quinta-feira, 31 de maio de 2007

Esclarecimento

É estranhíssimo escrever um post destes.
E como estive toda a tarde longe do computador, se não fosse uma amiga que passou por aqui e viu o que se passava, me ter avisado, a esta hora ainda não teria visto o que aqui estava a acontecer.

Eu não estou grávida.
Não estou e não planeio vir a estar nos tempos mais imediatos.
Como disse a Clara, que me conhece bem, se estivesse não iria fazer as análises e a ecografia daqui a uns meses; iria logo fazê-las, de imediato, independentemente de ter muito ou pouco tempo e de gostar muito ou nada de exames médicos.
Se estivesse grávida não trabalharia metade do que ando a trabalhar e dormiria o triplo das horas que tenho dormido.
Se estivesse grávida, e se achasse que era o momento de o dizer aqui, diria sem rodeios.

Claro que não deixa de ser simpática a reacção (exageros da Catarina, muito à parte. mas quanto a eles não há nada a fazer! ;)). O anúncio de uma nova vida é sempre uma alegria, mesmo que não seja planeada. Uma alegria que se alastra para amigos e conhecidos.
Mas não é o caso. Não é nada provável que leiam por aqui, nestes tempos mais próximos uma notícia destas, não porque eu não goste perdidamente de bebés, não que eu não tenha vontade de ser Mãe, não que eu não ache que essa é mais sagrada missão das mulheres, mas exactamente por estas razões, por amor a uma hipotética (uma ou, de preferência, mais) criança que possa vir a existir não sei ainda quando nem onde; por achar cada criança deve nascer quando lhe podermos oferecer amor incondicional (que teria) e pais com uma relação perfeitamente estável, segura e feliz, que se transformem numa família tão acolhedora quanto todas as crianças merecem (que não teria neste momento).
Lamento desiludir, mas não, não estou grávida.

Factos # 2

A Dr. Joana é engraçada.
É estranho dar de caras com uma médica com uma idade próxima da nossa. Eram sempre pessoas substancialmente mais velhas. Sinal da passagem do tempo, está visto.

É engraçada por diversos motivos. Mas tem umas manias estranhas que se calhar acabam por contribuir também para a sua graça.
Entre outras coisas, a Dr.ª Joana, pesa-me; o que é normal. Mede-me a altura; o que não deixa de ser compreensível. E, de seguida, calcula o tal indice de massa corporal que, com o ar risonho que a caracteriza, diz estar no ponto.
Mas a Dr.ª Joana mede-me também a largura das ancas, da cintura e do peito. Suspira e diz: isso é que eu gostava de ter. Mas isto tem alguma coisa a ver com a saúde? Enfim, se calhar tem. Pelo menos a cintura. Mas foi uma estreia.

A Dr.ª Joana manda-me fazer uma bateria interminável de análises e uma ecografia. Tudo para o dia seguinte, que foi ontem, pois claro. Faça isto já amanhã de manhã! Faça; e assim que as tiver venha cá!
Perguntei se achava que estava doente e responde a rir que doente é que não estou.
Mas então? Porquê tanta urgência? Talvez as faça... nos próximos meses.

A Dr.ª Joana mandou-me para casa com uma receita de Folifer e a recomendação de descansar e dormir o suficiente e comer a horas. A rir novamente, ou desconfio que não seria a Dr.ª Joana.
E eu que, nem de propósito estou outra vez numa daquelas alturas em que não tenho tempo para nada, gostava muito de dormir mais, pois gostava, mas a única coisa que posso cumprir é tomar o tal Folifer porque para engolir um comprimido por dia ainda arranjo tempo.

Conclusão:
a) a Dr.ª Joana é mesmo muito engraçada, faz é umas coisas em que não encontro nexo.
b) eu sou uma paciente muito pouco obediente ( e com muito sono, muito sono...).

terça-feira, 29 de maio de 2007

Factos

Detesto ir ao médico! Mas é que detesto mesmo!
Tenho uma consulta marcada.

Detesto ainda mais quando é uma primeira consulta. É que tenho uma médica nova, porque a outra está a milhares de quilómetros. É pena, porque até gostava dela...

E tenho de ir, que está na hora. E não me apetece. Pareço uma criança contrariada!
Pelo menos simpatizo com o nome dela, acho-o amistoso, chama-se Joana. Já é um princípio.

Irra! Mas é que pareço mesmo uma miúda pequena!
Mas tenho de ir andando...

