segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Sucintamente...


Fico-me por um Sábado na Golegã e um Domingo com umas comprinhas, sensatas, de manhã, uma tarde junto ao Tejo na esplanada do In Rio (passo a publicidade), e um jantar com uma amiga que não via há algum tempo.

Fico-me por isto em vez de virar a mesa e apanhar o primeiro avião.
Fico-me por isto, e fico-me muito bem. Muito sossegadinha e serena.

Coisas de mulheres...! Somos mesmo um bocadinho... estranhas.
Mas não somos malucas. Mesmo que não sejam evidentes a mais ninguém, nós temos as nossas razões, e muito fortes. É como dizia o outro, o essencial é invisível aos olhos.
Coisas de mulheres... coisas de mulheres...

sexta-feira, 10 de novembro de 2006

De mim

Não sei se é dos dias de Sol, do S. Martinho, do muito trabalho, das rotinas, de alguma misteriosa conjuntura astral, da hipersensibilidade feminina, das nozes, das castanhas, da água pé, da mudança do gel de banho... Ou por outra, até sei.
Sei muito bem, mas não me apetece dizer, nem e mim, e não vejo mal nisso. Não tenho de analisar cuidadosamente tudo, descobrir e etiquetar todas as sensações e estados de espírito, todas as causas de alegrias e tristezas, sorrisos e lágrimas.
Tenho é de viver com elas. Quer queira e goste; quer não queira e, obviamente, não goste.

O facto agora, é que me apetece uma lufada de ar fresco, virar a mesa, ou outra qualquer expressão equivalente (ou complementar) que a nossa preciosa lingua nos forneça e que não me ocorra de momento.
Apetece-me mudar a decoração de todas as divisões da casa que são mais utilizadas por mim. Apetece mudar tudo: candeeiros, colchas, tapetes, quadros, almofadas, estantes, arrumação dos livros, mudar jarras e flores (esta última coisa, mais do que fácil, é sempre inevitável).
Apetece-me mudar de corte de cabelo, mudar de guarda roupa, deitar fora todo o calçado e comprar tudo de novo.
Apetece-me mudar de perfume e comprar quilos de make-up (que quase não uso) e usar brincos de pares diferentes.
Apetece-me ler coisas que não façam parte dos meus hábitos, que não conheça sequer, de preferência.
Apetece-me alterar horários, hábitos e rotinas.
Apetece-me falar com pessoas com quem não fale há muito (ou nunca tenha falado), sobre assuntos que não tenha o hábito de aflorar.
Apetece-me, mudar de trabalho e de casa.
Voltou a apetecer-me, depois de uma sensação de que aqui-é-que-estou-bem-e-não-quero-por-nada-nada-nada-deste-mundo-ir-para-longe-nem-um-cêntimetro-que-seja que durou vários meses, apanhar um avião e sair daqui, em direcção ao país dos scones (que não é a Inglaterra, mas a Escócia) de preferência sem data de regresso.

Pronto. Apetece-me... mas não posso. Encarar estas vontades e verbalizá-las é o mais longe que posso ir nestes anseios.
Valha-me a falta de tempo e a abundância de compromissos que me limitam; caso contrário era uma estragaceira de dinheiro e um furacão na minha vida onde nada ficaria no lugar.
É que, muitas vezes, entre aquilo que desejamos e aquilo que nos convém vai uma grande distância. E, outras tantas vezes, aquilo que nos move, que nos provoca estas súbitas e inesperadas vontades, não é um desejo autêntico, é sim uma reacção de fuga em frente, um abanar de cabeça como quem se nega a aceitar o que a vida lhe colocou no caminho.
Eu sei o que me move, sei que nem é apenas uma coisa, e sei também que uma delas até tinha a capacidade de quase anular os efeitos nefastos de outras.
Sei isso tudo, mas não quero saber. Prefiro abanar a cabeça como se isso me libertasse de tudo o que não é benéfico e respirar fundo para fazer entrar ar novo.

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Das palavras

Gosto delas. Gosto muito das palavras.
Tenho andado a pensar nisso, ultimamente, mas assim muito de relance. A observação do Miguel, num comentário ao post anterior, fez-me reparar mais a sério nessa realidade.
Gosto pois. Gosto muito de palavras.

Sempre, desde pequena, fui muito mais de palavras do que de gestos.
Gosto delas porque dão para tudo. Permitem dizer tudo, exprimir todos os estados de espírito, mostrar ou esconder sentimentos e, desde que o façamos com jeito, dão-nos mais defesa do que os gestos.
Nunca fui de festinhas e abraços (Pois! Tu deves estar a pensar que não é bem assim. Mas tu és uma excepção. A isto e a outras coisas. E, se bem te lembras, já te te disse que, da primeira vez que me tocaste fiquei, por instantes, sem saber se te atirava ao mar ou se me atirava a mim.). E isso foi, desde cedo motivo de queixas de pessoas chegadas.
As palavras davam-me mais defesa, mais segurança.

Permitem tudo. Transmitir informação, afecto, antipatias, desagrados, pontos em comum e divergências, diversão, melancolia, coisas concretas e coisas abstractas. Gosto delas, pois gosto.
E gosto, especialmente, de mexer nelas sem ter que as pensar, nem medir. Eu, que tenho de as usar pesando exactamente o seu significado, que tenho (tive, e voltei agora a ter) de escrever com a preocupação do rigor nos conteúdos e na forma, gosto muitíssimo de as poder fazer sair assim, soltas, sem pensar, como se fossem crianças a brincar sem a supervisão dos adultos.
E, também por isso que gosto do blog. Posso não escrever hoje, como escrevia nos primeiros tempos em que não pensava no quanto nos podemos expor assim, e quando pensava que nunca aqui ninguém chegaria. Não, não escrevo da mesma maneira. Às vezes, algumas vezes mesmo, dou já por mim a pensar que é sensato não dizer isto, não mostrar alguma coisa, ou não expor aquilo.
Penso, e tenho pena que as palavras, de que gosto tanto, já não sejam tão livres e expontâneas como o foram antes mas, ainda assim, são-no mais aqui do que em outros lugares.

terça-feira, 7 de novembro de 2006

Note to self

Ando com muito sono.
Hoje estou perdida (com e sem aspas). Mas hoje sei porque é.

Também ando com muita fome. Com fome de loba. E isso não sei porque é.
Sei que isso me leva a também ter vontade de cozinhar, o que é uma vantagem para quem estiver por perto.

Note to self:

No primeiro caso: não ficar a discutir o sexo dos anjos, pela noite dentro a um dia de semana. Especialmente se já tinha adormecido.
E não me esquecer, em todos os outros dias, que seria bom dormir as 7 horinhas por noite.

No segundo caso: voltar a fazer exercício. Não me preocupam os quase dois quilos ganhos desde o fim do Verão. Isso, felizmente, ainda não é um problema.
Mas, ainda assim, parece-me conveniente. Se bem que isso... abra mais o apetite. Enfim... não sei.

quinta-feira, 2 de novembro de 2006

Riba - Tejo


Hoje, sem palavras.
Por razão nenhuma. Só porque me apetece.

segunda-feira, 30 de outubro de 2006

Entre amigas

Não posso levar tantos livros para casa! Além do dinheiro que gasto, já nem tenho onde os arrumar! Qualquer dia tenho de mudar de casa... E depois, até acontece que, às vezes, acabo por levar para casa livros que, à primeira vista me agradavam, mas que depois do impulso para os comprar, quando os vou ler, nem gosto deles.
Agora já não faço assim. Passei a comportar-me com os livros como me comporto com os homens: não os vamos levar para casa só porque, à primeira vista, parece que nos agradam, não é?!

E eu pensei que sim. Que era demasiado drástico (a menos que estivesse mesmo em risco de não caber em casa devido ao excesso de livros) mas que, ainda assim, fazia algum sentido. Enfim, percebia-se a ideia.
De repente pensei no enorme efeito que isso teria no meu orçamento, e depois, também pensei que já não teria de comprar a tal estante nova de que ando mesmo a precisar, e que me bastaria arrumar melhor o que por lá anda um nadinha desordenado de modo a arranjar o espaço necessário.
Mas, a seguir... pensei em um... dois... três casos... em que as respectivas casas ficariam repletas de livros! Maledicência feminina... eu sei! Foi mais forte do que eu, mas é inócua!

sexta-feira, 27 de outubro de 2006

O cansaço...

... às vezes é bom.
Às vezes sabe bem chegarmos ao fim de um dia muito, muito (mesmo muito) cansadas mas com a consciência de termos feito as coisas a que nos tinhamos proposto.
Faz-nos sentir que temos, de algum modo, um certo controlo - mesmo que, talvez felizmente, pequeno - sobre o que nos acontece e que merecemos um banho de imersão demorado, um jantar que nos agrade, um serão calminho, ler umas páginas de um bom livro, um chá quente e as nossas almofadas. E sentir que merecemos as coisas - estas coisas tão simples, e tão quase de todos os dias - é muito melhor do que as termos: as termos sem nem repararmos nelas. É por isso que o cansaço é bom. Este cansaço.

quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Capitulo 6


Há mais de um ano que não pensava, sequer, no assunto. Há três que não fazia nada de concreto para lhe dar seguimento.
Não fosse o Tratado de Bolonha e o assunto teria permanecido, confortavelmente, nas estantes e nas gavetas ( e sabe Deus, por onde mais andam algumas coisas!) onde descansa em Paz desde essa altura.

Falta de condições pessoais, falta de vontade, falta de tempo ditaram, sucessivamente, este abandono. A falta de coragem, essa, acompanhou-me sempre, ao longo destes três anos.
Mas há momentos em que tem que se decidir se se vai em frente ou se se vira as costas, em definitivo, às coisas.

Decidi acabar o que tinha começado. Decidi, mas...

Ainda no fim do Verão, no meu último dia na praia (na praia, com banho e Sol e essas coisas...), dizia, preguiçosamente, que tinha de passar, na semana seguinte, pela faculdade para saber com o que contava. Passei.
Passei pelos Serviços Académicos e soube o que tinha pela frente e em que condições.
Foi o primeiro gesto concreto, em todo este tempo, que consegui fazer para terminar a tese. Nunca tinha sequer imaginado que custasse tanto voltar a entrar naquela faculdade.

Disse que iria, agora, falar com o meu Orientador. Tinha de ser! Era condição obrigatória para prosseguir. Mas custava mais ainda. E fui. E falei. E custou subir até lá, custou bater-lhe à porta. Mas não custou mais nada!

