terça-feira, 31 de janeiro de 2006

:-)

Transcrição parcial, e tão aproximada do original quanto possível, de um telefonema recebido, há minutos, de um 4º primo de uns 10º primos meus, daqueles lá de cima (pois porque só tenho primos a esta distância genealógica, lá em cima).

-Sabes? Fizemos a vontade à S. (filha dele) e resolvemos arranjar um cão.

- Ai sim? Ainda bem. Faz bem às crianças crescerem com um animal, e ela gostava tanto!

- Pois, foi o que pensámos!

- Ainda é muito novinho o cão?

- Não. Por acaso é adulto, já tem um ano.

- E adaptou-se bem?

- Sim, muito bem. E agora pus uma placa à entrada a dizer: Cuidado com o cão.

- Mas porquê? É perigoso?

- Não! Tem é 10cm de altura! Já imaginaste se alguém o pisa?!


Eu já devia estar à espera de uma coisa destas!
É impossível não rir a bandeiras despregadas!
É que não é menino só de dizer estas coisas, tem mesmo que as fazer!

Changes

Durante muito tempo não fui capaz de tocar no nome dele.
Durante muito tempo não fui sequer capaz de lidar com a ideia, com o que se tinha passado, com nada. Depois, fui sendo capaz disso tudo.

Muito tempo depois fui capaz de deitar fotografias, bilhetinhos, cartas... fora. Bom, confesso que sobreviveram umas poucas fotografias, uns poucos bilhetinhos e duas cartas, mas muito bem guardadas, porque nem sinto a necessidade de me desfazer deles, nem a de os voltar a ver.
Fiz isso já sem raiva, nem ressentimentos, nem dor. E lembro-me muito bem de me ter espantado com isso.
As últimas sms foram apagadas só este Verão, mas já não as revia há muito tempo.

Mas com o nome as coisas foram um nadinha mais complicadas. Fazia-me tremer pronuncia-lo ou ouvi-lo. Evita-o por todos os modos possíveis.
Em Maio, quando iniciei o outro trabalho, passei a ter um colega com o nome dele. Como conhecia a irmã dele, referia-me a ele como o irmão da I.
Mas quando falava com ele, tinha de o chamar pelo nome; quando as pessoas me falavam nele era pelo nome. E aquele nome deixou de me fazer estremecer.

Hoje, parece tudo tão longe, que chega a dar-me vontade de rir.
Não, o nome não me faz confusão nenhuma. Mas noto que a minha família e amigos próximos ainda o evitem, e são eles que estremecem se o pronunciam perto de mim.

Ontem, em conversa com uma amiga muito próxima, que acompanhou tudo de muito perto, que estava habituada a ter-nos na casa dela, que estava habituada à omnipresença dele na minha vida, ela acabou por pronunciar o nome dele, e ficou assustada a seguir.
Ela ainda se espanta com o facto de já não me importar nada com ele, com o que se passou entre nós, com o que podia não ter sido assim. Mas, finalmente, ficou tranquila, convencida que é, de facto, assunto do passado. E lá lhe saiu o nome dele, baixinho, a medo, de olhos baixos. Eu ri-me e disse-lhe que não me fazia diferença nenhuma.
Ela riu-se; eu ri-me.
E acabámos a conversa a rir e com ela a dizer: Era um homem bem bonito!
Pois era, e deve estar vivo ainda!
Mas acabámos a conversa com risos e a divertirmo-nos com o que, ainda não há muito tempo, era um fantasma.
O tempo não se limita a curar tudo; o tempo transforma tudo!

segunda-feira, 30 de janeiro de 2006

Snow!!!


Este Domingo, estava condenado a não ser um Domingo como os outros.
Chovia, não me apetecia levantar-me mas... tinha de ser! Tinha pessoas a chegar.
E, de repente, já muito fora de horas, já com algumas pessoas em casa, enquanto começava, resignada e vagarosamente, a vestir-me ouço o grito de: Está a nevar!

