segunda-feira, 26 de setembro de 2005

Áreas de Serviço

Desde pequena que me lembro de ouvir dizer: Cada maluco com a sua mania!
Era sempre dito com a naturalidade de quem reconhece que, malucos, somos todos um bocadinho. Quem é que não tem uma ou outra mania?!

Mas eu tenho várias!
Uma delas é, francamente, estranha. Gosto de áreas de serviço. Sim, de áreas de serviço, das autoestradas.

Desenvolvi esse gosto quando comecei a gostar de aeroportos; que o mesmo é dizer que foi quando comecei a gostar de viajar, porque de aviões, propriamente ditos, não gosto.
Ora, à falta de idas e vindas de aeroportos, sempre existe aquilo que, a mim, me surge como o substituto mais próximo: as áreas de serviço.
Não gosto da comida. Nada!
Mas até nisso me lembra um aeroporto. É que a comida de avião, enfim...
Mas agradam-me outras coisas.

Depois de oito horas sem comer até me pareceu uma boa ideia as almôndegas mornas com esparguete cozido há horas.
Apercebi-me muito por alto da conversa da S. acerca da festa de anos dela (à qual não posso faltar!), do riso do P. a cada palavra dela e dos pontapés que o L. me deu por baixo da mesa por perceber que estava noutra dimensão. E estava mesmo.

Estava num sítio fora das referências normais.
Não pertence a lugar nenhum. Não é destino de ninguém.
Ninguém lá permanece, toda a gente está de passagem. Ninguém pertence lá.
Cada uma das pessoas que lá estão tem histórias diferentes, destinos diferentes, origens diferentes. De comum apenas existe o facto de coincidirem ali, num momento mais efémero do que qualquer momento, por defininção, forçosamente é.
Todos estão a ir ou a vir de algum lado.

Estava distraída a tentar perceber que tipo de pessoas lá estavam.
Um casal de estrangeiros de meia idade, talvez holandeses; um homem novo, sózinho, com ar de quem se sentia asfixiado mas não pela gravata que usava; cinco espanhóis barulhentos como é normal, turistas evidentemente; um casal novo com uma pequenita de caracóis largos, já quase adormecida encostada à mãe; e um outro casal com ar de quem não queria continuar viagem nenhuma em conjunto.
Não resisti à velha tentação de tentar reconstituir, mentalmente, a vida de cada uma dessas pessoas.

Mais um pontapé, um olhar inquisidor e a pergunta: Onde é que andas?, fizeram-me voltar ao resto das almôndegas.
Levantei-me e fui comprar pilhas - também nisso se parece com as lojas dos aeroportos.
Saímos, como toda a gente, para continuar viagem. Como toda a gente, não tinhamos nada que nos prendesse ali. Aquele lugar não tem importância, nem identidade, nem faz parte de nada, a não ser de um instante na viagem de cada um. É isso que me agrada neles.
E lá voltamos à autoestrada e ao CD dos Coldplay, porque aquilo é só uma paragem rápida, fora do espaço e do tempo.

sábado, 24 de setembro de 2005

A Sul

A viagem é, realmente, de trabalho. Foi marcada pouco depois do meu regresso de férias.
Primeiro não liguei. Depois resmunguei. Queria ir para cima, tinha que ir para baixo!

Não me convinha uma viagem agora. Não em tempo de vindima. Mas era agora, tinha de ser.
Foi a primeira de uma série de viagens por aí, por este país.

Foram muitos quilómetros, muitas horas de viagem. Nos mais variados sentidos, em autoestradas, ICs, estradas municipais ou caminhos de terra batida. Às vezes sem caminhos nenhuns.
Com carros rápidos e confortáveis, em carroçarias de pickups e, em casos mais apertados, com motas 4x4.
Com roupinha lavada ou calças cheias de pó, cabelos despenteados pelo vento e portáteis numa mochila.
A falar com pessoas completamente diferentes. A conhecer mundos em tudo diferentes (opostos!) que coexistem lado a lado. Tudo num pedacinho no Sul deste rectângulozinho que é Portugal. Mas longe dos olhares.

