sexta-feira, 31 de março de 2006

Coisinhas...


Para ela:
Sela Wintec; suadouros (o verde e o azul); caneleiras para as patas dianteiras e traseiras; cloches para as quatro patas; a cilha irlandesa; estribos; cabeçada de descanso; guia; cabeçada de trabalho com bridão largo (levar o mais estreito, para o caso de ser necessário); cobrejão; rede do feno; ferro dos cascos, as duas escovas e pente de crinas, a cera líquida para os arreios (que não tem nada a ver com a cera líquída para as casas); e mais algumas coisas de que me esqueço sempre!

Para mim:
Calças de montar; botins; toque, apesar de saber que não o vou usar (não meninas, não é aquele exame horroso!), esporins, que também não vou usar; casaco (que troco por um blusão mais confortável) ; luvas; pingalim, que, provavelmente, também não vou usar.
Devia arranjar um desporto que tivesse uma logística mais leve, mas então? ... eu gosto disto!

quinta-feira, 30 de março de 2006

Déjà vu

Hoje - já, já a seguir - vou fazer como quando era pequena.
Vou tomar um banhinho; jantar a seguir, de pijama - acho que troco hoje o jantar por uma tigela de Nestum - ; e depois tinha direito a ver um bocadinho de televisão, mas hoje dispenso, de boa vontade, e vou para a caminha.

Sem tempo nem para olhar para o lado...
22: 58 - Eu disse... Disse mas, a esta hora, depois de receber um pedido para resolver umas coisas de uma pessoa a quem não posso dizer "não", ainda estou à volta de mails e telefonemas.
Mantêm-se tudo, menos as horas!

quarta-feira, 29 de março de 2006

Tareco

Os meus avós vivem numa casa com sebes de cedro, jardim de roseiras e relva e, nas traseiras, têm um quintal.
Um gato, apareceu por lá.

Não sei bem se eles adoptaram o gato, se o gato se fez adoptar, ou se foi o gato que os adoptou a eles.
Sei que o gato passou a ser alimentado na rua, depois passou a entrar em casa de vez em quando, e agora o gato "é de casa".

Eu tenho muitos gatos, muitos cães mas, também, muitos afazeres.
Ontem, fui jantar a casa dos meus avós e enterneci-me ao ver o gato deitado no sofá da salinha. Tão calmo, tão aconchegado... Sentei-me devagarinho ao lado dele, passei-lhe a mão de leve pelo pelo, ele ronronou e eu respirei fundo; senti uma paz... imensa!

:-)

Descobri que há uma companhia que tem, a partir de agora, passagens a um preço tão em conta, mas tão em conta, para o meu sítio que nem há motivo para não dar lá uns saltinhos com muita frequência. E por saltinhos podem enteder-se fins-de-semana.
Sim... é que o tempo é coisa que fugiu de mim, e os preços são tão baratos que... não causa peso na consciência fazê-lo.
Claro que o avião pode cair, claro que a família vai ficar em pânico, claro que vão dizer que esta coisa das low cost são coisas para inconscientes, mas...

Pois; bem sei que este post não interessa a ninguém, mas atolada em trabalho como estou, alegra-me a mim, e muito! :-)

terça-feira, 28 de março de 2006

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- Um dos teus principais defeitos - se calhar o pior deles todos! - é que andas sempre de coração nas mãos...! Faz-me muita confusão...

Dizia-me ele há mais de dois anos já, numa das últimas discussões que tivemos. Já nem foi uma discussão, foi mais um monólogo.
Eu, acho que encolhi os ombros - pelo menos fi-lo, mentalmente - e reparei que estava cansada, esgotada por lutar por uma coisa que, reconhecia naquele momento, estava virtualmente acabada já.

Encolhi os ombros e não abri a boca; não concordei nem neguei. Virei as costas como se não estivessemos a ter aquela conversa e fui fazer o que estava a fazer antes. Mas não me esqueci do que ouvi.