Agora não custa mesmo mais nada!
Aquele espaço voltou a ser o que era há vários anos atrás. Não dói, não assusta. Pelo contrário, é espaço meu, como o foi antes de tudo.

O tempo é pouco, as dificuldades são algumas, mas isso não importa muito.
Esta sensação, boa, de dia radioso, mesmo com temporal; esta paz de sentir que fiz o que tinha a fazer e de me aperceber que os fantasmas tinham desaparecido de mim e de todo o lado; o sentir que afinal há justiça; o facto de voltar a pegar em assuntos que me eram - e são - tão caros; o desafio bom de ter uma coisa, que me apaixona, a concluir; a segurança e o sorriso com que voltei a pisar aquele espaço... é uma dádiva!

Não, não o fiz sózinha.
Não, não é apenas obra do tal Tratado de Bolonha.
Não, não vou dar mais explicações.
Mas sim, sei que as pessoas a quem isto também é devido, sabem disso.

quinta-feira, 19 de outubro de 2006

Chamar os bois pelos nomes

Por mais que haja quem diga que tenho um ar muito pacifico, amistoso, tranquilo (coisinhas que tais), por mais que seja tímida, que não goste de protagonismos e que, por isso, tenha tendência a evitar disputas e querelas, por mais que tudo isto possa ser verdade, também é verdade que, se falo, se resolvo sair discrição em que gosto de viver, se sou obrigada a dar a minha opinião, nesse caso digo exactamente o que penso, sem mudar uma virgula. Não digo o que as pessoas gostariam de ouvir, não falo com o cuidado de agradar. Se falo é para dizer aquilo em que acredito, mesmo que isso me traga mais desvantagens do que vantagens.

Isto para dizer que há uma coisa que me anda a incomodar. De tão repetida... de dita a toda a hora nas televisões, nas rádios, nos jornais...
Ouve-se uma, duas, três vezes, e finge-se que nem se ouviu. Ouve-se quatro, cinco, seis vezes, e faz-se um esforço para não se ligar. Ouve-se a toda a hora, persegue-nos em todo o lado, em todos os noticiários, em todos os jornais por onde se passam os olhos, não se consegue deixar de ouvir o mesmo 500 vezes ao dia e, nessa altura, não consigo fingir mais. Incomoda-me!

Incomoda-me a insistência ( é ela que me leva a falar), mas incomoda-me mais a manha. Sim, manha, nem sequer é astúcia!
Incomoda-me que não se chamem os bois pelos nomes. Que se procure adormecer as pessoas com expressões suaves e quase poéticas.
Interrupção voluntária da gravidez?!
Voluntária?! Voluntária para quêm? Para quem é interrompido?
Interrupção?! Sim... é uma interrupção. Mas definitiva. A expressão, se não fosse a gravidade da situação, seria deliciosamente ridícula. Faz-me lembrar aquelas apresentadoras que, quando eu era pequena, apareciam, muito sorridentes e com vestidos aos folhos, quando havia uma avaria na televisão. E lá sorriam elas, com ar afectado e, depois de pedirem desculpas pela interrupção, garantiam que a emissão seguiria dentro de minutos.
Só que neste caso a emissão não será retomada nunca mais.
Do que estamos a falar é de aborto. Não gostam da palavra? Fere-lhes a susceptibilidade? Não é bonita? As pessoas podem não gostar?
Azar! Tudo na vida tem um nome, o disto, disto de que não param de falar é aborto. Nem sequer estou a dizer que é a morte voluntária de bebés.

Não vou discutir aqui o direito, ou não, ao aborto. Pelo menos não por agora.
Não sou a favor da penalização das mulheres que se viram na contigência de fazer um. Eu não o faria, mas eu, sou eu.
Tenho amigas que fizeram, e tenho outras que participaram [muito] activamente na campanha a favor do aborto. Sou tão amiga delas como sempre fui, isto porque sempre fomos muito claras, sempre admitimos o que defendiamos e aquilo em que acreditavamos. Elas podem estar erradas, eu posso estar errada.
Elas acreditam na liberdade de fazerem o que quiserem do seu corpo. Eu acredito que essa liberdade me permite decidir (ou tentar decidir) se, e quando, quero engravidar. Tenho a liberdade de decisão sobre o meu corpo, mas não sobre o corpo de outro ser, por mais indefeso e pequeno que seja. Além do mais, direito, por direito, acho mesmo que o principal é o direito à vida, a poder nascer. Só depois surgem os outros.
Mas a questão aqui, e por agora, nem é esta. É, tão só, que me incomoda, e muito, que se procure suavizar uma realidade dura e adormecer consciências através de expressões adocicadas.

segunda-feira, 16 de outubro de 2006

Eu

... não me revejo em algumas coisas.
Não me revejo, por exemplo nos últimos posts que escrevi.
Depois do choque ao comentário da sobrinha da minha amiga - algum tempo depois - resolvi entender (mesmo que assim não seja) que, se a menina fala dessa forma, desses assuntos, na idade dela, só pode ser por curiosidade. Afinal há aquela máxima que diz: Cão que ladra não morde , ou a outra que diz: Diz-me do que te gabas, dir-te-ei o que te falta (não que esteja a insinuar que lhe falte o que quer que seja, apenas que talvez não tenha o que não deve ainda).
Seja como fôr, resolvi que esse é assunto a que só voltarei quando, e se, tiver uma filha à entrada da adolescência.

Quanto ao amigos, também dou a mão à palmatória.
Há amizades e amizades... A capacidade que algumas pessoas têm de gostar é enorme (talvez infinita), eu própria gosto de muitas pessoas e de muitas coisas (mas há gostar e.... gostar) mas, de facto, há coisas que são limitadas, como o tempo e a atenção que se pode dar a outros e , sobretudo nós mesmos (nós somos limitados, não nos podemos dar a toda a gente), daí... o que foi dito. Daí... e de uma conversa tida com a minha anfitriã desse fim-de-semana acerca de uma amiga [da onça]. Daí... e de outras coisitas, muito dissimuladas, que me passavam pela cabeça nesses dias.
Não me revejo, inteitamente, no que disse porque sei que, de facto, estava a misturar assuntos e a deixar-me enredar por eles.
Ainda assim... acho mesmo que podemos gostar de uma imensidão de gente, mas que não podemos gostar muito - assim mesmo a valer! - de muitas pessoas.

Em relação ao último post então... Deus me livre!
Sei bem o churrilho de coisas aparentemente sem sentido que por lá vão, nomeadamente, na última parte dele. Mas a verdade é que, certezas, dessas (imensas!) com que cresci e vivi até há bem pouco tempo, não tenho.
Sei que ninguém o pode entender (mas também é verdade que estava a escrevê-lo apenas para mim). E sei, até, que nem eu o posso, porque ainda que soubesse muito bem o que queria dizer, não disse o que queria. Até porque... na verdade, o problema, é que dou por mim a reconhecer-me em muito poucas coisas nestes últimos tempos. Cada vez menos.

O ano foi cheio de mudanças, por fora e por dentro. Não me revejo em quase nada. Nem nas vindímas, nem em alguns dos livros de que gostava, nem nos hábitos que tinha, nem na ligação que tinha ao sítio onde vivo, nem no que sinto, agora, ao abrir a janela de noite e deixar-me adormecer, muito, muito a custo, a ouvir a chuva cair, nem no que sinto por algumas pessoas, ou no que deixei de sentir. Não me revejo no que faço, nem na forma como tenho ocupado o meu tempo e, se calhar, nem mesmo no país.
Claro que as leis da física nos dizem que não há lugares vazios e que o que deixa de ser ocupado por um corpo passa a ser ocupado por outro. Assim, todas estas coisas em que não me revejo agora (talvez algumas apenas as estranhe) darão, concerteza, lugar a outras. Mas, entretanto, estranho-me a mim mesma, como se estranha o aspecto de um quarto a meio de uma remodelação.
Seja lá como for, eu, contiuo a ser eu. And that´s the point!

sábado, 14 de outubro de 2006

Certezas

Almocei com uma amiga. Falámos, muito. Como convém, que já que somos mulheres e que temos a fama, ao menos que tenhamos o consolo de a merecer.
Sorrisinhos, gargalhadas sonoras, olhares apreensivos, suspiros, caretas... surgiam de acordo com os assuntos que variavam depressa.
No meio de conversa fluída, leve, bem disposta, como o dia de Sol lindo que tivemos hoje, lá surgem as outras. Daquelas de outro tipo, daquelas em que baixamos um bocadinho o tom, falamos mais devagar, olhamos mais fixamente para a pessoa com quem falamos. Confissões. Ou confidências.

Ouvia-a. Tinha-me pedido para almoçar com ela porque não tinha querido ir almoçar com ele e a mãe dele.
Sogras!!! Dizia-me ela. Que são todas iguais. Bicho mau, ao cimo da terra, que servem apenas para estragar o que podia ser perfeito.
Mas não a conhecia, a ela, à dita sogra. Nunca a tinha visto, nunca lhe tinha ouvido a voz, nunca, sequer, viu uma fotografia dela. Mas não podia ser boa!
Disse-lhe que talvez estivesse errada, que percebia um certo receio, mas que talvez não fosse assim. A palavra assusta, mas o que ela é é mãe dele, criou-o. Criou-o uma vida inteira e depois... há-de vê-lo seguir o seu caminho com outra pessoa que, naturalmente, gostará de saber que gostará dele assim de uma forma incondicional, que o ampare, que o compreenda, que o alimente capazmente, que...
Disse-lhe que acho até que podiam ser muito boas amigas, já que em comum têm uma coisa muito importante: o enorme afecto por ele. Que, se calhar, ela devia sentir-se eternamente agradecida a essa sogra porque, afinal, se não fosse ela, ele simplesmente não existia.
De qualquer modo, sogras, são pessoas e, como tal, há-as boas e há-as más. Só isso.

Sorriu e disse que era por isso que gostava de me ter como amiga. Que a ouvia e compreendia, mas que tinha sempre a certeza do que era certo.
Nada mais errado!!! Completamente!
Não tenho certezas de nada!

Já tive. Já tive muitas certezas, que se esfumaram. A vida levou-as numa altura em que levou outras coisas, e eu nem tinha percebido que não as tinha já.
Levou-as, e quando olhei para o lado à procura delas, reparei que não estavam lá, e que me sentia perdida, que não me conhecia já, que... precisava de um tempo para me encontrar de novo.
E encontrei. Pelo menos um bocadinho.
Às certezas, não vi mais. Pensei, durante este percurso, que voltaria a encontrá-las. Não as mesmas, mas outras. Mas não.