Eu, perdi o rumo, como é normal. Nunca sabia por onde ía (mas sabia para onde tinha que ir porque nos tinham fornecido uma lista). Mas também não me importava muito. O risco não era grande, era evidente que haveriam sempre de nos encontrar.
A única coisa que me preocupava era saber de que lado estava o mar. Andava sempre de nariz no ar para tentar perceber. O resto não me importava. E quando o via, nem que fosse lá bem ao longe, só uma pontinha de azul, lá gritava: Olha, olha! O mar!!!
Às vezes viamos o mar, sim. Às vezes chegavamos lá. Ainda há praias sem casas e sem sequer caminhos!
Às vezes, largava o portátil e a tralha toda e não resistia. E depois molhava a roupa porque nem tinha toalha nem havia tempo para secar, e não sei como não me constipei.
E estava como queria...!

Foi tudo muito condensado. Há dias que valem por meses. Muda-se!
Há coisas que nos fazem mal que ficam a anos luz. Tudo muda de lugar. As referências são outras.
Quem é importante continua a ser importante. Mas, até isso, deixa de ser tão absoluto. Porque nos tornamos mais fortes, nos bastamos mais; porque o ar respirado assim nos torna mais livres, mais leves.
Há muita relutância em voltar. Se calhar com medo que esta força que se respirou nesse vento se esfume com o regresse à rotina, aos mesmos lugares, às mesmas pessoas, aos mesmos problemazinhos.
Enfim... eu sei que sou um bocadinho estranha.

quinta-feira, 22 de setembro de 2005

Va para fora ca dentro!

Nao sei muito bem por onde ando. Sei que fizemos ontem, muitas horas de viagem. Mas mesmo muitas. Sei que , as tantas, nem mapas, nem busulas me eram suficientes (mas nao so a mim! e o problema era esse!) e que um colega me disse com ar dissimulado:

- Deixa la! Daqui a pouco tempo vemos uma placa a dizer: "Portugal - 5Km"!

Gargalhada geral. De facto ja nao sabiamos mesmo onde andavamos!
Mas acabamos por chegar onde deviamos. Sei que andamos por areas cujos servicos oficiais se situam em Silves. Ja nao e mau! Mas isso ja eu sabia antes de vir para aqui.

Sei que tratamos quase so com estrangeiros, que falamos e escrevemos em ingles e que os computadores que nos forneceram nao tem assentos.
Sei que andamos, dependendo dos locais, em carrinhas mercedes ou pickups de traccao completa. Que, no segundo caso, preferimos andar ca fora apesar de apanharmos imenso vento, po e abanoes - ou, se calhar, por isso mesmo.
Sei que esta noite adormeci assim que cai na cama e que adorei o pequeno-almoco.
Sei que 99% das frases aqui comecam com "So...".
Sei que existe um outroPortugal (este!) que me era totalmente desconhecido.
Sei que muitas coisas que me atormentavam parecem ter ficado noutro planeta.
Sei que entendi agora o significado profundo do "Va para fora ca dentro!", que gostava de fazer isto por muuuuuito tempo e que there is no point in negar que adoro isto!


And there is no point in negar tambem que estou um bocadinho de cabeca no ar e com alguma falta de nexo, eu sei, (e do vento, e da viagem, e dessas coisas...) e que nao tenho tempo para visitinhas aos blogs... mas bem disposta! Bye! :)
PS (mas mesmo muito post scriptum): Eu sei que parece. A culpa é inteiramente minha. Mas isto não é uma viagem de recreio; é uma viagem de TRABALHO. Palavra de honra! :)

terça-feira, 20 de setembro de 2005

Razões

Tenho tido falta de tempo.
Só consigo estar num dos sítios, dos dois onde era indispensável que estivesse (eu sabia que esta fase ía ser difícil, mas entre o saber e o viver essa realidade vai uma distância enorme).
É um bom motivo para não escrever. Nem é desculpa, é motivo.

