terça-feira, 28 de fevereiro de 2006

Carnaval

Confesso que não gosto muito do Carnaval. Nunca gostei.
Nunca gostei das bombinhas e muito menos da água das pistolas de plástico ou de balões, e pior ainda quando apareciam também uns distribuidores de farinha.
Felizmente no colégio onde andava proibiam todas estas coisas, o que não invalida que no caminho que fazia quando ia até casa dos meus avós não tivesse um ou vários encontros com estas coisas adoráveis. Na [dilatada] época de Carnaval deixei de os visitar; casa-colégio e colégio-casa sempre de carro.

Mas uma amiga, também filha de amigos dos meus pais, faz anos em Feveiro, e quando o dia calha em época de Carnaval a data é sempre comemorada com uma festa de máscaras. Portanto, de vez em quando, lá havia um ano em que eu tinha que ter uma máscara, e uma máscara decente. E, nesses casos, confesso que até era bem divertido.

Há já algum tempo que me escapava destas coisas, mas a M. minha doce priminha/afilhada obrigou a uma cedência.
Essa amiga já fez anos há uns dias, mas tem uma filha pequenina (tão pequenina que nem se apercebe do que se passa à volta dela) que fez anos ontem, e resolveu que hoje haveria festa de Carnaval para os meninos.

Resultado:

1) Cedo e aceito ir para levar a M., já que vieram cá passar estes dias e porque sei bem que as crianças adoram estas coisas.

2) Lá consigo descobrir o último fato usado por mim numa ocasião destas há muuuitos anos que, por um feliz acaso, faz um conjunto perfeito com o da M.

3) Descubro que precisa de uns ajustes, nomeadamente de tapar um bocadinho mais a zona do peito. Apanho menos frio e fica menos ousado.

4) A M. entra no meu quarto a uma hora imprópria para um feriado e salta para cima da minha cama excessivamente entusiasmada e acorda-me.

5) Convenço a E., que felizmente é uma costureira daquelas que quase já não existem, a trabalhar hoje para fazer os ajustes no vestido.

6) A M., com o entusiasmo, não quer almoçar e eu sou obrigada a comer metade da sopa dela.
- Colhé mim; colhé Nhánhá!
Nhánhá sou eu, claro. Percebe-se logo, não é?!

7) A M. não quer dormir a sesta e anda aos saltos e aos gritinhos à minha volta numa tentativa esforçada para me arrancar da frente do computador.

Conclusão:
Posso não gostar do Carnaval, mas gosto muuuuuito desta piolha!

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006

...

Nunca me esqueço do que não faço. É do que não faço, do que deixei por fazer, que me lembro sempre!

Chego a casa, com dores de cabeça, diga-se; largo o saco, tiro o casaco, faço umas festas aos cães, sento-me, abro o computador.
Amanhã volto ao trabalho. Não fiz, nestes dias, aquilo para que tinham sido destinados.
O meu Pai diz muitas vezes aquelas frases; nunca tinha reparado como eram tão verdadeiras...

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006

Capitulo 7

Meia hora antes da hora de abertura dos arquivos onde devia estar a esta hora, estava no ginásio com uma amiga.
Não sou adepta de ginásios, mas rendo-me, e admito que há alturas em que dão muito jeito. Hoje foi um desses dias.

O portátil está arrumadinho dentro da mala desde sexta, e descansa na secretária do quarto, o saco de viagem desceu no Sábado das águas-furtadas e está, ainda vazio em cima da cadeira.
Os horários foram mais do que revistos.
Os mapas e as localizações... não me entendo com eles!!! Mas os taxistas servem para alguma coisa!
A reserva do hotel foi sendo adiada, quase de hora a hora, mas pode muito bem ser feita imediatamente antes de bater a porta de casa.

A tarde de temporal de ontem deu-me uma boa razão para ficar enroscada em casa; na manhã de hoje... também estava muito mau tempo. Ainda está.
Sempre fui bem mais expedita em sair de casa. Muito mais!
Sempre tive ideias muito mais claras, vontades muito mais definidas. Sempre! Muito mais!