Hoje, tanto tempo depois, dou-lhe razão nisso.
É, realmente, um dos meus piores defeitos. Também estou farta disso!

segunda-feira, 27 de março de 2006

Nhánhá!!!



Eis o resultado de andar com uma pirralha atrás o dia todo, e de a deixar com a máquina na mão.

Bom... há outras fotografias, ainda mais estranhas e outras que, por motivos óbvios, não vão ser mostradas aqui.

Outro resultado são as gargalhadas dela de cada vez que percebe que conseguiu disparar a máquina.

Outro ainda são os sorrisinhos das pessoas enquanto ela grita Nhánhá e me puxa a mão a cada dois segundos em que não olho para ela.

E o último é perceber como o meu cabelo parece ser de cores diferentes consoente a luz e que, apesar de insistir com toda a gente que não sou loura, só o fui em pequenina, morena é que não sou mesmo.

domingo, 26 de março de 2006

Caleidoscópio

A última metade da tarde de ontem foi dedicada à minha égua, que o mesmo, se calhar, é dizer que foi dedicada a mim. Às duas, ao tempo, à liberdade, ao vento, ao Sol, à velocidade, à cadência, à cumplicidade, à amizade, a tantas coisas e a nada, ao mesmo tempo. De cabeça vazia e leve, ou diletante e cheia de assuntos.

Os pensamentos em cima dela, à velocidade do galope, ao ritmo do trote ou ao balanço suave do passo; chegam e partem sem serem escolhidos, sem fazerem qualquer tipo de conjunto ou de sequência entre eles. E isso, agrada-me.

Ocorreu-me um, estranho. Percebi, mas ainda em contornos pouco definidos, assim em pinceladas largas... que o afecto pode tomar muitas formas. E, aqui, estou a falar do afecto por um homem.
Percebi o que já sentia há algum tempo mas que não verbalizava nem, tão pouco, encarava.

Pode. Pode variar na intensidade, no género... e pode - foi aqui que esbarrei com uma novidade para mim - existir em simultâneo por mais do que uma pessoa. Géneros diferentes, em simultâneo, independentemente da intensidade de cada um.

Fui educada de outra forma.
Na vida de uma menina séria só há lugar para um homem. De preferência, um único, em toda a vida. Mas isso já é perfeccionismo.
As amizades entre pessoas de sexo diferentes são arriscadas, para não dizer impossíveis. E mais cedo, ou mais tarde, dão problemas.
Fui educada assim!

Claro que aprendi a dar uma margem de manobra a isto. Claro que tive sempre amigos rapazes, mas não muitos, e com algum cuidado, tentando fechar os olhos ao facto de serem homens e mantendo uma distância de segurança.
E, se estava envolvida com alguém, as coisas restrigiam-se ainda mais. Não havia mais nada nem ninguém na minha vida.

Ora, reparei, que levei seis anos assim. A viver em função de outra pessoa, a isolar-me voluntáriamente, a afastar pessoas, a virar a cara, a sentir-me culpada por tomar um café com um amigo ou por trabalhar de uma forma mais próxima num assunto qualquer com um colega.

Disparate. Quando crescemos percebemos que não é nada assim. Aprendemos a dividir as coisas. Percebemos que há uma panóplia de sentimentos que se podem ter por um homem, o que significa também que se pode sentir coisas diferentes por vários, aos mesmo tempo. Na verdade, percebemos que é assim mesmo, que sempre foi. Mas aprende-se a gerir esses sentimentos sem culpas nem embaraços.
Pode amar-se perdidamente alguém mas, se até nem temos nenhum relacionamento, podemos sentirmo-nos muito bem na companhia de outra pessoa que reconhecemos ser um encanto. Assim mesmo, sem que isso negue o primeiro sentimento ou, sequer, o menorize.