Mas também... nem sempre é fácil.
Há coisas que já não quero dizer. Não assim. Nem sei se devo.
Às vezes quero, às vezes páro. Ando assim, ao sabor de impulsos. Não de impulsos superficiais, mas, ainda assim, de impulsos. Rápidos, turbulentos, desestabilizadores. E cansada.

Li nalgum sítio que a maioria dos blogs não chega a durar um ano. Este já cumpriu essa meta.
Num ano muda muita coisa. Muda-se muito.
Eu mudei, as circunstâncias mudaram.
Mudaram sentimentos, prioridades, estados de alma.
Num ano até desaparecem rotinas e criam-se outras.
Num ano perdemo-nos, encontramo-nos, perdemo-nos... o tempo dá para tanta coisa!

Não estou a dizer que acabo o blog. Já disse, já desdisse.
Já o disse a algumas pessoas, já o disse aqui... e acabo por voltar.
Também já disse, mais do que uma vez, que as coisas não eram as mesmas. E fui sincera.
Não são. Sou absolutamente sincera no que escrevo, mas não sou absolutamente transparente. Não posso. Se calhar ninguém pode, nem ninguém deve! Não, não se deve mesmo!
E, no entanto, foi tão bom sê-lo durante uns meses...!
Bom... parece-me que o fui agora!

sábado, 17 de setembro de 2005

Gostava de culpar a lua...

Eu avisei que tinha entrado numa fase com "especifícidades".

sexta-feira, 16 de setembro de 2005

Porque nem tudo é vindima

Sim, porque nem tudo é vindima, e porque tenho sempre muito mais sono de dia do que de noite, descobri, finalmente, esta madrugada, um hotel em Edimburgo onde não é preciso pagar as módicas quantias que por lá se pagam.

Tem preços fantásticos, condições muito boas e é no local que mais me convém ( ainda por cima é bonito). Claro que está quase sempre esgotado e que as reservas têm que ser feitas com antecedância.

Ora, acordei bem disposta (apesar das muito poucas horas de sono) e pensei: Vou fazer uma reserva para Janeiro. Nessa altura já posso!
Pensei e comentei com a minha mãe quando a encontrei. Resposta dela:

- Em Janeiro não podes! Toda a gente faz anos em Janeiro! Como é que não te lembras de uma coisa dessas?!

- Está bem... Tem razão. Vou mais para o fim.

- Mais para o fim? Só se for mesmo para o fim, ou esqueceste-te que tu também fazes anos em Janeiro?

Ò maldição! Toda a gente fica ofendida se eu faltar aos seus anos, e toda a gente fica ofendida se eu entender passar os meus a milhas (literalmente!).
Ora em Janeiro não pode ser, está visto! Esperar mais um bocadinho...

quarta-feira, 14 de setembro de 2005

3; 2; 1... Vindima


Começou a sério. Com tudo o que isso implica.
Nesta, e nas próximas três semanas, estarei numa outra dimensão. Não devem, por isso, ser estranhadas flutuações, irregulariedades, irracionalidades e coisas que tais.

Entretanto, acho que é uma boa altura para fazer o mesmo aos outros.
Não tentar perceber nada nem ninguém. Nem tentar ver pessoas à lupa, ou dissecar situações.
Não se gosta "porque"..., nem se deixa de gostar "porque". Nem somos mais felizes porque entendemos isto ou aquilo. Sente-se e pronto. O que quer que seja; bom ou mau.

E agora... sacudir o cabelo molhado e ir lá fora... que está um dia lindo; seja lá o que for que isso signifique!

terça-feira, 13 de setembro de 2005

Certezas!