Preciso de ir, é imprescindível, tenho umas saudades infinitas destas coisas, gosto mesmo de fazer pesquisas, consegui libertar estes dias, nem sequer tenho que me dar ao trabalho de organizar nada porque o pouco que não sabia resolvi recorrendo à boa vontade de quem conhecia o terreno, e agora...
O método da moeda ao ar parece-me, de longe, o mais adequado.

sábado, 18 de fevereiro de 2006

Imprecisões

Continuam a chegar-me, de vez em quando, presentinhos de aniversário.
E eu que até me esqueço que fiz anos! E foi, realmente, há menos de um mês.

Uma prima, que tem mais milhas de viagens acumuladas do que alguns aviões (Sim, confesso: tenho ciuminhos dela por causa disso! Só disso, e dos bons!) chegou cá a casa com um embrulho de uma loja que, por acaso gosto mesmo muito. Presentinho de aniversário.

Abro-o e vejo que é uma bolsa daquelas com divisórias para arrumarmos a roupa interior. Bem bonita, por sinal!
Calhou bem, é verdade, tinha uma outra, que não sei onde a arrumei (ou onde a perdi).
A minha Mãe, que estava perto, diz: Olha, tiveste sentido de oportunidade. A Margarida (por acaso a minha Mãe não me trata por Margarida, mas isso não vem aqui ao caso) tem de sair e pode levá-la.
Haja alguém com certezas!

A minha prima, depois de indagar do que se tratava, acrescenta: Pois, não sabia mesmo o que te havia de comprar, assim se vais viajar...

Viajar?!?!
Mas ela, logo ela, não sabe a diferença entre "viajar" e "sair uns dias"?!
Ir a um sítio onde se precisa de ir, fazer umas coisas que se precisa fazer, independemente de nos poder agradar ou não, não é viajar.
Viajar é uma coisa bem diferente, de que tenho muitas saudades. É outra coisa; outro tempo, outros objectivos, outros olhos, outros...
É tão diferente...

Pronto, está bem! Sair também não é mau!
Sim, sair também é bom! Mas não é a mesma coisa.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006

Sexta-feira

Vale escrever um post para dizer, simplesmente, que é sexta-feira?!
É que estou tão cansada que esta é única coisa que sobressai de todas as outras.

Assim, de repente, hoje, só consigo destacar também o facto do meu cachorro ter comido o meu auricular, mas isso até foi bem feito. Eu não devia falar ao telefone enquanto conduzo, nem mesmo com auricular. A verdade é que nem devia conduzir!

Também podia contar que acordei mais cansada do que me deitei porque nas três horas que estive deitada acho que estive sempre a sonhar com uma situação idiota.
Um miúdo com uns dois anos no máximo, com calções de praia até aos joelhos, risonho e moreno, de pés descalços nos estribos, tronco nú, pernas e pés cheios de areia, a montar a minha égua, a galope, em manobras arriscadas entre carros num parque de estacionamento de um edifício qualquer que não faço ideia qual era. E eu, desesperada, atrás dele a insistir que tinha que pôr o protector solar. Para completar o quadro aparece o Pinto da Costa - sim, o Pinto da Costa, cá em baixo e quando eu até sou do Gil Vicente! - a dizer para ter cuidado porque ele podia riscar-lhe o carro!
E depois ainda havia um elevador que só subia, e não havia maneira de descer porque não havia escadas!
Tudo aquilo era absurdo e impossível, mas a preocupação era o protector solar e acordei ofegante por causa disto!

Enfim, o que conta mesmo é que hoje é sexta-feira! E que, óbviamente trabalhei demais nesta semana, porque tinha mesmo de ser mas, na próxima, tenho uns dias por minha conta!

