quinta-feira, 29 de março de 2007

Capítulo 7.1.

Não sei ao certo, porque ela ainda é feita dos retalhos, que o mesmo é dizer, de capítulos. Ainda não a juntei numa única peça e por isso, ainda não está paginada. Não sei, portanto, contabilizar com precisão quantas páginas são.
Mas hoje, depois de peripécias várias, imprimi, aproximadamente, uns 160 páginas ( mapas e esquemas genealógicos à parte, e estes últimos espealhados - sim, é uma private joke - por umas quantas).

Pesei-a. Quase um quilo de papel.
Ainda falta muito. Mas hoje, pela primeira vez, peguei-lhe e deparei-me com ela assim, mais crescida do que me parecia.
Passei os dedos por cima dela, pelos contornos dos papéis, cheirei-a devagarinho, segurei-a e larguei-a algumas vezes.
Pousei-a no colo, voltei a pô-la na secretária e não consegui segurar um sorriso.
Não sabia que gostava dela. Gostar mesmo, de afecto mais do que de satisfação intelectual.

Tão bom tê-la nas mãos, mesmo que ainda tenha de crescer mais.
Não é o mesmo que tê-la no disco rigído do computador.
Hoje, senti-a pela primeira vez. Minha, e ainda assim, já senhora de si, com identidade própria. E senti que tem valido a pena, os dias de trabalho, as noites mal dormidas...
Que bom senti-la nas mãos!

segunda-feira, 26 de março de 2007

"Interlúdio # 3" ou "Arco-íris"

fotografia dele


Em pequena tinha uma enorme adoração por arco-íris. Deixava-me encantar por eles. Exerciam um fascínio sobre mim, tão forte, que largava tudo para ficar a olhar para eles.

Uma vez desapareci de casa.
Pus-me a andar atrás de um arco-íris e causei o pânico entre a família, que não sabia o que me tinha acontecido.
Estava a brincar no páteo e vi-o muito colorido, e vi também que a base parecia estar numas árvores lá à frente. E pus-me a andar. Era uma mania que parece que sempre tinha tido - deve ter nascido comigo - , queria chegar ao pé do arco-íris e tocar-lhe.
Fui andando, andando, mas a base, infelizmente, ia-se afastando à medida que eu andava.
Fui travada pelo Sr. Luís, que morava (e mora ainda) numa das primeiras casas de uma pequena aldeia que fica a quase dois quilómetros daqui.

Apesar dos meus quatro anos lembro-me muito bem. Lembro-me de ele me ter trazido de volta a casa, lembro-me do susto da minha família, e lembro-me perfeitamente do castigo que isso me custou. Mas lembro-me, mais ainda, da tristeza de não conseguir alcançar o arco-íris.

E tudo se manteve assim, pela vida fora.
A mesma paixão pelos arco-íris e a mesma incapacidade de os alcançar. A ironia parece ser tão grande que nem com a máquina fotográfica os consigo apanhar. Ou não a tenho, ou não tem bateria, ou qualquer outra coisa.
Foi por causa de uma queixa destas que ele me ofereceu este. E foi o mais próximo que alguma vez consegui chegar de um arco-íris.
Entretanto... também já deixei de correr atrás deles.

E isto tudo porquê? Porque já vou no segundo pacote de lenços de papel do dia. É que ontem vi um, lindo de morrer, e mesmo que não tivesse corrido atrás dele, deixei-me ficar à chuva uma infinidade de tempo só a adorá-lo. E não me arrependo nada!

domingo, 25 de março de 2007

"Interlúdio # 2", ou "Jet lag"

Fui profundamente atacada por uma coisa com todos os síntomas do jet lag. Todos, todos.
Existe o pequeno pormenor de não ter feito nenhuma viagem, ou de ter feito uma, mas apenas com uns 15kms, o que, manifestamente, não é suficiente para ser causa do tal problema.
A culpa é da mudança da hora.
Eu ando sempre atrasada... e ainda me "roubam" uma hora?!
Pode parecer pouco, mas é o suficiente para causar grandes disturbios. E hoje é Domingo, dia (quase) sem horários. Amanhã vai ser um dia lindo! Estou mesmo ansiosa!

Eu sei que, dizem os médicos, o nosso organismo demora um dia a recuperar uma hora de diferença de fuso horário. Mas então terei de concluir que eu sou especial.
Demoro 0 (zero) dias a recuperar, uma, duas, três ou mais horas, desde que sejam no sentido de as atrasar.
Demoro, pelo menos, uma semana a recuperar de uma hora, se for para adiantar. (Ah, e fico todos estes meses a sonhar com a próxima mudança de hora.)

Isto hoje está a correr tão bem, mas mesmo tão bem, que mais vale rir!

