quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Miscelânea

Quanto mais tempo passo sem escrever aqui, mais me custa fazê-lo e, no entanto, todos os dias sinto que perco alguma coisa ao não o fazer, porque sei que aqui as memórias ficam mais vivas do que de qualquer outro modo, e sei também que, se todos os dias são diferentes e irrepetíveis, estes são mais diferentes e mais irrepetíveis do que todos os outros. Com as coisas boas e com as dificuldades, que as há, e quem disser que a gravidez é só maravilhas e estado de graça, ou nunca passou por ela, ou mente. Porque sim, existem momentos difíceis, sim, existem, dificuldades e sensibilidades levadas ao extremo e mudanças em avalanche e todas essas coisas e muito mais. E existem as outras coisas; as coisas boas, as especiais, as mágicas, aquelas que nem temos palavras para as descrever, daquelas que podem dar origem a que se pronunciem uma série enorme de lugares comuns e, mesmo assim, não se consiga explicar o que se sente e o que se vive.

A barriga cresce. E esta é, talvez, a evidência mais pateta que posso escrever. Mas é assim. É marcante. É essa a minha realidade agora.
Cresce e eu não vejo os pés ao descer as escadas, dificilmente seco decentemente os dedinhos dos pés ou corto as unhas.
Tenho a leveza de um elefante cruzado com uma baleia, sento-me com a elegância de um leão marinho e passo as noites a mudar de posição na cama.

O tempo passa tão depressa que num dia a semana está a começar e no outro já passou, ou pelo menos é assim que as vivo.
Fazer obras, arrumações e mudanças nesta fase da gravidez é tão idiota quanto difícil, e devia mesmo ser proibido (caso não fosse tão absolutamente necessário - e é-o!).

Procuro não pensar muito no parto em si, e no que isso implica para bebé e mãe. Mas acabo por ler tudo aquilo a que tenho acesso.
Às vezes acho que é o processo mais natural do mundo, e que nascemos para isto mesmo. Outras acho que é uma prova de fogo para as duas partes, e sinto medo.

Finalmente soubemos, já há duas semanas.
Pensei que não iriamos saber nunca, até que nascesse. Depois de tantas tentativas e outros tantos fracassos. E gostava, sim. Gostava muito de saber, gostava de poder dizer mesmo ele ou ela, de usar um nome, mas já não pensava nisso. Estava resignada.
Afinal soubemos: é menina.

Gostaria igualmente de um menino ou menina. É verdade.
Mas estava demasiado convencida de que era menina. Estranharia - acho - se fosse menino, mesmo que, realmente, gostasse igualmente.
Arriscaria dizer que o momento em que a médica disse que era menina de caras, e olhei para o monitor, deve ter sido o momento mais feliz da minha vida até agora. Tolice? Talvez. Acho que sim. Mas posso sempre culpar as hormonas. Na verdade acho que foi por a ter sentido mais perto, mais definida, com identidade finalmente. E esta mesmo: cada vez mais perto.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Das férias II

Não foram na minha praia, pois não. Foram lá em cima, numa casa gentilmente emprestada por amigos. E eu deixei-me conquistar, não sem um pequeno sentimento de culpa, como que por me achar a trair a praia que me acolheu todos os Verões desde a infância. Mas depois a culpa desvaneceu-se.

As saudades não. Olhava para o mar e pensava como estariam as ondas por lá, punha um pé na água e pensava qual seria a temperatura da água lá, ouvia o chilrear das crianças e pensava como estarão mais crescidas as das minhas amigas, olhava as pessoas e lembrava-me das pessoas com quem vivi todos estes verões.

Não foram na minha praia mas foram no meu Norte. Que eu bem sei que está mal formulada a questão e que sou eu que lhes pertenço e não o contrário.

Naquela praia os campos de milho chegam quase ao areal, os muros são de granito e o pão sabe a bolos. O areal fica quase ao sair da porta e não há preocupações com a indumentária e a vida social. Vive-se, simplesmente. Desfruta-se.

As gaivotas pedem-nos comida ao fim da tarde, insistentemente, e eu gostei de lhes dar pão. Há rochas, pedrinhas redondas que parecem feitas para as colocarmos em colares, um mar acolhedor e um areal quase só para nós. Há dunas e uma capela de granito nas arribas e o tempo é o que nós quisermos.

E há mais do que isso. Eramos nós. Só nós. Os dois, os três. Distância e familia na conta certa. Nós. Nós! E isso contaria só por si.

Nestas férias houve novidades, estreias absolutas, que de tão naturais quase não se notaram como tal. E houve o regresso a lugares que acho que conheço antes de existir, por mais estranho que isso possa parecer, e a paz e a segurança que isso me trás.

E houve a volta e o coração que se aperta sempre nessas alturas. Sempre.Aperta-se ao virar as costas ao mar e à areia, aperta-se ao ouvir o som da porta da casa a fechar-se atrás de nós, aperta-se aos primeiros metros percorridos pelo carro, aperta-se mais abaixo, ao passar pelo Porto de Leixões e, mais ainda, ao passar o Douro. E nessa altura é difícl resistir como até aí, e olho para trás. É a volta, sem mais nada a fazer.

Para trás ficaram poucos dias mas muitas coisas.
E ficou o que o coração conseguio guardar. Isso e as coisas que encomendámos lá por cima para este bebé e que a(o) aconchegarão também a ela(e). Também a ela(e)... também mesmo antes de nascer.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Das férias

Agosto chegou ao fim e eu também as tive.
Pequeninas, pequeninas. Mas cheias que nem um ovo.
E por pateta que pareça, talvez por me ter esquecido de levar a máquina fotográfica (apesar de ter acesso às imagens pacientemente captadas pelo paizinho), guardo as imagens destas férias de outros modos.

Souberam-me pela vida...