terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Do passar do tempo

Há um ano nevou um bocadinho (não hoje exactamente. há um ano e um dia).
Há dois anos nevou muito.
Hoje, esteve tanto Sol que me pergunto se estamos na mesma época do ano.

Fui lá fora buscar lenha para a lareira (porque as noites sim, continuam frias) e pareceu-me ouvir o canto de uma ave.
Já estava escuro e lembrei-me que quem canta assim e à noite é o rouxinol. Mas achei que era impossível ele estar a cantar nesta altura. Só podia ser a minha imaginação.
Fui lá atrás confirmar, mais perto da mata e era mesmo. Lá fora, na mata - na mata que é quase o meu segundo coração - o rouxinol está a dar um concerto.
O primeiríssimo do ano.
Um presente muito especial. :)

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Das refeições

Eu gosto é de pequenos-almoços e lanches. São as minhas refeições preferidas.
Gosto delas assim com tempo. Tempo para as preparar e tempo para as tomar devagarinho, sem pressas. Tempo para conversar distraidamente enquanto como, ou para, se sózinha, perder as vistas lá por fora, enquanto me perco também em viagens mentais. Porque se estou sózinha tomo-os na varanda quando o tempo deixa, e se não deixa, tomo-os na cozinha de um lugar na mesa de onde se vê bem a rua.

Gosto de leitinho e pão, fresco ou em torradas, com manteiga e doce de ginja. Gosto de fruta e de queijo.
Gosto de enrolar uma ponta de cabelo nos dedos enquanto mastigo um bocadinho de torrada (só levemente tostada) com muita manteiga e algum doce, e enquanto vou à lua e venho.

Gosto muito de pequenos-almoços e de lanches.
Não saio de casa sem o pequeno-almoço, mas durante a semana prometo sempre a mim mesma que no dia seguinte me vou organizar de modo a tomá-lo com mais tempo.
E gosto muito de lanches mas, durante a semana, raramente tenho tempo para eles.

Hoje, porque a tarde estava com uma luz dourada e o Sol aquecia, levei o tempo a sonhar com um lanche na varanda.
O que eu daria para largar o trabalho e ir preparar um lanchinho e depois tomá-lo vagarosamente na varanda.
Nunca acho que o pequeno-almoço ou o lanche dêem trabalho demais a preparar.

Tive que me contentar em preparar o jantar.
Nada de complicado. A sopa estava feita e foi só aquecer. Um bife, que é coisa que se faz num instante e puré de batata.
E no fim, e depois de até me ter sabido bem a refeição, vou à cozinha e enquanto a arrumo resmungo contra o absurdo de sujar tanta loiça para o jantar de uma só pessoa. Se fosse um pequeno-almoço ou um lanche, faria todo o sentido...

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Entendimentos

- ... há pessoas que se tornam tão importantes na nossa vida que não só nos interrogamos, já sem memória, acerca de como era a nossa vida e as nossas emoções antes dessas pessoas, como até nos interrogamos se houve mesmo um "antes" dessas pessoas. Simplesmente porque parece impossível que tenha havido mesmo um "antes", e houve claro. Mas altera-se a percepção do tempo, e da importância das coisas, e até a noção das nossas vivências e mesmo a nossa memória, entendes Margarida? Há pessoas que surgem na nossa vida, e que podemos datar até esse acontecimento, mas depois, dentro de nós, não nos lembramos de como era possível ter vivido sem elas, se calhar até porque hoje não saberiamos como viver sem elas. Entendes-me?

Pois. Entendo sim. Existem.

Coisas de mulheres # 2

No Verão, nas férias, tive a infeliz ideia de ir na conversa de, nem mais nem menos do que quatro amigas minhas, e enfiar-me num salão de cabeleireiros fabuloso, onde trabalhava um cabeleireiro fabuloso, sensível como uma menina (e mais coisas como uma menina), onde as marcações para tão fabuloso sítio e tão fabuloso atendimento eram feitas com vários dias de antecedência.

Lá consegui marcar, para mal dos meus pecados, para um dia que se revelou um dia, esse sim, verdadeiramente fabuloso de Sol e de mar (coisa que rareou este Verão).
E estive lá, sentada na cadeira (ora numa cadeira, ora noutra), a ser atendida ininterruptamente entre as duas da tarde a as sete e quinze (sim: 19H15m). Cinco horas e 15 minutos, em que recebi um fabuloso tratamento, ao meu rico cabelo que repetiam-me ser, óbviamente, fabuloso.

