sábado, 31 de dezembro de 2005

Dakar





Depois do trabalho... Sim, depois do trabalho, tarde, sem jantar não resistimos. Nem sei porquê. Se calhar só para dizermos a nós mesmos: Estive lá!
Paciência se não tinhamos jantado; lá fomos.

Não seria o local mais normal para eu estar, mas valeu a pena.
Engraçado aquele ambiente; tanta gente, tanta gente conhecida e desconhecida, tanta gente diferente, de países diferentes, com aspectos diferentes, ouvir tantas línguas diferentes; os preparativos; a boa disposição; as histórias que se contavam deste ou daquele, como o do Gordon, que o ano passado se sentou em cima do carro, cruzou os braços e disse que para ele chegava, estava com saudades da mulher; as músicas e as luzes; o sentimento que pairava de festa e, ao mesmo tempo, de início de uma aventura de que, de algum modo, naquele momento todos nos sentiamos participantes ou, pelo menos, cumplices; o desejo sincero e partilhado de que corra bem, para todos; e as imagens do deserto em ecrã gigante, lindo, poderoso, mágico.
E o orgulhozinho que cresce cá dentro por ouvir a opinião dos estrangeiros, por perceber que este nosso País, apesar de tudo, se mantém de pé, que é admirado em algum momento, que ainda congrega nele, num ou noutro momento, as atenções, que é nosso!


Depois... bom, depois a 24 de Julho tem a resposta para o resto da noite. E depois dormir na minha caminha, e depois acordar com olheiras e decidir que não vou ver a partida. Mas valia a pena!

Ah... era dia de fazer balanços, não era?!
Mas não o faço. Não hoje.
Mas foi um ano cheio, intenso, inesperado, diferente de todos os outros. Não sei se queria que acabasse, mas é o calendário...
Sobre o que aí está a chegar pensarei amanhã, ou depois.

BOM ANO!!!

sexta-feira, 30 de dezembro de 2005

Intimidade

Há sonhos que até percebemos porque os tivemos, mas há outros que surgem do nada, sem explicação nenhuma. Tive um destes esta noite. Sonhei, sem motivo nenhum, sem qualquer razão, com alguém que me foi muito próximo durante algum (muito) tempo.

Sonhei com uma situação banal: que iamos numa rua qualquer, a pé, fazer alguma coisa... Qualquer coisa sem importância. Mas foi estranho sonhar com essa pessoa, tanto tempo - e tantas coisas - depois.
Depois de mais de dois anos de distância, depois de todos os problemas que tivemos, das discussões, das zangas que envolveram amigos e família, depois de não nos vermos desde então, de raivas, de assuntos doridos, depois do fim, depois de estar certa de que não queria mesmo voltar a cruzar com ele. Depois de ter doido, muito.
Mas depois de já não doer, de não ser importante, de haver outras coisas na minha vida, depois de já não ter medo de o encontrar, depois de já não me importar, depois de já não sentir. Depois de tudo, emocionalmente, resolvido.

Mas acordei assim, a sentir saudades da intimidade que tinhamos. Não dele! Da intimidade!
Saudades de saber exactamente o que ele gostava de comer; de trabalharmos juntinhos; de fazer compras com ele; do cão dele; dos irmãos e da mãe e até do pai; de lermos as mesmas coisas; de saber tão bem como ele guiava depressa, de eu me assustar sempre e de ele rir disso; de saber que gostava de estacionar em lugares indevidos; de estar à cabeceira dele quando estava doente; de tratar dos assuntos dele quando estava fora; de saber que dormia sem almofada mas que gostava de roubar a minha para eu dormir com a cabeça no peito dele; de terminarmos as frases um do outro; das centenas de emails e de horas e horas ao telefone - muitas vezes madrugada dentro - até adormecermos, quando houve distância; de ser ele o primeiro a saber tudo o que era importante para mim; de ser eu a primeira a quem contava os sucessos e os problemas; de usarmos a carrinha do meu pai; de saber, melhor do que ele o número que vestia, e de ser eu a compra-lhe as meias; de dividirmos a cadela; de acordar e adormecer e tê-lo ali a fazer-me festinhas e a velar o meu sono; de ensiná-lo a cozinhar; das rotinas e das surpresas; de anos de cumplicidade...