E agora vou voltar ali, uns setecentos anos atrás, que é onde tenho de estar por agora.

quinta-feira, 22 de março de 2007

Interlúdio

(o primeiro desta etapa. não se fez esperar muito. imagino que outros se sigam. gostava que fossem mais agradáveis e breves. se for possível, claro!)

As amigas são uma coisa fantástica!
São! São mesmo! Se calhar são mesmo a coisa mais importante que temos na vida (exequo com outras coisas, claro!)!
Juro que não estou a ser irónica! Podia discorrer acerca da amizade entre as mulheres, da cumplicidade, da protecção que procuramos dar umas às outras, das tentativas tantas vezes tão desesperadas quanto frustadas de tentar que ela, aquela nossa amiga, não se magoe. Podia falar da forma como sentimos em nós mesmas as dores das nossas amigas, muitas vezes por antecipação. Podia falar de tantas coisas, se não estivesse com tanta falta de tempo...

Mas às vezes também erramos. Às vezes esquecemos aquilo que os pais costumam esquecer em relação ao filhos e que é, se calhar, a mais difícil das lições. Às vezes esquecemos que ninguém pode viver a vida de ninguém, que a vida é um caminho que se aprende a fazer errando, e que os nossos erros não podem servir para evitar os erros das pessoas que nos são queridas.
Às vezes esquecemos que cabe a cada pessoa decidir em quem confia, se confia, se perdoa, se há mesmo alguma coisa a perdoar, e se aceita. Às vezes esquecemos que essa decisão está dentro de cada uma de nós e que é tão forte que nem quem a toma lhe pode chamar sua.
Às vezes, na ânsia de proteger uma amiga de quem gostamos muito, precipitamo-nos e julgamos outras pessoas e/ou situações com demasiada superficialidade, com demasiada inflexibilidade, com demasiados erros, em suma.

Às vezes é assim, sabias, amiga? Eu também só percebi isto há muito pouco tempo.
Há decisões que são minhas.
Espantam-te?! Eu sei. Também me surpreenderam. Se calhar cresci. Aprendi que existem muitas realidades e não apenas aquela que os meus olhos criam, que há as dos outros, com outra forma de ver as coisas, com reacções diferentes, com manifestações diferentes. Tão diferentes...
Há decisões dessas que são muito minhas porque tinha de ser assim, porque não podiam ser outras. Dessas que são tão nossas que são decisões que não decidimos, são decisões que nascem dentro de nós.
Se gostava que as coisas fossem diferentes?! Sabes que sim! Quem não gostaria?! Eu então... tu sabes!...

Ninguém pode criar atalhos no caminho de ninguém, e muito menos alterá-lo.
Eu vejo; eu sei o que tenho à frente, amiga. Sim, gostava de ter a certeza que o oásis lindo que me mostraram não é afinal uma miragem e de que no seu lugar não existe mais do que um charco de água turva onde, afinal, bebem todos os camelos de todas as caravanas. E não te vou dizer que é o que sonhei, o que gostaria ou até - e não vou ser imodesta - que é o que acho justo ou o que julgo que merecia. Um bocadinho de paz e de segurança já seriam bem vindas. Um bocadinho... Acho que não estou a pedir muito. Sabes que a ambição nunca foi o meu forte e, ainda assim, em algumas ocasiões nem sempre me limito à tristeza. Às vezes sinto revolta, sinto que a vida não é justa com todas as pessoas, ou que nem sempre é justa. Claro que... também há dias iluminados, em que juraria que o tal oásis existe, lá à frente.
Mas as curvas, ou mesmo as inversões de marcha, terão sempre de ser decididas por mim. Aliás, como contigo, na tua vida. E, da mesma forma, e por ser tua amiga, não vou pressionar-te para seguires seja que direcção for, porque sei que seguirás naquela que alguma coisa dentro de ti - mas só dentro de ti! - te mandar.
Sabes que a S. diria que é o que está escrito nas estrelas... eu, ainda gosto de pensar que posso ser eu a escolher, em cada momento, se sigo ou se viro as costas. Acho que é a única decisão que, verdadeiramente, tenho. Tal como tu, na tua vida.
E essa decisão é inalianável. É minha, muito minha, amiga. Tão minha que nem é decisão.

Esclarecimento: resumidamente a questão é a seguinte: uma amiga, zelosa, presume com base em indícios superficiais que alguém com quem a outra amiga (eu) se relaciona pode não ser o tipo de pessoa que ela acha que deviam ser as pessoas que se realacionam com a sua amiga (eu).

Acontece que eu, por razões óbvias, sei melhor com quem trato do que ela, que nem sequer conhece pessoa de quem está a falar.

Se escrevi isto, foi para tentar tornar inteligível a ela, a talvez a mim também, que as decisões sobre quem, e como, aceitamos na nossa vida são exclusivamente nossas. Até porque isto é já uma situação repetida. Tão simples quanto isto.