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Sleeping with...


Há azares que nunca me aconteceram na vida.
Há outros que também não me aconteceram, mas que os vivi, como se tivessem acontecido, porque os criei dentro da minha rica cabecinha.
Mas enfim, há os que não me aconteceram de todo, até porque não faço nada que me ponha em risco de ficar sujeita a eles. Um destes é o de abrir os olhos, depois de um soninho, ao lado de quem não queira.

Mas esta manhã, meia a dormir ainda, estendi preguiçosamente o braço e toquei com a ponta dos dedos em alguma coisa. Abri os olhos e percebi que tinha dormido acompanhada. Muito bem acompanhada.
Não me lembro de ter apagado a luz, nem de ter adormecido, nem de ter deixado o livro encostado à almofada. Não sei como adormeci, mas acordei, de facto, a recordar vagamente uma definição comparativa entre clã e linhagem, o que me dá um jeitão, precisamente para o capitulo que me falta da tese, diga-se de passagem.
Acordei e sorri-lhe porque posso não me lembrar como aconteceu, mas acordei em boa companhia.

domingo, 27 de maio de 2007

Meio cheio, ou meio vazio

Há aquela velha estória do copo meio de água.
Meio cheio para uns. Meio vazio para outros.

Na minha vida, talvez metade das coisas estarão erradas.
A outra metade há-de estar certa, pois!

Se puder emendar o que está errado, é precisamente o que farei. Mas metade de coisas certas, já são muitas coisas, e o melhor é olhar para elas, vivê-las e alegrar-me com elas.

Tenho um copo meio cheio, pelo menos! O suficiente para matar a sede!

A cores

E do branco passei para as cores.
As cores do arco-íris.
Porque a vida é assim mesmo, porque a seguir à noite vem o dia, a seguir à chuva o Sol, porque a seguir a uma queda nos levantamos de novo, porque os problemas foram feitos para serem resolvidos e os erros para serem emendados e aprendermos com eles, e porque a seguir às lágrimas vem o riso de novo...
Porque a vida é assim, feita das cores do arco-íris, e porque eu adoro arco-íris.

terça-feira, 22 de maio de 2007

Em branco

.

(assim mesmo. em branco, porque não consigo mais do que isto. não quero alarmar ninguém. há-de passar, ainda que não saiba quando, porque me tinha esquecido que quando a dor nos sufoca, perdemos a noção do tempo e um segundo de dor é uma verdadeira eternidade. assim, sem gritos, sem apontar dedos acusatórios, sem raivas... só tristeza. até porque é por mais do que um assunto. mas já não sabia o que era a dor a sério)

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Em aditamento [ao post abaixo]

Em jeito de resposta aos comentários ao post abaixo, ao mesmo tempo que torno a questão mais clara para mim também.

Mantenho que sim, que na vida a confiança e a segurança nem sempre andam juntas.
Creio que podemos mesmo acrescentar todos os adjectivos que acharmos por bem a cada uma das palavras, assim como quem escolhe uma combinação de gelados numa gelataria. Todos, menos os que negam o substantivo.
Pode haver confiança insegura e segurança desconfiada. O que não pode haver é confiança desconfiada e segurança insegura. Isso é que acho que não. Mas, mesmo assim, nos dias que correm, não serei eu a jurar que não existem.

Sei que é estranho. Não me admiro com a estranheza que causou.
Foram essas mesmas razões, esses mesmos pressupostos que me levaram, desde sempre, a associar uma coisa à outra. Mas a vida obrigou-me a ver uma outra realidade, e a viver com ela.

Felizmente, a segurança sempre foi uma coisa presente na minha vida. Desde que tenho consciência de mim, sempre vivi com uma enorme sensação de segurança, protegida num mundo suficientemente grande para o meu crescimento e para os meus sonhos. Fui uma privilegiada. Fui, e não adianta dizer o contrário.
Já era uma mulherzinha quando esse mundo abriu uma fenda na muralha. Magoei-me, pois. Toda a gente se magoa. Faz parte da vida e do crescimento. Mas sabia que não corria um risco muito grande, a segurança mantinha-se lá. Ainda existe. Mais pequena, mas existe.

Apesar disto sempre fui desconfiada. Muito. Por natureza e por educação.
Muita vezes dou por mim a cair no facilitismo de me preparar para dizer: ...quando reaprendi a confiar...
Qual reaprendi?! Eu nunca aprendi. Aprendi sempre o contrário.
Não reaprendi. Aprendi! E senti-me menina pequena, de tranças e laços, e vestidinhos frescos de mangas de balão. Saltitante e leve.

