sexta-feira, 3 de fevereiro de 2006

Strange things

Se um amigo nos pede ajuda para comprar lençóis e toalhas para a sua casa nova, podemos primeiro perguntar-nos a nós mesmas: Porquê eu?
Podemos; mas podemos, ainda assim, achar que tem o seu quê de normal, de espontâneo, de coisa isenta de segundas intenções.
Se a esse pedido vem agregado um convite para mostrar a carrinha nova, a coisa continua a parecer normal e, como corolário lógico, e mesmo tendo ainda em mente o episódio pouco feliz da última viagem ao Alentejo, aceita-se.

Aceita-se porque sim, porque analisada a frio, de uma maneira racional, não há nada de objectivamente perigoso na questão.
Aceita-se porque se sabe bem que esse amigo seria outra coisa se pudesse mas, não-podendo-está-muito-bem-assim, sem dramas, sem arrebatamentos, sem problemas.
Aceita-se porque até se gosta da companhia dele.

Diz-me que o Audi TT, foi à vida: Por tua causa! Não gostavas dele! Vendi-o e comprei esta carrinha. Achas melhor?
Riu sabendo bem que não podia ter sido esse o motivo, mas a achar graça à arte que os homens têm para tirar partido das suas próprias decisões.
Reconhece que não, que não foi por minha causa: As pranchas não cabiam no carro e tinha de andar sempre a pedir a carrinha do meu pai emprestada!
Pronto! Ora aí está um motivo válido e credível.

Vamos às compras e depois de me irritar por, sistemáticamente, nas lojas, nos tomarem por um par, acabamos por nos divertir.
As mulheres gostam destas actividades, é sabido, e mais ainda quando o cartão de crédito não é nosso.

Acabamos por jantar num restaurante que ele já conhecia e por passar depois por casa dele para me mostrar umas compras que tinha feito.
A casa é muito engraçada, pequena mas acolhedora. Insiste em mostrar-me as fotografias da última viagem e eu não vejo razão para recusar, escolhe a música certa à altura certa, a casa estava quentinha enquanto lá fora chovia, a conversa corria fluida, fácil, agradável. As horas foram passando e permiti-me pousar a vista nele com calma. É mesmo bonito, os olhos doces, o corpo atlético, perfeito, a voz envolvente, meigo, atencioso, disponível.
Bolas! Se calhar devia gostar dele! Mas não posso!
E, no entanto, estava a gostar de estar ali. Estava a gostar de estar ali, calma, encostados.
O contacto dele é-me agradável. Não me inquieta; se gostasse dele, se calhar nem lhe tocava, mas assim, é só agradável.

Já era tarde. Insistiu para eu ficar. Ficava no quarto dele; ele ficava no sofá.
Primeiro pareceu-me perfeitamente absurdo. Depois, à medida que insistia mais, pareceu-me errado, depois pouco conveniente, depois... depois continuei a achar que não devia, mas que até me apetecia.
Que mal tinha?! Era meu amigo; não íamos dormir juntos; não temos compromissos; somos adultos... E fiquei.
Ficámos assim mesmo, cada um no seu sítio, sem que nenhum dos dois fosse ter com o outro (o que levou a que acabássemos por perder algumas horas de manhã) e entre os dois havia muito mais do que uma parede, havia uma série de princípios que nos são inculcados desde crianças ( a nós, meninas). Era assim que era suposto, e foi assim que aconteceu. Mas não foi o mesmo que dormir em casa de uma amiga.
Não deixou de ser estranho. E, confesso, que fiquei uma boa parte da noite a pensar até que ponto alguns desses princípios não são mesmo preconceitos. Só alguns; só um bocadinho!


Aqui está um bom exemplo de um post que não devia ter escrito! Paciência!

33 comentários:

Anónimo disse...

Há pessoas que nos fazem sentir bem, que tanto podem ser homem como mulher, são pessoas com as quais se pode conversar, rir, partilhar coisas, são nossos amigos. QUem disse que entre um homem e uma mulher tem que haver mais que amizade?

Bjs e bom fim de semana

Dani disse...

Pelo contrário, ainda bem que o escreveste. Que magnífico post! Porque será que o que parece melhor, nem sempre é o que queremos? Ou queremos e não sabemos? Ou sabemos e não queremos? Lindo.
Entretanto, e sem querer comparar nada com nada, da última vez que ultrapassei os tais preconceitos, dei por mim casado com a mulher da minha vida.