Das primeiras fiquei a saber que não eram verdadeiras. Das segundas... não fiquei a saber nada.
Sei que sentia necessidade delas, de ter algumas, que chorei por elas e que, depois de gastas as lágrimas e as forças para protestar, lá vinha um novo dia em que aprendia a viver sem elas e a aceitar só o que a vida me dava. Coisas boas, na sua maioria, mas sem as tais certezas.
Não, não tenho certezas - a não ser de coisas fundamentais - e aprender a viver sem elas foi a lição mais difícil da minha vida.
É por não as ter que fui obrigada a ser mais ponderada (...pois..., deixei de atirar coisas às paredes!).
Viver sem certezas, ter de as procurar em cada momento e não as ter como um dado adquirido e universal, foi como aprender a andar de bicileta sem rodinhas. Só que é mais difícil e demora mais e como esta nova Margarida ainda é uma menina, de vez em quando desiquilibro-me ( às vezes, desiquilibro-me mesmo muito e chego a esfolar um joelho) e preciso que me segurem a bicicleta para continuar (sim, calha-te quase em exclusividade a ti, menino, mas também foste tu que deste o principal impulso para que, na altura, me sentisse suficientemente segura para andar sem rodinhas. confesso que pensei que seria mais fácil... mas, obrigada!).

Certezas?! Não, não as tenho.
É por isso que tenho mais atenção aos pormenores, à vida... é por isso que aprendi que as coisas não são sempre brancas ou pretas. Há tantas cores por aí...

domingo, 8 de outubro de 2006

Coisas da alma


Não se pode ter muitos amigos. Mesmo que se queira, mesmo que se conheçam pessoas de quem apetece ser amiga, não se pode ter muitos amigos. Ou melhor: nunca se pode ser bom amigo de muitas pessoas. Ou melhor: amigo. A preocupação da alma e a ocupação do espaço, o tempo que se pode passar e a atenção que se pode dar - todas estas coisas são finitas e têm de ser partilhadas. Não chegam para mais de um, dois, três, quatro, cinco amigos. É preciso saber partilhar o que temos com eles e não se pode dividir uma coisa já de si pequena (nós) por muitas pessoas.

Os amigos, como acontece com os amantes, também têm de ser escolhidos. Pode custar-nos não ter tempo nem vida para ser amigo de alguém de quem se gosta, mas esse é um dos custos da amizade. O que é bom sai caro. A tendência automática é para ter o um máximo de amigos ou mesmo ser amigo de toda a gente. Trata-se de uma espécie de promiscuidade, para não dizer a pior. Não se pode ser amigo de todas as pessoas de que se gosta. (...)

A amizade vale mais do que a razão, o senso comum, o espírito crítico e tudo o mais que tantas vezes justifica a conversação, o convívio e a traição. A amizade tem de ser uma coisa à parte, onde a razão não conta. Ter um amigo tem de ser como "ter uma certeza". Num mundo onde certezas, como é óbvio, não há.

Para os amigalhaços, que estão para a "amizade livre" como os hippies para o "amor livre", um amigo não é mais que um ponto útil numa rede de relações. É um "contacto". É um capital. Ser amigo sem esforço, sem sacrifício, é ser amigo sem amizade. Gostar das pessoas é fácil. Ser amigo delas não é. Mas as coisas que valem a pena não podem deixar de ter a pena que valem. É pena não se poder ser amigo de toda a gente, mas um só amigo vale mais do que toda a gente. Porquê? Sei lá. Mas vale.


O texto não é meu, como é óbvio. É do Miguel Esteves Cardoso. Do primeiro, de muitos livros dele que li, de enfiada, ainda era eu menina de colégio.
Voltei a pegar-lhe durante os primeiros dias da semana que agora acabou, enquanto estava de cama com uma amigdalite.
Agora, acabada de regressar de um fim-de-semana, inesperado e crescidinho, em casa de uns amigos, não resisti a pegar-lhe. Porque mo inspirou o Peter, que conheci nessa mesma casa e de quem não sou amiga, nem serei, (nos últimos meses aprendi a resguardar-me com a justificação, vaga, politicamente correcta, e verdadeiramente real, de uma indisponibilidade emocional), mas que compreendeu que mesmo que me risse perdidamente com as anedotas, que dançasse toda a noite, que me tivesse divertido com o tiro ao alvo, ... preferia a cadeira da varanda, especialmente se estivesse sózinha, e que entende, como eu, que não há mal em nos sentirmos sós, no meio de muita gente porque raramente há alguém com a chave da nossa alma. Porque mo inspirou a minha própria alma, que... enfim... Porque sim.
Porque sou assim nos afectos, porque não aceito dar aos outros pedacinhos demasiado insignificantes de mim, porque quando gosto, gosto com a alma toda, todos os dias a todas as horas, porque também não aceito que essas pessoas me ofereçam apenas restos de si, que sobraram de banquetes com outros amigos, porque me sinto assim, porque me apetece dizê-lo, e não sei, ou não consigo agora, dizer melhor.

quinta-feira, 28 de setembro de 2006

Generation Gap

Ontem, a seguir a um jantar tardio telefona-me uma menina, sobrinha de uns amigos. Conheço-a desde pequena, mas esqueço-me da idade dela. Achamos sempre que as crianças serão sempre crianças.
Só que crescem. E não só crescem, como nos surpreendem. De repente têm mundos próprios, vontades próprias, certezas próprias... e faz-me muita confusão. Sim, faz-me! Era capaz de jurar que na idade deles era - e eramos todos - bem mais bem comportadinha, bem mais respeitadora dos mais velhos, bem mais muitas coisas e bem menos, mas muito menos, espevitada, ou, leia-se, desembarassada! Em suma, eles, os miúdos de agora, parecem-me bem mais precoses e a diferença entre eles e nós parece-me, estúpidamente, maior do que a diferença entre nós e - até ! - os nossos pais.


M: Sim?!

C: Olá! Estás boa? Sou eu, a C., sobrinha da I.

(...)

C: Pois era isso; é que gostava de experimentar a saltar obstáculos e como sei que a tua égua é boa nisso lembrei-me de te pedir.

M: Sim, mas (lembrei-me, da última vez que a tinha visto a cavalo, e de como me pareceu pouco segura. Demasiado solta em cima da sela. Saltitava demais, especialmente a trote, para ter segurança num salto) ... olha que é perigoso. Ela é uma animal "difícil" e, além disso, é preciso ter muita segurança a cavalo.

C: Sim, eu sei! Não tenho medo!

M: ( Cá está a maldita impetuosidade dos miúdos!) Pois C., mas olha uma coisa: é mesmo preciso ter muita segurança. É preciso que tu e o cavalo formem, de facto, um conjunto, que se harmonizem nos movimentos, que tu e ele sejam o provolongamento dos movimentos do outro. Tens que aprender a absorver os movimentos do cavalo, e não a contrariá-los, senão saltas em cima da sela. Tens que manter o contacto das tuas pernas à volta dele, e tens que absorver o movimento dele com as ancas. Tens que facilitar, tens que te deixar levar pelo movimento e depois manter a zona dos rins flexível e absorver o movimento com as ancas. É a única maneira de te manteres segura na sela. Os dois têm de ser um.

C: ... (depois de um silêncio prolongado) humm... estou a ver! Isso deve ser fantástico na cama!

M:Como?!?!?!

C: Isso deve ser fantástico na cama!

M: ... (desta vez o silêncio prolongado foi meu!)... Olha, C, nunca tinha pensado nisso! Eu estava a falar de equitação!

C: Eu sei, mas aplicado a outras coisas...

M: Ó C, que idade tens?

C: 12! Faço 13 em 2_ de Novembro.

M: Ah... Só por curiosidade!

(...)


Juro, que não estava preparada para isto!
Não; nós, não eramos assim! Se calhar, nem somos mesmo!
E não foi há assim tanto tempo...!

segunda-feira, 25 de setembro de 2006

Gosto...



Gosto da forma das nuvens no céu, da brisa fresca e do vento que nos arrefece a cara e as mãos.

Gosto dos dias frescos, da húmidade no ar e do barulho da chuva no telhado.

Gosto de chá quente e de voltar a apreciar a cozinha. Gosto de cozinhar em dias assim.

Gosto mais dos livros. Gosto de mantas e de almofadas. Gosto de me aninhar e gosto mais de filmes nesta altura.

Gosto do mar cinzento, e do areal vazio.

Gosto do cheiro da terra molhada e do silêncio do campo. Gosto das folhas douradas caidas pelo chão.

Gosto de espalhar feno pelo estabulo da minha égua e de me deixar ficar por lá a escovar-lhe as crinas com uma calma que só sinto nesta época.

Gosto das castanhas e dos seus vendedores. Gosto das amêndoas.

Gosto de camisolas de lã e de meias.

Gosto mais de mim nesta altura e gosto, ainda mais, das pessoas de quem gosto.

terça-feira, 19 de setembro de 2006

Manual de instruções

Quando me recosto numa cadeira é porque me sinto confortável.

Quando me sento na beira de uma cadeira é porque me sinto desconfortável, não com a dita, mas com o assunto em presença. Quer tenha noção disso, quer não.

A ter em conta!

sábado, 9 de setembro de 2006

Enquanto tento concentrar-me nos papéis que tenho à frente mas o que vejo, se fecho os olhos ou se os abro, é a imagem do barco das Berlengas, toca o telemóvel e ainda tenho a tentação de não atender, tamanho é o atraso no trabalho aliado à falta de concentração.
Penso, mas atendo. Afinal, não gostaria que me fizessem o mesmo. Penso, também em dizer-lhe que estou afogada em trabalho - alguns com prazos oficiais - e que lhe ligo para falarmos melhor quando conseguir um bocadinho de tempo. Penso... mas mal consigo abrir a boca tal é a agitação dela.

Faz a queixa geral, de que não telefono, nem escrevo, nem tenho tempo para um almoço, ou um café. Tem razão!
Fá-lo num chilreado de passarinho na Primavera.
Já lhe conheço este estado. Já me deparei com ele muitas vezes. Também sei que desaparece como aparece. Repentino! Não sei se é bom ou mau...
Ainda pensei tentar atropelar-lhe o discurso quase cantado, para fazer um atalho até onde sabia que a conversa ia levar-nos. Pensei perguntar-lhe como é que ele se chamava [desta vez], mas ela estava tão entusiasmada que fui deixando que falasse e esgotasse a energia, enquanto ia arrumando as declarações de colheita que tinha à frente.