Às vezes, há coisas que se tornam claras de um momento para o outro.
É assim, o afecto é um conjunto de pedrinhas coloridas que formam imagens diferentes à medida que se viram, assim mesmo, como no caleidoscópio da Disney que me deram em pequenina. Imagens diferentes; umas maiores outras mais pequenas, com formas diferentes, cheias de cores. Há uma de que gostamos mais, que é mais especial do que todas as outras, que ansiamos que apareça de novo de cada vez que rodamos o caleidoscópio... mas também existem as outras todas.

quinta-feira, 23 de março de 2006

Mau! Mau!

Quando andamos, desesperademente, à procura de um papel imprescindível e, quando o encontramos, de repente, lhe damos um beijo e depois o afastamos dos lábios perfeitamente incréculas com o que fizemos, concluimos que o trabalho está a afectar a nossa sanidade mental!

É hoje! É hoje que vou dormir cedo!

quarta-feira, 22 de março de 2006

Porto

- É do Porto, não é?!

Disse-me, de sorriso na cara e com o ar triunfante de quem descobre um segredo, a empregada gordinha do meu médico.
Não sou, não. Nunca, sequer, fui ao Porto. Passei por lá, mas quando digo "passar" é mesmo "passar", passar a caminho de um destino mais a Norte.

Calculo que a descoberta dela deve ter sido feita por ter pronunciado "pédrinhas", mas isso, bom... isso vem mais de cima. E vem porque gosto, porque acho mais doce.

Pois... nunca fui ao Porto. E é estranho.

Passei e nunca parei, nunca posei os meus pés naquela terra.
Não é que não goste do que se vê, lá em baixo, quando se passa na Ponte; que não goste do rio e da marginal e das casas que, vistas cá de cima, parecem casinhas de bonecas, e do que se vê à frente que parece um presépio.

Não é que não goste de passar por lá, para cima, ou para a direita e que me gritem: Olha, o Porto de Leixões! , mas que depois siga, mais uma vez, sem parar.

Não é que não goste das francesinhas que o cunhado de uma amiga costumava fazer-nos nas noites longas das férias.

Não é que não goste da pronuncia que é tão mais doce, envolvente e aveludada do que cá em baixo.

Não é que não precise, incontornavelmente, de lá ir, há tanto tempo já.

Não é que não tenha uma ideia romântica e aconchegante da cidade em si mesma.

Não é que não tenha passado por lá tantas vezes.

Não sei porque é. Sei que nunca lá fui.
Sei que, mesmo agora, há tão pouco tempo, tirei uns dias para ir e... no último instante recuei.
Sei que sinto, há muito, e em simultâneo, uma atracção e um medo. Qualquer das duas coisas inexplicáveis.
Sei que, um dia destes, lá irei e que, provavelmente, não o direi aqui.

E lembro-me... há muitos anos, de estar sentada no banco de trás do carro, num dia cinzento, como o de hoje. Estava a chuviscar, não saí.
O chão daquela rua era calçada, de quadradinhos certos de pedra escurecida pela chuva. Lembro-me tão bem, hoje.
Era o Porto.
Um destes dias; um destes dias, vou!


Eu bem tinha dito que devia estar caladinha!

A fotografia foi tirada daqui.

terça-feira, 21 de março de 2006

Schiiiuuu...

O meu avô ensinou-me que, às vezes, é bom estarmos caladinhos.
Uma dessas ocasiões é quando estamos muito cansados. Nessas alturas não pensamos bem e expressamo-nos pior ainda.
Se estivermos calados ouvimo-nos melhor e os outros não tiram conclusões erradas.

Hoje estou terrivelmente cansada.
Já ontem estava.
É melhor estar caladinha.

segunda-feira, 20 de março de 2006

Growing...