Mas sim, sei que a intenção é boa. E até sei que, no lugar dela, provávelmente, teria feito o mesmo. (eu é que, a esta hora, já acho que não devia ter escrito isto, mas agora... já está)

quarta-feira, 21 de março de 2007

Capitulo 7


Há uns anos disseram-me que escrever uma tese era muito mais do que um trabalho académico, mais do que qualquer outro trabalho, que não se assemelhava à escrita de um livro, que era uma coisa muito mais exigente, desgastante, totalitária, que não se limitava a querer tomar preponderância na nossa vida, que se alimenta de nós. Disseram-me que era uma experiência violenta, e que esse era o motivo porque a maioria desistia.

Eu não entendi. Achei que era puro exagero.
Era um trabalho como os outros, que não me custavam fazer. Maior, só isso. Iria consumir mais tempo, mais trabalho também. Mas mais nada.
E continuava a não perceber porquê que tanta gente desistia.

Hoje sei que é isso tudo.
Não sei porquê que é assim. Mas sei que é assim.
Vi muita gente ficar pelo caminho (a maioria). Senti muitas coisas que nunca tinha sentido. Mas eu não quero desistir.

Fazer uma tese é difícil.
O esforço, a concentração, os momentos de cansaço e de solidão que provoca são de uma violência que não conhecia antes...
Escrever uma tese, de facto, não se assemelha a escrever nenhuma outra coisa.
Escrever uma tese é fazer um mergulho longo e profundo (quase) sózinhos. É entrar num mundo diferente, onde vivemos sem mais ninguém.
Escrever uma tese dá-nos também a percepção exacta do valor de uma ajuda, de uma palavra na altura certa, das pessoas de quem gostamos mesmo, mesmo de verdade...

Entrei em contagem decrescente.
O tempo agora, não passa, corre!
Há datas finais que se aproximam galopantes.
Há muita coisa ainda por fazer, e ajustes na gestão do tempo que se impõem.

Este blog, vai ficar mais parado.
As visitas às pessoas do costume, mais silênciosas.
Foi aqui que respirei muitas vezes, entre uma ficha de leitura, e revisão de um documento, a escrita de mais umas linhas de um capítulo. Foi aqui que encontrei a companhia na dose exacta que me fazia falta.
Não fosse o conservadorismo do juri das provas académicas e, nos agradecimentos da praxe, teria de destacar o apoio que me tem vindo daqui.

Vou entrar num momento mais silencioso, mas em paz. Tenho uma tarefa que, de algum modo me esmaga, mas sinto-me bem.
Sei que durante este tempo, não muito longo, mas muito intenso, vou fraquejar algumas vezes. É de praxe! Acontece a toda a gente!
Mas agora, resta-me respirar fundo e, finalmente, escrever o último capítulo.

segunda-feira, 19 de março de 2007

O topo do mundo





Naquele dia, o topo de mundo, era aqui. Do meu mundo.
Porque tudo o que via estava lá em baixo, porque o céu estava ali, tão perto que juraria que se levantasse o braço lhe tocaria com a mão e lhe faria cócegas.
Porque me cansei, e cheguei ofegante lá acima e tive a sensação de que não precisava de subir mais nada.
Porque a vista se espraiava por quilómetros a perder de vista, por serras, por castelos no cimo de serras.
Naquele dia o topo do mundo era ali, independemente do que vinha nos atlas.
Às vezes, contentamo-nos com tão pouco. E eu contentava-me com aquela sensação de espaço, de paz e de liberdade.
Contentava-me. Que não é o mesmo que dizer que não lhe teria acrescentado nada. Eu não disse que era perfeito. Mas pelo menos nesse dia, no Sábado da outra semana, não pensei na tese.

domingo, 18 de março de 2007

Post só para mulheres!

É fantástico o efeito que uma comédia romântica- quanto mais pirosa e absurda melhor!! - vista sentada nas almofadas, de pernas dobradas, e acompanhada de uma grande quantidade de um doce que trouxeram cá para casa, que tinha bolachas (embebidas em café, de certeza) e natas (muitas), a que eu resolvi acrescentar nozes e, portanto, muito doce e muito calórico, pode ter numa mulher.

Claro que, pelo que percebi nos últimos tempos, os homens fogem de comédias românticas como... - sei lá! - , um gato à frente de um cão. Para eles é, qualquer coisa menos isso! Donde, nem será bom eles saberem que estas coisas têm este efeito em nós, até porque, em bom juízo,... eu também não percebo como é que tal coisa nos faz bem. Mas faz!

