quinta-feira, 1 de março de 2007

O meu afecto pequenino

Eu tenho um afecto. Um afecto pequenino e frágil, que cabe nas minhas mãos. E eu gosto dele.
Eu gosto desse afecto. Sim, do afecto. É mesmo dele que estou a falar; dele, desse sentimento que se chama afecto; deste afecto específico.

Não o escolhi, nem o criei. Foi-me posto no colo. Quando reparei, ele existia e estava comigo.
Também era pequenino, quando o vi no meu colo. Depois cresceu. Cresceu com os dias maiores, o Sol, o mar. Tornou-se maior e mais robusto. Corria e saltava, ria alto e não se cansava.
Cuidei dele, sim. Com desvelo, é verdade.

Cresceu ainda mais um bocadinho com os dias mais frescos.
Continuava comigo, grande, forte, barulhento até. Birrento, às vezes. Chorão, outras ainda. Mas depois ria outra vez, puxava-me e eu olhava para ele e ria também. Andava comigo, sempre.

Achava que podia largá-lo da mão de vez em quando, que era saudável e forte, que podia não olhar sempre para ele.
Cheguei a maldizer ter permitido que mo tivessem deixado no colo. Era exigente e omnipresente, estava grande, pesado. Demasiado para as minhas capacidades.
Tive até vontade que fosse embora, de não o ver mais. Mas sentia que não iria nunca, e no fundo, nenhuma outra certeza me era mais agradável.

Achei que não precisava dos meus cuidados. Que estaria sempre aqui, para o bem e para o mal. Que nada o mataria.

Deixei de o ouvir tanto. Deixou de ser tão exigente, deixou de chorar, mas também deixou de rir e de saltitar. E eu nem dei por isso.
Hoje acordei a sentir-lhe a falta. Olhei e surpreendi-me por o ver tão pequenino, tão frágil. Tão pequenino que me cabe nas mãos. Tão frágil como nunca tinha sido.

Não sabia que ele podia morrer e fiquei de coração apertado e as lágrimas a ameaçar saltar por ver que sim, que estava a desaparecer. E percebi que não queria, mas que era eu que estava a matá-lo. Que tinha deixado de o alimentar, de lhe dar atenção, de o trazer agarrado a mim. Fui eu, desta vez. Afinal fui eu. Fui eu.

Não sabia que gostava tanto desse afecto. Sim do afecto mesmo. É do afecto, em si mesmo, que eu gosto. E não sei se consigo voltar a alimentá-lo, não sei se consigo, não sei se ainda o sei fazer, não sei se vou a tempo, não sei se ele resiste.

Não morras! Não morras meu afecto pequenino!

Nota: eu sei que o texto é, razoávelmente, incompreensível. também, fui suficientemente egoísta para escrevê-lo a pensar apenas em mim, no que estava a sentir, numa coisa nova que não conhecia.

por mais estranho que possa parecer, trata-se exactamente do que está escrito. porque uma coisa é gostarmos de uma pessoa, e outra, que não inclui nem exclui a anterior, é gostarmos do que sentimos por uma pessoa. esse afecto a esse sentimento, nasceu pequenino como todos, cresceu, tornou-se até incómodo, muitas vezes, mas agora está pequenino e frágil. e eu percebi isso agora, percebi a distinção entre as duas coisas e percebi que não queria que esse afecto morresse.

confuso na mesma, eu sei...

20 comentários:

CGM disse...

Não sei se te percebo.

Beijinhos

Os afectos pequeninos às vezes são os maiores.

mixtu disse...

afectos... e como não é necessário que sejam grandes, pequenos pormenores...

com afecto, besitos :)

Dulce disse...

Olha a ovelha do principezinho! Na caneca de chá, no colo!... :)

gralha disse...

Pode ser pequenino e frágil mas, ainda assim, resistente. Alimenta-o, qualquer afecto vale a pena o investimento.
Beijinhos e bom fim-de-semana :)

Anónimo disse...

?????(Quando é que nos vemos, nunca mais chega Abril)

Piquinota disse...

Os afectos pequeninos alimentam os afectos que pensamos ser grandes! são os pequeninos que primeiro descuramos, e não devíamos!


Jinhos

Maria Liberdade disse...

Gostei muito do teu texto. E percebi-te muito bem. Acho... Por vezes gostamos de gostar de alguem. Por vezes percebemos que temos necessidade desse sentimentoe que a pessoa de que gostamos sequer é a pessoa quem dirigimos o afecto.

Margarida Atheling disse...

Carla: eu sei. está muito confuso. é confuso. estou a falar do afecto que tenho por um sentimento, este sim, por uma pessoa. mas é mesmo do afecto por um sentimento e não por uma pessoa que estou a falar.
mas acho que até percebeste porque é assim, os afectos pequeninos às vezes são os maiores.

mixtu: obrigada

dulce: pois, por acaso é. não encerra nenhuma mensagem codificada, mas se quisermos aproveitar, "o essencial é invisível aos olhos".

gralha: ainda, ainda resiste. e não é que não tenha levado muitos pontapés. lá maus tratos não lhe faltaram, de todos os lados. mas estava convencida que nada o mataria.
também percebi que sim, que vale o investimento, eu é que me sinto com pouca capacidade de investir e como me deparei com ele tão enfraquecido... enfim! há-de resistir!

