quinta-feira, 22 de março de 2007

Interlúdio

(o primeiro desta etapa. não se fez esperar muito. imagino que outros se sigam. gostava que fossem mais agradáveis e breves. se for possível, claro!)

As amigas são uma coisa fantástica!
São! São mesmo! Se calhar são mesmo a coisa mais importante que temos na vida (exequo com outras coisas, claro!)!
Juro que não estou a ser irónica! Podia discorrer acerca da amizade entre as mulheres, da cumplicidade, da protecção que procuramos dar umas às outras, das tentativas tantas vezes tão desesperadas quanto frustadas de tentar que ela, aquela nossa amiga, não se magoe. Podia falar da forma como sentimos em nós mesmas as dores das nossas amigas, muitas vezes por antecipação. Podia falar de tantas coisas, se não estivesse com tanta falta de tempo...

Mas às vezes também erramos. Às vezes esquecemos aquilo que os pais costumam esquecer em relação ao filhos e que é, se calhar, a mais difícil das lições. Às vezes esquecemos que ninguém pode viver a vida de ninguém, que a vida é um caminho que se aprende a fazer errando, e que os nossos erros não podem servir para evitar os erros das pessoas que nos são queridas.
Às vezes esquecemos que cabe a cada pessoa decidir em quem confia, se confia, se perdoa, se há mesmo alguma coisa a perdoar, e se aceita. Às vezes esquecemos que essa decisão está dentro de cada uma de nós e que é tão forte que nem quem a toma lhe pode chamar sua.
Às vezes, na ânsia de proteger uma amiga de quem gostamos muito, precipitamo-nos e julgamos outras pessoas e/ou situações com demasiada superficialidade, com demasiada inflexibilidade, com demasiados erros, em suma.

Às vezes é assim, sabias, amiga? Eu também só percebi isto há muito pouco tempo.
Há decisões que são minhas.
Espantam-te?! Eu sei. Também me surpreenderam. Se calhar cresci. Aprendi que existem muitas realidades e não apenas aquela que os meus olhos criam, que há as dos outros, com outra forma de ver as coisas, com reacções diferentes, com manifestações diferentes. Tão diferentes...
Há decisões dessas que são muito minhas porque tinha de ser assim, porque não podiam ser outras. Dessas que são tão nossas que são decisões que não decidimos, são decisões que nascem dentro de nós.
Se gostava que as coisas fossem diferentes?! Sabes que sim! Quem não gostaria?! Eu então... tu sabes!...

Ninguém pode criar atalhos no caminho de ninguém, e muito menos alterá-lo.
Eu vejo; eu sei o que tenho à frente, amiga. Sim, gostava de ter a certeza que o oásis lindo que me mostraram não é afinal uma miragem e de que no seu lugar não existe mais do que um charco de água turva onde, afinal, bebem todos os camelos de todas as caravanas. E não te vou dizer que é o que sonhei, o que gostaria ou até - e não vou ser imodesta - que é o que acho justo ou o que julgo que merecia. Um bocadinho de paz e de segurança já seriam bem vindas. Um bocadinho... Acho que não estou a pedir muito. Sabes que a ambição nunca foi o meu forte e, ainda assim, em algumas ocasiões nem sempre me limito à tristeza. Às vezes sinto revolta, sinto que a vida não é justa com todas as pessoas, ou que nem sempre é justa. Claro que... também há dias iluminados, em que juraria que o tal oásis existe, lá à frente.
Mas as curvas, ou mesmo as inversões de marcha, terão sempre de ser decididas por mim. Aliás, como contigo, na tua vida. E, da mesma forma, e por ser tua amiga, não vou pressionar-te para seguires seja que direcção for, porque sei que seguirás naquela que alguma coisa dentro de ti - mas só dentro de ti! - te mandar.
Sabes que a S. diria que é o que está escrito nas estrelas... eu, ainda gosto de pensar que posso ser eu a escolher, em cada momento, se sigo ou se viro as costas. Acho que é a única decisão que, verdadeiramente, tenho. Tal como tu, na tua vida.
E essa decisão é inalianável. É minha, muito minha, amiga. Tão minha que nem é decisão.

Esclarecimento: resumidamente a questão é a seguinte: uma amiga, zelosa, presume com base em indícios superficiais que alguém com quem a outra amiga (eu) se relaciona pode não ser o tipo de pessoa que ela acha que deviam ser as pessoas que se realacionam com a sua amiga (eu).

Acontece que eu, por razões óbvias, sei melhor com quem trato do que ela, que nem sequer conhece pessoa de quem está a falar.

Se escrevi isto, foi para tentar tornar inteligível a ela, a talvez a mim também, que as decisões sobre quem, e como, aceitamos na nossa vida são exclusivamente nossas. Até porque isto é já uma situação repetida. Tão simples quanto isto.