Saudades disso, não dele, que é assunto encerrado. Mas, ainda assim, interrogar-me se o coração não bateria mais depressa se o encontrasse. Mesmo que seja tudo, mesmo, "assunto encerrado", mesmo tendo a segurança de que não há riscos de recaídas - senão não estaria a falar do assunto.
Mas tenho saudades, sim... disso; da intimidade!

terça-feira, 27 de dezembro de 2005

:-)


Se este não for o momento alto do dia será, concerteza, um dos mais divertidos.
Num intervalo para um café - na verdade, para um chá - estavamos a combinar uma visita às Berlengas. Quando uma colega nossa, amante ferverosa do mergulho chega perto, digo-lhe isso mesmo; que estavámos a combinar uma ida às Berlengas dentro de pouco tempo.

Ela sorri um bocadinho, como quem concorda e o J. acrescenta mais qualquer coisa que nem reparei.
Às tantas, com um sorriso mais aberto diz:

- Está bem! Então mas temos que marcar as passagens!

- As passagens?!

- Sim! Temos que comprar os bilhetes. Vamos em que companhia?

- Companhia...?! Ó V. nós vamos de barco!!! Vamos no barco da irmã da F.!

- De barco?! Milhares de milhas!!! Vocês estão bem?! Aquele barco não dá! Deve ter só uns sete metros! Mas porquê que não vamos de avião?!

Gargalhada geral!
Então não é que ela pensava que as Berlengas ficavam lá para o Pacífico?!
Ai... assim vale a pena vir trabalhar!

segunda-feira, 26 de dezembro de 2005

Surprise! It´s a puppy...



Mesmo quando já não somos crianças e, por isso mesmo, já não somos tocados pela magia do Natal da mesma forma, mesmo assim, às vezes, surpreendemo-nos com alguns presentes.
Este foi... inesperado!

Tem quase dois meses, é engraçado, macio e depressa se acomodou ao colo.
Era a última coisa que precisava, porque já tenho cães em número suficiente, porque ando sem tempo, porque... Por muitos motivos!
Mas foi impossível resistir-lhe!

Claro que agora as minhas noites são ainda mais animadas.
Caminha dele ao lado da minha, a mão fora da cama para lhe fazer uma festinha quando choraminga, levantar-me de duas em duas horas, porque é esse o intervalo entre os sonos dele, levá-lo a fazer chichi e adormecê-lo de novo. Benditas noites! E eu a dizer que precisava de descansar...!
Mas é bebé... Isto depois passa! Tomara que passe depressa!

Bem fiz eu quando negociei este dia livre ( isto ainda antes do pranto e subsequente gazeta de meio da semana passada, claro!) para descansar do Natal. O primeiro em que nem sequer consegui responder a todas as sms´s recebidas.
Ai... mas sabe bem regressar à normalidade; aos horários normais; às comidas normais sem bolos-rei, sonhos, coscorões, rabanadas, broas, mexidos, - e o pior ainda é que sou eu que os faço quase todos! - ; beber mais água e menos vinho, espumante, porto; à casa bem mais vazia, ao trabalho normal i.e., à normalidade possível!

sexta-feira, 23 de dezembro de 2005

Feliz Natal!


O calendário manda. Volta-se para casa. É Natal!
E por mais que não goste das obrigações e das pressões que, sobretudo nos últimos anos, lhes sinto agregadas, gosto dele.
E mais do que gostar ou não, o que conta é que ele é importante, mesmo que, às vezes, o esqueçamos.
Seria bom que todos tivessemos um Natal calmo e aconhegante. Que seja, para todos, um FELIZ NATAL!

quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

O espírito de Natal visitou-me, esteve comigo umas semanas, fez-me montar a árvore de Natal, o presépio, encher a casa de velas e demais acessórios. Mas acho que me abandonou.

Ontem, depois de uma manhã em que não fiz nada que se aproveitasse, por mais que tentasse; de um almoço com alguém que, felizmente, falava pelos dois enquanto eu desviava a vista para fora do restaurente ou para o telemóvel para ir vendo as horas e as mensagens; de uma tarde ainda pior do que a manhã; parece-me óbvio que não adianta teimar.