Nunca


Se houve coisa que aprendi com o blog foi a não dizer nunca. Palavra demasiado absoluta, que exclui demasiadas coisas, que não admite as variantes que o tempo, as cirscunstâncias, as experiências e, sobretudo, as pessoas trazem para as nossas vidas.
Mas também não posso garantir que não direi, nunca, nunca.

Pois agora digo.
Eu nunca senti tanta falta das coisas normais da vida. Nunca senti tanta falta de apanhar Sol, de sair para a rua, até de ter tempo para arrumar gavetas ou fazer limpezas. Nunca senti tanto a falta de poder ter um fim-de-semana como as outras pessoas, nunca senti tanta falta de ter um horário (meramente indicativo).
Nunca senti tanto a falta de estar com os amigos. Nunca senti tantas saudades de pessoas, nunca senti tanto a falta.
Nunca senti tanto a falta de sentir a areia, de respirar o ar com cheiro a mar, de me sentar na areia e não ter pressas.
Nunca senti tanto a falta de uma esplanada, de risos, e de conversa solta.
Nunca senti tanto a falta de gente viva, que estes, mortos há séculos, não me podem dar tudo.
Nunca senti tanto a falta de me sentir leve, de não me sentir esmagada por prazos, por objectivos, por...
Nunca senti tanto a falta de um entardecer tranquilo, ao ar livre.
Nunca senti tanto a falta das pessoas e da vida...
Nunca!

sexta-feira, 16 de março de 2007

Zapping

Ao passar os olhos pela Vogue (que não é, de todo, o meu género de resvista), vi este artigo.
Parece-me que não sou só eu que me rendo.

A Carla Bruni tem um novo album, e chama-se No promisses.
Parece que continua a ser tão intimista quanto um Come, let me sing into your ear, sugere.
Pode continuar a cantar-nos ao ouvido, pode continuar a procurar o caminho para o nosso coração, mas não o encontra tão fácilmente, porque desta vez canta em inglês, o que, neste caso específico, lhe tira parte da doçura que tinha.
Porque um good night não é, definitivamente, o mesmo que um bonne nuit.

Sim, estou um nadinha menos "de Primavera", porque o cansaço pesa. E sim, fico mais pieguita e a sonhar com a caminha (a uma hora destas!).

quinta-feira, 15 de março de 2007

Poesia

Almocei na varanda.
Com tempo, com silêncio, com a casa só para mim. Com o jardim aos pés, com a vista nas vinhas, no pomar, na mata, no rio lá em baixo...
Recosto-me na cadeira, deixo-me descair um bocadinho e deixo-me estar assim, só com o som de um melro a cantar e dos outros passarinhos que andavam de árvore em árvore.
Enrolo preguiçosamente a ponta do cabelo no dedo, sinto a calor do Sol e o ar morno tão envolvente. Fecho os olhos devagarinho, só na esperança de que o tempo passe devagarinho, muito devagarinho...
Passo a mão pelo pescoço e respiro fundo.
Uma borboleta branca vem pousar na outra mão. Suspendo os movimentos para não a assustar e poder prolongar aquele momento.
Depois ela voa até às sardinheiras.

Olho para o pilar e penso: (as juntas entre as pedras já estão a precisar de ser pintadas outra vez. é que é sempre o mesmo. e o tecto do terraço a mesma coisa. nunca mais resolvem o problema do escoamento da água da chuva lá em cima e depois é isto. e o portão do páteo lá de dentro também já precisava... está a começar a descascar. e convém ser antes do verão. se calhar até há tintas que sobraram, lá na garagem. aquela garagem está uma confusão! tanta tralha lá dentro! por mim, metade daquilo ia para o lixo! com os dias assim, até já dava para caiar os muros e os poços. devia telefonar porque demoram sempre tanto até virem! será que se importavam de deixar cá mais um cavalete?! é que me dava mesmo jeito outro..., para pôr os arreios da c. [da égua], mas se lhes vou cravar um cavalete de cada vez que cá vêem... coitados! e a esquina da portada da sala também precisa de ser arranjada! aquele cão só faz estragos...!)

E não podia ter encontrado um remate mais poético para um almoço tão perfeito!

quarta-feira, 14 de março de 2007

Dias de Primavera


O que eu gosto destes dias de Primavera...!
Dos dias de Primavera lá de fora e dos de cá de dentro. Mais ainda dos de cá de dentro. Muito de dentro.

terça-feira, 13 de março de 2007

Pensei...

Pensei muitas coisas neste fim-de-semana. Neste fim-de-semana e até hoje. Até agora.
Não cheguei a evidência nenhuma, ao contrário do que julgava que ia acontecer. Mas cansei-me de pensar. Pelo menos de pensar nisto, porque afinal tenho tantas coisas em que pensar, e pensar nesta não me estava a levar a lugar nenhum.