Durante uma tarde inteira, mexeram e remexeram no meu cabelo, cortaram, fizeram madeixas (de que ainda ando a tentar livrar-me), pintaram de castanho as pontas do cabelo ( as que não estavam incluídas nas madeixas) porque estava louro do Sol e do mar, lavaram, puxaram, pentearam, e sabe Deus mais o quê.
Durante essa tarde também me ofereceram cházinhos e cafézinhos e águinha e simpatia demais.

Mais tarde, em parte para exorcisar a coisa e em parte para preparar uma pessoa para os estragos que veria dali a um ou dois dias (já não me recordo bem a que dia da semana se deu o acontecimento) no meu rico cabelo, pergunto a quem estava do outro lado do telefone, quanto é que ele achava que tinha gasto nisto tudo.
Quando, depois deste relato, nos respondem 25 euros, percebe-se logo que, do outro lado estava um homem, porque como é óbvio, para que levassem uma tarde inteira a estragar-me o cabelo, foi preciso fazer várias multiplicações a esses 25 euros.

E isto tudo vem agora, em pleno Janeiro, à baila porquê?
Porque me lembrei de comprar baton para o cieiro. Simples, banal, só para hidratar. Labello, ou coisa assim.
Entrei num mini-mercado e perguntei se tinham (no meio de tanta coisa do género, não sei porque não tinham).
E não tinham, mas indicaram-me, gentilmente, uma ervanária mais acima. E eu fui lá, e pedi isso mesmo: um baton para o cieiro.

Apresentou-me dois à escolha e dissertou acerca de cada um. Confesso que, para além da cor da embalagem, duvido que divergissem em mais alguma coisa.
Escolhi um, claro. Tinha que escolher um.
Já o utilizei e parece-me igual ao Labello. Se não visse a embalagem diria que era igual. Mas claro que este vem de Itália, é feito de uns óleos únicos, tem umas características muito próprias e é muito especial. Pelo menos no preço que, mais uma vez, para se achar o valor correcto, teve que se multiplicar muitas vezes o preço de um baton normal.

Ainda bem que estas coisas me acontecem muito espaçadamente, porque odeio estas mariquices e fico fula porque me sinto enganada.
E escusam de tentar enfiar-me na cabeça que mulher que é mulher a sério, tem que apreciar estas coisas, porque eu detesto.
Em tudo o resto sou muito feminina, em muitas coisas acho que até devia ser menos, mas nisto... nisto não.
Odeio que me levem dinheiro assim, e acho que é apenas um insulto à inteligência das pessoas quando associam feminilidade, elegância, requinte, bom gosto e coisas que tal, a coisas que sem serem em nada melhores do que as outras, têm preços absurdos.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Sítios bonitos


A Livraria Lello foi apresentada, pelo The Guardian, como a terceira livraria mais bonita do mundo.
Eu acho que deve ser mesmo.

A Livraria Lello é umas das coisas bonitas do Porto. Um dos seus encantos. E eu gosto do Porto.
Os lugares são um bocadinho como os vinhos, há imensos parâmetros para os avaliar, mas o que nos fica na memória é o final de boca. O Porto tem um final de boca longo e redondo. Aveludado e doce.
Sente-se ao fechar os olhos, quando se passa pela ponte que nos afasta do Douro. Sente-se quando se fecham os olhos, dias, semanas, meses depois. Igual. Intenso.

Pois, o Porto é um vinho tinto. Granada, redondo e frutado, cheio de frutos vermelhos. Com umas notas de baunilha - nem muitas nem poucas - apenas as dadas pelo carvalho da pipa. Com pouca queima.

O Porto não é um mono-varietal. Está cheio de equilibrios e complemantariedades. Os taninos e personalidade da Touriga Nacional, a suavidade da Tinta Roriz, a densidade do Castelão, as notas únicas do Pinot Noir, a elegância do Cabernet (e eu, nos vinhos e nos lotes, já estou como o meu pai, afinal).
O Porto tem a Ribeira e as casas em presépio, tem o passeio à beira Douro, as francesinhas do Capa Negra e as gargalhadas até às lágrimas, tem as lágrimas a sério, tem as noites húmidas, as conversas cumplices até o céu começar a clarear lá fora, tem até o arquivo, tem o mar. Pois... o mar... e o que não se revela.

Mas ia eu dizer que o Porto tem a Livraria Lello, onde me levou a minha prima (li há uns anos que primo, é o melhor dos parentescos porque é o único que nos permite escolher quem incluímos e quem excluímos).
Tem, e é, de facto, um sítio lindo, lindo.
Mais templo que livraria.
Especial pela arquitectura, pelos livros que lá se encontram (muitos antigos e raros), pelo ar que lá se respira. Especial, em suma. Ainda bem que foi reconhecido.