Não adianta. Não consigo fazer um quinto do que era necessário fazer, nem consigo fazer coisas básicas. Gostava de culpar as hormonas, mas não me perece. Podia culpar o cansaço mas se calhar não é verdade... não me interessa.
Não foi difícil demonstrá-lo ao meu pai para que me desse dispensa; não foi difícil provar-lhe, de lágrimas nos olhos que não adianta ficar por cá. Não foi difícil telefonar para cima a aceitar à primeira o convite - intimação - para ir, e soluçar de saudades. Não foi difícil fazer a mala em cinco minutos - neste caso o saco de viagem. Não foi difícil telefonar à minha chefe do outro trabalho e dizer-lhe muito simplesmente, depois de dizer que estava muito constipada: Não consigo, e chorar mais e sentir o silêncio do outro lado, e depois ouvi-la chorar também, e dizer-me para ir.

Não foi difícil.
Não foi difícil pensar no meu quarto com a salamandra que a L. já acendeu esta manhã, para estar quentinho quando chegar, e no almoço - que ela insiste em chamar jantar - que vai ser a meio da tarde, que a viagem ainda demora.
Não é difícil imaginar que, desta vez, não me apetece sair de casa - dessa casa- ; que desta vez não quero saber da Franqueira, nem do Cávado, nem da Lapela e... se calhar, nem do meu sítio preferido. Não me apetece!

Lá ficam presentes para comprar e coisas inadiáveis por fazer. Mas não consigo!
Difícil vai ser voltar!

domingo, 18 de dezembro de 2005

Qual Sherlock Holmes

Sou um bocadinho distraída. Melhor, sou terrívelmente distraída. E teimosa.
Tenho algumas qualidades... pois tenho!
Ah... e ando sempre mais do que desactualizada em relação às novas tecnologias.
Pois, por causa disto - não da teimosia - este Verão apanhei um pequenino susto.

Alguém pôs as coisas no meu saco de praia. No caminho a pé da praia para casa pergunta-me pela chave do carro dele. Eu fico admirada porque não me lembrava de ter guadado chave nenhuma.

- Está no teu saco porque a pus lá!

Comecei a pensar, para mim, enquanto andava, que não tinha visto chave nenhuma lá dentro. Numa paragem rápida olho para dentro do saco numa busca básica e não vejo a maldita chave.
Entramos em casa e começo a despejar as coisas de dentro do saco: saiem as toalhas, o livro, o protector solar... os óculos de Sol do dono da chave, devidamente cheios de areias e de dedadas com creme protector e vejo a minha oportunidade de ficar sózinha naquela busca que me estava a enervar quando lhe digo para ir limpar os óculos para a casa de banho.
Despejo tudo para cima da cama enquanto pensava no pior, e no mais provável, dos cenários: que o filho pequenino de uma amiga minha tivesse mexido também na chave e a tivesse perdido na areia.
De repente, lá no fundo, muito no fundo, misturado com a areia estava um cartão estranho.

Quando ele voltava de limpar os óculos digo-lhe, a tentar disfarçar a preocupação e a imaginar já que tinhamos que voltar para a praia ao anoitecer e procurar uma chave enterrada na areia:

- Olha, estava este cartão no meu saco. É teu?

- É a chave.

Ora, para além de ter sentido um alívio enorme, aprendi uma coisa nova: há carros que trabalham com um cartão. E agora, quando vejo um, sei o que é.

É que na Sexta-feira, ao chegar ao trabalho vi um cartãozinho desses em cima da minha secretária.
Já tinha a sensação de que tinham mexido nas minhas coisas mas não tinha a certeza e, muito menos, sabia quem era. Mas andava intrigada.
A solução estava ali. Há quatro carros desses; por acaso reparei que estava apenas um no estacionamento, quando entrei. Estava resolvido o mistério.

Pego no cartão e vou à sala dele. Pouso-o sem que ele o tivesse visto, ao lado do telefone. Pergunto-lhe se precisava de alguma coisa que eu tivesse.
Ele ri-se e pergunta-me porquê.

- É que estiveste na minha sala hoje... Pensei que precisavas de alguma coisa.

- Como é que sabes? Fui o primeiro a chegar, não estava cá ninguém ainda. Ninguém te podia ter dito! És o Sherlock Holmes?!

Não sou, não. Há é pessoas muito distraídas!
Mas, a partir de Sexta o computador passou a trabalhar com password. Pois, o que ele queria ver eu até lhe teria mostrado, se me tivesse pedido, mas detesto que me mexam em três coisas: no computador, no telemóvel e na agenda.
Mas há sempre uma pista...

quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

Os Homens

Há homens que nos consomem horas, e dias e noites, e semanas e meses com a cabeça fora do que devia, a tentar perceber o que é que queriam, realmente, dizer quando se calaram, ou quando falaram, quando riram, quando não riram...