Associei, dentro de mim, a confiança à segurança, mas elas não estavam juntas.
Foi das maiores contradições da minha vida, das coisas que mais confusão me fez, das coisas que mais me doeu e confundio e fez chorar, enquanto não consegui ver uma coisa separada da outra. Confiança e segurança não têm de andar juntas [mas eu gostava tanto que andassem!].

Não me custa reconhecer a segurança sem confiança. É simples.
Há pessoas em quem não confio, a quem não confiaria segredos, de quem não ouviria conselhos, em cujo ombro não descansaria a cabeça, junto a quem não me sentiria suficientemente confortável para adormecer. Mas há pessoas destas em quem sinto segurança. Sei o que são, como reagem, sei que estarão assim, do mesmo modo, no mesmo sítio, amanhã e depois, na semana que vem, daqui a seis meses, para o ano, ou daqui a uma década. Sei que são assim, e sei com o que conto, com o que posso esperar. Bom ou mau, não vem ao caso.
Seja o que for, é seguro.

Difícil foi entender que posso confiar numa pessoa, mas que ela pode não me dar segurança.
Posso fazer tudo o que disse que não faria com aquele tipo de pessoas de que falei, posso confiar segredos, posso aceitar os seus conselhos, posso deitar a cabeça no seu ombro e aninhar-me no seu colo, posso adormecer no mais tranquilo dos sonos. Posso isso tudo e muito mais. Posso acreditar em tudo o que me diz. Posso e acredito; é por isso que confio (uma coisa tão nova para mim). Não ponho em causa o que me diz, não procuro contradições no discurso, não procuro provas, não fiscalizo, não duvido. Confio...
Confio mas não sei o que posso esperar, não sei em que sentido vai evoluir amanhã, não sei o que vai pensar daqui a dois dias, não sei o que vai querer daqui a uma semana, não faço a miníma ideia do que dirá daqui a um ano. Não sei qual a ordem de prioridades em cada momento, não sei quando vai deixar de querer o que já quiz, não sei quando vai passar a querer o que diz que não quer. E confio... e é bom confiar.

Entre a segurança e a confiança, nem pestanejo, prefiro a segunda. Sem margem para dúvidas.
Mas a confiança sem segurança, sem um mínimo de segurança, desgasta, cansa, alimenta-se das nossas forças, tira-nos a tranquilidade.
E as forças não são inesgotáveis, por mais que eu gostasse que fossem.
E a tranquilidade faz-me falta. Preciso dela. E para ela existir é preciso um minímo de segurança. Um minímo...
Acho que vou confiar a vida toda, para sempre, mas não gostava de, um dia, deixar de dizer que confiar é bom.

Lições

Ando a aprender que confiança e segurança, não são a mesma coisa. Ando a aprender que podem não ter nada a ver uma com a outra, e que podem até andar mesmo muito afastadas.
Ando a aprender que a confiança, é mais importante, apesar de tudo, do que a segurança, mas aprendi que a tranquilidade é uma coisa essencial e que sem um bocadinho de segurança também, não existe.
Ando a aprender, mas é uma lição dura.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Do bom uso da moeda


Ouvi dizer que se atirarmos uma moeda e pedirmos um desejo, ele se realiza. Não é que acredite, claro. Mas lembrei-me de me teram dito, há muitos anos, era eu miuda, em Braga em frente a uma fonte que, se lá quisesse voltar, devia atirar uma moeda. Atirei e voltei, sim. Muitas vezes, mas acho que não teve nada a ver com a moeda. Teve, sobretudo, a ver com o rumo profissional que tomei. Voltei e, de cada vez, me apaixono mais pela cidade (bom... pela parte antiga, por aquelas ruas sem trânsito que podia percorrer de olhos fechados, entre o sítio onde durmo e a Arquivo, pela arquitectura daquelas casas, pelas lojas de rua, pela comida, pelo sotaque das pessoas, pelo acolhimento, pelo som dos sinos a tocar...).