Lembro-me de, no secundário, ler livros sobre matérias do programa. Livros que me interessavam mas que não eram escritos pelos meus professores.
Lembro-me de ter escolhido a faculdade onde estudei, um bocadinho, por causa desses livros e pelo facto de um desses autores dar lá aulas.
Lembro-me da sensação estranha de ler os livros cujos autores eram os meus professores. Lembro-me de passar a sentir isso como normal e depois como banal.
Lembro-me de começar a passar horas e horas em trabalhos e de começar a perder noites por esse motivo.
De um dia para o outro, é o nosso nome que vem nos livros. Olhamos para ele e quase não o reconhecemos.
Um dia procuram-nos e consultam-nos por nos tomarem, a nós, como especialistas numa área. Acho que um dia também me vou habituar a isso; por agora ainda não.

sábado, 18 de março de 2006

A não repetir!

Um jantar onde se bebem seis vinhos diferentes.
E se bebe para dar uma opinião crítica.
E se volta a beber para confirmar.
E se segue depois na conversa, quase até de manhã, e em cima da mesa está uma garrafa de vinho do Porto, outra de licor de Wisky e outra do própriamente dito. Mesmo que tudo isto seja intercalado por um número de cafés - de que não me lembro já.

Não, não faço disto muitas vezes. Na verdade não faço quase nunca; e nunca com este exagero!
A não repetir! Pelo menos enquanto me lembrar...

sexta-feira, 17 de março de 2006

A aventura dos BIs, ou, de duas portuguesinhas despistadas


Saí e entrei no país. Andei por onde muito bem entendi e voltei.
Já em casa, deixei cair tudo o que tinha dentro da carteira e, ao guardar o que apanhava do chão, assim de relance, reparei numa coisa que, começo a achar, me é característica: o Bilhete de Identidade estava - e está ainda, pois claro - caducado.

Ora, eu passei uma fronteira...
Ainda bem que ninguém me pediu nada. Desta vez deu jeito. Dá mesmo muito jeito esta coisa da livre circulação. Mas o facto é que não tinha Bilhete de Identidade.


Ainda sem ter bem os pés assentes, e sem grande vontade de ir amanhã onde me convidaram para ir, pego no telemóvel e mando uma SMS a uma amiga que, pensava eu, já teria voltado de uma viagem.

- Vais ao jantar amanhã?

A resposta vem em forma de chamada telefónica:

- Nem imaginas! Estou desesperada! Tenho que apanhar o avião e não sei do BI! Perdi-o! Já vi em todo o lado! Estou a ver que vou ter que cá ficar...

Enfim... os Bilhetes de Identidade são uma coisa muito complicada, aparentemente incompatível com uma cabecitas de vento que por aqui andam.

terça-feira, 14 de março de 2006

Murano


Não sei se foi por ter sido acordada pelo Sol que entrava pelas aberturas das portadas e pelos pássaros que, apressados, cantavam enquanto se ocupavam da construção dos ninhos.
Não sei se foi por poder tomar o pequeno-almoço na rua, sem casaco e com um dia tão brilhante ou sei foi pelos banhos de mar, em água tão fria, dos últimos dias.
Não sei se foi pela simpática e generosa oferta de uma viagem que me foi feita ontem (ou hoje, já).

Sei que acordei relativamente bem disposta, que me senti com algumas referências, coisa que me tem faltado nos tempos mais recentes. Sei que abri a caixa das bugigangas (sim, estas coisas têm uma caixa própria) e tirei de lá uma caixinha azul onde estava esta medalha.

Foi comprada em Murano.
Podia ter sido comprada em qualquer outro lugar; mas foi comprada em Murano, porque foi lá que foi feita, porque foi só por isso que a comprei.

Levantámo-nos de manhã. As sirenes tocaram a avisar que estava acqua alta, o dia estava cinzento e ventoso, a ondulação forte e desordenada.
Calçamos botas, vestimos impermiáveis e enchemos as mochilas com bolachas, sumos, água e sandes compradas na lojinha a dois quarteirões dali, porque não sabiamos o que iriamos encontrar durante o dia
O barco balançava, muito. A C. considerou nem entrar, eu, interiormente, também pensei que não era assim muito sensato mas... calei-me.