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

Intolerance


Há assuntos que prefiro não tratar no blog, mas também há assuntos que começam a tomar proporções assustadoras.
Respeito muito todas as religiões e, sobretudo, todas as opiniões e culturas; trato-as da mesma forma e parto do firme princípio que todas têm, rigorosamente, a mesma dignidade. Não estou contra ninguém mas, há valores pelos quais não posso deixar de me bater.

Imagem roubada desta amiga.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

[In]Fidelidades

A propósito de uma conversa com uma amiga...

Não, nunca fui infiel. E, não querendo julgar quem o foi, nem tendo qualquer pretensão de ser melhor do que ninguém, não creio que alguma vez o venha a ser.
Confesso que tenho o meu pecadilho nesta matéria. Tinha uns 17 anos e estava, em viagem de estudo, num abrigo de uma Reserva Natural. Uma turma ali fechada durante uns dias. Um colega deu-me um beijo. Foi ele, não fui eu. Mas não ofereci grande resistência. Pensando melhor, nem podia, afinal foi repentino.
Tinha um namorado, o primeiro, e levava isso muito a sério. Tão a sério que me estragou o resto do tempo que lá passei. Insistia que queria vir embora e contar-lhe, a minha melhor amiga dizia-me que era tolinha, que isso não tinha importância e que era melhor não lhe dizer nada.
Mas disse, e fico muito contente por tê-lo feito.

Depois disto, nunca mais. E se não o fiz foi, em primeiro lugar, por pensar em mim.
Não o fiz porque, se estava com alguém era porque queria, porque gostava realmente dele e, portanto, não fazia sentido traições. Foi porque se traísse estaria, em algum momento, a atingir-me a mim mesma, a viver uma mentira, a fingir o que não era, ou não queria, ou não sentia. E que razão tão forte me levaria a isso?! Que motivo me levaria a cometer tamanha violência contra mim mesma, ao ponto de me obrigar a viver uma mentira, a representar?! O que é que compensava isso?!
Existe o amor, os princípios, as regras... existe isso tudo mas, até o egoísmo, o simples facto de pensar em mim e não me sujeitar a fingir sentimentos e afectos, é um bom motivo para não ser infiel. Talvez o melhor de todos.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2006

Sinais


Percebo que o Inverno está de malas aviadas quando começo a deixar de ouvir, repetidas vezes, as músicas de fundo de algum blogs, a rádio escocesa habitual ou os CDs que estão no escritório, e começo a deixar a porta aberta para ouvir o canto - insistente e repetitivo, diga-se de passagem! - do casal de chapins que insiste em fazer o ninho na árvore ali em frente. Já foi assim no ano passado...

domingo, 12 de fevereiro de 2006

Quanto tempo custa um amigo?

Os amigos são uma coisa muito boa. Eu gosto muito dos meus amigos - pois claro, senão não seria amiga deles.
Na verdade tenho muito mais amigas do que amigos mas, tenho que usar o termo no masculino, por respeito a eles, coitados!

E, depois destas verdades de Seigner de la Palice, podia continuar com outras. É verdadeiramente dificil não continuar.

Há também uma diferença subtil entre se ser amiga de alguém, e esse alguém ser nosso amigo. Uma diferença subtil que... faz toda a diferença!
Quando dizemos: O meu amigo, X, ou K, ou Y; não queremos dizer, realmente, isso. Deviamos antes dizer: A pessoa A, B ou C... de quem sou amiga. Porque há diferenças, sim!
O facto de gostarmos muito de alguém, não a transforma automáticamente em nossa amiga, tranforma-nos sim, a nós, em amigos dessa pessoa, e isso pode causar grandes dissabores.
A amizade é como o amor. Quem é que nos meteu na cabeça que, se gostamos de alguém, esse alguém deve gostar de nós, com toda a certeza, do mesmo modo?!

Ah pois, mas isto são divagações. Não era nada disto que me estava a ocupar a atenção agora.
O que tenho andado a remoer desde que fiz um telefonema a desmarcar uma saída, é na quantidade de tempo que é exigido que dispendamos, com regularidade, por cada amigo.

