longe, as badaladas do relógio da torre, das mãos dadas, da luz da lua a entrar pela janela porque a chuva tinha parado, de descançar a cabeça no peito dele. Mas aquilo era uma despedida!
Não era mais uma. Era a despedida!

Lembro-me de ele ter dito baixinho: Vou-me embora. Ou para um país menos desenvolvido, para ensinar, ou para um mais evoluído para aprender mais.
Nem ripostei. Estava habituada a partidas. A ter o mar pelo meio.
Mas, desta vez, não era uma viagem que nos ia separar. Aquilo era, realmente, uma despedida!

Não foi o fim. O destino encarregou-se de tranformá-lo num outro início de uma outra coisa que teve um fim. Definitivo.
Onze meses depois partiu. Podia ter ido antes. Quem o prendeu partiu também, ele sim, para sempre. Para um sítio de onde não se volta.
Não imagino quantas pessoas terão também descansado a cabeça no peito dele depois disto. Nem sei quem o fará agora. Nem me importa.
É o sapo! É a imagem do sapo que não me sai da cabeça!
Foi o sapo que me sem deixou dormir na noite passada! Foi o sapo...
E eu até gosto de sapos, mas...

Há dias...

Há dias em que se perdeu a noite.
Em que foi difícil adormecer. Em que se teve sonhos estranhos. Em que se acordou a meio da noite com o som da chuva a cair, se saiu à rua para a ver e não se conseguio dormir mais. Em que se ficou a pensar se naquele país afinal estará a chover também, e estará mais frio do que aqui.
Há dias em que algumas recordações saltam do passado, sem autorização, e se agarram a nós, por mais que tentemos soltar-nos. Há dias em que temos raiva de um futuro hipotético, vago, talvez até mais do que improvável, e cuja imagem, mesmo assim, nos assalta entre o apetecível e o inquietante.
Há dias em que o sorriso teima em esconder-se como o Sol.
Há dias em que nos apetece fugir de nós mesmos. Como naquele dia, depois de mais uma discussão, desta vez, em público. Mas hoje não vou ouvir sussurrado : Eu sei. Compreendo!
Ainda bem que hoje nem tenho tempo para pensar!
Este sim, é um post hermético. Hoje é!

terça-feira, 10 de maio de 2005

Humm...!

Já percebi que o meu blog é uma criatura de personalidade.
Eu prometo e ele cumpre!
Parece que partiu em viagem, para parte incerta, e deixou um espaço, simplesmente, em branco.
Imagino que volte! Mais tempo, menos tempo...
Entretanto o que me compensa é que choveu! E este cheirinho assim a terra e feno molhado, logo pela manhã...

A cenoura

Sempre gostei de me sentir com horizontes largos. Mas nos últimos tempos a minha necessidade de sair - de sair do país, entenda-se - tem-se tornado muito evidente.
Aqui não a escondo, porque não fazia sentido. Mas evito apregoá-la fora daqui.
Mesmo assim, suponho que se nota porque, numa viagem de carro, perguntaram-me assim, saído do nada: E se fosses uns dias à Escócia?

O problema está aí! Não posso!
Agora, e até ao fim de Novembro não vou ter mais do que dois dias seguidos livres, excepto aqueles 20 dias, mas esses são todos para passar na praia - sem mar morro!
E não posso porque aceitei um trabalho que me obriga a ficar por cá!

Quando me candidatei achei que não tinha hipóteses. Havia tanta gente que preenchia os requesitos à minha frente...
Mas aconteceu!

Não gosto do trabalho. Não é propriamente odioso, mas não gosto.
Também não morro de amores pelas pessoas com quem vou ter que trabalhar. Não são más pessoas. A esquisita sou eu!
Aceitei só pelo dinheiro! E sinto-me mal com isso.

É muito bem pago. Vou continuar a trabalhar aqui porque não deixaria este trabalho e porque dá para acumular - com esforço, mas dá! - e, feitas as contas, só com o que esse trabalho vai render, vai dar para acabar o restauro da MINHA casa sem recorrer a crédito bancário ou favores dos pais. Sim, porque isto de restaurar uma casa com 400 anos consome algum dinheiro.
Na verdade, ainda deve sobrar um bom bocado. O que me deixa numa situação confortável para... viajar sem fazer muitas contas.