Quando se afastou da baía balouçava muito mais. Preferimos ir para fora. O chuvisco e os salpicos das ondas molhavam as nossas caras que o vento arrefecia cada vez mais.
O mar estava cinzento e desordenado e eu pensava cá para mim que não correspondia nada à ideia que se fazia, à dos postais e das agências de viagens. Mas aquela também não era uma viagem "de pacote", não tinhamos marcado nada em agência nenhuma, não seguiamos a rota normal, era natural que nada fosse igual.

E não foi.
Murano não é Veneza, nem o Lido.
Murano, não é. E Burano, menos ainda.
Não tem o mesmo brilho, os mesmos palácios, as mesmas gôndulas, nem os mesmos concertos de Vivaldi à noite, nem Praças de São Marcos com pombos e turistas aos montes, nem pianistas sedutores a tocar nas esplanadas dos cafés.

Mas tem outras coisas. Tem o outro lado.
Tem gerações de vidreiros que lá vivem. Tem casas mais simples. Tem pessoas mais pobres e mais naturais. Tem uma história pouco cor de rosa.
Os vidreiros foram lá colocados no século XII com o argumento de que as suas ofícinas provocam incêndios em Veneza mas, na verdade, tratava-se de tornar inacessível o conhecimento da técnica daquele vidro, cheio de cores, aos estrangeiros que a procuravam incessantemente.
Era uma prisão. Quem tentasse a fuga sujeitava-se à pena de morte.

As pessoas que lá vivem são dessas famílias e continuam a fazer o mesmo.
É o outro lado do brilho. O que se descobre e não o que é dado. Se calhar é por isso que é mais especial, se calhar foi por isso que acabei por comprar esta medalhinha. E hoje, soube-me tão bem voltar a olhar para ela e ser levada lá, outra vez.

segunda-feira, 13 de março de 2006

Com os meus botões...

De passagem, forçada, pelo escritório abro as duas meias portas que dão para o páteo. Lá fora há outra luz e outra temperatura.
Duas andorinhas entram e esvoaçam junto ao tecto; eu fico quietinha para não as assustar, elas piam e saiem. Gostava que estivessem a dizer que a Primavera tinha, finalmente, chegado, mas acho que estavam só a queixar-se da minha presença.

Os dias estão lindos. Tenho tomado muitos banhinhos, engolido muito pirolitos e não sei se corro o risco de morrer de hipotermia ou de exaustam.
Não sei se a corrente do costume, está no sítio do costume, com a força do costume... mas penso nisso, muitas vezes por dia, e fico a imaginar como estará lá. Este não é o meu mar... e quero manter as coisas assim.

quarta-feira, 8 de março de 2006

Time out


A very little, as well as needed, time out.

segunda-feira, 6 de março de 2006

Possession

- Vi ontem um filme que tinha tudo a ver contigo. Até fiquei arrepiada!

Foi o que uma amiga me disse, a meio da manhã, ao telefone.
Uma vez disseram-me isso a respeito de um livro. E era verdade. Tirando algumas coisas, quem me conhece bem, encontrava-me numa personagem desse livro, por acaso, com o mesmo nome.

Em relação ao filme há uma parte de verdade, sim. Apenas uma parte; a mais comum, a menos sedutora.

Por acaso vi o filme ontem à noite, e por acaso, gostei muito dele.
Haverá filmes mais bem feitos, mais conseguidos, com melhor enredo... em suma, melhores. Haverá até filmes de que possa gostar mais mas, de facto, neste revi-me um bocadinho.

Sem qualquer pretensão de ser, nem de leve, comparada com a beleza celestial da Gwyneth Paltrow; e sem ter a ilusão de viver um romance de livros de contos, como acaba por ser o dela, identifiquei-me com tudo o resto. E, tudo o resto é, para quem o vive, muita coisa.