Não chamo amigas a muitas pessoas. Distingo muito bem "conhecidos", com quem até possa ter um bom relacionamento, dos "colegas", e estes dos "amigos", com quem, irónicamente, posso até nem ter um relacionamento muito pacifíco em determinadas alturas.

E também não sou uma amiga disciplinada, que telefona, escreve e visita com regularidade. Posso esquecer-me de aniversários - coisa mais do que comum! - , posso estar meses, e até anos, sem telefonar, responder a um email, ou fazer uma visita; posso não cultivar o hábito de ir em conjunto ao cinema, combinar almoços ou jantares. Posso, e sou assim mesmo.

A minha amizade não se mede através destes parametros. Não se mede pelas horas de chamadas telefónicas, número de linhas de emails, ou horas passadas em refeições. Na verdade, é difícil medi-la; mas quando gosto, gosto! E sou capaz de revirar o mundo por um amigo!
Se for preciso, se sonho que é preciso... largo tudo e reapareço, de mangas arregaçadas para enfrentar o que quer que seja! Que ninguém toque em alguém de quem eu goste!

Não gosto que me cobrem tempo, que me obriguem a dar desculpas e explicações para certas coisas.
Não gosto que, um grupo de algumas pessoas com quem trabalhei durante sete meses, insista demasiado comigo para sair com eles, pelo menos, um dia por semana. Detesto!

Gosto das pessoas mas não quero entrar nesse esquema de obrigações.
Tinha vida antes de os conhecer, não deixei de a ter. Tinha pessoas de quem gostava e com quem estava, de vez em quando, quando calhava, quando queria, quando...
E os meus tempos livres são, religiosamente isso: livres.

Senti-me sufocada quando tive que inventar desculpas para me escapar algumas vezes, senti-me pior ontem, quando telefonei para lhes dizer que hoje não contassem comigo, que precisava do dia para mim (já tinhamos passado o fim-de-semana passado juntos!; já tinham passado cá por casa na Quinta-feira) e me disseram que então iam desmarcar, que passavam para o fim-de-semana seguinte; e quando senti a necessidade de explicar os meus planos para os próximos dias para perceberem que não há espaço.

Não, não quero ser obrigada a sair com eles todos os fins de semana e algumas noites durante a semana.
Não quero, nem posso!
Tenho os outros, quase todos mais amigos do que eles, que não me cobram nada; tenho a família, tenho os meus gostos e as minhas coisas; tenho a necessidade de me sentir durante algum tempo sem correntes e obrigações, que para isso basta a semana de trabalho; preciso de levantar-me à hora que quero, falar com quem me apetece, fazer o que me apetecer, ou até não fazer nada nem estar com ninguém.

Não sou insensível; sou até terrivelmente piegas e sentimental, mas sei que uma amizade não se mede assim, em horas; que uma amizade não é uma obrigação, um peso; que não se exige; que não se cobra, que não sufoca.
Se a amizade fosse convertida em horas então teria menos tempo ainda para eles porque já existiam outras pessoas.

Bom... posto isto... sim, a amizade é uma coisa preciosa; das coisas mais preciosas na nossa vida, e os afectos são uma coisa e as obrigações outra.
Se bem que nos afectos também nos sentimos obrigados, mas expontânea e agradávelmente obrigados, obrigados pelo coração, só!

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006

Flexibilidade de horário

Gosto muito de ter flexibilidade: de horáro, de trabalho, de obrigações,... até ando com saudades da flexibilidade física que tinha quando praticava ginástica com regularidade, o que me levava a fazer, sem esforço, a esparregata ou a aranha.

Gosto da flexibilidade, mas não lhe dou mau uso. Normalmente associo-a a liberdade, e liberdade a responsabilidade. Donde, se querem que me envolva a sério, que cumpra para além do necessário, que leva a eficácia ao seu real significado, deixem-me livre, e eu cumpro!