Pronto. Admito. É verdade. Não estou com grande capacidade para pensar no que quer que seja, donde... é melhor aliviar a carga e não pensar, no que se mostrar sem resultados.

Mas depois de pensar, cheguei a uma conclusão. Uma conclusão pequenina, parcial, e não uma resposta reluzente de clarividência como achei que teria. Cheguei à conclusão de que eu tenho de dar importância é a mim (uma pitada de egocêntrismo, uma pitada terapeutica, não faz mal a ninguém), e às pessoas que merecem, e que são tantas.

Quero lá saber!
Não vou deixar de fazer o que quer que seja, por umas três ou quatro pessoas, que não merecem mais do que as ignore. Não lhes vou dar mais importância do que a um bom punhado de pessoas de quem gosto, e outras que não conheço, mas que acredito serem pessoas integras e com boa natureza.
Não vou mudar uma palha. O blog continua como está.

E como diz alguém que me é muito querida: siga para bingo!

sábado, 10 de março de 2007

Privado

Acordar a pensar nisto... tem o seu quê de estranho, admito. Mas dizem que a almofada é boa conselheira.
Também admito que, se é boa conselheira, se calhar estive tempo a menos na sua companhia. Mas, ainda assim...

Este blog sou eu.
Já disse mais do que uma vez que, no começo, só queria escrever à vontade. Não disse a ninguém que o tinha, e ainda que usasse o meu nome próprio, o apelido é o de uma Avó antiga (a Avó pela qual me deram por nome Margarida). Já disse que o usei para me proteger dos olhos de alguns. Foi por questões de defesa e por questões afectivas.
Já disse que no início, não imaginava que o blog teria o efeito que teve, não imaginei que através dele chegassem pessoas à minha vida, mas foi assim.

Depois, acabei por contar a uma amiga que, muito mais tarde, contou a um amigo. A coisa fica por aqui. Dos meus amigos lá de fora, dos laços que não foram nascidos a partir daqui, ninguém mais o conhece, e assim deve ficar. Imagino.

Algumas (muitas?) vezes, ponderei acabar com ele. Se soubesse como gravá-lo, já o teria apagado por alturas do Verão. Apagar e ficar sem ele, sem a minha vida ao longo destes anos, sem as pessoas que foram chegando e que ganharam lugar nela, sem essas pessoas com quem acabamos por dividir quase o dia-a-dia, ainda que filtrado por um monitor(sim, como no mundo lá fora, também há a quem eu gostasse de aplicar a tecla delete), não fui capaz.
E como não sei gravá-lo, fui andando assim.

As razões que me moviam nessa altura, não são exactamente as mesmas que me movem agora. Mas são razões, never the less.

Muitas vezes apetece-me gritar, às vezes chorar até soluçar, atirar coisas ao chão, outras suspirar e sorrir como uma tola, dar saltinhos de bailarina como em criança. E não o faço; sinto que já não o posso fazer aqui. Não assim.
Há coisas que não conto, há fotografias que não mostro, há sentimentos que escondo, há outros que disfarço, há...
E eu quero poder respirar através deste blog.

Existe um contador neste blog. Instalei-o pricipalmente para ver se era capaz de o fazer (para quem não percebe nada de computadores, coisinhas destas são conquistas). O aumento de visitantes nunca foi um objectivo e, consequentemente, a sua contagem também não se revelava de particular interesse.
Depois disso, de instalado, esqueço-me dele. Em boa verdade, também não sei lê-lo, donde ele se revela completamente dispensável. Mas sei que, de longe a longe, acabo por lhe dar uma espreitadela e consigo perceber - isso ainda consigo- que o número de visitantes é superior ao número de comentários.

Coisa perfeitamente natural! Não há qualquer tipo de obrigação de comentar!
Quem não tem nada para dizer, não tem nada para dizer. Lê para espraiar os olhos, lê por acaso, por acidente... ou até lê de vez em quando, simplesmente porque sim, e não comenta porque não sente vontade ou acha que não tem o que dizer.
Cheguei a sentir muita curiosidade acerca destas pessoas, alguma inquietação até. Nem todos serão olhos amigos, a vida é igual em todo o lado, o mundo dos blogues é feito de pessoas, e as pessoas há-as de todos os tipos, aqui como lá fora.
Houve alturas em que senti mesmo algum medo.

Hoje, curiosamente, são essas pessoas uma das razões porque me custa tornar o blog privado.
Às outras, àquelas que têm blogues, àquelas que, de entre essas, eu quiser que possam continuar a acompanhar-me, sempre tenho forma de lhes enviar a autorização para acederem ao blogue. Às outras... não. E custa-me, pois. Sei lá quem está do outro lado?! Sei lá quem ficará para sempre do outro lado?! Sei lá quantas dessas pessoas eu gostava de deixar entrar?!