Mas sim, sei que a intenção é boa. E até sei que, no lugar dela, provávelmente, teria feito o mesmo. (eu é que, a esta hora, já acho que não devia ter escrito isto, mas agora... já está)

19 comentários:

Anónimo disse...

Estupida! Deixaste-me aqui a chorar como um bezerro. Quando parar respondo-te.

Beijos

Catarina

S. C. R. disse...

Acredita nisso. Por mais que saibamos que o caminho não é aquele, precisamos nós próprios de o percorrer e ver o que nele existe. São estas as melhores lições que a vida nos dá!
Podes ver os erros nos outros, mas só com os teus próprios aprenderás verdadeiramente e o magnífico das verdadeiras amizades é não nos julgarem, é terem a capacidade de estar ali ao nosso lado para quando precisarmos...
Para nos julgar já basta a vida quando nos mostra aqueles caminhos menos certinhos para percorrermos e aprendermos na chegada!

beijos

Clara disse...

Acho que entendi bem este post. E, embora concordando plenamente contigo, não deixo de dar uma pontinha de razão à tua amiga...

Xuinha Foguetão disse...

Entendo bem o que dizes...

Beijo grande para as duas.

Anónimo disse...

Ok! Então vamos lá.
Tu continuas a não ler o que escreves, não é!? Então lê. Pelo menos duas ou três vezes e depois diz-me lá qual é a comclusão que tiras. Diz-me lá que não se percebe que és uma pessoa especial, que não és para a mão de qualquer um.
Ó pá! Nem é por seres minha amiga, é porque salta à vista! Tu és toda especial, com um coração como só tu, com uma sensibilidade impressionante e ao mesmo tempo com uma coragem e firmeza de leoa.
Eu gosto de quem gostar de ti. Não gosto, não posso gostar de quem não te der o devido valor.
Tu agora és toda sensatez, consenso, calma, compreensão e mais sabe Deus quantas coisas desse tipo.
Pior! Ainda é pior! Ainda és mais especial, caraças. E eu subo pelas paredes por imaginar que possa haver mãos que não te merecem a tocar.
A Clara pelos vistos pensa como eu. Nós conhecemos-te e sabemos do que estamos a falar.
Já disse que gosto de quem gostar de ti (e não gosto do contrário está bem de ver) e nem tem de ser especial, mas tem de perceber que tu és e não te confundir com "todos os camelos de todas as caravanas" ou até preferir os camelos.
Tens razão em tudo o que dizes como é costume. Eu nem sequer sei do que estou a falar, estou de fora, tu reservas mais a tua vida do que alguma vez o fizeste, não sei o que se passa dentro de ti nem tão pouco o que se passa contigo. Deconfio que é por isso que fico assim de "orelha à escuta".
E espero do fundo do coração que essa serenidade que não sei de onde te vem, nem tu me contas quase nada, se mantenha!
Pronto, disse!

Beijos

Catarina

Miguel disse...

Margarida,
Contaste isto (ou reflectiste sobre) de tal forma, que é fácil para quem está de fora e apenas junta um pouco de sensibilidade à imaginação, descortinar cenários. Era por aí que eu, aqui sozinho, já estava a navegar.
Mas, para quem como eu, te lê para além das palavras, fica uma bela história de amor. Assiste-te toda a razão, mas como me parece (a tal imaginação) que bem sabes, no amor as palavras são por vezes diferentes das acções. E se o amor se alimenta mais das segundas dos que das primeiras, olha que um amor/amizade dessas é parte de um qualquer oásis.
Beijinho

Margarida Atheling disse...

Sonho Azul: é verdade. o nosso caminho é nosso, e temos de o percorrer, por nós mesmas.
mas neste caso nem há qualquer dramatismo na situação. eu estava só a generalizar.
e sim, o mais magnífico nas verdadeiras amizades é essa capacidade para nos acolherem quando chegamos fragilizadas por um "erro". e esta é uma dessas amizades! :)

Clara: imagino que tenhas entendido, pois!
e também sabia que lhe darías razão. ;)
Mas enfim... concordas comigo! :)

Catarina: exageros à parte, e fazendo questão de sublinhar a tua amizade, acredita que eu sei melhor do que tu quem é a pessoa de quem estás a falar.
e ainda que não soubesse... tu sabes que, ainda assim, seria assunto meu. :))

Miguel: ai!... não fales em amor. é uma afeição!
isto deve ser uma coisa capaz de criar grandes confusões, deve!
acho que não devia ter escrito.
é simples: uma amiga com medo que outra pessoa seja uma influência que me possa fazer mal.
são oásis, as duas coisas! apesar disto... :)

Margarida Atheling disse...

Ai Xu! cabeça no ar que eu ando! ;))
Entendes, não entendes?!
Coisas de mulheres... ;))

Bjs

Miguel disse...