Várias anos depois, em Roma, disseram-me o mesmo em frente à Fontana di Trevi. E eu atirei. Atirei mais do que uma. Atirei em várias das noites em que lá fomos.
Durante a semana que lá passei, e depois de a descobrirmos, ela entrou rápidamente para as nossas rotinas. É curioso como se conseguem criar rotinas em tão pouco tempo, e é engraçado, também, como elas nos podem dar a sensação de ordem, de conforto.
Rara foi a noite, logo a seguir ao jantar, em que não fossemos as quatro até lá. Nós, e uma multidão. E iamos à gelataria ali ao lado que tinha uns gelados divinais, escolhiamos entre uma variedade enorme, e lá iamos comê-los, sentadas nos degraus à frente da fonte. O barulho da água em queda, o ar levemente humedecido por ela, a luz, as conversas em diversos idiomas, a boa disposição entre todos, as canções cantadas, expontaneamente, em conjunto com pessoas que não se conheciam entre si, mas que se conheciam ali, a leveza do ar que se respirava, e tudo estava como devia estar e melhor era impossível.
Atirei moedas, sim. E se lá voltar por causa delas, terá sido o melhor uso que podia dar àquelas moedas.

(o que me lembra que é melhor atirar muitas mais moedas, por vários sítios que me estão agora a passar pela cabeça. e a pessoas? será que resulta? há algumas a quem atiraria moedas todos os dias. coitadas!)

Papéis invertidos

Os meus pais disseram-me que almoçavamos juntos.
Disseram mas eu, chegada a hora, almocei sózinha, e nem liguei à coisa.
A esta hora ainda não sei onde andam. Um não levou telemóvel e o outro tem-no desligado (ou sem bateria, que é o tradicional). Claro que telefonar-me também não telefonaram.

Não é que me façam falta. Mas se disseram que almoçavam comigo e, a esta hora, não há sinal deles, começo a não achar muita graça à coisa.
A minha vontade, quando os voltar a ver, é dar um bom raspanete. É que se fosse ao contrário teria muito que os ouvir: E não sabias lever o telefone? E não devias cumprir o que combinas? E não sabias telefonar de um telefone qualquer? E não sabias que nos deixavas preocupados?
Ai, os meninos!

terça-feira, 15 de maio de 2007

Dos empréstimos

Pediram-me a máquina fotográfica. Mais uma vez. E eu nem pensei em não a emprestar.
A esta hora, já lhe sinto a falta. Arrependo-me agora de não ter mandado antes a outra que faz melhores filmes mas piores fotografias. Por nada que não seja porque prefiro a que emprestei, estou mais habituada, sinto-a mais minha (e é, porque esta fui eu que a comprei).
Emprestei e pronto.

Mandei com ela cabos e carregador, mas avisei desta vez: Quando acabar a bateria, recarreguem-na; não a deitem fora!

É estranho o aviso?! Anedota?!
Pois não pensariam o mesmo se da primeira vez que vos pedissem a máquina, a devolvessem sem bateria porque ela tinha chegado a fim. É que foi o que me aconteceu... ( e sim, eles têm computadores portáteis, telemóveis 3G, etc, etc...).

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Meme (ou lá o que é isso)

A Clara passou-me um meme.
Primeiro tive de perceber o que é um meme, afinal.
(um "meme" é um "gene cultural" que envolve algum conhecimento que passas a outros contemporâneos ou a teus descendentes. os "memes" podem ser ideias ou partes de ideias, línguas, sons, desenhos, capacidades, valores estéticos e morais, ou qualquer outra coisa que possa ser aprendida facilmente e transmitida enquanto unidade autónoma.)

Depois é suposto produzir um e, acho, que a seguir devia passar a mais algumas pessoas, mas quanto a isto, segue a tradição, e não nomeio ninguém, mesmo confessando que adoraria conhecer uns memes de algumas pessoas.

Tento não confundir princípios com preconceitos.

Não, não foi eu que inventei a frase, foi o meu Pai (o que não quer dizer que ele não os confunda a toda a hora). Cresci com ela no ouvido. Foi ela que me alertou para o facto de ser muito fácil confundir as duas coisas, para o risco de nos pautarmos e nos batermos por coisas que julgamos muito válidas e meritórias, porque nos parecem princípios, mas que, na realidade, são apenas preconceitos.
Foi esta frase que me alertou até, para o facto de que não basta saber que a fronteira entre as duas coisas é, muitas vezes, ténue e estreita, para nos livrarmos do risco de as confundir, ainda assim.
A despeito de tudo isto, também sei hoje que a luz da razão, pura, também cria sombras, e que só com a ajuda de uma outra luz, a luz do afecto, se consegue distinguir a diferença entre os verdadeiros princípios e os preconceitos; e atirei uma boa quantidade deles pela janela.

sexta-feira, 11 de maio de 2007

Da fidelidade

Diz-me a S. ao telefone:

Oh!... tu nunca serás infiel!!