Ora a flexibilidade de horário parece-me uma coisa fantástica. Permite-me render muito mais.
Sei que rendo menos se me levantar muito cedo que, se o fizer, independentemente da hora a que me deitei, vou andar cansada todo o dia, a arrastar-me à espera que chegue a noite.
Isso não significa que não existam alturas em que me levento muito cedo, em que venho trabalhar antes de toda a gente. Sim, se for preciso faço-o, mas só se for preciso. Caso contrário, prefiro encurtar o tempo de almoço, sair mais tarde, trabalhar mais depressa, às vezes até fazer serão.

Mas há coisas que me levam a começar a pensar que estou a abusar um bocadinho da dita flexibilidade.

Deixo muitas vezes o telemóvel ligado durante a noite. Nem sei bem porquê, porque detesto falar ao telefone na cama. Bom, até nem é bem isso; até gosto, mas, de algum modo acho que é uma intimidade muito intima.
Se o telemóvel toca e se me decido a atender, normalmente, salto da cama, e isso não me agrada.

Hoje tocou, olhei para o número, olhei para o relógio a achei que, pela hora e pela origem devia atender.
Num salto, sento-me na cama, procuro não me denunciar pela voz, tento rápidamente centrar-me no assunto que se tratava. Avisei que ainda não estava no escritório - mas a outra parte já sabia isso, pois claro! - que estava a falar de memória, mas resolvi o que era para resolver.
No fim, uma leve ironia: Não me leve a mal, mas vou procurar tratar consigo sempre antes das 10. Está com uma voz mais...
Interrompo rápidamente: Ah! É que estou constipada! -mentira.

Não, não me agradou nada!
Acho que estou a abusar da flexibilidade de horário. Vou passar a vir trabalhar mais cedo, quanto mais não seja para não ter que falar com as pessoas em pijama, despenteada e sentada na cama; mesmo que seja por telefone!

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2006

João

Em Outubro de 1676 nascia um menino. Chamaram-lhe João; como o pai. Os apelidos, esses, como acontecia nesse tempo, marcariam toda a sua vida.

Não era o primeiro filho; longe disso. Os pais tinham casado 21 anos antes e tinha já irmãos crescidos quando nasceu.

A infância, passou-a, protegido, perto do Cávado, a ouvir histórias de família; daquelas exemplares, que serviam para moldar caracteres. Contavam-lhe como um avô distante tinha preferido morrer, ali tão perto, a entregar o castelo que lhe tinha sido confiado; como ele tinha feito questão de vincar a noção de lealdade, do certo, da justiça, da honra ao filho, e este ao filho dele, e ao filho deste, e ao neto, e...
Contavam-lhe estas e outras histórias, muitas outras, que era assim que eram ensinadas as crianças. E ele aprendeu-as.

Fez-se homem por ali e nas vizinhanças. O seu mundo era limitado pelo Douro e pelo Minho.
E fez-se homem.
Tinha mais irmãos, mais velhos.
A família, ligada por laços estreitos à Casa de Bragança desde a sua origem, apontava-lhe o caminho. O caminho da Corte, que o mesmo é dizer o caminho de Lisboa.

E veio. Já cá tinha primos; as carreiras faziam-se aqui; alguns casamentos também. Era a vida dele, a de tantos na época.
Veio em 1706 e, um ano depois, casou com uma menina da Corte. Parece até que a amava.

Poucas vezes voltou às margens do Cávado. Hoje, 300 anos depois, o laço não se quebrou.
Parece que foi ontem. Os 300 anos são só a medida exacta das saudades que sinto no preciso instante em que volto para baixo.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2006

In between



Entre uma e outra fotografia há, exactamente, uma semana, duas horas e 43 minutos.
Parece muito mais.

Cá dentro foi o mesmo. Numa semana passei por quase todos os estados de alma. E também tomei decisões completamente dispares. E voltei atrás em algumas.
Ironicamente, a parte mais alegre, nem corresponde à presença do Sol.

Só uma semana!