Depois, também acho contraditório fechar um blogue. É contrário à sua essência de espaço aberto, amplo, livre, tão extenso quanto o mundo, onde qualquer um de nós pode chegar.
Acho quase uma traição e eu sou particularmente sensível a traições.
Não é que não compreenda as pessoas que tornam os seus blogs privados (mais ainda aqueles de crianças, com muitas fotografias); se não entendesse, não teria chegado a este ponto eu própria.
E mais uma vez se conclui que os blogues são como tudo o resto nas nossas vidas: nunca nada é exactamente como sonhamos, é como pode ser, é o melhor possível, é o mal menor, é... assim.

Não é ainda uma decisão absolutamente firme (talvez o dia de Sol, o jantar em Coimbra... talvez ainda algumas coisas pequeninas me façam mudar de ideias. e eu, por um lado - um lado bem escondido - gostava que sim, gostava que eu me convencesse a mim própria de que eu mesma não tenho motivo), mas é uma convicção.
Custa-me. Por tudo o que já disse, e porque não é livre quem se fecha com uma porta blindada, mas sim quem não tem necessidade de porta. Nem livre, nem feliz...

sexta-feira, 9 de março de 2007

Ar, água, Sol...


Dêem-me ar morno, Sol brilhante, água azul, de mar ou de rio.
Dêem-me espaço e capacidade de contrariar rotinas muito opressoras.
Dêem-me convites surpresa e de forma a não ter margem para não aceitar.
Dêem-me almoços em que não olho para o relógio.
Dêem-me risos e conversas leves e chá tomado em copos de plástico e com os pés suspensos sobre a água.
Dêem-me gaivotas a voar para Norte e cardumes de tainhas a saltar no rio.
Dêem-me o vento na cabelo e os pescadores a sair para a faina.
Dêem-me dias como o de hoje, de vez em quando.

Saudades


Tenho muitas saudades. Muitas saudades de mim, muitas saudades de há um ano, ou muitas saudades de mim há um ano.

E se tenho muitas saudades é porque estou muito longe, só isso. É porque aconteceram muitas coisas durante este ano. Porque as mudanças, sobretudo as internas, foram imensas.

Não queria voltar um ano para trás, mas...

Assusta-me a diferença entre uma data e outra. Assusta-me tanto que tremo.

Estou mesmo muito cansada e isso, reconhecidamente, aumenta a sensibilidade.

quinta-feira, 8 de março de 2007

É sempre a mesma coisa!

Não, não vi coisa nenhuma na televisão. Mas, se calhar, não perdi nada.
Não, não me deitei cedo. Aliás, estou perfeitamente desperta.
Não, não tenho o computador desligado (o que é óbvio).

Apagar, até apaguei. Apaguei o computador e desci. E instalei-me na sala e pus um DVD, mas o telefone tocou, e pronto. Nem televisão , nem filme.
Quase uma hora de conversa, e toca de subir para ver uma coisa que me mandaram por mail, apontar os erros e mandar de volta. E não, não era nada para mim, mas também não é isso que faz mal.

É que é sempre a mesma coisa!
Sempre que digo, ou que penso, que vou fazer isto ou aquilo... não faço. A forma mais segura de ter a certeza de que não vou fazer alguma coisa é planeá-la e dizê-lo. É certinho!
Quando não quiser que alguma coisa aconteça, chego aqui e digo: vou fazer... "wathever". E estou garantida!

quarta-feira, 7 de março de 2007

Ordem

Fiz o meu jantar. Esparguete à bolonhesa, que sou eu a única a gostar de massa e já que não há mais ninguém em casa...
Para mais faz-se num instante.

Enquanto estava ao lume, acendo a lareira e ponho a mesa, i.e., ponho um individual, um prato, um copo, o talher e o jarro da água.

Como uma quantidade apreciável de massa e duas peras enquanto vou vendo as notícias. Hoje jantei decentemente.
Já quase nem me lembro do que é uma televisão.

Levanto-me, levo tudo para a cozinha e arrumo-a num instantinho.
Faço um capuccino (com leite em vez de ser com água. mania minha!), levo-o para a sala e bebo devagarinho sentada com as pernas cruzadas e descalça em cima das almofadas do canapé da sala, só com a luz do lume da lareira e com a televisão baixinha.

Volto à cozinha e lavo e arrumo a caneca e a cafeteira. É curioso o prazer que estas coisas domésticas nos dão, quando estamos mergulhados noutro tipo de tarefas.

Parece que vai dar uma gala sobre as 7 maravilhas na TVI e acho que me apetece ver. Ou se calhar até não. Hoje, acho que faço um intervalo. Tenho que garantir um mínimo de sanidade mental. Acho também que vou deitar-me cedo (eu sei que digo sempre isto. mas acho...).