A partir dos primeiros dias de Setembro tenho ouvido conversas com um tema recorrente. Demasiado recorrente.

A minha amiga A. telefona-me e, dez segundos depois, começa num pranto porque deixou o T. num colégio, porque ele ficou a chorar, porque não aceita colo de quase ninguém e porque, quando o vão buscar, está esgotado de tanto chorar.

A minha colega I. anda tristíssima e a sentir-se uma péssima mãe porque deixa o G. no colégio, bem disposto, mas que lhe dizem que ele começa a chorar cinco minutos depois, e quando o vai buscar, ao almoço, ele está sempre transpirado e a soluçar, cansado de chorar.

A minha amiga T. chora porque a M., que dizia que queria ir para a escolinha, afinal, chora pela mãe e pelo pai todo o dia.

E estas conversas repentem-se à minha volta, ou dirigidas a mim, várias vezes ao dia desde que este mês começou. Tantas vezes, tão cheias e angústias e sentimentos de culpa ou frustação. Tão sentidas.

Nestas alturas misturam-se dois sentimentos.
Por um lado quero aliviar-lhes a angústia, dizer-lhes que não são piores mães por isso, que é uma fase, que eles vão gostar, que os colégios são bons, que as educadoras sabem o que estão a fazer, que os podem compensar no tempo em que estão com eles... Queria dizer-lhes tantas coisas deste género. E digo. E até acredito no que estou a dizer, senão não o diria, e ficaria, simplesmente, calada.

Mas, por outro lado, não me convenço que esta seja a solução ideial. Nem para mães nem para filhos. É a possível!
E sinto um alívio enorme por não ter que passar por esta angústia.

Há muito que me lembro de ouvir o meu patrão/pai dizer que, quando tivesse filhos, eu não trabalharia. Que convinha que me mantivesse informada das coisas, mas que não trabalharia, e que passaria a receber simplesmente uma parte dos lucros, porque o importante mesmo são as crianças. Achava um disparate! Achava que ele nem sequer devia dar palpites no assunto. Hoje respiro de alívio, por a situação ser esta.

E porque, ainda assim, para me sentir realizada profissionalmente posso fazer o que cheguei a fazer em tempos ( e que vou voltar a fazer), sem ter obrigações com horários, nem com ritmos de trabalho, nem mesmo com o lugar onde o faço (que pode ser no fim do mundo, se me apetecer).

E é bom ter certezas nestes assuntos. A certeza que, filhos meus, não terão de ir para um colégio assim pequeninos, e ficar a chorar, e eu a chorar também, e esforçar-me por trabalhar enquanto a cabeça deve estar só a pensar neles. Que podem crescer com tempo, ao ritmo deles, com espaço e calma, que podem ser o centro do mundo, sujar a roupa quando entenderem e esfolar joelhos, e adormecer na caminha deles.

Claro que terão um pai e que não posso decidir tudo sózinha - nem quero! Mesmo! - e que tenho a noção que estes processos são feitos de cedências. Posso ceder em muita coisa, muita coisa mesmo, mas nisto não: não vão para um colégio pequeninos, e pronto!

segunda-feira, 12 de setembro de 2005

Pergaminhos


Tenho saudades deles, dos pergaminhos.
Da cor, da textura, do cheiro. De lhes pegar com cuidado, com a consciência que estão ali à espera há séculos; de tentar imaginar o aspecto de quem os escreveu e se foi num dia luminoso ou de chuva. Saudades da letra e até das abreviaturas, de os decifrar como quem desvenda um mapa de um tesouro. Porque cada um deles é isso mesmo: um tesouro que atravessou o tempo até às nossa mãos.
Do ambiente silencioso e reverencial dos arquivos.
E de ficar a saber as motivações de quem os mandou escrever, como se fossem segredadas ao ouvido.
De conhecer pessoas que viveram há 600 ou 800 anos. Tão bem, como se compartilhassemos a vida com elas. Algumas, tão bem que lhes consigo adivinhar opções. Saudades delas!
De me alegrar com as vitorias de algumas e de sentir os desgostos velados de outras. De lhes refazer a vida, de as acordar.
Começo a sentir vontade de contar o tempo que falta para voltar a eles!

