quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

Sinais [óbvios] de cansaço

Sinais mais do que óbvios de cansaço:

1. Pôr um DVD. É um filme de que gosto muito. Ficar a olhar para as imagens, tentar relembrar a primeira vez que as vi e, depois de algum tempo, começar a achar que há qualquer coisa de errado com o filme. E levar ainda mais um tempo a descobrir que, afinal, o problema é o filme ser falado em francês e estar a passar sem legendas.

2. Ao fim de algum (muito) tempo ao telefone com uma pessoa, e atendendo ao adiantado da hora, a irmã de quem está do outro lado da linha (linha é uma forma de falar; afinal são telemóveis) pede-lhe que fale mais baixo e, quando dou por mim, fui eu que comecei a falar baixinho.

3. Não ter apetite mas ir fazer o almoço. Pôr o tacho ao lume e, a pensar no azeite e na sua cor amarela, deitar a mão ao detergente de limão que estava junto ao lava louça e... lá vai ele.
Lavei o tacho antes de voltar a pô-lo ao lume.

Estou, muito óbviamente, a precisar de ir cedo para a cama e DORMIR!!!

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Por pontos

Ponto 1:
Já disse que tenho uma prima de quem gosto muito?! Já. Eu sei; mas digo-o outra vez!
Porque continua aqui, porque me ouve e compreende e estende a mão. Sempre. Mesmo quando tem os seus próprios problemas.
Porque não me enfeita a realidade, porque não diz que não tem tempo para mim, porque me incentiva sempre a não baixar os braços a nada [que valha a pena].
Obrigada Nádia!

Ponto 2:
Tenho vários defeitos. Entre eles não se encontra o de ter uma medida para mim e outra para os outros, que é como quem diz, não faço aos outros o que não gostaria que me fizessem a mim. Não deve ser difícil compreender que, com isto, e visto do outro lado, gostava que me fizessem a mim o que faço aos outros, e que fico triste quando não é assim. Pois fico. É a tal primeira faceta do post abaixo.

sábado, 27 de janeiro de 2007

Equilíbrio

Normalmente sou discreta. E procuro sê-lo o mais possível.
Sou tímida e prefiro passar o mais despercebida que o contexto me permitir. Não gosto de protagonismos.
Sou muito emocional. Demasiado. Sinto tudo muito, os sucessos de quem gosto, um dia de Sol brilhante, a violência sobre crianças, um terramoto do outro lado do mundo, uma gargalhada inocente da Maria, um pôr de Sol, os problemas dos meus amigos, um chá quente e o barulho do fogo na lareira, o vento nos cabelos... É tudo muito sentido. Muito mais sentido do que pensado.
Sabendo isso, procuro manter uma margem de segurança entre mim e as pessoas. Quando suprimo essa margem, quando as pessoas passam a fazer parte de um conjunto muito limitado das pessoas que me são realmente próximas, permito-me ser frágil com elas, baixo as defesas, deixo-as chegar perto. É por isso que procuro não gostar. Mas quando gosto, gosto mesmo.
Gostar torna-me muito indefesa, muito dependente. Receio as mudanças, sejam em que sentido forem, sinto tudo em excesso e choro com facilidade. Sou piegas.
Demasiado sensível!

