quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Silly season


O calendário é implacável. Cai-nos em cima, mesmo quando fazemos um esforço para nos distrairmos e fingir que não estamos a ver que estamos no dia e mês que estamos.
Ela está aí, a silly season. Em força. Reflectida em todas as coisas ( e ausências).

Fecho os olhos com força e abano a cabeça como que a tentar afastar de mim as lembranças associadas à época. Mais do que as lembranças, as sensações. Coladas à pele já, de tantos anos de hábitos, gestos e vivências repetidos.
Não consigo.
Tenho conseguido conter as faltas, mas não apagá-las.

Não me lembro de mim assim. Não me lembro de um Agosto longe do mar. Não me lembro mesmo.
E ouço, acidentalmente, esta música e as coisas caiem em avalanche: o cheiro do mar; a maresia nos cabelos; a água fria, a areia nos pés; as amigas se sempre; a ausência de horários e problemas, a sensação de viver, temporáriamente, num mundo aparte, só nosso, fora de todas as coordenadas de espaço e tempo; os risos que repetimos iguais, desde crianças; a cumplicidade serena e segura; os cheiros...

Não sei quantas vezes ouvi esta música lá. Em noites estreladas a ver as pequenas luzes das traineiras no mar, ou com o manto de maresia que me aconhegava e não deixava ver quase nada. Ouvi muitas vezes, não porque a escolhesse, mas porque sim, porque alguém, nalgum momento, nalgum lugar, a passava. Talvez porque ela foi escrita, originalmente, tendo como inspiração, esta praia. A minha praia...
Não importa.

Este ano não. Este ano não é assim. Não é igual aos outros. Este ano não estou lá e, por isso, sinto-lhe a falta. Como quem sente a falta de uma parte de si mesma.
Mas este ano é diferente em tudo. É um ano de espera.
Para o ano também não será igual, porque nada nunca mais será igual. A despreocupação, a ausência de horários e obrigações não será mais a mesma, mas isso não importa. Ou importa, mas não é coisa má, é boa, muito boa.
Para o ano a vida recomeça. Para o ano alguém há-de começar a sentir a maresia e essa água fria, alguém há-de experimentar a areia e começar a descobrir risos e amizades cumplices, como nós, mães, descobrimos há tantos anos já.
Para o ano... Para o ano a vida recomeça.