domingo, 11 de setembro de 2005

Mais um Domingo

Excluir todas as pessoas do meu Domingo não é sinal de antipatia.
É só querer aproveitar a casa vazia, o silêncio, a calma, a cumplicidade com a minha égua, a falta de horários, o poder espalhar a roupa pela casa até ao banho, recuperar a vontade de cozinhar que voltou com o ar fresco, fazer o que muito bem entender, ou não fazer quase nada, que foi o caso.
Ah... ontem o mar já tinha a cor do Inverno...

sexta-feira, 9 de setembro de 2005

Salzburgo


Uns amigos austríacos escreveram aos meus pais.
Conheci-os cá, devia ter eu uns quinze anos. Vieram até cá visitar uns amigos ingleses que cá viviam, acabaram por conhecer o meu pai e, não muito tempo depois, a mim. Não sei bem porquê, mas talvez por só terem filhos rapazes, ou por os ajudar quando pretendiam estabelecer contacto com pessoas que só falavam português, ou porque gostavam muito de história e, por essa altura, também eu já tinha mais conhecimentos do que seria obrigatório, por me ter tornado uma guia com boa vontade, por afinidades, por simpatia, por qualquer motivo, o certo é que desde cedo se mostraram muito simpáticos comigo. Amigos, à séria.
Interessados no que estudava, nas linguas que falava, nos livros que lia, nos desportos...

Desta vez, como de muitas outras, numa passagem da carta dirigida aos meus pais, relembravam que a casa do lago, próximo de Salzburgo, continuava à minha disposição.
É uma casa linda, daquelas com varandas de madeira cheias de flores coloridas. Mas é enorme.
E eu, não sei porquê, sonho com cabanas pequeninas, em sítios isolados, com lareira e mantas quentes, com neve. Muita neve.
Longe de tudo, da civilização, sem telefone e comunicações. Mesmo pequenina. Um abrigo, mais do que uma casa.
Às vezes, de longe e longe, pergunto-me se vou, toda a vida, querer o que não tenho. Ou melhor: não ter o quero. Mesmo querendo o que tenho. Se o que quero até são coisas assim... simples, caseiras. Devia ser mais fácil sonhar com cabanas do que com palácios.
Ai! Parece que é, mas não é. Não é um trocadilho. É mesmo uma dúvida minha. Não me atormenta. Não agora. Mas é uma dúvida...

quinta-feira, 8 de setembro de 2005

Sem mais

A minha colega I., que se tem distinguido, nos últimos tempos, por meter os pés pelas mãos, não cumprir com rigor os prazos, rir e chorar em pouco tempo, dizer disparates e fazer coisas que condenava às outras pessoas, andar feliz em dias e com coisas que não lembra a ninguém... saiu-se com o seguinte mimo:

- Sabem...? Não há coisa mais estúpida do que uma mulher apaixonada!

Ora, eu podia aproveitar a deixa e ficar aqui a dissertar acerca da natureza feminina, ou acerca do amor ou da paixão.
Poder podia, mas... para quê acrescentar mais o que quer que seja?!

quarta-feira, 7 de setembro de 2005

Post sucinto

Choveu. Choveu ontem. Choveu de noite. Chove hoje, em pequenos momentos.
Está uma brisa fresca, que eu gosto. Cheira a feno e a terra molhada. E isto é bom.