Nessa altura... bom, nessa altura, deito a mão a uma parka comprida, de penas, visto-a por cima da roupa interior, calço as chinelas de quarto e saio, corredor fora, em direcção à rua.

E estava! Estava a nevar a sério!
Flocos enormes, empurrados pelo vento.
Depois foram horas assim (mas claro que voltei a casa para me vestir; e de acordo com o dia). Não estava só a nevar, foi mesmo uma tempestade de neve. Com direito a tudo: correrias, e quedas, bolas de neve em cima uns dos outros... O meu irmão chegou ao ponto de dizer: Já viram que, daqui a pouco dá para usar os skis?!
Algum exagero claro, mas a esta hora, ainda os cimos dos montes estão completamente cobertos, ainda há neve nos carros que deixamos na rua, ainda há neve no jardim.

Não chega a ser notícia; eu própria já não consigo suportar as televisões a falar de neve, mas... enfim. Foi um belo presente!

PS: Confirma-se. O meu cachorro sai mesmo à dona. Não é só doido por água! Também adora neve!

sábado, 28 de janeiro de 2006

Advertência

O Google Earth devia vir com um aviso, bem visível, para os utililizadores.
Assim, ao jeito dos maços de tabaco (apesar de não fumar). Sim, devia aparecer em letras grandes, gordas e coloridas, qualquer coisa do género: o governo ( or whatever!) adverte que o uso do Google Earth provoca esquecimentos da hora das refeições e baixa a produtividade no trabalho.

Sim, porque provoca mesmo! Pelo menos a mim!
Ontem esqueci-me do jantar e hoje, apesar de ter acordado com o nobre propósito de adiantar umas coisas no escritório, para cumprir as datas que estabeleci para mim mesma, tenho que admitir, tristemente, que não fiz grande coisa para além de andar às voltas naquele maldito globo viciante!

quinta-feira, 26 de janeiro de 2006

Decisões

O facto de aparentar uma serenidade que não tinha há muito tempo e o de ter deixado de me queixar do que quer que fosse e de levantar o tom de voz, causou alguma estranheza na maioria das pessoas que me são próximas.

A mim, nem por isso. Aconteceu.
Acho que aconteceu no momento em que percebi que a culpa do rumo da minha vida era só minha. E foi mesmo assim, de um momento para o outro, sem explicação.

Percebi que tudo o que existia era resultado das minhas decisões. Até quando decidia, simplesmente, não decidir nada.
Em tudo, a toda a hora, temos que decidir: levantarmo-nos cedo ou deixarmo-nos dormir, vestir casaco ou não, ir depressa ou devagar, por este ou por aquele caminho, arriscar ou não fazer nada, dar rédea solta aos sentimentos ou ser racional, comprar ou vender, assinar ou não, fazer ou mandar fazer...
Sempre, a toda a hora! E a consequência de uma decisão leva-nos a outra, e a outra, e a outra...

A verdade é que, muitas vezes, não decidimos em função do que gostávamos ou do que queriamos, e sujeitamos a nossa decisão à prudência, ao bom senso, à opinião de terceiros... Mas, o facto é que somos sempre nós a decidir.

Percebi isso e, nesse momento preciso, deixou de fazer sentido lamentar-me.
As coisas não estão bem? Não tenho o que quero? Não fiz aquilo que tive vontade? Pois, pode ser verdade, mas fui eu que decidi nesse sentido; fui eu que não arrisquei, fui eu que tomei a opinião de outras pessoas em conta e a coloquei à frente da minha vontade, fui eu que tive medo... fui eu!
E, se fui eu, vou queixar-me de quem ou do quê?!

A verdade é, muitas, muitas vezes, não decidimos como gostávamos mas sim como achamos que deviamos. E também é verdade que temos que decidir entre duas, ou mais, coisas possíveis e que, muitas vezes a nossa alma pede-nos insistentemente o impossível, o que não depende mesmo de nós.
É por isso que nos entristecemos, que baixamos os braços, que nos resignamos.