Falou, falou muito! Uma conversa onde as palavras eram proferidas muito depressa e entrecortadas por risinhos.
Falou do carro fabuloso que tem, de como é rápido, bonito, do balurdio que custa...
Falou do apartamento espaçoso, divinamente mobililado, na cama enorme, na varanda magnifica com uma vista linda para o Tejo, num sítio excelente.
Falou no trabalho ou, melhor dizendo, no emprego interessante que tem e na carreira promissora. Também percebi que o emprego é interessante porque o vencimento é muito interessante.
Falou nas noites deslumbrantes que têm passado. E, por fim, também falou nele, sim. Disse: E é giro! Tem uns olhos giros...!

Respirei fundo. Dizer-lhe o quê?!
Ainda lhe disse para me falar dele. Estava a referir-me a ele, ao que é, e não ao que faz ou ao que tem.
Queria que ela entendesse, por ela, que o que importa não está à vista, nem se mede, nem se pesa. Não está mesmo!
Que o que ela está é deslumbrada, como, aliás, já esteve outras vezes.
Depois o entusiasmo passa, e o essêncial não está lá.
Ainda tentei fazê-la perceber que...

Desisti depressa. Percebi que não valia a pena. Que ela ia viver, intensamente, mais esta estória até que ela se esgote. E desejei-lhe, em silêncio, que fosse muito feliz enquanto durasse.
Depois, sei que se vai sentir vazia, como das outras vezes. E fiquei a desejar que um dia ela perceba o que lhe faz falta, o que a completa, o que é, de facto, importante. Enfim... fiquei a desejar que um dia se encontre, porque, no fundo, no fundo, é disso que acaba por se tratar.
Desisti porque, na verdade, sei que cada pessoa tem o seu percurso e o seu tempo próprio.

quarta-feira, 23 de agosto de 2006

Deepest blue - Give it away


I never return to love somebody
now all that I need is all I see in you
and only you
and if you get lost I´ll always find you
you´re all that I need your heart will keep you true
my only you

you make me fall and I can´t sleep
you´re olding on but it´s too deep
and I can´t give it away
I just can´t give it away

When you slwoly close your eyes
replay the moment in your mind
just give it away
just give it away

Dont´t ever forget to tell somebody
the feelings inside
to make your dreams come true
I dream of you
to feel so alive and want somebody
it´s not make believe
my world would be for you
and only you

you make me fall and I can´t sleep
you´re holding on but it´s to deep
and I can´t give it away
I just can´t give it away

when you slowly close your eyes
replay the moment in your mind
breath in and give it away
breath out and give it away
when you slowly close your eyes
replay the moment in your mind
breath in and give it away
breath out and give it away

Na noite seguinte esta música foi dançada em grupo, a altas horas da madrugada, em cima de mesas, e gritada repetidamente em coro. Como numa visita súbita e inesperada a férias de adolescência.
E na noite seguinte também.
E depois, ouvida no leitor de mp3 que me passaram à beira mar, à hora de calor, e depois, e depois...
De repente estava por todo o lado e, não comentando a qualidade da música nem da letra (há que ter sempre em conta a dose de non sense que acompanha as letras destas músicas de plástico), a verdade é que me ficou no ouvido e se colou a mim como... a areia e o sal à pele.
Definitivamente, é a música destas férias e... fez-me bem. Soltou-me. Bem ou mal, foi aos saltos com isto que consegui não pensar em coisas sérias e aproveitar o tempo que tinha. Respirei fundo, lembrei-me que estava de férias e que, como alguém tem teimado repetidas vezes comigo, não tenho nada que me preocupar com o que não aconteceu ainda, e pode nem sequer vir a acontecer. No momento estava bem e isso bastava, de facto.

Nota: Não tentar ler sentimentos na letra da canção. Pelo menos, sentimentos meus! Não é disso que se trata! ;)

sexta-feira, 11 de agosto de 2006

De férias

Pois... estou mesmo de férias...

A minha praia... não me parece muita a minha praia.
Acho que de meu já só resta o mar.

Enquanto tento decidir o que fazer. Ou decidir o que não fazer. Se vou; se ficou; para longe; para perto; por pouco tempo; por muito tempo; para sempre...
Enquanto isso, sinto que caí num espaço atípico e que não domino, nem percebo, nem coisa nenhuma.
Depois de algumas coisas e de perceber que não vou conseguir mesmo dormir, acabo por sair de casa, pé ante pé, para não acordar ninguém - principalmente a cadela - e vou até ao mar quase às quatro da manhã. Experiência estranha...
Regresso a casa por volta das seis de calças mulhadas, pés com areia e alma mais fresca. Mas, agora, sou denúnciada pela cadela.

Deito-me assim mesmo e durmo até às 11H. Volto a sair e num ápice compro três tops, um anel, um biquini e dois elásticos para a cabelo. Deixo tudo em casa e volto para a praia a sentir-me perdida das minhas rotinas.
Entro pelo mar dentro e, passado algum tempo, ouço uma voz conhecida: Sabia que estavas aqui! Quando não se sabe de ti, basta procurar-te onde as ondas forem maiores. Tu tens que ser a pessoa que está mais longe! És tão previsível...!

Pronto! Se calhar sou mesmo! Eu é que não consigo prever-me a mim mesma!

sexta-feira, 21 de julho de 2006

Praia


Tenho saudades disto. Muitas.
Dos fins de tarde na praia, do contacto da areia, do cheiro do mar, das amigas de férias de há muitos anos, dos risos, da água fria, das ondas, da luz coada do anoitecer sobre o mar que me entra pela janela do quarto, da calma, do tempo, do espaço para mim e do espaço para mim e reparo como, irónicamente, tenho preservado tanto esse espaço, mesmo de pessoas que me pareciam, à data, tão importantes.

Tenho saudades disso tudo.
Mas agora, que é provável que consiga lá passar uns dias, apercebo-me que isso tudo, afinal, é importante, mas não tanto.
Importante, mas não determinante.

quinta-feira, 6 de julho de 2006

Em verdade...

Não estou a fazer o que gosto. E, muito menos, de uma forma que goste. Mas se digo que me vou embora, sou avisada que sou inqualificável, que quero levar tudo ao descalabro, que não o podia fazer agora. Por outro lado, se estou, não faço nada de significativo e é-me, frequentemente, perguntada, afinal, qual é a minha função.
Não tenho horário fixo, o que podia ser uma coisa muito boa mas, na circunstância, está a revelar-se uma coisa muito má.
Entrei em rota de colisão com o meu Pai/patrão em diversos aspectos. Situações destas, em que se mistura trabalho, interesses familiares, afectos e o mesmo local de morada são muito delicadas; quando corre bem, muito bem; quando começa a correr mal, é dificil tornar as coisas estanques e limitadas ao campo em que não estão tão bem.
Pela primeira vez na vida (acho eu!) não vou ter férias de Verão. Nada! Vou ficar sem a minha praia e sem o meu mar. Ainda não me mentalizei bem do facto e prefiro nem o encarar muito de frente. Há-de chegar a altura em que esta falta se vai tornar incontornável.

Mas, em verdade... por mais que lamente tudo o que ficou dito acima, não me sinto infeliz. Nada!
Claro que me sinto cansada, claro que tenho pena de muitas situações, claro que me sinto, às vezes, sem saber para onde me voltar, e que nem quero pensar na ausência da praia.
Mas, em verdade... não trocaria este ano por nenhum outro. Nenhum! Nem com calma, nem com menos trabalho, nem com menos atritos laborais/familiares, nem com férias de dois meses! E, todos os anteriores, foram melhores em todos estes aspectos.
Em verdade,... em verdade... nós, mulheres, somos tão estranhas, que até a nós nos estranhamos! Mas temos cá as nossas razões, muito, muito nossas.

quinta-feira, 29 de junho de 2006

Queres um figo?

(...)

- ... uma das últimas coisas que o meu avô M. fez, antes de morrer, foi plantar uma figueira e uma árvore que dá flores.

- O meu avô também. Plantar esta figueira foi das últimas coisas que fez antes de morrer. E dá figos que amadurecem nesta altura.


Ouvi tantas vezes o mesmo. Eu, como toda a gente.
Ouvi, como receita breve para a imortalidade ou para a realização plena de alguém: Ter um filho, escrever um livro e plantar uma árvore.

Ontem, depois de ter descido as escadas, depois da conversa ter sido interrompida, muito depois de ter tomado o rumo de outros assuntos; a meio da noite, enquanto passava os dedos pela dobra do lençól, numa tentativa para a endireitar, lembrei-me dos figos, das figueiras e de como é verdade e, ao mesmo tempo, tão natural e tão estranho, que quem as plantou continue assim, presente, nas conversas, nas memórias, na imagem das árvores e no doce dos figos.

quarta-feira, 28 de junho de 2006

Tiro na água

Não tido tempo nenhum para passar por aqui. Nenhum.
E agora, hoje, que arranjei uns minutos, não faço a mais pálida ideia do que escrever. E nem é que me faltem assuntos... Se calhar até é por isso mesmo...
Enfim... uma oportunidade desperdiçada!

Mas vou arranjando uns instantes para espreitar os blogs do costume. Espreitar é mesmo o termo certo!

segunda-feira, 19 de junho de 2006

A não esqucer!

Tinha-me esquecido de uma lei elementar de sobrevivência que acabou de me ser relembrada ao telefone.
Quando há um - um determinado; um preciso; não um qualquer - homem pelo meio, a mulher que está mais perto torna-se a nossa maior inimiga.

A não voltar a esquecer! E tomar a devidas distâncias... ou tentar assegurá-las, dependendo dos casos.

[Des]Conversas...

Sigo distraída pelo passeio, a caminho da loja de animais, para comprar o desparasitante para a cadela, enquanto pensava na antipatia e incompetência desmedidas da funcionária da EDP e no atraso do, simpático e eficaz, funcionário da PT.
Quase esbarro com o L., antigo colega de colégio e que vejo sempre com intervalos de anos, que vinha a sair da farmácia.

