Acordar a pensar nisto... tem o seu quê de estranho, admito. Mas dizem que a almofada é boa conselheira.
Também admito que, se é boa conselheira, se calhar estive tempo a menos na sua companhia. Mas, ainda assim...
Este blog sou eu.
Já disse mais do que uma vez que, no começo, só queria escrever à vontade. Não disse a ninguém que o tinha, e ainda que usasse o meu nome próprio, o apelido é o de uma Avó antiga (a Avó pela qual me deram por nome Margarida). Já disse que o usei para me proteger dos olhos de alguns. Foi por questões de defesa e por questões afectivas.
Já disse que no início, não imaginava que o blog teria o efeito que teve, não imaginei que através dele chegassem pessoas à minha vida, mas foi assim.
Depois, acabei por contar a uma amiga que, muito mais tarde, contou a um amigo. A coisa fica por aqui. Dos meus amigos lá de fora, dos laços que não foram nascidos a partir daqui, ninguém mais o conhece, e assim deve ficar. Imagino.
Algumas (muitas?) vezes, ponderei acabar com ele. Se soubesse como gravá-lo, já o teria apagado por alturas do Verão. Apagar e ficar sem ele, sem a minha vida ao longo destes anos, sem as pessoas que foram chegando e que ganharam lugar nela, sem essas pessoas com quem acabamos por dividir quase o dia-a-dia, ainda que filtrado por um monitor(sim, como no mundo lá fora, também há a quem eu gostasse de aplicar a tecla delete), não fui capaz.
E como não sei gravá-lo, fui andando assim.
As razões que me moviam nessa altura, não são exactamente as mesmas que me movem agora. Mas são razões, never the less.
Muitas vezes apetece-me gritar, às vezes chorar até soluçar, atirar coisas ao chão, outras suspirar e sorrir como uma tola, dar saltinhos de bailarina como em criança. E não o faço; sinto que já não o posso fazer aqui. Não assim.
Há coisas que não conto, há fotografias que não mostro, há sentimentos que escondo, há outros que disfarço, há...
E eu quero poder respirar através deste blog.
Existe um contador neste blog. Instalei-o pricipalmente para ver se era capaz de o fazer (para quem não percebe nada de computadores, coisinhas destas são conquistas). O aumento de visitantes nunca foi um objectivo e, consequentemente, a sua contagem também não se revelava de particular interesse.
Depois disso, de instalado, esqueço-me dele. Em boa verdade, também não sei lê-lo, donde ele se revela completamente dispensável. Mas sei que, de longe a longe, acabo por lhe dar uma espreitadela e consigo perceber - isso ainda consigo- que o número de visitantes é superior ao número de comentários.
Coisa perfeitamente natural! Não há qualquer tipo de obrigação de comentar!
Quem não tem nada para dizer, não tem nada para dizer. Lê para espraiar os olhos, lê por acaso, por acidente... ou até lê de vez em quando, simplesmente porque sim, e não comenta porque não sente vontade ou acha que não tem o que dizer.
Cheguei a sentir muita curiosidade acerca destas pessoas, alguma inquietação até. Nem todos serão olhos amigos, a vida é igual em todo o lado, o mundo dos blogues é feito de pessoas, e as pessoas há-as de todos os tipos, aqui como lá fora.
Houve alturas em que senti mesmo algum medo.
Hoje, curiosamente, são essas pessoas uma das razões porque me custa tornar o blog privado.
Às outras, àquelas que têm blogues, àquelas que, de entre essas, eu quiser que possam continuar a acompanhar-me, sempre tenho forma de lhes enviar a autorização para acederem ao blogue. Às outras... não. E custa-me, pois. Sei lá quem está do outro lado?! Sei lá quem ficará para sempre do outro lado?! Sei lá quantas dessas pessoas eu gostava de deixar entrar?!
Depois, também acho contraditório fechar um blogue. É contrário à sua essência de espaço aberto, amplo, livre, tão extenso quanto o mundo, onde qualquer um de nós pode chegar.
Acho quase uma traição e eu sou particularmente sensível a traições.
Não é que não compreenda as pessoas que tornam os seus blogs privados (mais ainda aqueles de crianças, com muitas fotografias); se não entendesse, não teria chegado a este ponto eu própria.
E mais uma vez se conclui que os blogues são como tudo o resto nas nossas vidas: nunca nada é exactamente como sonhamos, é como pode ser, é o melhor possível, é o mal menor, é... assim.
Não é ainda uma decisão absolutamente firme (talvez o dia de Sol, o jantar em Coimbra... talvez ainda algumas coisas pequeninas me façam mudar de ideias. e eu, por um lado - um lado bem escondido - gostava que sim, gostava que eu me convencesse a mim própria de que eu mesma não tenho motivo), mas é uma convicção.
Custa-me. Por tudo o que já disse, e porque não é livre quem se fecha com uma porta blindada, mas sim quem não tem necessidade de porta. Nem livre, nem feliz...