Ando a deitar-me a horas inconfessáveis, o que nem me custa. Passo o dia cheia de sono - o que me custa! Tenho milhares de coisas para fazer, e acho que esta noite vou mesmo dormir acompanhada... pelo portátil. E isto é mau.

segunda-feira, 5 de setembro de 2005

Over

Não. Não é o fim do blog.
É o fim de outra coisa. O fim do Verão ou, pelo menos, do Verão pleno.
Vão ficar algumas pranchas e algumas pessoas. Menos. Cada vez menos.
Os dias vão ficando bem mais pequenos e ventosos.
E os toldos de risquinhas, esses, vão começar a ser desmontados. Um a um. A cada dia estarão menos na praia.

Lá ficamos sem o abrigo para guardar a roupa, os sacos, os brinquedos e o que mais houver; para nos abrigarmos da nortada ou do Sol; para conseguirmos mais privacidade; para dormirmos, se nos apetecer. Até, em certos anos, para nos abrigarmos da chuva e ficar ali na conversa numa praia deserta, até que os pingos caiam também lá dentro.

Para o ano voltarão. Devagarinho. Um a um. Tal como desaparecem agora.
A R. vai para a escola dos crescidos, a M. vai estrear-se na escolinha dos pequeninos, o T. voltará já a dar passadas seguros.
E nós, os crescidos mesmo, não sabemos como voltaremos. Mas voltamos sempre.

E eu vou voltar a resmungar quando começarem a montá-los por sentir a minha praia invadida.
E depois, no fim da época, vou voltar a ficar assim, nostálgica, por os ver desaperecer e... já com saudades. Tantas...!

sábado, 3 de setembro de 2005

[In]Decisões...

Há algum tempo que não falava com a minha amiga C. Há muito tempo, para ser toltalmente sincera.
Mandou-me uma mensagem, há uns dois ou três meses, a informar-me do novo endereço de mail. Depois disso uma SMS a dizer que ia, a partir do dia seguinte, mudar de operadora e, consequentemente, de número de telemóvel.
Nem nunca respondi. A nossa amizade é daquelas que dispensam muitas palavras. Ambas sabemos disso. Podemos estar muito tempo sem uma palavra, continuamos amigas como sempre. Se uma precisar, a outra salta imediatemente da sombra e aparece para ajudar.

Telefonou-me. Perguntou se podia fazer-me uma visita, imediatamente. E eu disse que sim, contente com a perspectiva de matar saudades que, afinal, sentia. Mas, lá no fundo, sabia que por detrás desse telefonema devia haver haver alguma coisa que a atormentava. Não era daqueles telefonemas idiotas e despreocupados do costume, às vezes de horas. Este era sucinto, preciso.
Sabia e não estava enganada.

Chegou com um sorriso - o do costume, de há anos - mas os olhos tristes e umas olheiras que a pele clara não permite esconder. Podia não ser nada. Ela é toda sensibilidade... Mas era.
Sentamo-nos por baixo dos ramos da pimenteira. Ela insistia em por os pés dentro da água verde da piscina, que espera em vão ser mudada.

Saltamos de assunto em assunto, mas eu bem sabia que havia de surgir "o assunto", o tal, o que a levou a procurar esta conversa.
Balançava os pés dentro da água e começou por dizer:

-Sabes? O J. vai viver para outro país.

Fiquei calada à espera que dissesse mais, porque me parecia que precisava mais de falar do que de ouvir. Percebi que ia acontecer uma de duas coisas: ou ela o perdia, ou perdia o amor ao trabalho dela, se decidia a viver a milhares de quilómetros da família e dos amigos, fazia as malas e ia com ele.

Falou, falou... Contou que ele estava muito entusiasmado e do quanto isso a alegrava, falou de como não saberia o que fazer da vida sem ele, mas também do medo da mudança, de sentir falta das pessoas, dos locais, até da comida.

Muito tempo depois reparou que eu me limitava a abanar a cabeça e perguntou-me se não dizia nada.
Preferia não dizer. Era ela que tinha que tomar a decisão. Era uma opção que tinha que ser dela - só dela - precisamente por ser difícil e importante.
Respondi-lhe que era ela que tinha que tentar perceber do quê que gostava mais. E que, ainda assim, se fosse viver noutro sítio continuaria a ter família e amigos.

