quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Amores-perfeitos

Hoje, enquanto esperava a minha vez para ser atendida numa loja onde comprei mais 4 bolbos de túlipas (de umas cores, que se florirem assim, são admiráveis; e da variedade que quero, porque não quero bolbos hibrídos, que para o ano comecem a degenerar), para juntar aos outros 23 que já tinha (plantados), tinha à minha frente, uma velhota que tinha ido comprar amores-perfeitos.

Tinha umas rosetas coradas na face e uns olhos brilhantes como uma menina de 10 anos. Pequenita, tinha um sorriso contagiante, de tão genuíno.
Meteu conversa.
Falou do tempo e do marido; das flores e do marido; dos filhos e do marido; da casa e do marido; do trânsito e do marido; do Natal de agora e do tempo dela e do marido; do acidente do neto e do marido; do casamento da neta e do marido; da loja do filho e do marido; mais das flores e do marido.

Tinha 82 anos, essas rosetas de cores cheia de vida, esses olhos brilhantes de menina e esse sorriso genuíno como vi poucos. E falava do marido com esse ar de criança que acaba de descobrir a maior maravilha do mundo e disse, vezes a que perdi a conta: ...é o melhor homem do mundo...!

E ficava assim, de olhinhos a brilhar, a olhar para mim.
E eu devo ter ficado também de sorriso estampado por ver que afinal existem mesmo amores perfeitos. Podem ser raros, pode até ser único, mas existem e transformam velhinhos em crianças de sorriso rasgado.

18 comentários:

Piquinota disse...

:))) Histórias de vida assim emocionam-me!! São cada vez mais raros os amores-perfeitos!
Mas são maravilhosos!!


Jinhos

NaRiZiNHo disse...

Tenho um caso desses na família: os avós do P.
É tão bonito de ver!
Quero acreditar que eu também serei assim.
:-*

CGM disse...

Eu tenho amores-perfeitos na minha familia :) os meus avós maternos. O avô Xico e a avó Vivi, a avó diz: "se soubesse o que sei hoje teria casado mais cedo" ;), há melhor sinal que este?

(O avô Xico já não está cá. Onde quer que esteja sai daqui um beijinho repinicado, que era os que ele gostava mais)

Margarida Atheling disse...

A verdade é que também tenho um desses na família. Mas é um!
O que prova que são raros.

E a ternura e alegria com que aquela velhota falava do marido, enterneceram-me.
E a força e vivacidade que aquele sentimento lhe dava apesar do anos... :)

Xuinha Foguetão disse...

No fundo é o que todos desejamos.
Um companheiro que nos deixe um brilhozinho nos olhos e um sorriso nos lábios. :)

Bonito!

Beijos

gralha disse...

Invejável! Acho que é isso que qualquer uma de nós quer encontrar. A dificuldade está em reconhecê-lo 50 anos antes...

tomodoro disse...

Quem me dera chegar a essa idade com esse amor perfeito... espero que sim.

Rita disse...

Com algumas arestas limadas, e descreveste os meus pais. É tão bom ler posts destes...
Beijinhos

Joanissima disse...

Que história deliciosa... E tu descreveste-a na perfeição, com uma sensibilidade absolutamente extraordinária.

Obrigada.
Iluminaste a minha manhã.

Um grande beijo.

[Ariana Aragão] disse...

Lindo!
Tão enternecedor que só apetece sonhar com um amor assim...

um beijo grande

Maria Liberdade disse...

Acho que a idade nos deve dar uma noção diferente do amor... E uma forma diferente de o viver.

teresa.com disse...

eu quero ser um amor perfeito!
eu sou um amor perfeito!
Bom 2008!

Suspiro disse...

Tinha um exemplo assim na família: os meus avós maternos. Foram sempre um casal apaixonado. Infelizmente um deles partiu e o que ficou nunca mais foi o mesmo.

mixtu disse...

o melhor do mundo...
não sei se te recordas do ntequeta

Os meus avós estavam casados há 50 anos e continuavam a jogar o jogo que haviam iniciado quando começaram a namorar, A regra do jogo era que cada um tinha que escrever a palavra “Nteqeta” num local inesperado para que o outro a encontrasse e assim quem a encontrasse deveria escrever num outro lugar e assim sucessivamente, Eles alternavam-se deixando Nteqeta escrita por toda a casa, escreviam no açúcar dentro do açucareiro, no frasco da farinha para que quem fosse cozinhar a encontrasse, Nteqeta era escrita no vapor deixado no espelho depois de um banho quente, onde a palavra aparecia num próximo banho, Os papéis eram metidos dentro dos sapatos e debaixo das almofadas, Levou muito tempo para que eu entendesse e gostasse deste jogo, O meu cepticismo nunca me deixou acreditar num único e verdadeiro amor, No entanto, nunca duvidei do amor entre os meus avós, Este amor era profundo, era mais que um jogo de diversão, era um modo de vida, A sua relação era baseada num amor apaixonado que nem todo a gente tem a sorte de o ter, O avô e a avó estavam sempre de mãos dadas, Roubavam beijos um ao outro sempre que se encontravam na cozinha, Eles conseguiam terminar a frase incompleta do outro, A minha avó segredava-me dizendo o quanto era bonito o avô, como ele se tinha tornado um velhito lindo e amoroso, Mas uma nuvem escura surgiu na vida dos meus avós, minha avó padecia de uma doença mortal que tinha sido diagnosticada há dez anos, Como sempre, o avô estava com ela a cada momento, Ele a tranquilizava no quarto amarelo que ele tinha pintado dessa cor para que ela estivesse sempre rodeada da luz do sol, mesmo quando ela não tinha forças para sair, A doença estava de novo a atacar o seu corpo, O que todos temíamos sucedeu, a avó partiu, “Nteqeta” foi gravada a amarelo nos buqués de flores do funeral da minha avó, O meu avô, ajoelhado junto ao caixão e em suspiro bem profundo, começou a cantar para ela, Através da sua música e pesar, a musica surgiu como uma canção que vinha do seu íntimo, Senti-me muito triste, nunca esquecerei aquele momento, Porque eu sabia que, sem contudo, entender completamente a profundidade daquele amor, eu tinha tido o privilégio de testemunhar a beleza sem igual que aquele amor representava,
“Nteqeta”, Nunca Te Esqueças Quanto Eu Te amo,”.O amor é bonito, é bonito, é bonito, é bonito e é tan lindo,

Alecrim disse...

Eu queria... juro que queria... mas pq será que não acredito em amores perfeitos?
Caramba, sou tão céptica quanto a isso! E contudo, acredito em ti, acredito no que contas e no que viste...

Unknown disse...

No meio de tanto "casa/descasa" ainda encontramos estes casos. Infelizmente são rarrísimos.O porquê desta situação já toda a gente o sabe. Tenho o meu amor -(mais que)perfeito e gostava de quando tiver a idade dessa senhora poder dizer o mesmo que ela...

Beijinhos

Ana disse...

Ai...com 82 anos e ainda falava do marido?!!!
Hoje em dia isso eh raro, o mais normal eh falarmos dos maridos, mas mal, mais que nao seja para os chatiarmos eheheh. Sou muito ma eheh...nao, eh mentira, o meu tambem eh porreiro.....quando esta a dormir!!

Rui disse...

Perfeitos Amores.