Foi bom perceber que não sou um bicho raro.
Que há vidas iguais à minha; pessoas que viram do avesso arquivos, fazem quilómetros e quilómetros, perdem noites de sono, se entusiasmam com um indício - um simples indício - deixado por alguém que, tendo morrido há muito tempo, tentamos trazer de novo à luz do dia.
É normal, pelos vistos. Não me acontece só a mim!

Também são normais as guerrinhas no meio académico, as traições, as rasteiras, a ambição cega... essas coisas que, apesar de toda a paixão pela investigação, me deixaram sem vontade de me deixar enredar por inteiro nessa realidade.
É normal; não sou só eu que as vejo.

Também é normal acabarmos por nos envolvermos com alguém com quem temos cumplicidades académicas, com quem dividimos trabalho, interesses, conhecidos, livros, informações, programas de congressos... por alguém que faz parte desse grupinho fechado.

Também é normal, concluirmos, um dia, que isso se esgotou e que nunca foi bem a mesma coisa para os dois. Olharmos para trás e concluir que demos demais, que essa pessoa até nem é sequer uma boa pessoa. Concluir só; sem sobressaltos.

Assim como é normal tornarmo-nos assim, receosas e com um toque leve de incredulidade, em questãos amorosas a partir daí. Normal que nos defendamos. Até quando defendermo-nos significa evitá-las a partir do momento exacto em que deixam de ser apenas sonhadas, desejadas e se tornam, simplesmente, possíveis (sim prima, tens toda a razão! O longe é a minha defesa preferida: longe no espaço e longe nas possibilidades).

E até é normal ter uma ligação assim, quase telepática, com uma trisavó, descobrir os seus muitos segredos e histórias e quase viver um bocadinho a vida dela.

Afinal... até sou normal!

sexta-feira, 3 de março de 2006

Comunicação

Desde que me levantei hoje e, sobretudo depois de ter vindo para o escritório, já deixei cair um número record de coisas.
Tudo me parece escapar das mãos e cair no chão com mais ou menos aparato e/ou danos.

A minha interpretação é que dormi pouco e ando um bocadinho ensonada. Para além disso, com uns dias fora e depois a semana do Carnaval, tenho muito mais coisas para fazer do que as que consigo, no tempo desejável, e o resultado é andar assim entre o apressada e o ligeiramente atrapalhada.

Outra interpretação - que não a minha! - , baseada em crenças polulares, é que alguém quer falar comigo e não consegue.
Eu ri-me e disse que então que falasse porque o que não falta são meios de comunicação, mas depois pensei melhor. É que, de facto, pode até nem ser tão fácil.

Tenho a mania de passar muito tempo sem ver o meu mail, já me basta os do trabalho.
Sobretudo alguns endereços. Sim, chego a estar vários dias sem os ver.

Muitas vezes não atendo o telemóvel (porque não posso na altura, porque não o ouço tocar, ou porque não me apetece). Depois, quando vejo as chamadas não atendidas, nunca volto a ligar para um número que não conheça e em relação aos que conheço há duas hipótese: ou ligo nessa altura, ou não. Na segunda hipótese há alguma probabilidade de me esquecer.

Quanto aos telefones da empresa, se tocarem a uma hora para além daquela que eu ache razoável para estar a trabalhar, também não os atendo, o que já me tem garantido uma chamada de atenção do meu patrão/pai.

Assim sendo, e se é verdade que o povo é sábio, é possível que sim. Que alguém queira falar comigo e não consiga.
Mas espero que essa pessoa seja, rápidamente, bem sucedida nos seus intentos; é que não me convinha continuar a partir coisas!

quinta-feira, 2 de março de 2006

Os homens tal como eles [alguns] são!