E, palavra que era capaz de lhe adivinhar, do outro lado da linha (que não era linha, porque era um telemóvel) a expressão entediada e o encolher de ombros, como quem se vê na presença de uma causa perdida.
E, confesso também, que me senti com qualidades um bocadinho caninas. Aquele tu nunca serás infiel, pareceu-me acabar até com o valor intrínseco dessa mesma coisa, da fidelidade, em si mesma. Porque afinal é oferecida sem critério, independemente do outro lado a merecer ou não (e, em teoria, pode haver casos em que não seja merecida, de facto).
Senti-me um cão.

Mas depois recompus-me. Ora!
As coisas também não são bem assim!

Infiel não serei. E não apenas pela outra pessoa. Não o serei, também por mim. Que não sei, com franqueza, o que pesa mais, se o respeito por mim, ou o respeito pela outra parte.
Mas se, do outro lado, considerar que não há merecimento, sou rápida a bater com a porta. Donde, na verdade, mesmo não sendo infiel, só ofereço a fidelidade a quem a merece.
E deixei de me sentir cão!

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Desnorte


Acho que é por causa do calor. É, de certeza.
O calor nunca me fez bem, muito menos quando chega assim, de súbito, sem avisar ninguém.
Hoje cheirava-me a Agosto, sentia-o na pele. Mas a Agosto sem mar, sem aquele mar frio com ondas fortes, sem mergulhos de fim de dia até sair de dentro de água com as mãos geladas e só aquecer debaixo do chuveiro. A Agosto sem sentir a areia, o sal e o Sol na pele. A Agosto mas sem os dias sem horas e sem preocupações. A Agosto sem as uvas e os pêssegos doces cá de casa. A Agosto sem dias e semanas seguidas com os amigos e risos com e sem motivos, e confidências que nascem naturalmente e que nos unem desde pequenas, desde quando enterravamos na areia, afanosamente, os bancos que o banheiro punha à disposição dos clientes.
A Agosto, sem Agosto.


Acho que foi por isso que só me lembrei de almoçar, quase às cinco da tarde.

terça-feira, 8 de maio de 2007

Pequenina


Eu sei que não dá para perceber, mas esta janela é pequenina. E a única janela de uma casa, igualmente, pequenina, com uma única porta. Um encanto, por isso mesmo. Uma casa de bonecas, é o que me faz lembrar.

Não mora lá ninguém. E se morasse só podiam ser personagens de uma qualquer história de encantar.

E faz-me lembrar as casinhas do Portugal dos Pequenitos. Faz-me lembrar, mais uma vez, porque a verdade é que há mais de um ano que ando a suspirar por esse sítio. Faz-me lembrar da única vez que lá fui, era eu ainda pequenina, e como fiquei conquistada por aquele mundo encantado, à minha escala.
Faz-me lembrar que, definitivamente, eu já não sou pequenina.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Caça às papolias *



Não foi a pensar nas papoilas que saí de casa ontem de manhã (não muito de manhã). Na verdade, não foi a pensar em nada. Foi só para dar uma volta de bicicleta, num dia tão luminoso. A máquina fotográfica, só não ficou em casa, onde passa cada vez mais tempo sózinha, por mero acaso.
Mas elas estavam lá, no meu caminho e é indesmentível que exercem um fascínio, não muito explicável. Não sei se é pela cor, se é por serem totalmente livres, não confinadas a jardins ou canteiros, não sei se é por serem simples e expontâneas... Não sei. Mas é impossível ficar-lhes indiferente.

* Título completamente clonado da Xu! ;)

sábado, 5 de maio de 2007

Me

Uma das coisas que repito à exaustão é que eu não sei gostar. Porque não sei. É um facto.
Não estou a dizer que não sou capaz de gostar. Não é nada disso. Não gosto de tudo e de todos (ainda que também não queria mal a ninguém), mas quando gosto, gosto muito. Gosto mesmo. Gosto a valer. Para o bem e para o mal.
E quando gosto mesmo muito, é aqui que a coisa se complica. Quando gosto mesmo, mesmo muito, despejo-me de mim, o coração é todinho necessário para esse gostar, em que tudo continua a ser pouco, e portanto, nessa necessidade de todo o espaço e mais algum, sou eu que me despejo a mim mesma.