Clara: imagino! mas é mesmo isso.
abril?! pois, pois... ai, se soubesses o que tenho ainda por fazer... a palavra "abril" até me deixa doente! ;)

Piquinota: mas este era grande, tão grande que pensava que sobreviveria a tudo. às vezes até tive vontade que acabasse, mas depois, quando reparei estava assim, pequenino. tao pequenino que é preciso pegar-lhe com cuidado e aconchegá-lo.
esta pequenino, porque foi grande, e eu o descurei, de propósito, sem saber que podia mesmo matá-lo.

Margarida Atheling disse...

Silvia: entendeste, sim. :)

Anónimo disse...

Margarida, percebe-se bem, sim!!! Ao longo da vida deixei, algumas vezes, que magoassem o meu afecto, dividi-o, ou dei-o mesmo, a quem não merecia, ou simplesmente não queria saber dele.
Hoje sinto e sei que o meu está crescido porque, mais que ser eu a cuidar dele, há alguém que me lembrou que ele estava aqui, magoado, mal tratado, a tentar sobreviver e que pegou nele e lhe deu miminhos. E está um belo "moço" o meu afecto!!!

Beijocas

Rita disse...

Não, não é nada confuso.
Entendo-te bem!
Beijos

Xuinha Foguetão disse...

Não achei nada confuso... :)

Espero que ainda vás a tempo.
Se ele é importante...
Às vezes só lhe damos mais importância quando o estamos a perder e vemos a falta que ele nos faz.
Vemos, não... quando sentimos a falta dele.

Um beijo grande

Jolie disse...

Então força, agarra-o e não o deixes partir!

Beijinhos

CGM disse...

Ok, era então o que eu tinha pensado perceber ;)

Bom fim de semana

Ai o principezinho... o meu livro preferido do mundo!

teresa.com disse...

nah, nah, nao esta nada confuso :)

Ana disse...

Por vezes os afectos podem-se tornar exigentes, pesados, mas tambem nos dao alegrias...se nao os alimentamos acabam por morrer...
Beijinhos
Bom fim de semana

Luna disse...

os pequenos ás vezes tornam-se grandes coisas. agarra-te não deixes fugir.
beijocas e bfs
Luna

Luna disse...

os pequenos ás vezes tornam-se grandes coisas. agarra-te não deixes fugir.
beijocas e bfs
Luna

Anónimo disse...

Que é isto, Margarida!?
Entendo as palavras mas não os sentimentos. Faço uma ideia do que estás a falar (e não gosto que seja assim) mas é imaginação como quando vamos ao cinema e nos imaginamos no papel de alguém mas não temos a experiência real. Entraste numa dimensão que não conheço porque se calhar sou mesmo tonta como dizes e não nasci dotada da tua sensibilidade. Não mesmo, tu és muito mais sensível e tens muito mais profundidade mas acho que isso também tem um preço e não sei se é bom para ti. Aquela estória de "felizes os pobres de espirito" deve ser verdade.
Desculpa-me por nem sempre entender o que dizes, por isso e por aquelas outras coisitas que te aborreceram, Gui.

Beijos
Catarina

Um chá amanhã!?

Margarida Atheling disse...

Maçanica: ainda bem! que continue sempre assim, um belo moço! :))

Rita: a mim, pareceu-me um bocadinho confuso. confuso na forma de verbalizar; espantosamente simples de sentir.

Xuinha: e o que é estúpido (mesmo o supra-sumo da estupidez!) é quando somos nós a trabalhar para acabar com uma coisa que nos faz uma falta imensa. por mais que arranjemos justificação nos outros para o fazer. é assim, mais ou menos, como aquela anedota que diz "se morres, eu mato-te, ouviste?!".

Costinhas: eu não quero. já percebi que afinal não quero deixá-lo partir (muito menos fazê-lo partir). o tempo o dirá!

Carla: também me tinha parecido que tinhas entendido.
"O principezinho" deve ser um livro muito apreciado por muita gente... a avaliar pela cobiça à volta da minha caneca nova... ;)

Boleia: para algumas pessoas, parece que não é confuso. se calhar tem a ver com a vivência de cada um.

Ana: às vezes sim. este chegou a pesar-me muito. encontrar um equilibrio é o segredo, mas se é fácil de entender, não é tão fácil de fazer.

Luna: pois. afinal não quero, não. prefiro que fique aqui ao meu colo na mesma. mas mais calminho, se for possível.

Catarina: 2 chás e 2 capuccinos, para mim. 4 cafés e 1 capuccino para ti. tagarelas!
e sim! és tonta mas... ah! ;D