Ele ri-se por achar que vinha com a cabeça nas nuvens. Eu acho que era ele que vinha ainda mais ausente do que eu.
Pergunta-me pela minha amiga C. e eu respondo, sucintamente, num discurso de circunstância, como mandam as regras. Percebo que pretendia outro tipo de resposta e que o convite - a soar a pedido - tem tudo a ver com isso. Também sei que ele tem falado bastante mais com ela do que eu...

Com o sorriso leve e condescendente que concedemos aos homens que percebemos em apuros desta natureza, e só por isso, lá aceito tomar um chá, em vez de um café, na esplanada ali ao pé.

Diz-me que têm falado muito - isso já eu sabia! - mas que, inexplicavelmente, ela deixou de lhe telefonar e, não contente com isso, chega a não lhe atender o telefone e, quando atende é breve e distante.
Não é que ela me tenha falado longamente acerca do assunto, mas sabia bem que estava incomodada por achar que ele não a distinguia de muitas outras pessoas.

Ele seguia nas explicações: Trato-a bem... parecia que nos estavamos a entender... até gosto dela, sabes?... gosto... É por isso que me chateia esta coisa agora... Trato-a bem, ouviste? Como trato todas as outras pessoas!

Ora aí está!!! Todas as outras pessoas!
Mulher nenhuma quer ser tratada como todas as outras pessoas! Nenhuma!
Se calhar até prefere ser alvo de antipatia, como nenhuma outra pessoa. Do que ser muito atenciosamente tratada como todas as outras pessoas.

- É por isso L. Porque ela não quer ser mais uma! Somos assim! Que nos interessa que sejam uns cavalheiros, atenciosos, compreensivos, carinhosos e o que mais quiserem acrescentar, se forem isso para toda a gente?!
Temos que ser diferentes. Mesmo na mais simples amizade - e se calhar nem é bem esse o vosso caso. Não queremos ser mais uma amiguinha numa lista mais ou menos longa.
Ou somos diferenciadas, únicas, ou , ser igual a toda a gente não nos interessa.

Reparei depois que o tom, levemente acídulado, do comentário, nem lhe era destinado. Por instantes, pensei que pudesse estar a fazer paralelismos, sem ter disso consciência, e estar a descarregar nele esse desconforto. Depois percebi que, felizmente, não era de todo o caso; que aquele azedinho era comigo, com esta necessidade feminina de nos sentirmos únicas (até porque, de facto, o somos, tal como os homens). Na verdade, era mais um lamento.

- Ah pois! São únicas! São únicas, mas nisso são todas iguais!

- Sim! Nisso somos! Mas mesmo só nisso!

quarta-feira, 7 de junho de 2006

Margarida Atheling


Margaret Atheling 1045-1093
Pois é Avó, é verdade... tenho gerido mal o meu tempo.
Levo o dia a correr, não faço o que quero nem o que gostava, chego à noite cansada. Geria muito melhor o meu tempo antes... Nem tenho tempo para passar por aqui.
Também é verdade. Mudaram tantas coisas!
Já não preciso. Não preciso da mesma maneira. Mas sinto muito a falta.
Lembro-me bem de quando o criei o blog - coisas! coisas daquelas que não me passavam pela cabeça fazer! Lembro-me tão bem de me sentir aconchegada, como se me tivessem colocado uma mantinha por cima num dia frio.
O seu nome, por inteiro, e não só o primeiro, que herdei, fizeram-me sentir protegida.
Eu sei... sei que são coisas que não se explicam.
Também sei, Avó, que o longo caminho que aqui foi percorrido foi com ajuda. Sei, e sempre soube, porque sempre o senti. Obrigada!
Aqui, ficou a minha vida durante todo este tempo, cheia de avanços, de pequenos recuos, de medos, de decisões, de esperanças, de pequenos ciclos... Cheia de pessoas; das pessoas que já faziam parte da minha vida, e das que, felizmente, aqui surgiram.
Esta Margarida, que aqui está agora, é outra, como sabe, Avó. Ainda a aprender a viver estas diferenças, daí esta falta de tempo, esta ainda desorganização.
Aposto que se ri de mim! Tanta confusão para uma coisa tão simples: viver.
Mas, às vezes, viver é mudar, Avó. E isso não é tão fácil assim. Ficamos um bocadinho perdidos. Mas é bom! É tão bom!
Não me dá jeito nenhum anunciar um novo ciclo: Já senti, várias vezes, ao longo deste tempo, várias mudanças em mim - umas que me agradaram, outras nem tanto -, mudei muito neste espaço de tempo, mas a verdade, a verdade mais sincera, é que é isso que sinto. Há uma mudança profunda na minha vida; silênciosa, mansa, sem tumultos... mas profunda. Não é daquelas de que fui falando aqui. Essas eram pequeninas, quase pormenores. Esta é diferente, tão difente das outras.
Sabe o que me faz lembrar, Avó? aquele dia em que nós, meninas, nos descobrimos mulherzinhas. Essa mudança marca-nos. Esta, que ainda não consigo definir, também.
É mansa, morna, aconhegante como a sua presença, Avó; deixa-me mais sorridente, mais compreensiva, mais benevolente com as outras pessoas. Isto apesar do turbilhão desordenado que tem sido a minha vida profissional nos últimos meses.
Sabe o que é, não sabe Avó? Mas não me vai dizer... Eu sei que me cabe a mim decobrir. Mas uma das coisas que mudou, é que não corro desordenadamente para as coisas, não me precipito e depois tropeço. Espero.
Sei que tudo tem o seu tempo e a sua razão.
Mas os horários do dia-a-dia... ai Avó; estão uma confusão!

sábado, 3 de junho de 2006

Humpf...


As mulheres são criaturas estranhas.
Pensam nestas águas frescas, encolhem os ombros e aproveitam o fim-de-semana para lavar roupa; arrumar o guarda-fatos de cima abaixo; lavar ao pormenor frigorifico, balcões e armários da cozinha, fazer um bolo; mudar as flores das jarras, passear um livro de um lado para o outro e abri-lo inúmeras vezes sem avançar mais do que uma mísera página na leitura; cheirar as primeiras flores das tileiras e... pensar nestas águas frescas e encolher os ombros.

quarta-feira, 31 de maio de 2006

Hoje...

... acordei mais tarde.
Não marquei despertador. Acordei e percebi que não havia Sol.
Lembrei-me da imensidão de coisas que tinha (e tenho) que fazer hoje, e não senti pressa de lhes deitar as mãos.
Deixei-me ficar... assim, languidamente, a esticar uma perna, a tactear a almofada, a sentir o contacto dos lençóis na pele, a ouvir os pássaros a cantar lá fora, e a sentir o prazer de obedecer à minha vontade.

Levantei-me e, na rua, a manhã cinzenta fez-me lembrar o mar e os dias de nevoeiro, com camisolas vestidas na areia. Quase me parecia que lhe sentia o cheiro.

Depois o dia corre como se esperava. Os assuntos, em vez de se resolverem, avolumam-se e multiplicam-se e prendem-se e agarram-se a nós sem nem percebermos como. E eu passo por eles, mas não me detenho. Tenho-os nas mãos, procuro resolvê-los, mas não me confundo com eles. Não, já não o faço. Eu, sou eu, e um sorriso sobrepõe-se a tudo isso.
De qualquer modo, logo à noite, tudo isto ficará no escritório, e eu volto a ser eu, sem eles. Também isto mudou.

terça-feira, 30 de maio de 2006

Os homens - a outra face da moeda

Não sou feminista. Acho que homens e mulheres têm direitos iguais e valem o mesmo, mas não são iguais. E, muito menos, acho que nós, mulheres, devamos queimar soutiens e abolir ou massacrar o outro género.
Nestas questões sou muito pelo equilibrio e pela complementariedade.

Mas confesso, sim, mea culpa, que muitas vezes, a brincar ou a sério, lá digo num tom superior: Ah, mas nós mulheres somos mais "isto", ou mais "aquilo".
Mais sensíveis, mais compreensivas, mais atentas, mais disponíveis para nos levantarmos durante a noite em caso de necessidade, mais ternas, mais intuitivas, mais prontas a exteriorizar afectos, mais...
Enfim... mais muitas coisas que nos tornam, depois, mais deficitárias de mimo e compreensão. E também mais complicadas.

E os homens... coitados, na verdade, não são menos tudo!
Na verdade, podem até não nos compreender completamente, mas é a compreensão deles que buscamos, sobretudo se estivermos cansadas ou mais frágeis.
Quando precisamos de colo (se calhar até podia retirar o itálico), lembramo-nos deles. E quando estamos muito felizes... também.

E fazem-nos tanta falta para fazer uma coisa no computador de que não percebemos nada, para baixar o celim da bicicleta, para ir buscar o vinho de que nos esquecemos.
E nem sabem, o bem que fazem, ao mandar uma sms sem nexo a meio de um trabalho enfadonho e interminável. Já para não falar da capacidade que têm para matar melgas, seja lá por que misterioso meio for (sim é uma private joke, mais private do que joke) e de nos assegurar, assim um adormecer tranquilo.
Sim meninas, nós, conseguimos fazer tudo isto sem eles; mas não seria o mesmo!

segunda-feira, 29 de maio de 2006

Este calor...


Está um calor infernal, e eu sinto-me mal com o calor.
Esta frase basta. Basta para justificar a falta de nexo deste post e a falta de sentido que tem tido o meu dia.

Sinto-me mal com temperaturas altas. A tensão baixa e chegam as tonturas, o apetite desaparece, a capacidade de concentração é uma miragem, a energia para fazer a mais simples das tarefas some-se, a pele parece que cola e os o número de duches por dia é, no minímo de três, à noite até o lençol em cima do corpo me parece ser demais, maldigo os dias de férias que tive e que me deixam agora sem capacidade de me escapar daqui, e a roupa diminui até ao limite do conveniente/suportável.

Sim, vim trabalhar de tshirt de algodão leve e branca, e de calções curtos, cremes, do tipo daqueles que eram usados pelos ingleses no tempo colonial em África e na Índia. Tenho noção que não é indumentária adequada, e por isso evito ser vista, mas não me escapei ao comentário: Parece uma inglesinha em África!
Pois parece! Sobretudo a pele branca afogueda pelo calor!
Ai... e tão fresquinho que está na Escócia...

quinta-feira, 25 de maio de 2006

Perspectivas

Tinha a idade dela, talvez até um pouco menos, e gritava que queria andar a cavalo sózinha.
A cavalo! Nada de póneis, baixinhos. Nada disso!
Claro que os progenitores não concordavam, os avós não concordavam, os equitadores não concordavam... Havia uma larga concordância em não concordar.
Mas eu teimava; e não via mal nenhum no que fazia.