E depois fico assim, nem sei bem como explicar... desalojada de mim mesma, sem guarida, uma alma sem-abrigo. Quando o objecto desse meu gostar muito, muito, repara e acolhe essa parte de mim que ficou deslojada por esse gostar, claro que continuo a viver, porque me recolho e lá me acomodo num cantinho disponibilizado num coração alheio. Mas eu fico longe de mim, e isso não é bom.

Eu, preciso de mim. E não é narcisismo, ou egocêntrismo, ou outro ismo qualquer relacionado. Não é.
É de mim que preciso, que preciso de ter à mão nos momentos bons e maus, no meio dos montes de trabalho, no metro, nos lanches com as amigas, nas compras, num passeio à beira mar ou quando vejo os primeiros pirilampos nas noites escuras do campo. Eu, preciso de me ouvir a mim, de ver a luz e as árvores, de ler os jornais com os meus olhos. Eu preciso de mim, de me ter inteira, e não de me ter aos bocadinhos, os meus bocadinhos que apanho reflectidos emanados de quem eu gosto.

Gostar de outra pessoa é bom, sim. É divino, mesmo. Mas não posso, com isso, despojar-me de mim.

Ontem à tarde, comecei a sentir alguma coisa de boa e estranha. Logo ontem, que me sentia tão triste. Senti uma serenidade inesperada ao descer a João XXI, gostei de ficar parada nos semáforos do Campo Pequeno, não resisti a passar nos jardins da Gulbenkien e acho que encontrei por lá, sorridente, a Margarida recém-entrada naquela faculdade ali ao pé, já lá vão uns bons aninhos. Senti um prazer infantil em fazer as compras no El Corte Inglés, com a Catarina, como se fosse uma novidade. Eu... que não tenho paciência para compras e, muito menos para deambular pelo El Corte Inglés. Até aos produtos do super-mercado achava graça.
Achei um mimo a segurança com que ela se prontificou para preparar um jantar de sushi: Então é fácil vez? Levamos disto e diz aqui... é abrir a embalagem, esperar 20 minutos e comer! E já está!
Senti vontade de rir destas coisas. (Não, aquilo não foi uma boa ideia!)
Senti-me bem ontem; inteira, completa. Eu acho que na tarde de ontem, por um mistério qualquer que me escapa, eu voltei para mim. E as saudades que eu tinha de mim...
Não expulsei ninguém cá de dentro, apenas arranjei um bocadinho de espaço para mim mesma, e não me quero deixar mais ir embora.

Das línguas

(31) "Les légumes et certain fruits d´ été venaient au marché, jusqu`à l`èpoque le plus récente, dúne banlieve très restreint qui, avec les jardins dans la ville elle-même, formait une zone de jardiniage, parfois entremêlée aux vignobles". Segij Vilfran, "L´aprovisionnement des villes dans les confins germano-italo-slaves du XIV e. au XVII e. siècle", p. 54

Tive inglês desde cedo e, durante mais horas lectivas do que fazia parte do plano nacional. O meu professor sempre nos disse que só dominavamos uma lingua quando fossemos capazes de fazer os nossos racíocinios nessa mesma língua. E não me custa nada pensar em inglês.

Parte dos meus professores, até aos 17 anos, eram espanhóis, e nunca se coibiram de dar as aulas em castelhano, a despeito de leccionarem num colégio portugês. Óbviamente, por isso, porque as crianças apendem depressa, o castelhano é-me bastante familiar.

Os apenas dois anos em que estudei alemão, não deram para grandes prodígios. Pensar que sou capaz de ter uma conversa nessa língua, sobretudo depois deste tempo, é pura perda de tempo. Mas entendo uma boa parte das coisas que são ditas e, se estiver distraída, numa dessas conversas, sou bem capaz de responder em alemão.

Uma estadia de uma semana em Roma, foi o suficiente para aprender o básico do italiano e passar a comprar, confiante, livros escritos neste idioma, que leio, sem problemas.

Não sou daquelas pessoas que têm queda para as línguas. Não sou, de todo! Mas aprendo o normal.