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2006

Manias

Fui apanhada pela minha querida prima Nádia, pela menina Nuvem e pela menina Gracinha, portanto, só me resta confessar cinco das minhas manias.

1- Sempre que a lareira está acesa, levar um livro, sentar-me à frente do lume, abrir o livro, passar horas ali e não ler uma página.

2- Mudar de pronuncia automáticamente, e sem dar por isso, dependendo do sítio onde estou e/ou com quem estou a falar. A saber: no Norte abro as vogais, e chego ao ponto de, em Valença a falar com a L., chamar, naturalmente, almoço ao pequeno-almoço, jantar ao almoço e ceia ao jantar; em Lisboa pronuncio o "o" com o som "u" no fim da palavra Tio, ou rio.
Mas digo sempre "cólinho", "pértinho", ...
Com a pronuncia do Alentejo ou do Algarve, isto não acontece.

3-Tomar banho de imersão sempre que tenho tempo, e sair de lá cerca de hora e meia depois, com os dedos engelhados e sem sensibilidade.

4- Agrupar os amigos por categorias: os amigos da praia, os amigos do colégio, os amigos da família, os amigos da faculdade,...
Um ou outro não cabe em categoria nenhuma, e estes são o cabo dos trabalhos!

5- Se estiver sózinha, ou acompanhada por alguém com quem tenha intimidade, gosto de comer as sandes primeiro à volta e, por fim, a parte do meio.

E pronto. Missão cumprida!
Ah, e não passo a ninguém; considerem uma sexta mania!

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2006

Strange things

Se um amigo nos pede ajuda para comprar lençóis e toalhas para a sua casa nova, podemos primeiro perguntar-nos a nós mesmas: Porquê eu?
Podemos; mas podemos, ainda assim, achar que tem o seu quê de normal, de espontâneo, de coisa isenta de segundas intenções.
Se a esse pedido vem agregado um convite para mostrar a carrinha nova, a coisa continua a parecer normal e, como corolário lógico, e mesmo tendo ainda em mente o episódio pouco feliz da última viagem ao Alentejo, aceita-se.

Aceita-se porque sim, porque analisada a frio, de uma maneira racional, não há nada de objectivamente perigoso na questão.
Aceita-se porque se sabe bem que esse amigo seria outra coisa se pudesse mas, não-podendo-está-muito-bem-assim, sem dramas, sem arrebatamentos, sem problemas.
Aceita-se porque até se gosta da companhia dele.

Diz-me que o Audi TT, foi à vida: Por tua causa! Não gostavas dele! Vendi-o e comprei esta carrinha. Achas melhor?
Riu sabendo bem que não podia ter sido esse o motivo, mas a achar graça à arte que os homens têm para tirar partido das suas próprias decisões.
Reconhece que não, que não foi por minha causa: As pranchas não cabiam no carro e tinha de andar sempre a pedir a carrinha do meu pai emprestada!
Pronto! Ora aí está um motivo válido e credível.

Vamos às compras e depois de me irritar por, sistemáticamente, nas lojas, nos tomarem por um par, acabamos por nos divertir.
As mulheres gostam destas actividades, é sabido, e mais ainda quando o cartão de crédito não é nosso.

Acabamos por jantar num restaurante que ele já conhecia e por passar depois por casa dele para me mostrar umas compras que tinha feito.
A casa é muito engraçada, pequena mas acolhedora. Insiste em mostrar-me as fotografias da última viagem e eu não vejo razão para recusar, escolhe a música certa à altura certa, a casa estava quentinha enquanto lá fora chovia, a conversa corria fluida, fácil, agradável. As horas foram passando e permiti-me pousar a vista nele com calma. É mesmo bonito, os olhos doces, o corpo atlético, perfeito, a voz envolvente, meigo, atencioso, disponível.
Bolas! Se calhar devia gostar dele! Mas não posso!
E, no entanto, estava a gostar de estar ali. Estava a gostar de estar ali, calma, encostados.
O contacto dele é-me agradável. Não me inquieta; se gostasse dele, se calhar nem lhe tocava, mas assim, é só agradável.