Uma ou outra vez tranformo-me.
Com trabalho sou rigorosa. Sou dura. Faço os trabalhos de casa e quando falo é porque tenho alguma coisa para dizer e sei do que falo.
Sou péssima a negociar contrapartidas finaceiras para mim, mas óptima a defender um projecto. Esta semana tranformei-me duas vezes.
Não sou a mesma pessoa. Se me obrigam a defender um projecto deixo de ser tímida. Olho nos olhos do interlocutor e com uma firmeza que não sei de onde me vem, exponho os argumentos que acho que devo. E não me importa quem nem quantas pessoas tenho pela frente.
Sou dura. Muito. Talvez demasiado.
Sei até que jogo com uma vantagem, a imagem de rapariguinha deixa quem tem de decidir tranquilo. Normalmente são homens, razoávelmente poderosos; não são negocialmente agressivos para uma rapariguinha. Tendem a ouvir com calma. Podem argumentar, mas o aspecto indefeso, não estimula a agressividade neles. Não que procure minimamente insinuar-me (há coisas que para mim são sagradas!) mas sei que a imagem de fragilidade os tranquiliza e que, com isso, posso, com mais eficácia expor os meus argumentos. E faço-o com facilidade; e gosto de o fazer. Gosto muito de defender coisas em que acredite. Quem me manda desempenhar essa função sabe disso, eu sei disso, e uso-o com frieza.
Às vezes assusto-me comigo, não porque faça qualquer coisa que seja, nem mesmo ao de leve, condenável. Nada de nada! Mas não me reconheço. Ainda que os princípios sejam os mesmos, assim como os códigos de conduta, a forma de actuar e até de racicionar é diametralmente oposta.
Sou fria, dura, directa e eficaz.
Demasiado dura!

Entre uma e outra faceta, acho que já era altura de conseguir um meio termo, de encontrar um [o] equilíbrio.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

O que eu precisava...

O que eu precisava - mas precisava mesmo; assim mesmo, mesmo - era de um par de estalos.

Ora eu não tenho tempo. Pois não.
Tenho uma tese para acabar que, por falta de tempo, não vai ser feita como eu gostaria. Mas os prazos são os prazos, e o que tem de ser tem de ser, e blabla blabla... e tenho que acabar, e sacrifica-se o ideal ao possível e ponto final.
Mesmo para esse possível, começa a faltar-me tempo.

A par disto, tenho que continuar a garantir algumas das funções que tinha antes. E, neste campo, tenho trabalho atrasado. O que é normal e já era esperado. A tal falta de tempo...

E então, se me pedem para participar numa reunião onde era tratado um assunto que eu tinha acompanhado, mas do qual estava a desligar-me, eu escuso-me sensatamente. Mas se insistem, acabo por ir.

E fui. E eu que sou tímida, esqueci-me que o era, e eu que não conhecia metade das pessoas esqueci-me que não conhecia, e eu que não gosto de me tornar o centro das atenções tornei-me mesmo. Esqueci-me dessas coisas!
Pois... conhecia bem o assunto (melhor do que as outras pessoas), era apelativo, era um desafio, era um projecto com dimensão, era o gosto de estar a participar na criação de uma coisa nova.

A coisa devia ter ficado por aí. Aliás, nem devia ter ido a esta reunião.
Mas se me propõem uma tarefa nesse projecto e eu aceito, o que precisava era de um par de estalos.

E aceito porque sim. Porque me apeteceu. Nem foi pelo dinheiro, que nem sequer foi nada combinado acerca de números (nem, tão pouco, sei quanto devo pedir), não foi pelas perpectivas de futuro porque este trabalho é uma coisa pontual. Foi porque sim!

Ora, com todas as razões que tinha para não aceitar, o que eu precisava mesmo - a única coisa que parece estar a fazer-me mais falta do que o tempo - é um bom par de estalos!

Ah! E menina Margarida, ainda começaste a torcer o nariz a um cafézinho mas acabas por aceitar ir jantar fora?! Ai é?! Então o que precisas mesmo é de dois pares de estalos!


Amanhã e depois não saio! Prometo a mim mesma! Pronto... só mesmo a um aniversário amanhã, só porque tem de ser! Ai, ai... e eu que também não sou de sair... :s

quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Tulipas

Gosto muito de flores.
Até nem sou de gastar muito tempo com jardinagem, porque não o tenho, mas gosto de flores. E gosto, como todas as mulheres, que me ofereçam flores.

Mas não gosto das flores dos qué´frou, porque não gosto muito deles. Não tenho nada de pessoal contra as criaturas, mas irritam-me um bocadinho com a insistência e com o artificialismo da situação que criam. Porque o que gosto nas flores é a leveza, que é o contrário disto.
Porque prefiro, mil vezes, uma flôr apanhada de surpresa de um sítio qualquer, de passagem.

De vez em quando oferecem-me margaridas. A situação é previsível: a associação do nome à flor.
Gosto delas. Gosto sinceramente de margaridas, mas não são as minhas flores de eleição.