E é nestas coisas que penso para conseguir encarar o que tenho pela frente a partir desta semana.
Sinto-me como um burro a correr atrás de uma cenoura.
Acenaram com o dinheiro e eu aceitei. Pior! Acabei por ficar com um trabalho que outras pessoas fariam com o maior dos prazeres!
Pela primeira vez na vida tomei uma decisão baseada no maldito dinheiro. Mas devo estar a dramatizar! Eu estou é que estou muito mal habituada! Afinal não é por dinheiro que as pessoas normais trabalham?!

segunda-feira, 9 de maio de 2005

Amor não é...

Tenho um livro na cabeceira que tem estado, literalmente, à cabeceira, porque pouco lhe tenho pegado.
É uma biografia de uma senhora. Uma senhora escocesa que viveu na Idade Média e por quem até tenho um interesse muito especial.
O livro tem poucos anos e está muito bem feito. Mas um dos pontos em que se apoia é numa biografia feita a pedido de uma das filhas dessa senhora, por um monge que a conheceu.
A páginas tantas o tal monge afirma, a respeito do relacionamento entre ela e o marido:

What she refused he refused, and what she loved, he loved for the love of her love.

Fiquei enternecida quando o li.
Li uma segunda vez. Li uma terceira, e comecei a estranhar qualquer coisa.
O amor não é bem isto! Se é que me lembro...
Não o amor entre homem e mulher.
Bom, esta afirmação tem um grande mérito. Apesar de se falar tanto da falta de cumprimento do voto de castidade dos clérigos da Idade Média, temos que concluir que este, pelo menos, parecia cumpri-lo. Porque não fazia ideia nenhuma do que é o amor.

Fiquei a pensar que se fosse comigo eu não ia gostar muito. Simplesmente porque, a ser verdade, a outra pessoa deixa de ter personalidade, deixa de existir. E depois, quem é que é capaz de amar alguém que é vazio?
E, mal por mal, até é melhor amar do que ser amado.
Na verdade ser amado é bom, mas só se for pela pessoa certa.

Do amor espara-se muito mais!
Espara-se assim coisinhas simples como ter a capacidade de nos tirar o sono e de nos fazer dormir nas nuvens, de nos dar asas e de nos prender, de nos tranquilizar e nos deixar com o coração nas mãos, apertadinho e inquieto, de nos fazer chorar de alegria pelas coisas mais simples e sorrir perante coisas dolorosas, de nos fortalecer e tornar dependentes ...
Pode ser? Será pedir muito? Se calhar é, mas enfim...
Se acontecer... que seja assim! Aconteça se tiver que acontecer! Chegue quando tiver que chegar! Dure o que durar! Mas que seja assim!

domingo, 8 de maio de 2005


Nestas árvores moram os pássaros que me acordam todos os dias ao nascer do Sol. Mesmo ao Domingo! Mas nestes dias, em que não há horários e o corpo implora para ficar mais um bocadinho no aconchego da cama, eu faço-lhe a vontade e aninho-me mais na almofada. Então os cantares da rola, do melro, da carriça, do pintassilgo, do estorninho... embalam, e os pássaros que me acordam tornam-se nos pássaros que me adormecem. Depois, quando finalmente acordo, assim tarde e descansada, como hoje, a primeira coisa que faço quando pouso os pés no chão é abrir a janela para os espreitar. E não se pode dizer que seja uma forma desagradável de começar o dia! Posted by Hello

quinta-feira, 5 de maio de 2005

Danças

Esta semana, por vários motivos, tem sido um bocadinho atípica.
Bem ou mal, o resultado é que tenho tido mais tempo do que nas últimas semanas. Tenho tido tempo para respirar!
Acabei por aceitar o convite - mais desafio - de uma amiga para fazer uma coisa que não fazia há, realmente, muito tempo: ir a uma discoteca.
E lá fomos, três amigas, de há alguns anos. Sózinhas.

Fiquei um bocadinho admirada que, a meio da semana, houvesse tanta gente numa discoteca. Está bem que é uma discoteca da moda mas, mesmo assim!

Nunca fui de fazer noitadas - nunca, excepto em ocasiões pontuais e num Verão muito particular - mas sempre gostei de dançar. É normal, não é?
Pois, é normal, mas não é inconsequente.