Dani disse...

Não quis com isto dizer que a amizade não seja possível como única e exclusiva relação entre um homem e uma mulher. Estava apenas a relatar o que se passou com uma grande amiga minha. Que ainda o é.

Anónimo disse...

e não devias ter escrito porquê? Nós é que fazemos estes tipos de preconceitos.... SOMOS NÓS!!!!!
Soube bem, ou não soube? Tás a ver.
Pôr na agenda : a repetir

Unknown disse...

Porque não escrever o que sentimos?
Afinal os preconceitos somos nós que os fazemos!!!

Fizeste muitíssimo bem em escrevê-lo!!!

Se te sentes bem com ele? Porque nao?
É teu amigo... é a mesma coisa que uma amiga!!!
Bom fim de semana.
Isa e Pedrocas!

Margarida Atheling disse...

Pois estou prima. Enquanto o escrevia tive, várias vezes, a tentação de o apagar. Mas estaria a entrar em contradição.
Se o escrevi, se senti essa necessidade, é porque devia fazê-lo.
Se o apagasse seria só por causa "dos outros", para evitar interpretações erradas, ou até interpretações certas, mas que podem não me convir que sejam feitas por algumas pessoas (não estou a pensar em nenhuma das pessoas que costumam comentar).
No fim, preferi ser coerente comigo mesma!

Margarida Atheling disse...

Não é, não Isabel!
Nada igual! Não neste caso preciso; ou não neste caso, neste momento.
Mas também não há mal nisso!

Anónimo disse...

Por que é que não o devias ter escrito!!! Será preconceito, será medo de teres gostado? Nós é que fazemos o preconceito! Bjocas.

nuvem cor de rosa disse...

:)
apagar porquê?
sentes-te bem, sentiste-te bem e pronto!
bjnhos grandes

AnaGarrett disse...

Mas são posts que dão prazer de escrever. Nem que seja só para desabafar neste mundo virtual.

Beijinhos.

mixtu disse...

só um bocadinho... abaixo os preconceitos.
adorei a tua "aventura"
jinhos

Tamia disse...

e eu que pensava que com o assumir de há uns tempos, tinham vindo abaixo também os preconceitos inculcados!
:)
Se te sentes bem perto dele, por que te queres afastar? É o que parece mesmo que queres fazer força para que não se passe mesmo nada!

Dulce disse...

Também já dormi assim, no quarto ao lado do quarto de um amigo a quem eu acho que queria (na altura) mais do que isso. Mas acho porreiro poder fazê-lo, poder ir contra preconceitos, até contra os meus...

reborn disse...

Fizeste muitíssimo bem :)

Beijinhos **********************************

NaRiZiNHo disse...

Hmmmm bela escrita, gosto do que escreves, gosto da liberdade que dás aos dedos, gosto quando eles saltitam, saltitam...e quando param, o resultado é algo típico com o que acabei de ler.
Nada de arrependimentos Margarida, se o fizeste é porque tinha de ser feito, há um próposito algures por aí escondido, que tu podes ainda não saber qual é (ou se calhar até sabes, mas é só teu), mas que o subconsciente transmitiu às tuas pontitas dedais e voilá, aqui tens o cozinhado. Já te adicionei às leituras diárias, agora faz o favor de continuar! ;) Bjs.

nelsonmateus disse...

1) s tu vês nele apenas 1 amigo e s ele apenas vê em ti 1 amiga, então, os outros k pensem o k bem kizerem.

2) s tu vês nele mais do k 1 amigo e s ele em ti mais do k 1 amiga, então, os outros k pensem o k bem kizerem.

3) s tu vês nele apenas 1 amigo e s ele vê em ti mais do k 1 amiga ... nesse caso, existem fortes probabilidades desta história acabar mal. se nã estiveres interessada noutro tipo de relação com ele ... nã lhe dês esperança k 1 dia, isto possa vir à mudar.

bjos e bom fim d semana

Márcia Pinho disse...

Olá Margarida,
pareque que morri, mas nãooooooooooooooooooooooo...ainda aqui ando .....
Passei para desejar bom fim de semana e "matar" saudades.
Beijinhos.

daqui disse...