Às vezes, oferecem-me rosas.
Dizem que são as rainhas das flores, e podem até ser, mas também são as mais comerciais.

Duas vezes na vida, ofereceram-me tulipas. Uma vez num jantar de anos (meus) e outra num lançamento de um livro.
Nunca tinha reparado nelas. Aquelas fotografias de campos de tulipas a perder de vista lá na Holanda não me agradavam nada. Gosto das coisas mais expontâneas, mais diversificadas e mais naturais. Para mim a diferença entre um campo de tulipas e um campo de couves está apenas na cor.

Mas reparei naquelas flores e fiquei conquistada. As tulipas são as minhas flores preferidas, decididamente.
Não gosto delas em grandes ramos. Um ramo como este já é muito grande.
Gosto delas sem quaisquer arranjos (sem fitas, sem verduras adicionadas, sem nada de nada), gosto delas ao natural, sem mais nada. Em conjuntos nunca superiores a cinco. Pode muito bem ser só uma. Se calhar, deve mesmo ser só uma. Branca, de preferência.
Assim mesmo, simples, que acho que é por isso que gosto tanto delas.

Curiosamente não existe no jardim de casa uma única tulipa plantada. Não sei porque nunca comprei nenhuns bolbos.
Nesta fase não as plantaria no jardim. Plantá-las-ia numa floreira ou em vasos para poder levá-las comigo.

E o que me apetecia mesmo, como presente de aniversário, era uma caixinha com dois ou três bolbos de tupilas. Porque as outras morrem, e estas nos acompanham. Plantam-se, cuidam-se, crescem, florescem e o ciclo continua, um ano a seguir ao outro, com alturas em que existem flores e outras em que não, mas, de algum modo, estão sempre lá, como, afinal, as pessoas de quem nos lembramos e que se lembram de nós quando fazemos anos.

terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Que fique claro!

Pois, que fiquei muito claro que quando alguém diz coisas do tipo: a Margarida faz o melhor capuccino, o melhor chá, as melhores tostas, as melhores torradas ou a melhor mousse de ananás do mundo (ainda por cima são coisas que, de tão básicas, são exactamente iguais sejam feitas por quem fôr) eu não me encho de auto-convencimento e acredito no que ouço. O que eu penso é que a pessoa que diz tais disparates está sem vontade de fazer qualquer uma destas coisas mas, em contrapartida, está com muita vontade de as consumir e podia ser que assim...

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

Bolacha Maria

Quando era pequenina comia bolachas maria, dadas pela minha avó, barradas com muita, muita manteiga.
Acho que já nessa altura não gostava muito de bolachas. Acho que as comia porque me eram dadas com mimo, porque gostava das diferentes texturas na boca, do estaladiço da bolacha e do aveludado da manteiga que se derretia na boca; porque gostava do barulhinho que fazia ao trincá-las, porque gostava do contraste do doce da bolacha com o salgado da manteiga.

Passei pelo super-mercado e, nem sei porquê, trouxe um pacote. Tomei um banho demorado antes do jantar, depois dos creminhos vesti o pijama, esvaziei o pacote para dentro de um prato, agarrei na manteiga, arrumei-as no tabuleiro e trouxe-as para cima.
Aninhei-me no sofá pequenino junto à janela, também ela pequenina, das águas furtadas.
Fui comendo bolachas maria com muita, muita manteiga.

Cá dentro o ar morno da casa; lá fora, logo ali, do outro lado do vidro, as árvores agitavam-se fustigadas pelo vento frio e o aguaceiro de granizo.
O estaladiço das bolachas e o aveludado da manteiga; o doce das bolachas e o salgado da manteiga.