Numa discussão, noite dentro, com o meu pai - discussão no sentido em que era uma troca de opiniões, por sinal, não coincidentes, mas absolutamente amistosa - , a determinada altura, e tendo ele tomado consciência dessa diferença e do facto de eu ter deixado de ser a menina refilona, que levantava a voz e batia o pé, mesmo que depois acabasse por ceder; disse-me para não tomar em conta a opinião de ninguém, nem mesmo a dele; para decidir em função da minha vontade, para ponderar bem, mas para decidir só em função do que realmente quero ou sinto, mesmo indo contra a opinião dos outros ou a dele.

Uma grande lição! Não tinha, eu própria tido a coragem, de encarar isso de frente. Estava, de facto, a decidir algumas vezes, em função de outras vontades. Depois assumia as consequências, sabia que tinha de viver em função dessas opções, que tinham sido tomadas de uma forma consciente mas resignada.
Não vai ser mais assim.
Vou correr mais riscos? Vou estar menos protegida e resguardada? Posso até sofrer mais?
Pode ser tudo isso, mas serão as minhas decisões, os meus riscos. Se correr mal, correu; se cair levanto-me! Mas decidirei por mim e as minhas decisões, as sérias, as que mexem com a vida, com o que vai cá dentro, vão deixar de ser concessões! Não basta ter consciência, é preciso também ter coragem!

terça-feira, 24 de janeiro de 2006

Qualidade de vida



Cresci a ouvir o meu pai dizer que qualidade de vida era viver assim, de modo a poder passar o dia a mexer na terra e ir à noite ao S. Carlos, ou almoçar no Tavares Rico e à noite ouvir as rãs e os grilos.

Pode ser que sim. Até acho que sim. Mas entre uma coisa e outra, é preciso mudar de roupa e de calçado um número variável de vezes. Passar das botinhas para sapatos de salto, passando muitas vezes, pelos soluções intermédias.

Normalmente, a indumentária de um dia comum nem passa por nenhuma destas soluções, mas há dias...

segunda-feira, 23 de janeiro de 2006

Contra-senso

Contra-senso é sentirmo-nos, absoluta e rigorosamente, sós e, simultaneamente, sufocados pela presença de pessoas, que até gostam de nós! Algumas gostam mesmo muito! Mas...
É absurdo, eu sei. E se juntarmos uns pózinhos de cansaço... temos a receita certa para um dia perfeito!


- Postzinho cinzeto, eu sei! Peço desculpa, mas tinha que sair. Fazer tudo certinho, às vezes, cansa.

sábado, 21 de janeiro de 2006

Agenda

Hoje e amanhã, é isto.
Ontem não podia. E hoje... era pedir muito que me levantasse cedo depois de mais um aniversário - não o meu!
Por acaso, não gosto muito do cartaz deste ano, mas isso também não interessa nada.
Agora vou. Já, já a seguir!

sexta-feira, 20 de janeiro de 2006

Defina-me...

Numa reunião enfadonha, de apresentação de resultados que já conheçemos e de outros que, pura e simplesmente, não me interessam porque não me dizem respeito nem têm nada a ver comigo, é natural que estivesse, mentalmente, ausente.

Mas quem é que não desce à terra e depois se interroga se está, de facto, no sítio certo quando, nem mais nem menos, do que o Sr. Presidente se volta para nós e nos diz: Defina-me "afrodisíaco"!

Eu?!
Afrodisíaco?!
Em nome de quê?!

quinta-feira, 19 de janeiro de 2006

Nomes


Deram-me o nome da minha trisavó. Antes mesmo de nascer era isso que me estava destinado.
Destinaram-me o seu nome e esperaram que fosse igual a ela, que ocupasse o mesmo lugar, que tivesse as mesmas reacções e gostos, até que utilizasse algumas das coisas que ela deixou.

Eu aprendi a procurá-la desde pequena. Desde muito pequena. Queria saber quem ela era, talvez para perceber o que esperavam de mim.
Conheço-a como se tivesse crescido com ela. Descobri o seu diário e cartas.
Quis o destino que guardasse os seus segredos. De uma pessoa que nunca conheci...
E, de algum modo, sempre senti, desde pequenina, que ela me acompanhava e que faziamos parte de uma mesma coisa que não sabia definir o que era. Continuo a não saber.