Com o francês a relação sempre foi bem diferente.
A embirração começou pela professora de ballet, que numa voz aguda, nos martelava os ouvidos: et un... et deux... et trois...
Seguiu-se o meu pai que, aos dez anos, entendeu que eu tinha de aprender francês. Porque sim, porque ele domina a língua, porque gosta, porque a menina não tem quereres e porque é uma língua de cultura. Claro que a menina descobriu, justamente nessa altura que, afinal, tinha quereres e disse que não. E depois de muita discussão em casa, a menina, não foi para o francês. A discussão voltava todos os anos em Setembro, sempre com o mesmo resultado.
Depois, foi o obrigatório: três anos no colégio. Três anos de enormes contrariedades, com um ódio crescente à gramática e às correcções permanentes do Papá à minha miserável pronúncia.
Não se pode dizer que fosse a clássica relação amor-ódio: era mais ódio-ódio, mesmo.

Foi a faculdade que me obrigou a voltar ao contacto com essa língua amaldiçoada. Ele eram artigos, ele eram livros...
A tese, só veio piorar as coisas, com mais livros e artigos, sem tradução para portugês (ou inglês).
Nos outros trabalhos a cena repete-se, e dou por mim com um trabalho cheio de notas de rodapé como a que está acima.
Enquanto isto, continuo a dizer à boca cheia que não sei francês.

Até que agora, já cansada de estar à espera do meu pai, que estava à frente de um monitor a ler um artigo, justamente em francês, mas a ler e a fazer a tradução em voz alta, a um ritmo de caracol, perco a paciência, puxo uma cadeira, sento-me ao lado dele, e traduzo aquilo em dois tempos.
Ele olha para mim e pergunta-me: mas tu não sabias francês, pois não?
Pois não! Afinal aprendi, sem saber como. Aprendi por artes mágicas, durante o sono, ou qualquer coisa semelhante. É, de facto estranho, como com o tempo vamos aprendendo coisas sem termos consciência disso. Estranho e oportuno.
Pois... não posso bem dizer que não sei, mas posso dizer que não o falo. ...ce ça!

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Flower of Scotland


Havia um velho professor escocês, reformado, que vivia numa pequenina casa, com um gato branco, e brincos-de-princesa nuns vasos à porta.
Gostava das rugas dele. Das rugas da cara e das mãos. E tinha muitas e profundas.
Gostava da calma com que falava, apesar daquele inglês bastante mais aberto do que o da Inglaterra. Falava como se houvesse coisas que não fossem mudar nunca, como se o tempo não contasse para nada, e como se fosse dono de certezas que só ele sabia onde as ia buscar.

Não passei muito tempo com ele. Se calhar enganei-me e, levada, por aquela relação dele com o tempo, achei que o faria mais à frente.
Falava-me sempre como se me conhecesse desde antes dos tempos, e se me conhecesse o destino, que eu desconheço.
Tinha um sorriso doce e calmo, às vezes, segurava-me um bocadinho nas mãos e chamava-me Flower of Scotland, outras ainda, usava uma versão mais doce e chamava-me my sweet flower of Scotland.
Não sei porquê, de cada vez que falava com ele, guardava uma sensação de paz, que me fazia sentir que todas as angústias eram vãs e que o destino se encarregaria de me aplanar o caminho que já tinha tido as suas pedras. Devia ter passado mais tempo com ele...

Morreu. Morreu sózinho, na casa pequenina onde habitava, com o seu gato branco. Foram os vizinhos que notaram a sua falta.
Agora vai descansar, lá, onde crescem mesmo as verdadeiras flowers of Scotland. E eu sinto tanta pena de não me ter dado mais tempo com ele.

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Strange things

Saio de casa com sono, porque a noite, não sei porquê, não foi muito repousante. Mas saio a horas e decidida.
Pego na agenda e começo a fazer tudo o que lá escrevi.
Vou às Finanças, aos Correios, vou à Câmara, vou pagar o seguro. Passo cheques, assino coisas.

Volto à hora de almoço e passo junto das pessoas que cá trabalham.
Sorriem e fazem as perguntas adocicadas do costume: se dormi bem, se estou bem disposta, se ando cansada, se, se...
Uma delas chama-me para mostra umas fotografias do casamento de uma prima e eu digo-lhe que, como estou sem tempo, que passe pelo escritório, logo, um bocadinho mais cedo do que a hora de fazer os pagamentos, para as mostrar então.
Olham para mim com sorrisos irónicos e lá me perguntam se vou de fim-de-semana outra vez. O outra vez ficou a soar-me nos ouvidos, mas adiante.

