Em jeito de resposta aos comentários ao post abaixo, ao mesmo tempo que torno a questão mais clara para mim também.
Mantenho que sim, que na vida a confiança e a segurança nem sempre andam juntas.
Creio que podemos mesmo acrescentar todos os adjectivos que acharmos por bem a cada uma das palavras, assim como quem escolhe uma combinação de gelados numa gelataria. Todos, menos os que negam o substantivo.
Pode haver confiança insegura e segurança desconfiada. O que não pode haver é confiança desconfiada e segurança insegura. Isso é que acho que não. Mas, mesmo assim, nos dias que correm, não serei eu a jurar que não existem.
Sei que é estranho. Não me admiro com a estranheza que causou.
Foram essas mesmas razões, esses mesmos pressupostos que me levaram, desde sempre, a associar uma coisa à outra. Mas a vida obrigou-me a ver uma outra realidade, e a viver com ela.
Felizmente, a segurança sempre foi uma coisa presente na minha vida. Desde que tenho consciência de mim, sempre vivi com uma enorme sensação de segurança, protegida num mundo suficientemente grande para o meu crescimento e para os meus sonhos. Fui uma privilegiada. Fui, e não adianta dizer o contrário.
Já era uma mulherzinha quando esse mundo abriu uma fenda na muralha. Magoei-me, pois. Toda a gente se magoa. Faz parte da vida e do crescimento. Mas sabia que não corria um risco muito grande, a segurança mantinha-se lá. Ainda existe. Mais pequena, mas existe.
Apesar disto sempre fui desconfiada. Muito. Por natureza e por educação.
Muita vezes dou por mim a cair no facilitismo de me preparar para dizer: ...quando reaprendi a confiar...
Qual reaprendi?! Eu nunca aprendi. Aprendi sempre o contrário.
Não reaprendi. Aprendi! E senti-me menina pequena, de tranças e laços, e vestidinhos frescos de mangas de balão. Saltitante e leve.
Associei, dentro de mim, a confiança à segurança, mas elas não estavam juntas.
Foi das maiores contradições da minha vida, das coisas que mais confusão me fez, das coisas que mais me doeu e confundio e fez chorar, enquanto não consegui ver uma coisa separada da outra. Confiança e segurança não têm de andar juntas [mas eu gostava tanto que andassem!].
Não me custa reconhecer a segurança sem confiança. É simples.
Há pessoas em quem não confio, a quem não confiaria segredos, de quem não ouviria conselhos, em cujo ombro não descansaria a cabeça, junto a quem não me sentiria suficientemente confortável para adormecer. Mas há pessoas destas em quem sinto segurança. Sei o que são, como reagem, sei que estarão assim, do mesmo modo, no mesmo sítio, amanhã e depois, na semana que vem, daqui a seis meses, para o ano, ou daqui a uma década. Sei que são assim, e sei com o que conto, com o que posso esperar. Bom ou mau, não vem ao caso.
Seja o que for, é seguro.
Difícil foi entender que posso confiar numa pessoa, mas que ela pode não me dar segurança.
Posso fazer tudo o que disse que não faria com aquele tipo de pessoas de que falei, posso confiar segredos, posso aceitar os seus conselhos, posso deitar a cabeça no seu ombro e aninhar-me no seu colo, posso adormecer no mais tranquilo dos sonos. Posso isso tudo e muito mais. Posso acreditar em tudo o que me diz. Posso e acredito; é por isso que confio (uma coisa tão nova para mim). Não ponho em causa o que me diz, não procuro contradições no discurso, não procuro provas, não fiscalizo, não duvido. Confio...
Confio mas não sei o que posso esperar, não sei em que sentido vai evoluir amanhã, não sei o que vai pensar daqui a dois dias, não sei o que vai querer daqui a uma semana, não faço a miníma ideia do que dirá daqui a um ano. Não sei qual a ordem de prioridades em cada momento, não sei quando vai deixar de querer o que já quiz, não sei quando vai passar a querer o que diz que não quer. E confio... e é bom confiar.
Entre a segurança e a confiança, nem pestanejo, prefiro a segunda. Sem margem para dúvidas.
Mas a confiança sem segurança, sem um mínimo de segurança, desgasta, cansa, alimenta-se das nossas forças, tira-nos a tranquilidade.
E as forças não são inesgotáveis, por mais que eu gostasse que fossem.
E a tranquilidade faz-me falta. Preciso dela. E para ela existir é preciso um minímo de segurança. Um minímo...
Acho que vou confiar a vida toda, para sempre, mas não gostava de, um dia, deixar de dizer que confiar é bom.