Hoje, não sei porquê, tenho-me lembrado muito dela!

Manias # 2

Depois da mania do filofax, que me foi oferecido ainda eu era uma menina de colégio e me acompanhou licenciatura fora e no primeiro ano do mestrado, veio a mania das agendas. Mais especificamente a mania das agendas da Taschen.

Atempademente compradas na Ferin ou na papelaria do costume. Mas não este ano.
Este ano não houve tempo para isso.

Uns dias antes do final do ano, andando eu pelo El corte Inglés (ai a publicidade!) ainda me dei ao trabalho de me dirigir à seccção correspondente e procurá-las, mas a fila para pagamento era tão grande, mas tão grande, que desisti.
Depois descobri que a papelaria do costume já não as vende. E a Ferin tem estado muito fora das minhas rotas.

Ora, como me recuso a comprar outras, ando a fazer uma coisa fabulosa: escrevo o que é necessário na agenda do ano passado.
O resultado é brilhante. Coisas do ano passado misturadas com as deste ano, dias trocados, falta de espaço para escrever compensado com post-its ... e algumas coisas mais importantes, essas sim, registadas na agenda do telemóvel.
Claro que há a agenda do escritório, mas essa é "do escritório", e as coisas que não são mesmo de trabalho, não vou escrever lá. E também não sai daqui, portanto... não chega.

Já vai sendo mais do que tempo de me decidir. Ou bem que me decido a ir de propósito à Ferin, que também não fica do outro lado do mundo, ou... perco esta mania e compro uma agenda. Uma agenda qualquer e pronto!

quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

Manias


Não é um vício. Durmo tão bem se o fizer como se passar sem isso. Não é imprescindível.
Mas é, nitidamente, uma mania. Uma mania de Inverno, nas noites em que me deito fora de horas. De preferência, nesta mesma caneca.

Chá com leite, adoçado com mel.

terça-feira, 17 de janeiro de 2006

Non sense

Conversa entre pai/patrão -filha.

P- Mas a menina ainda está a trabalhar?

E aqui a filha, fica de pé atrás porque sabe que o pai só a trata por "você" e por "menina" quando vem a caminho um assunto sensível.

F - Sim, estava a tentar deixar as coisas em ordem.

P- Mas já é tarde... Agora, já tem mais tempo, já está livre do que tinha a fazer lá na C.

F- Sim.

P- Não acha que é mais do que altura para acabar a tese?! Já não há desculpas!

F - Por acaso é. E a propósito, lá para Fevereiro preciso de uns dois ou três dias. Não se importa, pois não?

P- Claro, claro! Claro que não me importo. Para a tese?

F - Sim. Preciso de ir àqueles arquivos que me faltam.

P- Ai, mas há tanto tabalho atrasado.

F - Sim, sim, mas está a deixar de ficar atrasado.

P - Mas volta, não volta?

F - Dois ou três dias.

P - Sonhei que...

F - Já sei!
Em Fevereiro Pai, dois ou três dias.

P - A tese tem de ser acabada. É muito importante, que a acabe! Não se deixam coisas por acabar, muito menos nessa fase.

F - Pois claro que não!

P- Eu sonhei que...

F- Em Fevereiro Pai!

P - Claro, claro! E eu alguma vez lhe levantei alguns problemas para fazer o que quer que fosse, mesmo quando tinha idade para isso?!

F - ?!?!
Em Fevereiro!

P- Pois claro, a tese! Faz muito bem! Se quiser ir...

domingo, 15 de janeiro de 2006

Veneta


No rescaldo do fim-de-semana - que me soube muito bem! - fica esta maravilhosa imagem de um pulso enroladinho numa ligadura elástica.
Esta, e outras fotografias foram tiradas, aparentemente, com o nobre intuito de me fazerem lembrar as cautelas devidas.