Gosto tanto da calma da casa sem ninguém. Gosto, gosto muito.
Uma das razões porque me apetece mudar de casa até é para poder mais livremente, ter a casa com amigos para jantares, e serões... mas também gosto dela assim, silênciosa, calma, convidativa, aconchegante.

Vou descer, e apagar o computador.

terça-feira, 6 de março de 2007

For certain

Há coisas simples que, em certos contextos, numa fracção de segundo, derrubam ideias, pré-concebidas, que nos acompanharam como dados adquiridos, a vida toda.

Em boa verdade, nem tudo, tudo nesta tese que me massacra tem sido feito só por mim. Há coisas que não domino, coisas que não têm, directamente, a ver com o tema estudado mas, ainda assim, coisas indispensáveis para a apresentação das conclusões.

Essa ajuda não tem preço. Há coisas precisas, que quando feitas em momentos chave, têm um efeito gigantesco. É o caso desta ajuda.
É, ainda mais, quando essa ajuda vem numa noite em que estava a sentir-me a chegar ao limite da resistência, e me manda dormir enquanto faz o meu trabalho.
É, ainda mais, quando mais do que uma ajuda numa tarefa, assume mesmo a responsabilidade por esse assunto e me tira uma preocupação.
É, ainda mais, quando adivinhando a alimentação irregular e inadequada, me chama a atenção para isso.
É, ainda mais, quando eu digo que também não o quero sobrecarregar, porque também tem as coisas dele, e me responde que nós, mulheres, somos físicamente mais frágeis, que pode porque os homens são assim mais abrutalhados.

Abrutalhados?! São?!?!
Achava que eram. Toda a gente diz, crescemos a ouvir isso, nunca sequer me interroguei acerca dessa certeza, sempre me pareceu que sim...
Achava que sim... até hoje. Só até hoje.

segunda-feira, 5 de março de 2007

Proporção

Tempero a ansiedade da aproximação do fim do prazo, o desespero do cansaço, a desgaste do sono contrariado, as dúvidas que não têm tempo de ser esclarecidas, as imperfeições que não podem ser eliminadas, o plano que não consigo cumprir, a insegurança crescente e a tensão de todas estas coisas.

Tempero-as com sentimentos que não são avassaladores, totalitários, ofuscantes, mas que se descobrem mansos, mornos, envolventes, suaves. Suaves e seguros.
Tempero-as com sentimentos que se descobrem assim, e que se percebe que não se querem mudar. E essa paz, feita de coisas pequeninas e discretas, mas presentes, basta-me. Essa paz em que me aninho, basta-me para me equilibrar.
Por mais contraditório que possa parecer.

Breves

Passei o fim-de-semana a desejar que o tempo passasse depressa, para que a segunda-feira chegasse. E passei-o assim porque tive de trabalhar e me custou muito. Porque estava muito cansada e porque - achava eu - o peso psicológico de estar a trabalhar a um fim-de-semana, como se de dias de semana se tratassem, estaria a fazer-se sentir.

Achava que chegada a segunda-feira alguma coisa mudaria.
Era o primeiro dia útil da semana, era um começo, era o dia em que toda a gente volta a trabalhar, era normal trabalhar, devia ser fácil recuperar o ritmo, a coragem, a productividade, e até a lucidez, que rareou no Sábado e no Domingo.
Nada disso! O cansaço pesa. Ao mesmo tempo, esmaga e impacienta. Pesa demasiado.

E alguma coisa mudou: estamos a dia 5.
E o prazo esta já tão curto...

A par disto, deram-me oito - sim, oito! - DVDs. Eu não sei que tipo de amigos tenho. Eu nem tenho tempo para dormir...

quinta-feira, 1 de março de 2007

O meu afecto pequenino

Eu tenho um afecto. Um afecto pequenino e frágil, que cabe nas minhas mãos. E eu gosto dele.
Eu gosto desse afecto. Sim, do afecto. É mesmo dele que estou a falar; dele, desse sentimento que se chama afecto; deste afecto específico.

Não o escolhi, nem o criei. Foi-me posto no colo. Quando reparei, ele existia e estava comigo.
Também era pequenino, quando o vi no meu colo. Depois cresceu. Cresceu com os dias maiores, o Sol, o mar. Tornou-se maior e mais robusto. Corria e saltava, ria alto e não se cansava.
Cuidei dele, sim. Com desvelo, é verdade.

Cresceu ainda mais um bocadinho com os dias mais frescos.
Continuava comigo, grande, forte, barulhento até. Birrento, às vezes. Chorão, outras ainda. Mas depois ria outra vez, puxava-me e eu olhava para ele e ria também. Andava comigo, sempre.