Era pequenina outra vez.
Vestia vestidinhos de mangas de balão e golas bordadas, mas subia às árvores e esfolava os joelhos; dormia de bom grado até tarde mas escapulia-me de casa em bicos dos pés, à hora da sesta, para passear o cão à trela; gostava que me contassem histórias à noite mas sabia-as todas de trás para a frente e emendava imediatamente qualquer desvio do narrador; ria em vez de chorar quando caía, queria dar passeios sózinha mas deliciava-me com os passeios que dava pela mão do meu avô e era apertada por muitos abraços, abraços daqueles eternos, que nos envolvem e protegem mesmo quando os braços se afastam, daqueles que duram toda a vida e para além dela, daqueles que só existiram dados por ele que os outros são eternos só enquanto não se desfazem; um monte de pedras que existe na mata era o meu castelo, achava as princesas das histórias um encanto mas dizia muito séria que detestaria ser rainha; dormia apertadinha na cama porque tinha que deitar, por ordem, dez bonecas ao meu lado; uma delas chorava quando se tirava a xuxa, o que, não sei como, acontecia sempre durante a noite, até a minha mãe lhe tirar as pilhas antes de dormir; aprendi depressa a andar sem rodinhas na bicicleta cor de laranja; comecei a nadar, ensinada pelos meus avós e não tinha medo das ondas, mas tinha medo de andar na canoa insuflável na piscina; adorava visitar castelos, mosteiros e museus e quando as visitas tinham guias eu era uma amostra de gente, muito atenta, à frente de todas as outras pessoas; cantava canções para as pessoas de quem gostava mas só quando as julgava a dormir porque era demasiado envergonhada para o fazer de outra forma; ria muito; os dias eram cheios e tinham uma luz diferente dos de agora, o Verão era quase interminável.

Quando era pequenina comia bolachas maria, dadas pela minha avó, barradas com muita, muita manteiga.

domingo, 21 de janeiro de 2007

Constance d´Arles

É ela a minha companhia desta noite. Acho a ideia agradável.
Não é uma companhia estranha para quem sente que numa semana viveu anos. Sim, nesta semana couberam anos.

&%$#£!! Detesto dar a mão à palmatória, mas é em alturas destas que reconheço que devia ter aprendido francês!!! Humpf...!

sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

To do - Today!


Imagem horripilante de se encarar pela manhã.
Não nasceram na minha secretária enquanto dormia durante a noite. Sabia que estavam lá, que os tinha lá deixado ontem.
Estavam à minha espera.

Para fazer. Tanta coisa para fazer!
O tempo passa num ápice. Cada dia é menos um dia.
Cada hora passada com outras coisas é menos uma hora. Menos umas linhas, menos umas notas de rodapé, menos rigor, menos qualidade. E mais inquietação.
E é nestas alturas, precisamente nestas alturas, que acho os dias lá fora tão lindos, os cinemas tão convidativos, as saídas com os amigos tão apetecíveis, os livros que não nos fazem falta tão sedutores, que a cozinha é tão chamativa, que as receitas de sobremesas e de tudo o resto reclamam para serem experimentadas, que a minha égua tem mais vontade de saídas a galope, que... É sempre nestas alturas!

quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

Just for women

Num sítio onde existem muitas outras pessoas, e fumo, e... enfim, num bar, nos perguntam qual é o perfume que temos, fica-se um bocadinho a olhar antes de responder. Até porque se não nos deslocámos no mesmo carro, não tivemos nenhum contacto estreito para além do beijinho de cumprimento da praxe e já dentro do bar, se só estamos sentados na mesma mesa (mesmo que ela seja pequenina), e o perfume foi posto em pequena quantidade e de manhã, não percebemos como o detecta com tanta facilidade.

Fiquei a olhar, e antes que pronunciasse qualquer coisa, ele ri-se e diz: Dolce & Gabbana.
Eu própria demorei uns segundos a confirmar que sim, porque nem é o perfume que costumo usar (tinham-me era oferecido este há pouco tempo) e porque já nem me lembrava de o ter posto de manhã.

Ora, nestas alturas o que passa pela cabeça de uma mulher é o seguinte: ou ele é um grande mulherengo, ou é coisa muito mais estranha e ainda pior.
Salvou-se dessas suspeitas porque acrescentou que era o perfume da irmã. E porque, a mim, também não me interessa nada confirmar a veracidade da história.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

Insanity

É isso o que fiz ontem.
Ir almoçar a Albufeira. Eu que nem sou adepta do Algarve (muito menos de Albufeira).
Ir e não gostar, nem querer, nem ter vontade... Ir e ter de estar de volta a horas do jantar, rigorosamente sem falta!

