Há encontros felizes. Há pessoas que não conheciamos, que nunca imaginávamos que existiam até ali e que descobrimos depois que sempre, durante toda a vida, nos fizeram falta.
Há disso e depois há também os desencontros, os mal entendidos.
Há as pessoas que, por misteriosos desígnios das estrelas, gostam umas das outras, fazem-se falta, fazem-se bem... mas que tropeçam nas pedrinhas que, invariávelmente, todos os caminhos têm. Tropeçam, caiem, e ficam ali enroladas no pó e nos arranhões que a queda provocou. E que, igualmente por um qualquer mistério que não identifico nem domino, ficam ali a discutir acerca da pedra e não olham para o caminho à frente, não a afastam e seguem em frente.
E ficam os dois feridos (às vezes mais um do que o outro), mal tratados, os caminhos interrompidos...
Custa-me ver mais do que uma pessoa das que me são queridas, em situações destas. Custa-me sabe-las a sofrer, custa-me ver as suas vidas presas nestas coisas, custa-me...
E custa-me tanto pelo sofrimento que lhe vejo, como pelo absurdo da situação. São desencontros, mal entendidos pequeninos, coisas quase de nada que se transformam em obstáculos intranponíveis.
Eu também já tropecei em muitas pedrinhas, fiz uma enorme nuvem de pó ao cair, fiz uns arranhões que me doeram muito, gritei contra a pedra, enrolei-me em discussões estúpidas acerca da natureza da pedra. Da pedra, da pedrinha. Já me perdi do caminho por causa disso. Esquecia-me mesmo do caminho por causa disso.
Tive sorte, porque depois do pó assentar, e de ter deixado de olhar para os arranhões, o caminho continuava lá à minha espera.
Não será por qualquer mérito meu que deixei de me preocupar com a pedra, mas sim com o caminho. Aconteceu assim; por sorte ou por ter-me cansado de discussões absurdas.
As pedras estão lá na mesma, tropeço nelas como antes, doiem como sempre, mas não grito, não desespero, não perco o sentido do caminho.
Gostava muito de continuar sempre assim, mas admito que isso talvez não dependa da minha vontade, talvez seja uma dádiva qualquer que pode ser-me retirada a qualquer momento, tal como me foi dada, de surpresa, como um dia reparei que estava aqui.
Gostava de continuar sempre assim, a conseguir ouvir, com os sentidos e com o coração, a entender e aceitar mesmo quando não concordo ou não gosto, a confiar em quem alguma coisa me diz para o fazer.
Gostava de continuar assim, a não bater com portas, não gritar, não deixar de ver o que existe à minha frente.
Gostava, sobretudo, de continuar sempre a conseguir ouvir, falar e compreender. Sempre, sempre.
Gostava de conservar a paz que chega como brinde.
Gostava de ter o dom dos sábios de saber relevar o que não é verdadeiramente importante e a inocência de coração de me sentir iluminada com as coisas simples e inesperadas que me oferecem.
Mas gostava, mesmo, que algumas amigas minhas, de quem gosto muito, muito conseguissem o mesmo! Até porque, ao contrário do que possa parecer, eu sou a mais secundária das figuras deste post.