(Sim, devia ter links, mas como estavam a dar erro e eu perdi a paciência... vai sem eles. Até porque eu gosto de escrever é sem ter que me preocupar com a forma: links, notas de rodapé...)

Bom tempo

As tardes não estão só maiores. Não se limitam a estender-se um bocadinho mais, de forma a oferecer-nos mais uns instantes de luz.
As tardes estão também mais brilhantes, e a de hoje está tão brilhante, que me soa a prenúncio de Primavera (por muito cedo que o calendário diga que é).
O que me apetecia mesmo era um lanchinho, em boa companhia e tagarelice, numa esplanada com o azul do mar em frente. E mesmo só esse apetite, já me sabe bem.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Implicâncias

Não suporto, mas não suporto mesmo, o anúncio do Banif.
Não o suporto na televisão e não o suporto na net. O primeiro impulso é tirar aquilo da minha frente.

Não suporto. Eu até gosto de cavalos (especialmente da minha égua). E também não tenho nada contra os homens. As duas coisas juntas é que não.
Bem sei... da mitologia... o centauro. E eu até gosto de mitologia, e até sempre gostei dos centauros. Mas cada coisa no seu lugar.
E nem sei bem porque é, mas embirro mesmo com a coisa.

Podia pensar-se que o anúncio afinal resultou, porque reparei nele, estou aqui a perder tempo a falar dele. Mas não, não resultou.
Eu já conhecia o Banif, razoávelmente bem, antes do anúncio. E agora, a primeira reacção ao ouvir a palavra é a mesma que tenho ao anúncio.

Há anúncios tão bons por aí...

( E giro, giro, é que reparei entretanto, num suplemento do "Expresso" que a parte de cavalo do centauro do Banif é, afinal, uma égua. A criatura é, portanto, meio homem (parece), meio égua; meio masculino, meio feminino. muito especial, muito especial mesmo. grandes problemas de identidade deve ter a criatura...)

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Coisas de Inverno*

A minha Mãe diz que quando eu era pequenina dava umas noites santas, que adormecia lindamente e dormia toda a noite.
Era, portanto, um descanso.
Não precisava de rituais para dormir, nem de objectos para facilitar o sono, como uma fralda, um boneco específico, as fitas de uma almofada (como o meu irmão). Nada de nada. Chegada a hora, era por-me a dormir, e pronto.

Então e não é que agora, se estiver mais tensa, durmo melhor se segurar um objectivo preciso, no caso uma pedrinha, que no pouco tempo que a tenho, já passou duas noites fechada na minha mão?!
E, para além disto, agora só me sinto reconfortada quando bebo, antes de dormir, uma caneca de leite quentinho, com café (tofina; para ser mais exacta)?! Se não dormir em casa ou se sair e vier tarde, dispenso isto, mas só nestas circunstâncias.
Mesmo sabendo divinamente essa caneca de leite quentinho, bebida devagarinho, quando normalmente já sou a única a pé, espero que estes hábitos recentes desapareçam. Pois se nem em pequena eu tinha estas dependências...
(mas, mesmo sendo agora horas de jantar, só de pensar no leitinho do fim da noite, sinto-me reconfortada...)

* Espero eu!

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Amores-perfeitos

Hoje, enquanto esperava a minha vez para ser atendida numa loja onde comprei mais 4 bolbos de túlipas (de umas cores, que se florirem assim, são admiráveis; e da variedade que quero, porque não quero bolbos hibrídos, que para o ano comecem a degenerar), para juntar aos outros 23 que já tinha (plantados), tinha à minha frente, uma velhota que tinha ido comprar amores-perfeitos.

Tinha umas rosetas coradas na face e uns olhos brilhantes como uma menina de 10 anos. Pequenita, tinha um sorriso contagiante, de tão genuíno.
Meteu conversa.
Falou do tempo e do marido; das flores e do marido; dos filhos e do marido; da casa e do marido; do trânsito e do marido; do Natal de agora e do tempo dela e do marido; do acidente do neto e do marido; do casamento da neta e do marido; da loja do filho e do marido; mais das flores e do marido.

Tinha 82 anos, essas rosetas de cores cheia de vida, esses olhos brilhantes de menina e esse sorriso genuíno como vi poucos. E falava do marido com esse ar de criança que acaba de descobrir a maior maravilha do mundo e disse, vezes a que perdi a conta: ...é o melhor homem do mundo...!