Teve uma vantagem: adormeci logo a seguir à Ponte Vasco da Gama. Voltei a dormir no caminho para casa e só acordei com o toque do telemóvel, já perto da mesma ponte. O toque que nos chama à realidade.
Mas sempre foram umas horas.

Comi peixinho, conheci um cão simpático com caracóis pretos que não se cansava de ir apanhar o que atirávamos para a água, andei um bocadinho junto ao mar... and that´s it!
O mundo deve estar no mesmo lugar, mas o meu parece ter-se voltado do avesso. Completamente. De repente. Ao mesmo tempo.

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

(...)

Normalmente ela dá-me sono. Hoje não. Pelo contrário; acendia-a e subi para trabalhar.
O resultado de estar sózinha em casa e acender a lareira a seguir ao almoço é subir e descer as escadas um número de vezes difícil de contabilizar.

Devia dar sono. Não sei se a acendi para aquecer a casa ou para tentar que me facilitasse o adormecer. Independentemente da hora.
Depois de duas noites a deitar-me [muito] tarde perdi a vontade de me deitar cedo. Mais um jantar ontem, com mais pessoas do que contava foi um bom pretexto para voltar a não me deitar cedo. Não queria o jantar, mas queria menos ainda deitar-me cedo.

2H30m. Deitei-me. Acho que adormeci depressa. Vinho branco e vinho tinto num jantar costumam resultar (também fazem soltar as lágrimas, que borram o rímel que se põem para que não nos vejam nos olhos para além do que as pestanas escondem, mas isso já é outra coisa). Um sonho mau. Estranho mas pouco irreal.

4H17m. Acordo suada e com as malditas lágrimas, mais uma vez. Levanto-me e mudo de roupa. Volto para a cama, mas sinto sede. Levanto-me e vou à cozinha. Volto para a cama mas não durmo. E espero... espero que o tempo passe. E passa tão devagar no silêncio e no escuro.
Começa a clarear lá fora, os primeiros pássaros cantam. O Sol não nasce. Ou nasce, mas não se vê nem aquece.

Sinto-me aliviada por ser dia e levanto-me.
Passo o dia cansada, sem força mas, sem sono.

Devia deitar-me cedo hoje? Se calhar devia. Mas se não tenho sono...
Nem a lareira me adormece.
Prevê-se mais uma noite longa. Se pelo menos eu conseguisse trabalhar, nem tudo seria perdido.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

Contradição

Em conversa com uma amiga, à tarde, concordávamos que se deve ser sempre transparente com as pessoas de quem se gosta. Completamente transparente. Contar tudo. O que se passa e o que não se passa, mas que muitas vezes é mais importante do que se se passasse, porque é aquilo que sentimos, o que nos vai na alma.
Explicar por A mais B, o que nos angustia, o que nos deixa dúvidas, o que nos afasta, o que não compreendemos, o que nos dói, ou confunde, ou outra coisa do género.
Explicar muito bem; porque toda a gente sabe, e toda a gente diz, que são estas coisinhas que se escondem em espaços pequeninos e escuros entre as pessoas e ficam ali silenciosas, na sombra, a fazer o seu trabalho de torná-las cada vez mais estranhas umas para as outras, de as fazer divergir devagar e quase imperceptivelmente, mas de uma forma, muitas vezes, irreversível.

Logo a seguir ao jantar, ao telefone com outra, concluíamos o que toda a gente sabe (leia-se aqui: todas as mulheres sabem) que, aos homens, há coisas que jamais se deve dizer. Deve vir de séculos e séculos este ensinamento passado de mulheres para mulheres.
Lembro-me muito bem de ouvir a minha avó M. me dizer, que lhe disse a mãe dela, que lhe tinha dito a sua sogra que: Os homens não querem lágrimas, minha filha!
Ouvi em pequena, foi-me dito em criança, quando absorvemos as influências do meio, ainda sem questionar. Nem sei a que propósito vem dizer isto a uma criança! Mas acho que foi por não o entender que o guardei na memória. Só serviu mesmo para guardar na memória.
Aos homens jamais se diz o quanto, eventualmente, gostamos deles; nem o quanto são importantes; não se mostra sofrimento, nem medo, nem dúvidas. Há coisas que não se dizem aos homens, é sabido. Era tão lógico que ela se devia resguardar, poupar-se, guardar dúvidas, inquietações e suspiros para ela. Tão lógico... Tão lógico dizer que é lógico; tão anti-natural de fazer.

