quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Coisas de mulheres # 2

No Verão, nas férias, tive a infeliz ideia de ir na conversa de, nem mais nem menos do que quatro amigas minhas, e enfiar-me num salão de cabeleireiros fabuloso, onde trabalhava um cabeleireiro fabuloso, sensível como uma menina (e mais coisas como uma menina), onde as marcações para tão fabuloso sítio e tão fabuloso atendimento eram feitas com vários dias de antecedência.

Lá consegui marcar, para mal dos meus pecados, para um dia que se revelou um dia, esse sim, verdadeiramente fabuloso de Sol e de mar (coisa que rareou este Verão).
E estive lá, sentada na cadeira (ora numa cadeira, ora noutra), a ser atendida ininterruptamente entre as duas da tarde a as sete e quinze (sim: 19H15m). Cinco horas e 15 minutos, em que recebi um fabuloso tratamento, ao meu rico cabelo que repetiam-me ser, óbviamente, fabuloso.

Durante uma tarde inteira, mexeram e remexeram no meu cabelo, cortaram, fizeram madeixas (de que ainda ando a tentar livrar-me), pintaram de castanho as pontas do cabelo ( as que não estavam incluídas nas madeixas) porque estava louro do Sol e do mar, lavaram, puxaram, pentearam, e sabe Deus mais o quê.
Durante essa tarde também me ofereceram cházinhos e cafézinhos e águinha e simpatia demais.

Mais tarde, em parte para exorcisar a coisa e em parte para preparar uma pessoa para os estragos que veria dali a um ou dois dias (já não me recordo bem a que dia da semana se deu o acontecimento) no meu rico cabelo, pergunto a quem estava do outro lado do telefone, quanto é que ele achava que tinha gasto nisto tudo.
Quando, depois deste relato, nos respondem 25 euros, percebe-se logo que, do outro lado estava um homem, porque como é óbvio, para que levassem uma tarde inteira a estragar-me o cabelo, foi preciso fazer várias multiplicações a esses 25 euros.

E isto tudo vem agora, em pleno Janeiro, à baila porquê?
Porque me lembrei de comprar baton para o cieiro. Simples, banal, só para hidratar. Labello, ou coisa assim.
Entrei num mini-mercado e perguntei se tinham (no meio de tanta coisa do género, não sei porque não tinham).
E não tinham, mas indicaram-me, gentilmente, uma ervanária mais acima. E eu fui lá, e pedi isso mesmo: um baton para o cieiro.

Apresentou-me dois à escolha e dissertou acerca de cada um. Confesso que, para além da cor da embalagem, duvido que divergissem em mais alguma coisa.
Escolhi um, claro. Tinha que escolher um.
Já o utilizei e parece-me igual ao Labello. Se não visse a embalagem diria que era igual. Mas claro que este vem de Itália, é feito de uns óleos únicos, tem umas características muito próprias e é muito especial. Pelo menos no preço que, mais uma vez, para se achar o valor correcto, teve que se multiplicar muitas vezes o preço de um baton normal.

Ainda bem que estas coisas me acontecem muito espaçadamente, porque odeio estas mariquices e fico fula porque me sinto enganada.
E escusam de tentar enfiar-me na cabeça que mulher que é mulher a sério, tem que apreciar estas coisas, porque eu detesto.
Em tudo o resto sou muito feminina, em muitas coisas acho que até devia ser menos, mas nisto... nisto não.
Odeio que me levem dinheiro assim, e acho que é apenas um insulto à inteligência das pessoas quando associam feminilidade, elegância, requinte, bom gosto e coisas que tal, a coisas que sem serem em nada melhores do que as outras, têm preços absurdos.

7 comentários:

inesn disse...

concordo em 100%!!

Unknown disse...

Na minha opinião, ser feminina e elegante não é sinónimo de gastar muito dinheiro.
Nesse aspecto também sou como tu. Era o que mais faltava, gastar um dinheirão num produto quando há outros muito mais baratos e que têm o mesmo efeito.

beijinhos

Joanissima disse...

(... mas, pergunto eu "com os nervos"... tu lá precisas disso??)

A feminilidade está no bem estar... e isso alcança-se com coisas que o dinheiro não pode comprar... Claro que é bom ser cuidada e mimada por um especialista qualquer (eu cá sou fão de umas boas massagens relaxantes e são pequenos - sublinhar pequenos - mimos que gosto de dar a mim mesma) mas há coisas que roçam o ultraje...

Vida de dondoca deve ser duríssima, coitadas... : )))

Anna^ disse...

ahahahahahahahah mas que fabulosa estória!!!!
Parti-me a rir com os 25euros da resposta masculina....homens!! ;)
Mas sabes que todas essas paneleirices não dão resultado se a pessoa não tiver aquele je ne sais quoi que não se encontra á venda em lado nenhum?
E charme e simpatia tens tu a rodos miúda! :)

beijo grande

25euros!!!!!ahahahahahahahah

Rui disse...

Fizeste-me lembrar do Tomadas, um barbeiro que frequentei quando era aquilo a que se convencionou chamar de chavalo. Era o mais barato da cidade. A alcunha vinha-lhe de ele só trabalhar com máquina - nunca a desligava, mesmo entre clientes; a rapidez e uniformidade do corte permitia-lhe compensar, ao fim do dia, o menor valor cobrado com a quantidade de guedelhas aparadas. Era um sítio de convívio intergeracional: os cientes eram velhos e putos, ou seja, quem não tinha dinheiro para gastar em tosquias elaboradas.
A última vez que passei perto, desviei-me do caminho só para lá ir espreitar. Era fim de semana e estava fechado, mas ainda funcionava. Passei a mão pelo cabelo e sorri.

Ana disse...

concordo mesmo!

Rita Maria disse...

Exacto! De repente "comprei uns sapatos proibitivamente caros" é uma expressão per se...Se a pessoa a quem telefonasses fosse uma rapariga in e lhe dissesses o valor ela certamente teria assumido como dado adquirido que estavas lindíssiima e maravilhósa ...que raiva, que novo riquismo disparatado, que isto, que aquilo...