Recomendação depois de verificado que não havia nada partido: pulso ligado e braço imobilizado.
Mas, obviamente, aquelas luvas não servem para ser utilizadas por quem está quietinha, donde... as recomendações não foram ouvidas.

Chamam-lhe um azar, eu chamo-lhe a prova de um fim-de-semana vivido.
Riu-me porque podia, de facto, ter sido perigoso, mas não foi.
Riu-me como fazia em pequena quando caía da cama, da bicicleta ou dos patins, ou quando era enrolada nas ondas. Já nem me lembrava que era assim, que fazia estas coisas e que depois me ria delas.

Chamam veneta ao que me leva a não ficar quietinha o resto do fim-de-semana, à lareira. Eu não sei o que lhe chamo, mas acho que é só a vida.

Esta menina tem veneta!
Já não ouvia isto há tanto tempo... que já nem me lembrava! :)

quarta-feira, 11 de janeiro de 2006

A felicidade


Quantas vezes andamos tristes, quantas vezes sentimos uma vontade incontrolável de chorar sem nem sabermos porquê? Porque sim, porque acontece, porque chega sem avisar, sem se saber de onde vem nem porque razão. E aceitamos, aceitamos sem questionar. Baixamos a cabeça, choramos, choramos... até que a alma se sinta, não confortada, mas cansada.
Aceitamos, simplesmente.

É normal a tristeza, os olhares sem brilho, os lábios sem sorrisos. É normal caminharmos sem entusiamo, cumprimos os afazeres com a resignação de quem cumpre uma pena.
A tristeza é normal; uma tristezazinha subtil e persistente. Tão normal que já nem reparamos nela. Ninguém se admira de ver os outros tristonhos, e ninguém se interroga porquê que andam assim.

O que não é normal é o contrário. É andar-se bem disposto, paciente, risonho. Leve como quem anda em bicos dos pés. Adormecer com um suspiro e gostar de sentir o contacto dos lençóis e acordar ensonada mas sorridente. Sentir-se bem com o ar que se respira, com o que se vê à nossa volta, gostar do leite quente do pequeno-almoço e do chá da tarde, tirar partido dos percusos a pé, das viagens de carro, rir das conversas com os colegas, reparar nos pássaros que começam a adivinhar a Primavera e nas primeiras flores nos campos, arranjar tempo para uns jantares com os amigos...

Isso não, não é normal.
Não é normal andar com um ar bem disposto.
Nessa altura lá vêm as perguntas. É que, aparentemente, uma cara bem disposta é sinónimo de cara de pateta ou, se preferirmos, de cara de apaixonada. Sim, deve ser. É isso que me perguntam: Estás apaixonada? Andas com cara disso!

É que não é normal. Não é normal alguém sentir-se bem. Até é quase irritante.
Pois eu sinto-me bem. Sinto-me bem, simplesmente. Não sei porquê que aconteceu, não sei como (mas até gostava), não sei quanto vai durar, não sei nada...
Sei que... aconteceu.
Ano Novo vida nova; é o que costumam dizer. Eu não sei.

Sei que não tenho medo dos fantasmas de tempos passados, que não me posso queixar de muitas coisas que tenho; que, não me sentindo absolutamente realizada, também não sinto qualquer tipo de ansiedade com isso; sei que não vejo à minha frente a necessidade de fazer ou viver nada que não me agrade; sei que não sinto o apelo para fazer planos e arranjar calendários forçados; sei que é muito melhor viver assim, sem me angustiar com o que não tenho mas queria ou com o que tenho mas posso perder; viver assim com calma, desfrutar do que temos e do que vamos deixando que aconteça na nossa vida.
Sei que todos nós temos cá dentro um ponto de equilíbrio qualquer, que um dia, depois de algumas quedas e feridas e tempo para as curarmos e aprendermos com elas, acabamos por encontrá-lo.

Não sei, mas começa a parecer-me que o segredo está aí: em encontrar esse ponto de equilíbrio que traz consigo uma harmonia doce e... deixarmo-nos levar assim. A vida deve estar cheia de coisas boas!
Isto sim, devia ser normal. Era a felicidade que devia ser normal.

terça-feira, 10 de janeiro de 2006

Quem sai aos seus...