Há homens que nos roubam a atenção, a tranquilidade, horas de sono e de trabalho, tudo para tentar adivinhar o que lhes vai na alma. Ou até só para dar uma espreitadelazinha à sua alma, mesmo que fugaz, de longe; qualquer coisa...

Há homens completos, complexos, por quem dariamos trinta voltas ao mundo só para o compreender; mesmo que um dia qualquer, de repente, percebamos que não temos que o compreender e que basta gostar. Que é mais importante gostar e que, na verdade, temos que nos contentar com isso mesmo.

Mas há outros. Ou há contextos difentes, ou qualquer coisa.
Parece-me que há os outros, aqueles que nem é preciso falarem muito, que são tão evidentes... Há os que são o contrário dos outros, que são básicos, se tornam básicos ou, simplesmente, que não despertam em nós esse interesse de querer ver o que não salta à vista.

O G., meu recente ex-colega, acabadinho de chegar de uma viagenzinha à Austália, agarra no carro e vai ter connosco lá abaixo, onde o Alentejo acaba e o Algarve começa. Nós tinhamos ido a trabalho, ele... matar saudades.

Foi uma ida rápida, ao fim do dia voltamos para casa. Fazemos um desvio absurdo para ir jantar a Évora, passeamos os cinco por ruas geladas com cheiro a lareiras a arder, subo um muro para ler umas inscrições na Sé, que não conhecia, rimos um bocado e voltamos para cima.

A certa altura começo a sentir calor, olho para a temperatura marcada e reparo que é um disparate.
Digo-lhe para baixar o ar condicionado. Ele ri e diz que não vale a pena, que tire roupa, como ele, que tinha tirado casaco e camisola e tinha só a tshirt.

Está-se muito melhor assim!, diz-me ele. Não podia estar bom da cabeça!
Como o calor era muito, estico a mão e abro um bocadinho a janela.

- Estás tonta?! Vamos constipar-nos! Fecha a janela!

- Então baixa a temperatura!

- Tira a roupa...! Tira lá! Era muito mais simpático...

- Tu não estás bem, pois não? Achas que eu ia mesmo fazer isso?!

Tirei o casaco. Mais não!
Alguns quilometros à frente, como se as coisas já não estivessem suficientemente absurdas, resolve coroar a noite.

- Estás mais gordinha, não estás?

- Como?!

- Um nadinha mais gordinha. Mais gordinha do que no Verão, não estás?

- Sim, estou.

- Bem que me perecia! Tinha reparado! É que te fica muito bem! Estás muito melhor porque a cintura continua fininha, estás é a usar o tamanho acima de soutien, não estás? Nota-se! Vê-se! Fica-te muito melhor!

- O quê?! Se não paras com essas conversas paras aqui o caro e vou com eles!

- Aqui na auto-estrada?! Está bem eu calo-me. Pronto... esquece! Mas tinha que tentar, não era? Nunca me deste importância, nem deves ter sentido saudades minhas enquanto estive na Austália.

Parou por ali. Isso parou. Aquele tipo de conversa, não o carro.
Não tive saudades, pois não. Quer dizer... até tive. Saudades da ajuda dele, do riso, da boa disposição, das conversas inteligentes (não sei para onde foram!!!), de SMS ´s patetas enviadas durante reuniões importantes, até dos olhos bonitos que tem, da amizade, da paciência... saudades de uma pessoa que não me parece esta.

Que pena!
Que pena que alguns homens se revelem assim, tão básicos, tão elementares.
Se calhar o problema está em mim. Se gostasse dele - se gostasse doutro modo - , se calhar, não teria achado inconveniente nem básico, tinha-o achado espirituoso, encantador ou qualquer outra coisa do género.
Se calhar a diferença nem está nos homens, está em nós!

terça-feira, 13 de dezembro de 2005

Heranças

Foram feitas arrumações no sotão e, uma das coisas que saiu do lugar foi o equipamento de mergulho do meu pai.
Parados há anos, lá estavam o fato completo, os pesos para a cintura, a espingarda submarina, vários óculos e respiradores e mais algumas coisas necessárias. Faltavam dois pares de barbatanas que essas param noutro sítio e continuam a ter muita utilização.