Hoje ponho-me a pensar... e se ela se desiquilibra? e se a égua faz um movimento brusco? e se se assusta com o cão? e o animal é tão alto...! e ela é tão pequenina...! e... , e... resolvo que não, que não anda nada xózinha! Anda comigo, que a seguro, como quem segura um cristal.
E não é minha filha, porque se fosse, então...
Como as perspectivas tornam as mesmas coisas tão diferentes!

segunda-feira, 22 de maio de 2006

A auditoria correu bem.
Acho que devia ter escrito isto a seguir a terem saído daqui. Mas depois... foi passando o tempo e pareceu-me pateta escrever isto, porque já não tinha a mesma importância que teve nesse dia.

Sim, a auditoria correu muito bem.
O computador deve regressar amanhã. A impressora já voltou ao normal. Mas continuamos sem cópias (o que dá algum transtorno).

...

O meu escritor preferido, o Camilo de Castelo Branco, teve uma vida trágica. Tanto que acabou por se suicidar, tanto que escreveu O Amor de Perdição atrás das grades de uma cadeia.
Gosto muito do Camilo...

O Camões também... amores condenados, exílio, a perda de uma vista, a perda da mulher que amava, o naufrágio que quase lhe tirou a vida e também quase lhe destruía a obra.

Ouvi dizer que para criar é preciso isso, para além do talento. Alguma tragédia, algum fatalismo, alguma angústia.

Ora eu, que nunca fui, nem tive a menor pretensão de ser escritora, nem, tão pouco, sou possuidora de algum talento, estou a viver um momento de bonomia...
Não tenho angústias; não estou a viver grandes tragédias; não me sinto perdida, nem insatisfeita, nem...
Há uma paz tranquila que se instalou, que facilita o sorriso e o adormecer rápido... mas prejudica a escrita.

É verdade que o tempo continua a ser tirano; que tenho muitas coisas por fazer e que nem sempre estou agora sentada à frente de um computador; que nesse tempo que arranjo prefiro espreitar os blogs de que gosto - e de quem gosto - , mesmo que quase sempre sem comentar nestes dias mas, é mais do que isso. Não sei bem o que escrever... é só.
A satisfação é inimiga da criação. Acho que é. Não é que me sinta absolutamente plena, mas sinto-me bem. Uma satisfação prazenteira que tem este efeito assim...
Tanto que nem um título sou capaz de arranjar para este post.

quarta-feira, 17 de maio de 2006

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Uma impressora insiste em não reconhecer o tinteiro, a outra foi desinstalada e não se sabe do CD de instalação.

A fotocopiadora não funciona.

O meu computador tem lá dentro coisas indispensáveis para a auditoria - de que não fiz cópias -, ainda não sei quando estará arranjado nem me deram, nem vão dar hoje, cópias do que lá está.

A minha secretária bate o record mundial de desarrumação e eu não sei para onde me voltar.
Um patrão/pai nestas alturas diz sempre coisas que não deve.

A auditoria começa daqui a poucas horas...

Se isto não fosse um rés-de-chão, atirava-me da janela! Assim... nem sei!

terça-feira, 16 de maio de 2006

Los hombres...

Lá pelos sítios por onde andei, e onde tudo correu muito prazenteiramente, retive uma coisa que ouvi horas antes de regressar.
A intenção era boa, de certeza, mas aquilo não me suou nada bem. Tanto que ainda parece que ouço aquela voz.

Num acontecimento equestre, já no final, depois de muitos bons resultados e de toda a gente estar muito bem disposta, um grupo de jovens garbosos bebe umas cervejas perto de mim e de mais duas amigas ( uma delas só a conhecia há umas horas). A páginas tantas um deles levanta o copo e grita com voz segura:

- A las...

Mas olha para os outros, olha para nós e hesita.

- Es mejor...

- Sigue!!! , responde o outro.

Voltam a levantar os copos, olham para nós e, seguros de si, gritam os três:

- A las mujeres, a los caballos e a lo que és mejor para los dous: el hombre!

Nós olhámos umas para as outras incrédulas, eles riem-se a julgar que foram bem sucedidos, nós fazemos um sorriso amarelo e afastamo-nos deles.
Ai, los hombres, los hombres...! Os homens e esta cultura latina!
Mas será que não entendem? É verdade que nenhuma das três estava com apetência para se deixar conquistar mas, se alguém estivesse, também não resultaria assim. O caminho não é por aí! Passa por coisas bem mais súbtis e profundas, mas isso deve ser mesmo para muito poucos!

segunda-feira, 15 de maio de 2006

Take 2

Há um não-sei-quê de estranho em voltar. Mais do que em partir.
Mesmo que os regressos sejam no mesmo número que as partidas, são sempre estranhos. Tanto mais quanto mais longa e, sobretudo, mais profunda e completa tiver sido essa partida.
São estranhos, por mais que se antecipe mentalmente, à medida que a distância em quilómetros vai encurtando, o que nos espera à chegada: as festinhas aos cães, os beijinhos à família, várias perguntas ao mesmo tempo, os relatos que são pedidos e que ainda não tivemos tempo nem vontade de tornar inteligíveis, a falta de compreensão de que o espírito demora mais a chegar do que o corpo e que, nessa altura, ainda está por aí, algures, no caminho.

Sabe bem a nossa banheira e, sobretudo, a nossa cama e as almofadas, mas demora-se algum tempo a sentir o quarto da mesma forma, como território privado e dominado, como meu quarto.

Acordo, estranhamente cedo, ainda antes do toque do despertador e fico e olhar em volta. Tem que ser, recomeçar tudo.
Tomo o pequeno-almoço enquanto vou pensando, desta vez, em tudo o que tenho por fazer, mas custa a recuperar até a desenvoltura deste tipo de raciocínio.

Primeiro não encontro as chaves, depois troco-as...
O meu computador de trabalho está avariado, estranho este com que estou temporáriamente (entre outras coisas não estão cá os favoritos), a impressora está sem tinta preta. As coisas que acontecem na nossa ausência...

A agenda... voltou! Eu sabia!!! Não está a ser fácil...
Mas lembro-me da imagem reflectida pelo espelho de manhã; aquela côr de pele não engana, não é o branco absoluto, insiste em lembrar que não foi aqui que passei as últimas semanas. Daqui a poucos dias já não haverá vestigios mas depois disso, o que vai cá dentro lembrar-me-á. Fui à minha procura e, dentro dos limites do possível, acho que me encontrei. Posso agarrar na claquete e gritar: Take 2!

quinta-feira, 11 de maio de 2006

Technology free

Já lá vão uns dias e muitos mais quilómetros. O afastamento da internet não foi apenas originado pela falta de computador à mão. Foi intencional, fazia parte dos planos.

Ora vamos lá ver se também consegues passar sem isto?- disse eu para mim, tão baixinho que nem ouvi. Mas disse.

E consegui. Senti a falta e, de algumas pessoas, senti muitas saudades ( e sinto). Mas vive-se longe destas maquinetas. Vive-se mesmo, porque haverá sempre maneira de as pessoas não se pederem umas das outras.
Às vezes vive-se tão bem em sítios onde não temos mesmo acesso a estas coisas e onde nem sequer o telefone tem rede, com roaming ou sem ele.

Vive-se bem assim, a saltar de um lado para o outro da fronteira, uns dias lá e outros cá, o relógio com um fuso horário e o telemóvel com outro, uns dias com tapas e outras com comidinha bem nossa, à beira-mar ou no meio de serras quase inacessíveis.

Vive-se tão bem, tão bem que acho que já não concebo como normal passar aqui o que me parece ser uma eternidade a teimar com uma máquina estúpida que nem nos deixa aceder aos emails - sim! o que eu precisava era de ver os meus emails e não consigo!
E pensar que daqui a poucos dias uma coisa destas vai voltar a ser a minha principal companhia... Acho que vou ter que reaprender uma boa quantidade de coisas, mas o que aprendi nestes dias foi muito mais do que tudo isso!

sexta-feira, 28 de abril de 2006

Post noticioso

Serve o presente para informar que não estou de chegada mas sim [novamente] de partida.
Agora que aprendi a "ir", sem datas precisas nem destinos geométricamente pré-estabelecidos, não apetece muito "voltar".
Acho que tenho alma de nómada ( mas por outro lado não podia ser mais apegada às raízes).

O regresso em definitivo será a 15 de Maio. Porque há uma auditoria... senão...
O que não impede que possa passar por aqui de vez em quando mas, como tudo o resto, sem calendário.

Tenho algumas saudades. Mas precisava de fazer isto!

quinta-feira, 27 de abril de 2006

Las Ciés


Os romanos chamavam-lhes as Ilhas dos Deuses.
Eu nunca lhes tinha dado atenção. Mas os romanos sabiam muito!
E tão acessíveis...

Bichaninho


De entre todos os outros, senti, desde que o vi, que este estava destinada a ser o meu.

Olhava para mim, assim. Com o enlevo de quem estava a adorar o Menino Jesus. Sempre.

Por estas, e por outras coisas, sempre me pareceu que ele era diferente, que não pertencia a este nosso mundinho; que tinha uma alma pura e leve; que era especial; que era um poeta num corpo de gato e fora do tempo.

E não. Não pertencia mesmo ao nosso mundo.

quinta-feira, 20 de abril de 2006

Devagarinho...


Começa-se devagarinho...
Agarra-se na bagagem, meio a medo. Sai-se com passos pouco seguros e decisões que se embalam pelo vento que faz no momento.

Sai-se sózinha com esse peso, com essa palavra sublinhada na consciência. De propósito.
Sem fugir de nada mas à procura de alguma coisa; de alguma coisa que há-de estar, afinal, cá dentro.

Quer-se fazê-lo e não se quer.
Achava que não, que nunca sairia assim sózinha (sózinha, apenas partia com destino a um local preciso), mas, no fundo, eu sabia que um dia o faria.
Sabia que haveria uma primeira vez; que chegaria à beira do ninho, que bateria as asas para as experimentar e que acabaria por me lançar no ar.

Sabia que faria um vôo on my own, que seria pequeno, mas que seria só o primeiro.
Começa-se devagarinho, assim...
Volta-se a casa, pousa-se por um instante e volta-se a partir para mais longe, com menos inseguranças.