De facto apetecia-me dançar. Dancei horas seguidas. Há um ponto em que se dança qualquer coisa!
Parei algumas - poucas - vezes. Uma vez, estava realmente com sede. Já era tarde. Um rapazinho chega ao pé de mim educadamente. Pergunta-me aos gritos que, mesmo assim, me custavam a perceber, se eu não tinha um irmão.
Eu achei normal. Respondi que sim.
Perguntou-me depois, já mais próximo do meu ouvido, se eu não morava em Alvalade. Pensei que ele estava a fazer confusão com alguém. E disse-lhe isso mesmo. Disse que, por acaso ia a Alvalade com frequência porque tenho uma amiga - uma destas duas - que mora lá, mas que eu não morava.
Só quando ele me disse quase ao ouvido: Mexes-te muito bem, sabias?, é que a pateta percebeu o que se passava!

Voltei esbaforida para o pé das minhas amigas. Entre o furioso e o incrédula!
Não, eu não danço em cima de colunas. E não, juro que não faço nada de especial!
Elas riram-se! A C. disse que já tinha reparado nele, que já há algum tempo que ele me seguia. Que estava mesmo a ver que ia acontecer uma coisa destas. Mas a tolinha não tinha dado por nada!

Depois, muito depois, mais a frio, reconheço que há qualquer coisa de sensual na dança. Qualquer dança. Da balada mais suave à batida mais frenética.
Não é mera libertação de energia; para isso existem as sessões de aeróbica, ou qualquer outro desporto.

Não é realmente isso. O que se sente é diferente. Os movimentos, quer queiramos quer não, têm qualquer coisa de sedutores. Sem intenção, mas têm.
Aquilo que se sente quando se dança é um prazer muito mais próximo do sensual do que do meramente físico ou do estético. Os balanços, a batida, o ritmo, o calor, até a sensação do cabelo a bater nas costas, na cara, no pescoço, ou a soltar-se com os movimentos. As luzes, o som tão alto que não permite ouvir mais nada, tudo se conjuga para um mesmo efeito.

Mas - caramba! - a dança não é um ritual de acasalamento!
Bem... lá haverá algumas que até são, mas não era disso que estava a falar.
Não me sinto muito confortável com esta constatação! Se calhar era mais sensato cada um dançar sózinho, no seu quarto, e sem testemunhas. Mas paciência!
Sinto algum embaraço, mas não vou deixar de dançar por isso. Vou é passar a reagir de uma forma diferente quando alguém me perguntar: Desculpa, mas não tens um irmão?

Um título qualquer

Normalmente não dou muita atenção às notícias e aos jornais. Não por não me importar com o que se passa no mundo mas pelo contrário. Por me atormentar.
Ao muito difundido se não puderes vencê-los junta-te a eles, sempre preferi o se não puderes vencê-los, ignora-os. Mas só se, comprovadamente, não for mesmo possível vencê-los, porque sou suficientemente casmurra para bater o pé até à exaustão.

É verdade que com esta mania até já tenho cometido algumas injustiças.
Bem me avisaram que não é automático que se devam defender sempre os fracos. Ser fraco não é sinónimo de ter sempre razão, nem de ser sempre vítima.
Ser fraco significa tão só que, em caso de serem atacados, têm menos capacidade para se defender. E em caso de não terem razão, menos capacidade para atingir os outros. Só isso! A razão não é património de ninguém. Mas foi uma lição que aprendi tarde.

Passou-me ao lado aquela história da mulher que foi regada de gasolina pelo amante. Paciência! É pena, mas eram adultos. Era lá entre eles.

Passou-me ao lado a história do Ivo.
Até achei que era demasiado passar uns anos na prisão por ter fumado o que não devia. Ouvi com espanto o meu irmão dizer que não assinava a petição, caso lhe passasse pelas mãos. Mas quando tive a oportunidade de assinar também não a assinei.
Afinal o menino conhecia as leis do país. Era suposto respeitá-las. Tinha consciência do que estava a fazer. Se lhe apeteceu fazer o que fez...
Agora, quando muito, vai passar uns tempinhos na prisão, o que lhe vai permitir fazer uma recolha muito mais rica para o tal documentário que estava a preparar. Espero que tenha sorte, mas espero mais ainda, que aprenda alguma coisa.

Mas o que não consigo ignorar é o que se passou com aquela menina, morta e atirada ao Douro pela avó!
Não consigo! É uma coisa em que não consigo deixar de pensar!