:) achei engraçada a tua reticência no fim, postar-não-postar. (porque eu nunca me exporia assim tão publicamente, mas talvez por saber de alguns olhos que me lêem..) E acho que já estive numa situação parecida com esta. mas não por apetecer, antes por... a vida originar ocasiões assim. Acho que é por viver nesta Inglaterra em que vivo que te digo que sinto saudades de ver estes princípios efectivamente postos em prática. E, pelo menos, há uma coisa boa na tua história (eu disse pelo menos): é o rapaz saber fazer a corte. :) bom fim-de-semana!

Jolie disse...

Olha não tenho opinião nenhuma sobre se fizeste bem ou mal em escrever este post. A única coisa que sei é que gostei de o ler, não achei que devassasse a tua (vossa) privacidade, nem que fosse intímo a um ponto que não pudesse ser lido.

Gostei de o ler, porque gosto de ler sentimentos, e sentimentos é o que não falta neste post...

Um beijo (e confesso que eu na tua pele tinha feito exactamente a mesma coisa!)

Piquinota disse...

Nao acho que deva haver arrependimento. Nada acontece por acaso. É engraçado,porque raramente o que é melhor é o que queremos...:)
Aproveita bem os bons momentos:)
Jinhos

sonia disse...

É tão bom ter amigos assim, mesmo que nos seja dificil entender os preconceitos que a sociedade/cultura/educação nos deram a nós (meninas) como factoe comum.

Adorei este post, ás vezes é bom falarmos do que sentimos e descobrirmos que afinal, há tantas pessoas que pensam o mesmo que nós.

É bom ter amigos, mesmo que a velha máxima nos diga, que é impossível a amizade entre pessoas, disponiveis e de sexo oposto.

;))
Jinhos minha querida!

zeliaevora disse...

:)

Muito bom, este post e o que ele significa!

bjs

Zélia

Sara MM disse...

pois... não é muito "a tua pinta" este post... mas gostei de saber e fico a torcer para que tenhas muitas mais noites assim... melhores... como desejares... sem preconceitos... mas com todos os principios que te permitam ser feliz!

BJs

nuvem cor de rosa disse...

acabaste de herdar uma batata quente no meu último post ;)

39 disse...

Não sei porque te hás-de condenar por causa deste post... os sentimentos nunca se deviam manter sufocados... Custa tanto assim assumirmos o que pensamos?
Quanto ao post:
Infelizmente duas pessoas não se unem simplesmente porque racionalmente se percebeu que dali sairia o par perfeito. Se fosse assim não haviam mais divórcios!!! risos
Numa experiência semelhante à tua, mas em que não se respeitou a existência de algumas paredes, demos cabo de uma amizade que me dava muito gozo na epoca. Não sobreviveu ao excesso de intimidade...

Beijinhos, muitos,muitos

Miguel disse...

Parabéns por teres resistido à tentação de apagares o escrito.
Resistência e tentação na me parecem grandes palavras para comentar este post, mas foi isso que senti. Bj

maria disse...

Ai Margarida, margarida...mas porque é que raio se tem que pensar em tudo e analisar tudo???? A vida é para ser vivida...e eu que sou meio bruxenta...acho que essa foi só a primeira de muitas noites...
E não vejo mal nenhum nisso...e tu também não...por isso deixa-te de minhocas na cabeça...e não está escrito em lado nenhum que duas pessoas não se possam envolver e depois perceberem que afinal não é aquilo e ficarem amigas...ou perceberem que afinal é mesmo aquilo...vive, aproveita...e logo se vê.
Beijos e fico à espera de novos episódios!

Sara MM disse...

Estive a pensar melhor... é Surfista?! Então atira-te de cabeça! Sem principios nem preconceitos... pelo que sei, ficas bem servida... LOL
(desculpa, não resisti :ob )

BJs

Anónimo disse...

Parabéns. Magnífico, mesmo.
bjs leonor

gralha disse...

O que me faz matutar não é o sermos fieis aos nossos princípios e educação (também sou muito zelosa disso) mas os momentos que podíamos ter vivido, que nos poderiam ter surpreendido, e que não deixámos acontecer porque ainda há grandes paredes de tijolo invisível à volta do nosso coração. Para quando uma janela?

Mamã disse...

Gostei imenso deste post.
Não te preocupes! Se tiver de acontecer, acontece!

Rui disse...

Para que não digam que já não há homens com principios e coisa e tal... ora aqui está um exemplo de tenacidade perante a adversidade.

Deve ter custado bastante...

amiguita disse...

Estas conquistas...
É só para dizer que gosto muito desse rapaz, só porque acho que ele escolheu uma pessoa especial para amar.

Beijinhos