As certezas ainda não estão cá. Algumas hão-de ser procuradas toda a vida, bem o sei.
Mas os vultos delas começam a aparecer, começo a ver-lhe os contornos e fico feliz por mim.

Voltei a ler, voltei a ouvir-me, voltei a dar-me tempo e atenção.

Voltei a casa; deixo umas coisas e levo outras. Bato as asas outra vez; para mais longe.
E sei que um destes dias as coisas vão estar mais definidas.
Assim... devagarinho...

segunda-feira, 17 de abril de 2006

Out


Porque precisava. Porque precisava muito!

Um tempo fora.

Um tempo que não marquei na agenda, nem em lado nenhum, mas que, muito notóriamente, se tinha tornado indispensável.

Também não marquei itinerário, nem regresso.

Voltarei, claro. Quando o regresso for tão premente quanto a partida o foi.
Assim, ninguém ficará em cuidado.
Eu estou fora, mas estou bem! Vou à procura de mim...

quinta-feira, 13 de abril de 2006

Boa Páscoa!


Não posso dizer que me sinta muito imbuída do espiríto da Páscoa, este ano.
Não é que considere que a época não é importante. Muito pelo contrário.
Simplesmente não me atingiu como em outros anos, talvez por andar tão atarefada ( too munch!).

De qualquer modo, os dias estão bonitos e a data é muito importante. E gosto das amêndoas de todas as cores e diversos gostos, e dos doces do aspecto das coisas.

Portanto... acho que é mesmo muito importante desejar a todos uma Páscoa muito feliz!

terça-feira, 11 de abril de 2006

For Saint Andrew´s!


Não tenho o hábito, muito generalizado entre os escoceses, religiosos ou não, de rematar com uma mesma expressão conversas longas, curtas, alegres, ou tristes.
Não o faço nem quando falo em inglês. Não o faço, se calhar porque não sou filha da Escócia; sou neta, como me habituei a ouvir.

Por tudo e por nada lá se ouve a mesma expressão: For Saint Andrews!

For Saint Andrew´s!; para apelar à sua protecção perante um mal, para dar coragem e força perante um obstáculo difícil de transpor, ou para lhe atribuir a graça de um bem inesperado.

A cruz branca, traçada, no fundo da bandeira azul não é mais do que a cruz do famoso Santo André. O Santo, a bandeira, a Escócia confundem-se, e fundem-se, e são uma só coisa.

Hoje, ao ir para casa, para almoçar, olho para o horizonte e vejo. Vejo a cruz, branca, cruzada, no fundo azul.
Vi e gostei. Aqueceu-me o coração, senti-me aconchegada!
For Saint Andrew´s!

Worse...

Nem de propósito...
Posso continuar a ouvir o JJ. Posso, mas não o ouvirei mais a partir de rádios escocesas. Pelo menos, em Portugal, claro!
Ontem foi mesmo o último dia.

Algumas já tinham deixado de transmitir para fora do Reino Unido. A partir de ontem, acho que não resta mais nenhuma.
A lei dos direitos de transmição de música mudou e, com isso, as estações só podem emitir para o Reino Unido.

Reconheço os direitos de quem cria as músicas. Trabalho é trabalho e deve ser recompensado. Mas não percebo isto. Será que os autores ganham mais assim?! Ganham, realmente, alguma coisa com isto? Não é o mesmo, para eles, que as suas músicas sejam ouvidas a partir de uma rádio do Reino Unido ou a partir de uma de outro país qualquer?
Se calhar isto nem tem nada a ver com a vontade dos autores.

E a liberdade? A liberdade de comunição? Se os meios permitiam, sem custos, que os ouvintes ouvissem - sim, tenho noção da redundância - o que muito bem entendessem, a partir de onde entendenssem, em nome de quê é que se restringe essa liberdade? Quem é que ganha mesmo com isto?

Passei a ouvir uma da Irlanda, mas da Rep. da Irlanda, claro, que o Reino Unido está todo silenciado. Pois... também tenho ascendência irlandesa, e inglesa... mas, por isso mesmo, distingo muito bem cada uma destas nações. Não é nada a mesma coisa! Por muito que as estime, e que goste delas!
Mas a minha Escócia... quem me afasta dela...
Não, não foi um bom começo de dia!

segunda-feira, 10 de abril de 2006

Better...

Uma das minhas [várias] manias é ouvir, durante uma boa parte do dia de trabalho, uma rádio escocesa, com o som baixinho.

Não sei porquê mas, nos últimos tempos, talvez a música que passa mais vezes é o Better Together, do Jack Johnson. Não sei porquê, mas é estranho. Até porque não é nada a sonoridade que nos faz lembrar a Escócia; bem pelo contrário.
Mas passa, é um facto. E eu nem me importo nada com isso.

Afasta-se um conjunto de papéis que dizem: Parte 2: Importações a partir de países terceiros não constantes da lista do anexo ao regulamento ( CEE) Nº. ...
Afasto-os, levanto um bocadinho o volume, recosto-me na cadeira, respiro fundo, fecho os olhos e... sabe tão bem.

domingo, 9 de abril de 2006

O Castelo de... Silves

Nos tempo da minha licenciatura era para lá ter ido. Era, mas não fui.
Conheci-o, em pequenina, na altura em que passava as férias lá por terras do Sul. Mas de tão pequenina, não guardo a menor recordação dele.

O castelo de Silves, acho que mais do que qualquer outro, saltava-me para a frente nas palavras de um professor e em textos lidos. E, a par daqueles episódios concretos, datáveis, crús havia um não-sei-quê de névua de mistério, de lendas de mouras encantadas, de cheiro a laranjeiras em flôr.

Um dia, a esse castelo associei um episódio meu. Mau.
Podia não o ter associado, podia ter associado muitos outros sítios desse antigo Al-garb. Podia, mas foi a ele que atirei as culpas, foi a ele que associei os males daquele momento, os que vinham de trás, os que se seguiram.

Durante muito tempo ouvir falar do Castelo de Silves fazia-me estremecer. Deixava-me inquieta como um tigre numa jaula, arrepiada, com vontade de fazer calar quem ousasse pronúnciar tal nome. Visualizava-o mentalmente e sentia vontade de lhe atirar pedras, pedras grandes, com uma força maior do que a minha.

Com o tempo a raiva foi dando lugar ao medo. O medo que o som daquele nome trouxesse essas coisas más que estavam guardadas já tão fundo. Tinha medo dele. Era uma espécie de caixa de Pandora; estava ali quieto, silêncioso... mas a qualquer momento podia mexer-se e fazer sair o mal que continha, tornar tudo presente outra vez. E no entanto... começava a reconhecer que tinha o seu encanto.

Tentava - e conseguia - não pensar nisso, afinal não era presença no meu quotidiano.
Percebi, muito por acaso, numa sms no Verão, que lhe tinha perdido o medo. Olhei para a mensagem, li, voltei a ler... e ri-me. Tinha-lhe perdido o medo. A menção daquele Castelo tinha deixado de me assustar e eu nem tinha dado por isso.

Nos meses seguintes passei-lhe por perto muitas vezes, bem ciente da próximidade desse grande Senhor de cores quentes. E gostei disso, dessa próximidade.

Ontem uma pessoa pegou num livro e mostrou-me para me fazer uma pergunta. Eu olhei e vi, vi a fotografia, aquela - mesmo aquela - que não podia ver. Vi e, mentalmente, só me apeteceu sorrir e dizer: Olá meu Velho Senhor!
Ele não teve a culpa, e eu que já tinha percebido que não lhe tinha medo, voltei a gostar dele. Mais do que antes.

sexta-feira, 7 de abril de 2006

Sugestão de fim-de-semana


É o primeiro.
Para o ano há mais.

terça-feira, 4 de abril de 2006

Importa-se de repetir?!?!

Fui parar ao Hospital. Às urgências.
Detesto hospitais e tenho tido a enorme ventura de se contarem pelos dedos de uma mão as vezes que tive que recorrer a um. Mas hoje teve que ser.

Começo a senti-me enjoada. Um bocadinho, depois mais um bocadinho e depois muito.
E as mãos a transpirar, e depois, de repente, o corpo todo.
E a sentir-me sem forças, cada vez mais.
E a ver mal, até deixar de ver por completo.
E depois... sei lá o que se passou. Levaram-me para o hospital, pois claro.

Pelo caminho a coisa melhorou; recuperei a visão, parei de transpirar; tomei plena consciência, fiquei menos enjoada e senti mais alguma força.

Fui atendida, e nem posso dizer que demorou muito.
A médica, senhora de meia idade e, por isso, com experiência já de uns anos, atende-me de sorriso na cara, ouve-me atentamente e depois diz com toda a calma: Está grávida.

- Eu?! Desculpe, mas importa-se de repetir?!

- Está grávida.

- Impossível!

- Ora, não me venha dizer como a outra paciente, do outro dia, que só se foi um telefonema ou um email!

- Pois! Mas só se foi isso mesmo! E mesmo assim... não estou a ver!

Lá a convenci da impossibilidade de estar certa. Tão bem que na bateria de análises que em mandou fazer não constava nenhuma para comprovar a sua teoria.
Pois. Foi uma baixa de tensão subita. Nem tinha tomado o pequeno-almoço ainda. Tudo muito normal, tudo muito explicável. Mas, e se houvesse, de facto a possibilidade de ela estar certa? Como é que ela se atreve a fazer afirmações destas? É por estas e por outras que detesto hospitais.
E pronto... de volta a casa, um bocadinho tonta ainda. Da tensão!

segunda-feira, 3 de abril de 2006

Realidades

Às vezes uma conversa pelo telefone é fria, pragmática, mecânica; trata-se de assuntos de trabalho. Nem se conhece a cara que está do outro lado ou, conhecendo, ignora-se voluntáriamente as expressões e os contornos. Desliga-se e retoma-se os afazeres.

Às vezes uma conversa pelo telefone é morna. Independentemente do assunto. Conhece-se a cara e, quando o som denúncia um sorriso, sorrimos também e vemos dentro de nós a imagem desse sorriso. Desliga-se e continua-se a fazer o que estavamos a fazer.

Às vezes - muito menos vezes - uma dessas conversas pode fazer disparar o coração, tremer as mãos... Mas depois desliga-se. Podemos ficar a sentir o corpo mais leve que uma pena, podemos conservar um sorriso idiota e denúnciador, mas continuamos o que interrompemos.