Já era tarde. Insistiu para eu ficar. Ficava no quarto dele; ele ficava no sofá.
Primeiro pareceu-me perfeitamente absurdo. Depois, à medida que insistia mais, pareceu-me errado, depois pouco conveniente, depois... depois continuei a achar que não devia, mas que até me apetecia.
Que mal tinha?! Era meu amigo; não íamos dormir juntos; não temos compromissos; somos adultos... E fiquei.
Ficámos assim mesmo, cada um no seu sítio, sem que nenhum dos dois fosse ter com o outro (o que levou a que acabássemos por perder algumas horas de manhã) e entre os dois havia muito mais do que uma parede, havia uma série de princípios que nos são inculcados desde crianças ( a nós, meninas). Era assim que era suposto, e foi assim que aconteceu. Mas não foi o mesmo que dormir em casa de uma amiga.
Não deixou de ser estranho. E, confesso, que fiquei uma boa parte da noite a pensar até que ponto alguns desses princípios não são mesmo preconceitos. Só alguns; só um bocadinho!


Aqui está um bom exemplo de um post que não devia ter escrito! Paciência!

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2006

Capitulo 6


Pensei que, mesmo tanto tempo depois, no dia em que resolvesse voltar a mexer na tese, tudo seria como antes. Que sentiria o mesmo, que seguiria o mesmo caminho, completaria simplesmente o que faltava. Mas não foi assim.

Liguei o portátil e abri pastas que não abria há... já nem me lembro quanto tempo. Foi antes, antes de tanta coisa. Estremeci e tive uma sensação estranha. Fechei-o e fiz-me uma vontade, fui passar a noite à praia.

Cheguei e enchi os pulmões de ar, daquele ar diferente, mais húmido e carregado de mar, acendi a lareira e os aquecedores numa casa que estava fria e que, de longe a longe, me parece demasiado grande para uma pessoa.

Sentei-me à mesa da sala e voltei a abrir as tais pastas, mas ainda não era ali que me apetecia estar. Subo para o sotão e abro as duas janelas. Podia estar frio, mas era aquilo que me apetecia, aquele cheiro que envolve e nos leva para longe.
Às tantas, surpreendo-me a sorrir de um pensamento qualquer, distante; volto a respirar fundo e os olhos prendem-se, finalmente ao ecrã.

Quando dei por mim o relógio do computador marcava 4:47. O tempo tinha passado, eu tinha retomado as cotas, os índices, os capitulos, as trancrições, os quadros, a bibliografia, as notas de rodapé, os textos, as fichas de leitura...
Tinha deixado de custar, já não resistia.
Tive vontade de aproveitar tudo, a informação toda, mas de alterar-lhe a forma, o tratamento, se calhar até o fim.
Reparei que há notas de rodapé que, por questões pessoais, vou retirar, que há agradecimentos que não serão feitos, que outros, inesperados, vão acabar por ocupar esse lugar.

Faltam coisas, e isso deixou de ser uma maçada, para se transformar numa benção, pelo menos haverá alguma coisa a acrescentar e isso era indispensável nesta altura.
Voltei a sentir a inquietaçãozinha da antecipação da descoberta, como as crianças que tentam adivinhar o conteúdo dos presentes de Natal.
Não adianta querer retomar as coisas como elas eram porque, afinal, nada é imune às mudanças; eu não sou a mesma, a tese também não. Será outra coisa, e ainda bem!

Entretanto, dormi um sono santo nas poucas horas que me separavam do dia, sacrifiquei umas horas de trabalho em troca de um passeio na praia. Mesmo com nevoeiro, mesmo com frio... o contacto da areia sabe bem, gosto de atirar as algas para dentro de água, do barulho das ondas e, reparei que a água parecia bem quentinha...
Agora, é a volta à rotina mas foi um bom começo de dia!