E ficava assim, de olhinhos a brilhar, a olhar para mim.
E eu devo ter ficado também de sorriso estampado por ver que afinal existem mesmo amores perfeitos. Podem ser raros, pode até ser único, mas existem e transformam velhinhos em crianças de sorriso rasgado.

Devagar, devagarinho, quase parados...

24 de Julho, Lisboa, noite de Domingo para Segunda, 01:AM, semáforos verdes, ausência total de peões à vista e quase total de viaturas a circular.

Isto tudo e um flash que dispara na escuridão. Sim o carro ia a mais de 50Kms/h, mas pouco mais.
Paparazzi não eram, donde...
Sim, a coisa até tem o seu charme. Principalmente porque nunca tinha experimentado. Uma multa de velocidade (mesmo não sendo eu a guiar) e um flash nocturno de um radar tem o seu encanto, num quase, quase final de noite.

Não era eu que ia a guiar (e ainda bem, porque senão a coisa era bem mais complicada do que a velocidade do carro), mas a culpa é a mesma porque eu devia ter atenção às placas e sim, o radar estava assinalado, e o limite de 50Kms/h também.

Ora, se não é exagero o que é aquilo?! Mas que mal faz circular na 24 de Julho naquelas condições àquela velocidade?
E mal refeita disto, fica-se a saber que o limite agora, dentro das povoações é de 30Kms/h.

30Kms/h?!?! Querem que as pessoas atravessem Lisboa a essa velocidade (isto quando não estiverem presas nas filas de trânsito)?! Mas quanto tempo demorará agora conseguir tal façanha?
Mas há necessidade disto?

Não sou adepta da velocidade mas já me tem acontecido andar de bicicleta (em piso plano) a um bocadinho mais do que 30Kms/h. Se passasse por um desses radares, de noite, teria direito a mais um flash.
Assim, mais vale mesmo andar a pé.

sábado, 5 de janeiro de 2008

Banda sonora para uma noite de chuvisco

(...) Daylight licked me into shape
I must have been asleep for days
And moving lips to breathe is name
I opened up my eyes
And found myself alone alone
Alone above a ranging sea
That stole the only boy I loved
And drowned him deep inside of me (...)

Just like heaven. Porque sim, porque a Katie Melua assenta bem em noites de Inverno. Apenas por isso. Nada biográfico, portanto.
Por acaso, até nem me sinto nada perto do céu. Também já há muito tempo que não me sentia assim, que não me sentia tão longe dele (do céu).

Sábado ou Domingo

Este Sábado parece-me Domingo. Um Domingo à tarde, silêncioso e lento. Palavra que já me enganei e declarei, com segurança, que hoje era Domingo.

Acho que foi porque ontem mal consegui trabalhar, e porque há duas noites que quase não durmo. Por isso e por causa desta dormência dos medicamentos e de quem espera que o tempo passe para, com ele, levar febre, dores e mal estar.

Detesto ir ao médico, passo anos sem lá ir. Mas no ano que passou, vi-me obrigada a ir umas quantas vezes. Não sei bem quantas, e embora pudesse, com um pequeno esforço, contá-las mentalmente, não quero.
Por mim não teria ido, mas acho que devo dar graças a Deus por ter quem me tenha obrigado. Sabendo que tinha de ir, mas não querendo ir, o melhor que me podia acontecer era ter com quem teimar e dizer que não, que não ia, que não queria, e ter a certeza que ia, porque tinha que ir e não me seria dada a possibilidade de não ir.
Às vezes é bom ter quem mande em nós o suficiente para nos obrigar a fazer o que deve ser feito (e para nos amparar quando isso nos dói muito).

Ontem fui. E não foi preciso mandarem-me. Fruta da época: a garganta. E mais um extra, esse sim, mais doloroso, uma inflamação num nervo (a que ontem chamei, repetidamente, musculo).

E hoje, passa-se assim, vagarosamente e cinzento. Umas horas na cama, outras levantada por casa. Lê-se blogs que não se conhece e bebe-se um cappuccino (muito) quente, com o comprimido da tarde.
Não é mau de todo um Sábado assim. Este não-fazer-nada sem sentir qualquer obrigação de fazer alguma coisa é bom, e eu já nem sei quando foi a última vez que o senti.
E a febre dá sinais de se ir embora, o nariz pinga menos, a garganta já quase não dói. Apenas a dor (forte) no nervo persiste (e persistirá por mais algum tempo).

Há um tédiozinho nisto. Há uma frustaçãozinha também, de quem não pode ir onde gostava de ir hoje, mas também a tranquilidade de ter uma justificação para não ir onde não queria ir.