No ginásio, enquanto mantinha o exercício no aparelho em que estava, solto as mãos e viro-me para trás para dizer uma coisa a uma amiga.
Como era de esperar, desequilibro-me um bocadinho, mas nada que me levasse, realmente, a cair, que isto de praticar equitação dá-nos algum equilibrio. No entanto, desequilibro-me, é um facto, e acredito que pudesse dar a ideia de que ia cair.

Um prestável rapaz avança rápidamente a agarra-me.
Eu acho exagero, mas acreditando que tinha sido natural e bem intencionado não lhe digo que não ia cair, resolvo fingir que era isso que ia acontecer e ainda lhe peço desculpa pelo incidente.
Ele põem um sorriso de orelha a orelha e diz: Não tenho nada para desculpar. Eu é que agradeço o desequilibrio! E que tal um sumo depois do exercício?

Pois sim. Dispenso o sumo.
Se fosse preciso, se eu quisesse mesmo que ele - i.e. , outro! - me segurasse, se me desequilibrasse a sério, bem podia estender-me no chão; aposto que não estaria lá.
É sempre assim, quando gostávamos que estivessem, quando nos desequilibramos a sério na vida, quando os queriamos perto ou atenção, quase sempre não estão lá!
Ah! E garanto que até estou bem disposta hoje!

quarta-feira, 1 de março de 2006

"Ainda a M." ou "Post Piegas"

A M., depois de um fim de tarde e de uma noite alucinante para alguém do tamanho dela quis, porque quis dormir comigo.
Eu sei que é pouco pedagógico e bláblá, bláblá... mas atirei as teorias para as urtigas e cedi aos pedidos doces dela.

Deixei-a dormir na minha cama. Hoje dormirá na caminha dela a muitos quilómetros daqui.
Lá a deitei, as duas de pijaminhas vestidos, e lá lhe li uma etória, a da Alice no País das Maravilhas. E ela foi fechando os olhinhos, com as duas mãozinhas agarradas ao meu braço.
E adormeceu devagarinho e eu fiquei a olhar para ela; para o narizinho arrebitado, para os dedinhos tão perfeitinhos, para as unhas pequeninas; passei-lhe a mão nos cabelos fininhos e macios e levantei-me de mansinho.

Fiquei um bocado a olhar para ela sem me cansar de me admirar com a perfeição de uma criaturinha tão pequena e não resisti a ver as fotografias dela desde que nasceu.
Nessa altura admirei-me como, afinal, ela cresceu tanto e tão depressa.
E vi o babette branco, a primeira coisa que bordei de livre vontade, tantos anos depois de ter sido obrigada a aprender essas coisas no colégio. Lembrei-me que comecei a bordá-lo no dia em que soube que ela vinha a caminho, e lembrei-me de como fiquei feliz com a notícia e de ter sabido desde essa altura que seria uma menina.
E fui vendo fotografias, com a girafa que lhe dei, com a mantinha, com a chucha que não aceitava trocar por outra, com o patinho, com o biberon dos ursinhos, com as jardineiras azuis,com o urso , com o casaco dos patinhos, com a camisola das risquinhas laranja, com os sapatinhos azuis, com a saia verde, com o vestido das florinhas, com... e reparei por esses indícios que até tenho estado presente, apesar da distância, o que acaba por ser um nadinha reconfortante.

E voltei a olhar para ela, ali a dormir tão tranquila, tão frágil, tão perfeita. Pensei que vai crescer, que vai aprender coisas novas, que vai gostar de outras pessoas, que um dia se há-de apaixonar e, forçosamente, sofrer. E senti uma vontade enorme que esse dia não chegasse, que a pudesse proteger assim para sempre, que nunca ninguém a magoasse, mas depois... resignei-me.
Um dia vai ser uma menina crescida e, espero, feliz!
Cairá algumas vezes, vai doer um bocadinho, mas terá sempre quem a ajude a levantar-se de novo; e isso, só isso, posso prometer-lhe!