De repente lembrei-me de anos e anos a conviver com equipamentos destes, da preguiça do meu pai em prepará-los com antecedência, do aborrecimento da minha mãe por, depois de ter preparado tudo e de estar pronta para sair, ter de esperar que fosse trazido para baixo todo o equipamento, com vários utensílios suplentes, da ansiedade, minha e do meu irmão, à espera sentados no banco de trás do carro.

Lembrei-me de o ver vestir o fato na praia, numa tentativa de equilibrio para não entrar areia, de o ver ir mar adentro e de ficar cheia de vontade de o seguir; de ficar horas a fio de olhos postos no mar, com atenção, à espera dele e de correr para a água quando o via aparecer; de fazer questão de trazer as barbatanas e os óculos e o respirador cheia de orgulho, de - feita patetinha - agarrar o barco para tentar ajudar a tirá-lo da água, mas também de passar dias a tropeçar, literalmente, no fato a secar na casa de banho (ainda não percebo porquê que não o punha a secar noutro sítio!).

Lembrei-me de, já crescidinha, ter experimentado vestir um desses fatos, da sensação estranha de me sentir apertada e de não ter sentido grande vontade de voltar a vestir coisas assim, mesmo que o meu pai me dissesse que era essencial.

Lembro-me de, desde sempre, ter experimenrado óculos de mergulho e de tentar habituar-me aos respiradores (com grande dificuldade, diga-se em abono na verdade).

Lembro-me de crescer assim. De cada ano que passava eu ser maior em relação às barbatanas, que antes eram quase maiores do que eu.

Lembro-me de muitas coisas e são recordações boas, cheias de Sol, de calor, de dias grandes, de mar, da falta de horários para tudo (e sabem tão bem dias assim às crianças!). Recordações de dias alegres e do tempo e disponibilidade que o meu pai, no dia a dia, não tinha para nós.

Engordou um bocadito, tornou-se ainda mais ocupado, perdeu o entusiamo, a disciplina ou a paciência. Deixou-se disso.
Passou um, dois, três anos. O próximo mergulho foi sendo adiado. Entretanto, concluiu que o fato já não lhe serve. Disse-lhe para comprar outro, mas não quer. Não tem tempo, diz ele! E achou que este fato devia ter outra dona, para não acabar assim.
Heranças...

sexta-feira, 9 de dezembro de 2005

Ai, ai...

Não é um lamento. É um suspiro...
Fundo, lento, sentido...

Sabe tão bem isto; esta sensação que não tinha há meses, de calma, de descanso, de paz, de sentir as coisas no seu lugar, de ter os músculos doridos de horas a mais a cavalo, de me sentir cansada e bem disposta, do calor do Sol sem pressas, do dia tão brilhante, de me sentir livre - mesmo sendo ilusório! - e bem comigo e com o que tenho...

Claro que há coisas que não tenho que me fazem muita falta mas... é bom ter o que tenho, e usufruir de tudo isso. E espreguiçar-me, e suspirar, e deixar-me estar assim... até Segunda!

quinta-feira, 8 de dezembro de 2005


Sabe-me bem estar sózinha e, desde o Verão que não consigo.
Penso sempre que é só uns dias, que vou despachar o que tenho para fazer e depois ter um tempo para mim. E engano-me sempre. Depois de uma coisa, vem outra.

O tempo não é nenhum. As horas são confusas, os dias diferentes, mas sempre cheios e ocupados.
Como a horas diferentes a dias diferentes, mas de comum há sempre a pressa.
E há sempre gente à minha volta. De tipos diferentes, por motivos diferentes ... diferentes, em suma. Mas há sempre pessoas.

E há sempre telefones; fixos, móveis, com linhas ou sem linhas. Mas telefones que tocam, muito. Que se atendem na hora, que se respondem depois, ou até que se deixam tocar e a quem não se responde nunca. E mails e faxes.

Há agendas carregadas, há alterações e riscos e acrescentos. Há assentos feitos com canetas de várias cores. Sempre as alterações feitas à última da hora, normalmente sob pressão!

Há uma correria sem nexo aparente. Há cansaço, mas há também o desafio, a responsabilidade e o gosto de cumprir, e de cumprir bem.