Ontem à noitinha, ao chegar a casa, pego no cachorro e levo-o à rua. Não estava própriamente calor, mas tinha de ser.
Salta pelo jardim, foge para trás da casa, corre pelo jardim de trás, desce para a piscina e... atira-se para aquela maravilhosa água verdinha com limos de um ano.

Pego nele, gelado. E fico molhada e gelada eu também, pois claro.
E a seguir vou dar um banho quente ao cãozinho, que é pequenino, enquanto eu gelava mais com as calças molhadas.
Só depois tenho direito a um banho decente para mim.

Hoje de manhã, vou mostrar uma vinha que temos na margem do rio a uma técnica mas... lembro-me de levar o cãozinho.
Estava tudo a correr muito bem. Ele brincava com a cadela dela enquanto nós falávamos... de assuntos que só interressam a mulheres.
De repente desaparecem. Chamo-o e não o vejo. Vamos até ao rio e lá estava ele: todo sujo de lama, dentro de água e sem conseguir sair de lá.
Lá desço a rampa até ao rio, estico-me, agarro-o pelo pescoço e tiro-o de lá. Lá fico suja e molhada outra vez, lá o enfio na parte de trás da carrinha e, em vez de me aborrecer, rio um bocadinho.

Ela ri-se também; dele e de mim, que fiquei com a roupa muito bonitinha, e comenta: Quem sai aos seus...!

E eu respondo: Pois é! A mãe dele também é assim! Não pode ver água, atira-se logo lá para dentro. Até no mar, não imaginas...

- Não estava a falar da mãe dele; estava a falar de ti!

E pronto, foi um bom início de dia! Isto da vida no campo...!
Mas como este ano ainda não consegui aborrecer-me a sério com coisa nenhuma... who cares?! :)

domingo, 8 de janeiro de 2006

Aventura

Durante muito tempo; anos e anos; pensei em ter uma família grande. Uma família com muitos filhos e um pai à altura, pois claro. E pensei que ia ser assim porque era assim que eu queria!
Gostava de ter tido mais do que um irmão. Gostava muito de ter tido uma irmãzinha mais pequena; achava que também devia ser bom ter uma irmã mais velha para antecipar os problemas, ser ela a abri-me o caminho quando quizesse ir à matiné do colégio, sair com as amigas e - pior! - com amigos também, explicar-me as coisas novas com que nos vamos deparando na vida; um irmão mais velho também devia dar um certo jeito! Mas nada, um irmão pouco mais novo que eu e mais nada!

Eu iria ter uma família grande!
Hoje já não penso bem assim.
Dois está bem, mesmo que preferisse ter três filhos. E, sobretudo, já não tenho certezas de nada, afinal há um pormenorzito importante: o pai.
Mas continuo a gostar de crianças! Muito mesmo!

Não foi sacrifício nenhum pensar em ir ao super-mercado com três crianças pequenas. Mas foi uma aventura levá-las!
Três, entre os dois e os seis anos, com arredondamentos por cima, claro.
O Tiaginho, a Maria e a Leonor.

Conhecendo-os bem pensava que ia correr tudo muito bem.
Ora, se o Tiago só fica quieto com um telemóvel ou uma máquina digital, pega-se num telemóvel avariado e leva-se para lhe dar enquanto o mantemos sentado no carrinho de compras enquanto tentava seguir a lista.

Não demorou a perceber que aquilo não funcionava - menino espertinho à beira de fazer dois anos! - e, portanto, não demorou a berrar pelo meu. E também não demorou a querer saltar do carrinho.
A Maria essa, afinal também queria o telemóvel, e queria as Barbies e os ursos e os cavalinhos e até os carrinhos. Também queria as roupas, as mangas e os ananáses, as bolachas e os bolos de chocolate, os amaciadores para o cabelo, os cremes hidratantes... Também queria subir para o carrinho de compras, e a seguir queria descer e fugir pelos corredores a correr e a rir.
E a Leonor queria os cadernos, as aguarelas, os cavalinhos, as Barbies e dava sermões à Maria. Afinal ela era a mais velha e levava isso muito a sério. E agarrava-se ao meu casaco a fazer peso ou insistia - mas com muita veemência - que queria que eu lhe desse a mão ( precisava de pelo menos mais duas!).