-Mas... tu ias, não ias? Claro que ias!

Pois ia. Claro que ia! Mas isso era eu.
Ela é ela. Não queria empurrá-la para uma situação que não sei se será a indicada para ela.
Riu-se, respirou fundo, e disse que ia. Pediu-me só que a visitasse e eu prometi que sim. Sem sacrifício! Mas fiquei com medo de ter contribuído para uma resolução que nada me garante seja a certa para ela. E não dormi muito tranquila.

sexta-feira, 2 de setembro de 2005

By night

Este ano, de facto, tudo está a acontecer um bocadinho fora do tempo normal.
Ainda faltaria quase um mês para as vindimas num calendário tipíco. Mas não este ano.
Tudo se antecipou. Os estudos de maturação estão a ser feitos há mais de uma semana, a adega já foi aliviada de boa parte do vinho ainda armazenado para deixar lugar ao que há-de nascer em breve.
As limpezas das cubas e dos lagares começaram. As portas das adegas abertas. O movimento das pessoas.
Parece que há um mundo a acordar, e eu... gosto disso.
Peguei no refractómetro e fui às vinhas para testar o grau das uvas. Agora, de noite. Mesmo agora. Sózinha, porque me dá paz. Na verdade a avaliação é um pretexto. Gosto de andar no meio delas e de as ter só para mim, de passar as mãos pelas folhas e de ir comendo bagos que vou "roubando" aqui e ali. Gosto de ouvir os grilos e o som do vento nas folhas. Há algumas onde não vou mais do que uma vez por ano. E no entanto gosto delas. Daquele gostar feito de afecto. E de cumplicidade; se é que isso é possível.
E estão boas. Muito boas. Tão perfeitas como nunca me lembro. Promete ser um ano muito especial.
E é só o principio da viagem...

quinta-feira, 1 de setembro de 2005

Pronuncia sazonal

Desde que voltei de férias que ando a sofrer de uma coisa assim... esquisita. Uma espécie de jet lag espacial.
Nada parece estar no mesmo sítio, a rotina é dificil de reencontrar, a cabeça nem sempre está cá ( e, às vezes, nem sei muito bem onde anda), os horários são impostos à força porque não tenho sono à noite e apetece-me dormir de dia, irrito-me se ouço o meu nome muitas vezes repetido num tom apelativo...

E porquê?
Simples! Porque durante anos fiz o mesmo tipo de férias, rigorosamente na mesma época do ano.
Praia - muuuuuuuito tempo - e depois uma temporada por terras lá de cima.
E este ano... três semaninhas de praia, e pronto.
Falta-me qualquer coisa. Nesta altura, nos outros anos, não estava aqui.

Acontece que isto tem mais um efeito. E este é... é... patético!
Ora, lá por cima a pronuncia é um bocadinho diferente e, por tendência ou por habituação, acabo por (enquanto por lá ando e uns dias depois de regressar a terras de mouros) por reproduzir algumas dessas especificidades.
Acontece que, este ano, mesmo não tendo ainda posto um pézinho lá por cima, só porque está na época, acabo por falar assim.
E lá peço que me tragam um copinho ( pronunciado cópinho) de água, ou explico que, apesar de o café onde iamos , com alguma frequência, buscar bolos de chocolate (malditos bolos!) estar fechado, há um outro ali pertinho (leia-se pértinho) da esquina, que serve perfeitamente.
Repetidamente...

Claro que é motivo de piadinha, isto de partir para férias a pronunciar as palavras de uma forma e voltar a falar de outra. Claro que me perguntam onde, afinal, passei as férias.
Mas será muito difícil de perceber que é a minha pronúncia sazonal?! Isto depois passa! E depois volta! É assim mesmo!
Irra!!! Mouros...