Mas há, sobretudo, a sensação, cada vez mais forte, de que não sei para onde estou a correr, nem porquê, nem sequer se quero. Ou melhor, há a sensação de que não quero bem isto.
Sim, não quero isto. É só para deixar as coisas arrumadas, para poder ir em paz. Mas há sempre só mais uma coisinha!

Pelo menos hoje, tenho o dia para mim! Estou sózinha e o maior dos luxos parece-me esse, o de poder respirar livre, não me preocupar com as horas, com refeições, com deveres, não procurar sentidos, não me preocupar com o bem e o mal, com destinos ou vontades ou opiniões; aproveitar o Sol, o dia limpo, as árvores, os pássaros, o vento... Deixar-me estar só a olhar, parar um bocadinho e não querer saber nada.
Talvez um dia destes descubra o como, porquê, para onde, quando... mas hoje não!

terça-feira, 6 de dezembro de 2005

Conselhos

Resolvo - ou sou obrigada a fazer serão - e fico a trabalhar até tarde, depois de um dia cheio.
Pouco depois das nove da noite toca o telemóvel. Era a I. que precisava de falar comigo. E tinha que ser naquela altura.

- Pois I., mas é que não estou em casa. Estou a trabalhar.

- Eu vou ter contigo! Onde é que estás!

E lá vai ela!
Telefona-me quando chega e comenta que existem muitas luzes acesas naquele piso. Claro! Não sou só eu a ficar "presa" com estas coisas!
Senta-se e noto-a quase ofegante.

- Diz lá! O que é que aconteceu assim de tão importante?!

- Esqueci o A.! De vez!

Devo ter feito cara incrédula, ou coisa do género, porque ela insistiu:

- A sério! Esqueci mesmo! Não quero mais saber dele! Que alívio!

E aqui, enquanto me perguntava a mim mesma porquê que me escolhem para confidências e conselhos, logo a mim que, pelos vistos não acerto com o que devo fazer da minha própria vida e me sinto, neste momento, assim como quando somos enrolados por uma onda e ficamos um bocadinho sem saber para que lado ficam as coisas e a certificarmo-nos de que não perdemos nenhuma peça de roupa e a endireitar o cabelo, e...
Ora bolas, porquê eu?!
Sim, aqui devia ter ficado calada, mas não fiquei!

- Olha lá, I. Tu acreditas mesmo no que me estás a dizer?!
Achas que se isso fosse verdade, uma verdade consistente e duradoura, tu virias a correr contar-me isso?
Não vinhas nada!
Lembras-te de quantas vezes eu fiz isso e estava enganada?!
Quando isso acontece, quando esquecemos a sério - bom... esquecer, nunca esquecemos! - mas quando nos curamos a sério nem damos por isso! Não reparamos, não comentamos... nem sabemos! Um dia reparamos que já foi!

Ela olhava para mim com ar de quem não acreditava no que ouvia. E eu devia ter-me calado. Mas não.

- E olha que isso demora tempo. É um caminho que cada um tem de fazer por si; é penoso, é lento e não há receitas!
Sabes muito bem que sei do que estou a falar! Sabes que aprendi por mim!
Não te iludas! Não o esqueceste nada!

Realmente, se calhar não fui boa amiga. Às vezes não sei se a amizade exige verdade ou tacto. Paciência, venceu a verdade. Mas acho que, se calhar, não ajudei nada!
Ai!!! Espero que não me peçam conselhos nos próximos 500 anos!

sexta-feira, 2 de dezembro de 2005

...

Acho que devia convencer-me que sou mesmo uma pessoa esquisita quando um amigo me telefona e diz:

- Olha lá! És tu que andas a correr aí à beira mar com os cães não és?!

- Sim... Porquê? Como é que sabes?

- Parei o carro aqui em cima e reparei que podia ser o teu cão preto e, para além disso, só tu eras capaz de ir para a beira mar com um temporal como o que está! Só podias ser tu!

Pois era. Era eu.
Mas será assim tão esquisito?
O mar estava tão bonito, e o vento com a roupa adequada, nem incomoda muito. E depois... assim, lá, parece que os problemas desaparecem, e as dúvidas, e os medos, e...

E é bom ir para casa depois, cansada e com as mãos e a cara geladas, tomar um banho quente e enroscar-me no sofá, è frente da lareira com muita lenha e beber litros de chá quentinho.
Tão bom que me apetecia ter ficado por lá! Mas enfim, se calhar, não é muito normal.