Ele, está visto, será operador de telecomunicações ou fotógrafo. Claro!
Elas... como boas mulherzinhas em ponto pequeno... podem ser qualquer coisa, está bem de ver!

Portanto, aventura, aventura e levar três crianças pequenas ao super-mercado.
Qual Dakar, quais desportos radicais... Nada! Aventura, à séria, é mesmo levar, sózinha, três crianças assim pequeninas ao super-mercado.
Mas isso foi ontem, hoje é Domingo e foi um dia bem mais calminho. Mas lá que tem piada... tem! :)

sexta-feira, 6 de janeiro de 2006

A normalidade


O problema da normalidade está aqui: na falta de vontade para escrever, justamente por achar que tudo é normal, que tudo está a seguir o seu rumo, por não espernear, nem gritar, nem protestar, por não destacar nada, por tudo parecer normal. Por não estar inquieta, por não me interrogar, por não correr atrás de nada.

Mesmo que o trabalho e as minhas secretárias tenham pilhas - literalmente - imensas de papéis, mesmo que esse trabalho me leve a sair e atrasar ainda mais as coisas. Até porque há o reverso da medalha: o não ter rotinas e ir parar a sítios assim calminhos - mesmo que prefira o mar!
Não protesto, não me queixo, porque não sinto vontade.
Mesmo quando sou confrontada com um assunto bem mais grave.

Quando aceitei ser madrinha da M. sabia bem a responsabilidade que isso implicava, sabia que aos padrinhos cabe ajudar os pais na educação de uma criança e, substitui-los em caso de necessidade. Sabia que, neste caso preciso, a tarefa não ia ser simples, presenti que o meu primo, pai dela, não estava muito empenhado na criação da filha, que ainda nem tinha nascido.

Ainda a M. não tinha nascido e já ele tinha deixado a mãe dela. Mau sinal, mas se não podia continuar a ser marido podia, pelo menos, ser pai. Mas não!

Achava que era minha obrigação lembrá-lo que tinha uma filha, mas nunca serviu de nada, e não demorei a perceber que nunca ia mudar e que era melhor não esperarmos por aquilo que nunca aconteceria.
A M. não tinha culpa de nada - nem sequer a mãe dela, diga-se em abono da verdade! - é uma criança linda e doce a quem sempre tentámos que não faltasse amor. Mas o amor de pai... esse nunca conheceu. E sabiamos que, mais cedo ou mais tarde, ela teria essa percepção.

Foi cedo, muito cedo!
Não me espantei que tivesse gritado na sua vózinha, trapalhona ainda, que não queria o pai; que gritasse e fugisse e soluçasse para lhe escapar e repetisse sem parar: O pai não! O pai não! Pai mau!

Não me admirei e achei que para ele era bem feito. Sabia que um dia havia de querer recuperar a filha com quem nunca se importou. Para ele foi bem feito. Mas não é para ela!
E entristece-me que, por muito que me preocupe com ela, que goste dela, que lhe dê atenção... não consiga nem sequer aliviar um bocadinho essa falta!
Mas daqui a pouco vamos fazer umas comprinhas, que ela bem merece, e eu também, que ter aqueles bracinhos à volta do meu pescoço é das melhores coisas da vida!

quarta-feira, 4 de janeiro de 2006

Conversas...

Quando uma amiga nos pergunta: Lembras-te de me falares do casamento do D. Fernando com a Leonor Teles?; não nos passa pela cabeça onde a conversa nos vai levar.
Não me lembrava, mas não estranhei. Era natural que tivesse falado disso. Pensei que ela estava interessada na história mas, afinal não era assim.