Mas, outras vezes, uma conversa ao telefone pode atingir-nos como um tiro, do qual nem procurámos esconder-nos porque não sabiamos que vinha aí. Uma pessoa pode abrir-nos a porta para a sua realidade, e essa realidade pode ser tão sombria que nos faça sentir sem chão debaixo dos pés. Nessa altura percebemos o quanto temos sido infantis até aqui, o quanto a ausência de problemas sérios nos pode levar a criar outros para preencher... para preencher nem sei o quê. Percebemos também o quanto a vida é frágil, e a sorte que tivemos até aqui, e vemos como fútil cada acontecimento que vivemos como um drama.
Nestes, quando se desliga, não conseguimos retomar nada. Ficamos com um nó na garganta, sem força nas pernas, olhamos em volta e parece que não reconhecemos nada. Nestes... as coisas não seguem iguais.

domingo, 2 de abril de 2006

Marés...




Começa-se cedo. É preciso limpar-lhe os cascos e escová-la; trazê-la para a rua, com o cabeção de trabalho e passá-la à guia até transpirar (ela! mas eu também ). Levá-la para o páteo, tirar o cabeção de trabalho e pôr a cabeçada de descanso; dar-lhe um banho; raspar a água do pelo; escová-la mais uma vez; entrançar as crinas e deixá-la acabar de secar.
Tomar um banho, eu!
Voltar; enrolar-lhe as caneleiras de descanso e pôr-lhe o cobrejão de viagem. Convencê-la a entrar na van, enfiar lá dentro tudo o mais que é preciso e seguir viagem.

Há quem tenha a tarefa mais dificultada. Há quem venha de mais longe, até de outros países. Alguns têm que vir de avião. E para a semana, tudo é a sério, para eles.

Depois o trabalho inverso; e mais algum. E ver a tabela das marés.
E levá-los para a praia. Hoje a maré foi às 11:13 - 0.77m, o que foi bom.
E correr; correr muito. Soltar rédeas a galope, com as patas dentro do mar.
Bom para eles, para lhes aumentar as resistências. Bom para nós...

E aproveitar! Aproveitar tudo...
Não tenho tudo o que gostaria mas, em dias assim, nem me atrevo a pedir mais do que o que tenho.


Vês Sara?! Afinal usei o toque. Mas estás a ver a fitinha azul no pescoço? Isso é que não pertence; mas era do biquini. A água continua gelada; tão gelada quanto irresistível! ;)

sexta-feira, 31 de março de 2006

Coisinhas...


Para ela:
Sela Wintec; suadouros (o verde e o azul); caneleiras para as patas dianteiras e traseiras; cloches para as quatro patas; a cilha irlandesa; estribos; cabeçada de descanso; guia; cabeçada de trabalho com bridão largo (levar o mais estreito, para o caso de ser necessário); cobrejão; rede do feno; ferro dos cascos, as duas escovas e pente de crinas, a cera líquida para os arreios (que não tem nada a ver com a cera líquída para as casas); e mais algumas coisas de que me esqueço sempre!

Para mim:
Calças de montar; botins; toque, apesar de saber que não o vou usar (não meninas, não é aquele exame horroso!), esporins, que também não vou usar; casaco (que troco por um blusão mais confortável) ; luvas; pingalim, que, provavelmente, também não vou usar.
Devia arranjar um desporto que tivesse uma logística mais leve, mas então? ... eu gosto disto!

quinta-feira, 30 de março de 2006

Déjà vu

Hoje - já, já a seguir - vou fazer como quando era pequena.
Vou tomar um banhinho; jantar a seguir, de pijama - acho que troco hoje o jantar por uma tigela de Nestum - ; e depois tinha direito a ver um bocadinho de televisão, mas hoje dispenso, de boa vontade, e vou para a caminha.

Sem tempo nem para olhar para o lado...
22: 58 - Eu disse... Disse mas, a esta hora, depois de receber um pedido para resolver umas coisas de uma pessoa a quem não posso dizer "não", ainda estou à volta de mails e telefonemas.
Mantêm-se tudo, menos as horas!

quarta-feira, 29 de março de 2006

Tareco

Os meus avós vivem numa casa com sebes de cedro, jardim de roseiras e relva e, nas traseiras, têm um quintal.
Um gato, apareceu por lá.

Não sei bem se eles adoptaram o gato, se o gato se fez adoptar, ou se foi o gato que os adoptou a eles.
Sei que o gato passou a ser alimentado na rua, depois passou a entrar em casa de vez em quando, e agora o gato "é de casa".

Eu tenho muitos gatos, muitos cães mas, também, muitos afazeres.
Ontem, fui jantar a casa dos meus avós e enterneci-me ao ver o gato deitado no sofá da salinha. Tão calmo, tão aconchegado... Sentei-me devagarinho ao lado dele, passei-lhe a mão de leve pelo pelo, ele ronronou e eu respirei fundo; senti uma paz... imensa!

:-)

Descobri que há uma companhia que tem, a partir de agora, passagens a um preço tão em conta, mas tão em conta, para o meu sítio que nem há motivo para não dar lá uns saltinhos com muita frequência. E por saltinhos podem enteder-se fins-de-semana.
Sim... é que o tempo é coisa que fugiu de mim, e os preços são tão baratos que... não causa peso na consciência fazê-lo.
Claro que o avião pode cair, claro que a família vai ficar em pânico, claro que vão dizer que esta coisa das low cost são coisas para inconscientes, mas...

Pois; bem sei que este post não interessa a ninguém, mas atolada em trabalho como estou, alegra-me a mim, e muito! :-)

terça-feira, 28 de março de 2006

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- Um dos teus principais defeitos - se calhar o pior deles todos! - é que andas sempre de coração nas mãos...! Faz-me muita confusão...

Dizia-me ele há mais de dois anos já, numa das últimas discussões que tivemos. Já nem foi uma discussão, foi mais um monólogo.
Eu, acho que encolhi os ombros - pelo menos fi-lo, mentalmente - e reparei que estava cansada, esgotada por lutar por uma coisa que, reconhecia naquele momento, estava virtualmente acabada já.

Encolhi os ombros e não abri a boca; não concordei nem neguei. Virei as costas como se não estivessemos a ter aquela conversa e fui fazer o que estava a fazer antes. Mas não me esqueci do que ouvi.

Hoje, tanto tempo depois, dou-lhe razão nisso.
É, realmente, um dos meus piores defeitos. Também estou farta disso!

segunda-feira, 27 de março de 2006

Nhánhá!!!



Eis o resultado de andar com uma pirralha atrás o dia todo, e de a deixar com a máquina na mão.

Bom... há outras fotografias, ainda mais estranhas e outras que, por motivos óbvios, não vão ser mostradas aqui.

Outro resultado são as gargalhadas dela de cada vez que percebe que conseguiu disparar a máquina.

Outro ainda são os sorrisinhos das pessoas enquanto ela grita Nhánhá e me puxa a mão a cada dois segundos em que não olho para ela.

E o último é perceber como o meu cabelo parece ser de cores diferentes consoente a luz e que, apesar de insistir com toda a gente que não sou loura, só o fui em pequenina, morena é que não sou mesmo.

domingo, 26 de março de 2006

Caleidoscópio

A última metade da tarde de ontem foi dedicada à minha égua, que o mesmo, se calhar, é dizer que foi dedicada a mim. Às duas, ao tempo, à liberdade, ao vento, ao Sol, à velocidade, à cadência, à cumplicidade, à amizade, a tantas coisas e a nada, ao mesmo tempo. De cabeça vazia e leve, ou diletante e cheia de assuntos.

Os pensamentos em cima dela, à velocidade do galope, ao ritmo do trote ou ao balanço suave do passo; chegam e partem sem serem escolhidos, sem fazerem qualquer tipo de conjunto ou de sequência entre eles. E isso, agrada-me.

Ocorreu-me um, estranho. Percebi, mas ainda em contornos pouco definidos, assim em pinceladas largas... que o afecto pode tomar muitas formas. E, aqui, estou a falar do afecto por um homem.
Percebi o que já sentia há algum tempo mas que não verbalizava nem, tão pouco, encarava.

Pode. Pode variar na intensidade, no género... e pode - foi aqui que esbarrei com uma novidade para mim - existir em simultâneo por mais do que uma pessoa. Géneros diferentes, em simultâneo, independentemente da intensidade de cada um.

Fui educada de outra forma.
Na vida de uma menina séria só há lugar para um homem. De preferência, um único, em toda a vida. Mas isso já é perfeccionismo.
As amizades entre pessoas de sexo diferentes são arriscadas, para não dizer impossíveis. E mais cedo, ou mais tarde, dão problemas.
Fui educada assim!

Claro que aprendi a dar uma margem de manobra a isto. Claro que tive sempre amigos rapazes, mas não muitos, e com algum cuidado, tentando fechar os olhos ao facto de serem homens e mantendo uma distância de segurança.
E, se estava envolvida com alguém, as coisas restrigiam-se ainda mais. Não havia mais nada nem ninguém na minha vida.

Ora, reparei, que levei seis anos assim. A viver em função de outra pessoa, a isolar-me voluntáriamente, a afastar pessoas, a virar a cara, a sentir-me culpada por tomar um café com um amigo ou por trabalhar de uma forma mais próxima num assunto qualquer com um colega.

Disparate. Quando crescemos percebemos que não é nada assim. Aprendemos a dividir as coisas. Percebemos que há uma panóplia de sentimentos que se podem ter por um homem, o que significa também que se pode sentir coisas diferentes por vários, aos mesmo tempo. Na verdade, percebemos que é assim mesmo, que sempre foi. Mas aprende-se a gerir esses sentimentos sem culpas nem embaraços.
Pode amar-se perdidamente alguém mas, se até nem temos nenhum relacionamento, podemos sentirmo-nos muito bem na companhia de outra pessoa que reconhecemos ser um encanto. Assim mesmo, sem que isso negue o primeiro sentimento ou, sequer, o menorize.

Às vezes, há coisas que se tornam claras de um momento para o outro.
É assim, o afecto é um conjunto de pedrinhas coloridas que formam imagens diferentes à medida que se viram, assim mesmo, como no caleidoscópio da Disney que me deram em pequenina. Imagens diferentes; umas maiores outras mais pequenas, com formas diferentes, cheias de cores. Há uma de que gostamos mais, que é mais especial do que todas as outras, que ansiamos que apareça de novo de cada vez que rodamos o caleidoscópio... mas também existem as outras todas.