Mas eu não sei.
À tarde parecia-me claro uma coisa.
Há poucas horas parecia-me claro o seu contrário.
Não, eu não sei. Talvez porque as duas coisas são verdade. Os homens não querem lágrimas, pois não. Não querem maçadas e, muito menos, aborrecimentos; querem liberdade e leveza. Não querem ser importunados com questões que parecem só existir nas nossas cabeças. Mas as tais coisinhas que se alojam entre as pessoas e as afastam, inexorávelmente, existem. Devemos calarmo-nos quando as vemos? Não poderiam ser extirpadas se fossem trazidas à luz do dia?

Enorme contradição, isto tudo.
Maior contradição ainda, pedirem-me conselhos a mim. Eu não sei!
E mesmo que soubesse era bem capaz de vestir a capa de Frei Tomás e pregar uma coisa, sensata e verdadeira concerteza, mas que não seria capaz de por em prática.
Sou demasiado coração nas mãos para decidir racionalmente estas coisas. Não me peçam racionalidade em questões de afectos!

quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

O Homem é o Homem e as suas circunstâncias

Não sei quem o disse em primeiro lugar, mas sei que ouvi isto vezes sem conta, em diversas ocasiões.
O Homem é. E, a mulher também, porque também está englobada nesse "H" grande, tão grande que cabemos todos lá dentro.

O Homem é o Homem e as suas circunstâncias. E as suas rotinas, também, diria eu.
A mulher é a mulher e as suas circunstâncias, e as suas rotinas.

Não sei se gosto, ou não, de rotinas. Sei que preciso delas.
Normalmente soa mal a palavra "rotina"; soa a imposição, a obrigação, a fatalidade, a frete, a tem-de-de-ser-e-não-há-nada-a-fazer-paciência.
Mas não é sempre assim. Há rotinas que enquandram, que tornam a vida mais fácil, mais arrumada, mais suave. Há algumas, até, que a tornam mais doce, que nos dão segurança, aconchegam e embalam.

Eu, sou eu e as minhas rotinas, essas sim, resultado das minhas circunstâncias e da minha natureza.
Preciso muito delas, das minhas rotinas. Dos mesmos gestos ao deitar e ao acordar, dos ritmos e modos de trabalho, do espaço do dia que fica para as coisas e - mais importante do que tudo -para as pessoas de quem se gosta.

Este ano alterei muitas, umas porque teve de ser, que isto de voltar a pegar numa tese com poucos meses para a concluir altera as rotinas de qualquer um, outras porque deixei-as entrar na minha vida, ou colaborei para isso, ou não sei. Sei que mudei muitas e que algumas, ainda mal consolidadas serão novamente mudadas em meses, naturalmente, pela conclusão de uma tarefa e pelo aparecimento de outras.
Sei que se há coisas na minha vida que não me agradam - e há - não são, com toda a certeza, as rotinas que essas, há as que me dão jeito, as muito úteis, aquelas de que eu até gosto e as que não quero perder por nada neste mundo.

Por mais que goste de liberdade, e de espaço, e de surpresas, de dias de Sol sem horários, de mar e mergulhos até ao anoitecer, de horizontes largos, de viagens surpresa sem rumo pré-definido... preciso muito das minhas rotinas. De algumas gosto muito, gosto perdidamente.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

Manias

Tenho muitas. Bom... tenho algumas.
Não vejo motivo nenhum para abusar da paciência de ninguém e resolver começar a enumerá-las. Não vejo motivo nenhum, a não ser um pedido da Mel e, portanto, aqui ficam cinco delas.