Achava que podia largá-lo da mão de vez em quando, que era saudável e forte, que podia não olhar sempre para ele.
Cheguei a maldizer ter permitido que mo tivessem deixado no colo. Era exigente e omnipresente, estava grande, pesado. Demasiado para as minhas capacidades.
Tive até vontade que fosse embora, de não o ver mais. Mas sentia que não iria nunca, e no fundo, nenhuma outra certeza me era mais agradável.

Achei que não precisava dos meus cuidados. Que estaria sempre aqui, para o bem e para o mal. Que nada o mataria.

Deixei de o ouvir tanto. Deixou de ser tão exigente, deixou de chorar, mas também deixou de rir e de saltitar. E eu nem dei por isso.
Hoje acordei a sentir-lhe a falta. Olhei e surpreendi-me por o ver tão pequenino, tão frágil. Tão pequenino que me cabe nas mãos. Tão frágil como nunca tinha sido.

Não sabia que ele podia morrer e fiquei de coração apertado e as lágrimas a ameaçar saltar por ver que sim, que estava a desaparecer. E percebi que não queria, mas que era eu que estava a matá-lo. Que tinha deixado de o alimentar, de lhe dar atenção, de o trazer agarrado a mim. Fui eu, desta vez. Afinal fui eu. Fui eu.

Não sabia que gostava tanto desse afecto. Sim do afecto mesmo. É do afecto, em si mesmo, que eu gosto. E não sei se consigo voltar a alimentá-lo, não sei se consigo, não sei se ainda o sei fazer, não sei se vou a tempo, não sei se ele resiste.

Não morras! Não morras meu afecto pequenino!

Nota: eu sei que o texto é, razoávelmente, incompreensível. também, fui suficientemente egoísta para escrevê-lo a pensar apenas em mim, no que estava a sentir, numa coisa nova que não conhecia.

por mais estranho que possa parecer, trata-se exactamente do que está escrito. porque uma coisa é gostarmos de uma pessoa, e outra, que não inclui nem exclui a anterior, é gostarmos do que sentimos por uma pessoa. esse afecto a esse sentimento, nasceu pequenino como todos, cresceu, tornou-se até incómodo, muitas vezes, mas agora está pequenino e frágil. e eu percebi isso agora, percebi a distinção entre as duas coisas e percebi que não queria que esse afecto morresse.

confuso na mesma, eu sei...

Sete

Fui intimada pela Vilma e pela Gralha para responder a umas perguntinhas.
Ora, esta hora parece-me tão boa como qualquer outra, para o fazer.

7 coisas que fazes com gosto:
- ler
- serões longos, com almofadas, lareira e chá quente, ou noites mornas, estreladas e com chá gelado
- montar a cavalo, de preferência fora de picadeiros
- pequenos-almoços demorados
- viajar
- estar ao ar livre, passeios sem pressa no campo e/ou na praia, sem horários nem obrigações e, sobretudo, banhos de mar ao anoitecer
- estar com as pessoas de quem gosto, mas isto é estupidamente óbvio

7 coisas que não podes ou não sabes fazer
- desenvolver um mínimo de capacidade de síntese
- disfarçar sentimentos
- acordar cedo sem sacrifício
- evitar desiludir-me com algumas pessoas
- calar-me, se me desafiarem
- contas de dividir com muitos algarismos e vírgulas
- em 90% dos casos, chegar ao fim do dia tendo feito tudo o que tinha planeado, incluindo deitar-me cedo

7 coisas que te atraem no sexo oposto
- a capacidade [rara, muito rara] de me inspirarem confiança
- a capacidade de compreensão, de me compreenderem a mim, claro
- a boa disposição
- a inteligência
- o sentido de protecção
- a constância
- as mãos

7 coisas que tu dizes
- A sério?!, quando me custa acreditar no que me dizem
- Achas?!, quando me custa acreditar que acreditem no que lhes dizem
- Está quieta/calada!, para a minha cadela
- Já vou...!, com vontade de dizer Não vou tão cedo
- Não posso!, a quase todos os convites que me fazem nesta fase da tese
- Minha lindinha..., em tom embevecido, para a minha égua, que é enorme, enquanto lhe faço festas
- Logo se vê!, esta foi adquirida involuntáriamente, por contágio, e ainda que já tenha sido mais frequente, continua a dar um jeitão

7 pessoas para celebridades
- D. Afonso Henriques
- Madre Teresa de Calcutá
- William Wallace
- Camões
- Vasco da Gama
- Joana d´Arc
- Santa Margarida, a da Escócia
felizmente já são todos celebridades.

As sete pessoas a quem passo... ficam por dizer, que uma das coisas que não consigo deixar de fazer, é não passar estas coisas a ninguém. O que não quer dizer que não gostasse, e muito, de conhecer as respostas de muito boa gente.