Aproveitou para me informar que ia casar. Fiquei contente por ela, e até por ele. Parecem feitos um para o outro, são diferentes, mas completam-se; assisti a arrufos mas eram só isso: arrufos de quem se quer bem. Esqueci-me da Leonor Teles.

Depois dos parabéns, ela insiste no assunto.

- Não me lembro, mas se calhar falei-te nisso. É natural que sim; é um assunto que me é familiar. Mas não é uma história bonita, menos ainda para quem está prestres a casar!

- Não estou a falar da história, estou a falar do sítio. Lembras-te de me teres mostrado um monte de fotografias há uns anos? O sítio é tão imponente, tão bonito, que quero casar lá. Emprestas-me as fotografias?

Ri-me porque achei que ela não sabia bem o que estava a dizer. Afinal, aquela igreja não fica aqui ao virar da esquina. Lembrei-lhe da distância e ela responde-me, em tom bem disposto e de desafio, que sempre me tinha ouvido dizer que nunca casaria cá em baixo.
O que é verdade, mas porque tenho motivos para isso, porque não faz sentido que fosse aqui, porque tenho ligações muito mais fortes noutro sítio, porque é a esse sítio que, verdadeiramente, pertenço, porque... Porque muita coisa!
E depois aquela história sombria, trágica e tenebrosa... Bem me lembro de há já alguns anos, quando andava a estudar os baliados - baliados de balios. Não tem nada a ver com balas! - ter estado lá e ter olhado para esse edifício que é, de facto, tão bonito, e pensar que era pena estar tão ligado a um episódio assim nefasto.

Nada! Nada a demoveu!
Lá levou as fotografias, e eu até gostei de as rever mas, a partir de agora, vou mostar menos entusiamo quando falar de alguma história ou de algum sítio. Nunca se sabe o resultado dessas conversas!
Só espero que os convidados não me culpem por terem de fazer tantos quilómetros!

segunda-feira, 2 de janeiro de 2006

Ainda o Ano Novo...

Não fiz o balanço do ano que passou quando toda a gente o fez. Não fiz porque não senti vontade de o fazer. Tarefa demasiado volumosa para que deitasse mãos a ela, voluntariamente.
Para que este fizesse sentido era necessário recuar e perceber o outro, o que o antecedeu, o de 2004. E esse foi tão mau, mas tão mau, que parece impossível que tenha existido. Um ano "zero". Um espaço entre duas vidas, tão mau.

O ano de 2005 foi o recomeço de tudo. Da vida. Das coisas mais simples às mais complexas.
Voltar a levantar a cabeça e olhar para a frente, voltar a sorrir e a apreciar as coisas mais simples da vida, de recomeçar a trabalhar e, de repente, estar a concorrer a um trabalho que pensava que não conseguiria, e consegui-lo e aprender tantas coisas novas, e conhecer tantas pessoas com formações e personalidades tão diferentes.
De escolher os amigos que queria manter e os novos, de fazer coisas que dizia que nunca faria, de não me arrepender.
De não ter tempo para nada, de andar de um lado para o outro, e bem disposta.
De redescobrir os sentimentos. De ser tudo novo, mesmo. Como se estivesse a experimentar tudo pela primeira vez na vida.

O ano de 2005, também teve momentos difíceis. Também chorei, e tive que reaprender a lidar com a frustação. Mas foi cheio, pleno, quase uma voragem. Chego a arrepiar-me ao olhar para trás. Como é que foi possível acontecer tanta coisas em 12 meses?!
Acho que comprimi uma vida inteira num ano. Uma vida nova.

Agora... se calhar é por isso, por ter esta sensação estranha de ter feito um caminho, de ter mudado tanto ao longo de 12 meses, de ter chegado a um ponto qualquer que nem eu consigo definir. Se calhar é por isso que não faço planos. Se calhar é por isso que se espantam por, nos últimos tempos, não levantar a voz, não atirar coisas ao chão. Deixar andar...
Não é que não existam coisas que gostasse que acontecessem neste ano mas... que venha o que tiver que vir!
Uma folha em branco pode ser uma coisa tão perfeita...