É só em casa, quando o meu pai pergunta que dia é hoje e a minha mãe o informa, que me sinto estranha.

- Não! Hoje é dia 4! Então, é sexta-feira!
- Disparate! Não sabes a que dia estás?! Hoje é 5º feira!
- Não é nada, é sexta! Eu até já fui fazer os pagamentos!

É quinta-feira! Dia três de Maio! Sim, já percebi!
Mas assinei tudo com a data de 4, o que também não faz mal, porque hoje fiz o que era para fazer amanhã.
Pode ser um sinal perturbador, mas pelo menos vou com um dia de avanço. E isso é um momento único na minha vida.

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Medos

Não fui uma criança nada medrosa.
Não tinha medo do escuro, nem dos cães, nem dos cavalos, nem das cobras, nem de pegar em lagartixas e minhocas e assustar, com elas, a minha Avó.
Não tinha medo de subir às árvores, de esfolar os joelhos ou de andar de bicicleta por caminhos acidentados.
Não tinha medo do mar, nem das ondas.
Não tinha medo de trovões nem de raios, e sempre gostei de trovoadas.
Não tinha medo de sangue nem de ajudar nas operações dos cães.

Sensível, fui sempre, muito. Talvez em demasia!
Mas medrosa, realmente, não.

Tenho medo das alturas, admito.
Não saltei e não saltarei nunca da prancha da piscina que, ainda por cima, não é muito alta.
Mas esse medo é fácil de contornar. Não me incomoda e, se fosse mesmo necessário acabar com ele, provavelmente, conseguiria.

Tenho um outro medo, esse sim, grande e que me perturba. E perturba mais em alturas como esta, em que muita gente diz coisas boas a meu respeito, coisas muito simpáticas, em que tenho mimo e atenção a rodos, muitas vezes vindos de onde não esperaria.
Tenho o medo de desiludir. De desiludir as pessoas de quem gosto, ou as pessoas que gostam de mim (que eu não sei bem, com perfeita nitidez, qual é a diferença). Esse medo eu tenho, e tem a forma de uma responsabilidade que pesa. Muito.

[Ainda tenho mais um medo, bastante mais atenuado do que anteriormente, mas presente ainda. Mas esse outro medo, é um outro assunto]

Tarte de Maçã

fotografia da Ana

A fotografia é da Ana e a receita também, já que teve a simpatia de a mandar de uma vez que eu queria porque-sim-porque-sim fazer uma tarte de maçã. Mais ainda fazê-la do que comê-la porque eu, com os doces sou muito assim, gosto de os fazer mas nem tanto de os comer.

É fácil, rápida, e deixa a casa toda com um cheirinho doce. Fazê-la é, sobretudo, aconchegante e é isso que me agrada, especialmente em dias cinzentos. E quanto mais frios e cinzentos melhor. A situação ideal é em dias de lareira, mas enquanto vamos tendo uns dias como o de hoje ainda é aceitável.
Ah... sim... também é boa! Sobretudo com chá!

Ora então é assim:
- Liga-se o forno a 200ºC
- Numa tigela, juntam-se 3 colheres de sopa de farinha, 120ml de açucar amarelo e uma colher de canela. A Ana disse que se podiam juntar outras coisas, como cardamono ou noz moscada, mas eu nunca o fiz.
- Cortam-se 4 maçãs (depois de descascadas e caroços tirados, claro) aos bocados, do tamanho que entendermos. Eu corto em bocados relativamente pequenos e prefiro as maçãs reinetas, mas isso depende mesmo do gosto de cada pessoa.
- Envolvem-se os bocados de maçã na farinha e no açucar
- Depois de descongelar uma embalagem de massa quebrada, estende-se com o rolo e deixamo-la com a forma de uma circunferência grande.
- Pega-se nessa circunferência com cuidado e coloca-se sobre um tabuleiro que vai ao forno.
- Colocam-se as maçãs, já envolvidas na farinha, no açucar e na canela, no meio e enrolam-se e dobram-se as extremidades da massa (de maneira a ficar como na fotografia) e polvilha-se com açucar.
- Vai ao forno por, aproximadamente, 25 minutos. Nessa altura pode-se ( e eu costumo fazer) polvilhar com amendoas laminadas e deixa-se no forno por mais uns 5 minutos.

E pronto, promessa cumprida.
Não tenho jeitinho nenhum para explicar receitas, mas enfim... queriam, aqui a têm.