Eu tive uma infância de conto de fadas. É verdade que na minha, como em todas as famílias, também houve, em alguns momentos, problemas entre alguns dos membros que a compõem. Mas uma família é isso mesmo, um corpo com vários elementos que se inter ajudam e se completam. Há sempre alguém que compensa. Pelo menos na medida do possível. É por isso que as famílias têm pais, filhos, avós, irmãos, tios, primos...

Não consigo imaginar uma avó e um pai capazes de fazer aquilo a uma criança!
Não percebo como é que ninguém percebeu que a menina era vitíma de maus tratos, como é que não foi entregue a uma das mais do que muitas famílias dispostas a aceitar e amar crianças como esta!
Não consigo imaginar o que tenha sido a agonia dessa menina!
Não consigo pensar no tormento que deve ter sido a sua curta vida!
Não percebo como é que já se começam a arranjar atenuantes: que o bairro é problemático, que as pessoas vivem mal... Caramba! Há lá desculpa para uma coisas destas?!
Não percebo como é que, mesmo que consigam, de facto, provar que aquelas criaturas fizeram aquilo à menina - sim, porque já ouvi uma advogada lembrar que ainda é preciso provar! - daqui a poucos anos vão estar de novo à solta e continuar a sua vidinha tranquilos como se não fosse nada.
Definitivamente, há casos, em que a moldura penal não tem nada a ver com a aplicação da justiça! Por mim, para casos tão horrorosos quanto este, ficariam presos toda a vida! Porque não há desculpas! Nem acredito que criaturas destas se tornem, nem mesmo num dia remoto, pessoas normais!

quarta-feira, 4 de maio de 2005

Delete

Há uns tempos apaguei um post neste blog.
Há uns dias um comentário no blog de outra pessoa.
Hoje escrevi e apaguei um comentário e dois posts.
Parece que ando com dúvidas quanto à fronteira que, forçosamente, é preciso estabelecer. Entre o que se diz e o que se deve calar. E, ainda assim... cá ando... sorridente!

terça-feira, 3 de maio de 2005

De volta

Pois, de volta, porque a vida continua.
Mas ainda com a sensação de falta de referências.

Fiz a viagem para baixo muito contrariada, como sempre.
Procurava a lua e não a via. Lembrava-me da última viagem para baixo, numa noite de lua cheia, enorme.
Nessa noite também não tinha querido voltar.
Nem nessa nem em todas as outras de que me lembro. Mas especialmente nessa.

Custa-me passar o Cávado, custa-me passar o Ave. É penoso passar o Douro e, quando as placas anúciam St.ª Maria da Feira sinto-me realmente contrariada.
E a viagem para baixo é penosa. Sempre!

Algum dia fico lá por cima...
Sim. Digo sempre isto. Chego a levar-me a sério.
Chego a pensar, meia divertida, que aquela cigana que insistiu em "ler-me a sina" no jardim no Campo Grande, tinha razão. Pelo menos alguma razão.

Algum dia vou para a Escócia, com bilhete só de ida.

Algum dia aceito a proposta daquele primo do meu pai, funcionário das Nações Únidas, e vou trabalhar para o outro lado do mundo. Mesmo para o outro lado do mundo. E fico lá...

Algum dia apanho um avião sem destino!

Mas esse dia nunca chega. Porque tudo me prende. Pessoas, animais, obrigações e até sítios! Recordações e planos. O passado, o presente e até o futuro! Mas um dia...

domingo, 1 de maio de 2005


Consegui acabar o trabalho ontem ao fim do dia. Mas antes de o terminar informaram-me que tinha morrido a minha Tia. A minha Tia-avó. Uma delas. Mas como não tenho realmente tias, e ela não tinha filhos nem netos, quando falava na "minha Tia" era nela. Ouvi a notícia como se não tivesse sido nada, acabei o que tinha que acabar, deitei-me cedo desta vez. Mas não dormi. De manhã pus o fio que me tinha oferecido quando ainda era pequena e fui para a Capela. Ela dizia que quando morresse ninguém choraria por ela. Gostava que soubesse que não é verdade! Agora vou para aqui, mas não vai ser uma viagem alegre. Obrigada Catarina por estragares o teu fim de semana e teres esperado por mim! Posted by Hello