Tenho a mania de falar com os animais. Mais do que falar para eles, tenho a mania de fazer uma espécie de tradução para português de algumas das expressões que fazem e sons que os meus emitem. O pior é que nem sequer sou a única a fazer isto na minha família.

Tenho a mania - vício - de beber chá. Com ou sem leite. Quente no Inverno, fresco no Verão.

Tenho a mania de, caso acorde a meio da noite, tapar com a mão o ouvido que não está assente na almofada. Isto a despeito de não se ouvir qualquer ruído. Mas adormeço melhor assim.

Tenho a mania de, de cada vez que uma pessoa minha amiga faz anos, prometer a mim mesma que vou escrever a data na agenda para não me esquecer no ano seguinte. Só que não o faço de imediato, segura de que não é urgente porque me lembrarei mais tarde. Não me lembro! Sou, assumidamente, uma cabeça no ar!

Tenho a mania de, caso a cozinha não esteja perfeitamente arrumada ( mas perfeitamente) antes de começar a cozinhar lavar e arrumar qualquer copo, ou faca, ou colher que tenha sido usada e abandonada, assim como lavar os balcões e a mesa, arrumar os panos da loiça e (em alguns dias) endireitar as cadeiras. Se se tratar de fazer bolos arrumo todos os ingredientes, pesados e preparados, rigorosamente por ordem, em cima da mesa, assim como todos os utensilios necessários e só depois começo a tarefa.
Claro que tudo isto é bastante atenuado se se tratar de cozinhar qualquer coisa de rotineira e simples, e mais ainda se for no Verão e na praia. Mas tenho a mania das cozinhas arrumadas, é um facto. Isto é: se estiverem a meu cargo.

E por agora chega. Já estão a cinco.
Mas também tenho uma outra que sou obrigada a referir: nunca passo estas coisas a ninguém. Mas quem quiser responder... que se sinta completamente à vontade! A curiosidade pode ser considerada uma mania?!

terça-feira, 9 de janeiro de 2007

E pronto....! Bolas!!!

Eu que sempre fui de (me) explicar com todas as letras, e palavras, e virgulas e pontos e reticências e..., que sempre tive a necessidade de compreender as coisas (se calhar em demasia), de as enunciar e enumerar ordenadamente (se calhar para tornar racional aquilo que em mim é sempre muito mais emocional), que tenho uma capacidade de sintese quase nula... acho que devia escrever um longo texto sobre a minha ausência e o meu regresso. Acho que esperava de mim mesma um texto desses, e também vários outros mais uma menos em forma de crónicas arrumadinhas acerca do que se passou neste tempo. Mas não o faço.

Não me apetece. Não se passou nada de realmente mau, nem nada de espantosamente bom que mudasse a minha vida, não existiram mudanças radicais nem acontecimentos extraordinários, só a vida, com o seu desenrolar normal, feito de momentos bons e menos bons, claros e menos claros, com alguns aborrecimentos e pazez feitas, com Natal e com Ano Novo e com Reis. Só a vida no seu fluir normal que nos vai levando, devagarinho, sem nem percebermos que nos movemos, no seu rumo, no rumo que é o nosso mas que, de tão natural, nem percebemos que não permanecemos sempre imóveis, no mesmo lugar.

Por isso, não vou escrever mais nada. Vou deitar mão a uma expressão que, por contágio de alguém, me assalta sem eu querer - eu que não sou destas coisas! - , uma expressão que resume tudo, que permite não dizer mais nada e seguir em frente, que conclui sem dizer o que quer que seja de inteligível, que encerra um assunto sem qualquer argumento ou explicação.
E pronto!...

E pronto... posto isto, acho que posso seguir em frente. Claro que me irrito comigo mesma por deixar escapar uma expressão destas, inconsciente e involuntáriamente, e a seguir acrescento-lhe um Bolas!!!! irritado e com muitos mais pontos de exclamação do que aqui. Mas neste caso funciona mesmo! E pronto! Bolas!!! Estou de volta.


Ps: Não, não te vou pagar direitos de autor, menino! Devia era pedir-te uma indemnização por contágio.