Não é mau, este dia assim. Mas já não sei bem o que fazer, quando não é preciso fazer nada.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Das coisas que funcionam

Ontem à tarde, mas mesmo assim ao final da tarde, aproximou-se uma trovoada. E eu costumo ser cautelosa. Uma cautela assim feita de experiências vividas nestes assuntos, de avarias em pc´s e outras máquinas e de modems estragados por trovoadas. Por isso costumo, nestas situações, desligar o computador, e desligar mesmo a ficha da tomada e desligar o modem do micro-filtro, porque sei muito bem que se não for assim o desagradável pode acontecer.

Mas ontem não. Não estava para aí virada.
Os clarões dos raios eram visíveis e o ribombar dos trovões era bem audível, mas eu estava ocupada, tinha uns mails para mandar, o dia de trabalho estava a chegar ao fim e por isso, não me apetecia desligar o computador e ficar com aquilo para fazer depois da hora, ou mesmo hoje.
Portanto, não desliguei, pensando... é só mais um bocadinho.
Só que nesse bocadinho, fez-se um clarão na secretária e ouviu-se um estalo mesmo do meu lado direito. O modem começa a piscar e acabou-se. Morreu assim.

Ora, já escuro, ligo para os senhores da telepac, e eles fazem uns testes na linha, que estava, operacional. E dizem que não é da linha (isso já eu tinha percebido) e que vão reportar a avaria e tal, e que depois, mandam cá um técnico de acordo com a disponibilidade do mesmo.
E eu fico a pensar: ora estamos mesmo no final de quinta-feira, hoje não conta; amanhã é sexta e devem ter imenso que fazer, depois é o fim de semana e, se tiver sorte, talvez na segunda ou assim, me resolvam isto.

Pois não foi assim. Hoje de manhã, telefona-me um senhor da telepac, a perguntar se podia passar por cá, imediatamente a seguir.
E veio, e esteve cá toda a manhã, mas ficou resolvido.
Eu ligo ontem ao anoitecer e hoje logo de manhãzinha resolvem o problema?!
Há coisas a funcionar bem neste país... pena é que causem tanta estranheza que nos levem a reparar assim nelas e a comentar o sucedido.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Torradinhas

Uma amiga disse-me, há pouco tempo, durante uma conversa de meninas, que um dos parâmetros que nos permitiam perceber o quanto gostamos de alguém é o que ela chama de parâmetro das torradinhas.

Diz ela que, normalmente, não temos gosto nenhum em andar a fazer cházinhos, aquecer leitinho e fazer torradinhas para outras pessoas. Afinal que gosto pode dar-nos termos trabalho?!
Mas quanto gostamos, isso transforma-se, e passamos a apreciar fazer essas coisas.
Segundo ela, quando ainda mais do que o gosto, é uma compulsão que sentimos para fazer cházinhos em caso de constipação, aquecer copinhos (ou canecas) de leite, e fazer torradinhas só porque sim, então é porque gostamos mesmo dessa pessoa.

Na minha família mais próxima, criou-se a crença que eu tinha uma espécie de talento - mais uma inerência - de fazer cházinhos e zelar pela toma dos medicamentos, quando alguém está doente.
Criou-se essa ideia e é verdade que, se ninguém o fizer, eu faço porque acho que tem de - deve - ser feito. Mas se a minha Tia-avó M., que me fazia isso a mim, e passava horas seguidas à minha cabeceira quando eu tinha qualquer coisinha, já não está entre nós e se, desde essa altura, ninguém (no núcleo familiar de sangue) demonstra o mais pequeno cuidado, ou mesmo interesse, comigo nesse sentido, porquê que eu hei-de andar a orbitar em volta de alguém que não tem mais do que uma pequenina gripe? Porquê que hei-de ser eu a preocupar-me com os horários dos medicamentos (sem importância, no caso) e ter de os dar à boquinha da pessoa, e fazer cházinhos, e aquecer água para beber, e baixar o nível do termómetro, e ser eu a ver a temperatura que marca, e ser chamanda por tudo e por nada? Porquê?? E tudo isto sem nem um obrigado?! E tudo isto num tom, como se não fizesse mais do que a minha obrigação?! E não; essa obrigação, a existir (e não existe, porque não é caso para isso), não seria minha.

Pois acho que essa minha amiga tem razão. Há por quem seja um suave e prazenteiro gosto fazer torradinhas e por-lhas à frente. Um deleite mesmo.
E há por quem se tenha tornado um frete sem sentido.
Acho que o parâmetro das torradinhas existe mesmo.