Margarida...
Eu não me enganei no que disse.. forcei mesmo a palavra amor.... cabe aqui tão bem que se as pessoas não fugissem dela, não daria confusão.
O que é essa afeição? - Amizade, dirás, e forte... ao que responderei: pois... amor, tal como eu dizia. Bela história de amor

Ana disse...

Por muitos bons conselhos que nos deem.
Por muitos amigos que tenhamos e que queiram so o nosso bem.
So NOS sabemos o caminho a seguir.
Beijinhos
Ana Felpuda

Margarida Atheling disse...

Miguel: pois, eu responderia isso. sem tirar nem por. é verdade.
mas tu, por favor, não forces essa palavra!
sim, eu reconheço que sou uma dessas pessoas que foge dela! A sete pés!!
poucas coisas haverão com a mesma capacidade de estragar uma afeição do que essa palavra.
deve ser a primeira vez que discordo do que dizes. e nem é discordar, porque sei o sentido em que estás a usar a palavra. eu é que nem assim, nem nesse sentido, a quero usar!
afeição! que é isso que é! e daqui não saio! nem quero sair, que o que eu quero é paz!
(mas obrigada! "avalias-me" sempre de uma forma muito simpática!)

Ana: é mesmo assim! bom... às vezes, nem sabemos, mas somos nós que temos de decidir. Isso é um facto! :)

mixtu disse...

hino à amizade, que decir, "é minha"

beijinhos

CGM disse...

Margarida,

revejo-me um bocado nas tuas palavras nisto de ser mãe. Já fui (e sou) filha, sou certamente amiga. Já passei pela fase de levar com os conselhos dos pais, e agora vejo-me na condição de os dar eu aos meus filhos. É a vida! Mas uma coisa são conselhos, opiniões, outra são imposições, ordens. Sei por experiência que as imposições são muros a transpôr, os conselhos são (mais) uma variável da equação.

Estou a fazer-me entender? Se fôr apenas um conselho que a tua amiga te está a passar, pondera. Mas age de acordo com a tua cabeça e o teu coração.

Beijocas e bom trabalho

Margarida Atheling disse...

Mixtu: "hino à amizade"? si tu lo dices...
pero esta mía amiga solo hace tonterías! ;)

Cgm: os teus filhos têm imensa sorte! :)
fizeste-te entender muito bem. não é um conselho, é uma intromissão. com toda a certeza com boa intenção, mas baseada numa precipitação dela. portanto, uma intromissão, e errada!
neste caso nem há o que ponderar!
eu acho, que quando há assuntos da natureza do que ela levantou, são para ser tratados, exclusivamente, entre as pessoas em causa. e acho que as coisas, independentemente do assunto, se revolvem falando. (mas não é falando com terceiros) mas agora acho que se resolvem também, muito, ouvindo, que era coisa que não fazia muito, confesso.
mas como te disse, não há nada a ponderar, nem sequer nada a resolver ou esclarecer.

Jolie disse...

sorte a tua de teres uma amiga dessas... sorte a dela, de te ter a ti como amiga... sorte a das duas, por conseguirem tratar os bois pelos nomes sem criarem constrangimentos entre as duas...

Isso sim é serem amigas de verdade.

:)

Margarida Atheling disse...

Se calhar tens razão, Sandra.
Eu digo o que penso e sinto. Acho que se as pessoas são amigas é mesmo para isso. é para dizer as verdades.

Ela também é assim.
O choque dá-se porque as opiniões não são coincidentes e, para ser franca, há assuntos onde preferia que ela não desse palpites (até porque não sabe mesmo do que fala).
Especialmente neste!

Mas que nos preocupamos uma com a outra e que "jogamos limpo", é um facto.
Ainda assim...

Olha, bjs!

NaRiZiNHo disse...

:)
Vou-te confessar uma coisa: este tipo de post, já vêm sido tipicos da tua parte, e que eu gosto muito, aqui em cofensso também, só gosto de os comentar assim passados uns 3 diazitos, porque gosto muitod e ler os que te escrevem ;).
Margarida, eu faço minhas as palavras do Miguel.
Este teu post descreve na perfeição uma época da minha vida, que pertence ao passado, mas é uma página que eu recordo com muita ternura.
:-*

Anónimo disse...

E eu que peco tantas vezes por não dizer o que penso só para não magoar... aí falho como amiga... e tenho muita pensa...
Às vezes vemos coisas que os outros não vêem e vice-versa, outras vezes temos simplesmente que deixar os outros ir e ver como "se saem". Opto sempre por esta opção, dou benefícios de dúvida e já deixei pessoas magoarem-se. Parei. (estou confusa)
Mas sei que eero muito por não dizer o que penso, isso sei.

beijos

Margarida Atheling disse...

Narizinho: é verdade. de vez em quando salta um post nesta linha.
é que há coisas que prefiro fazer sair cá para fora do que guardar dentro de mim, que é coisa que não sei bem fazer e que, para mais, faz muito mal. portanto... descarrego aqui...
o Miguel é uma pessoa muito sensata e, felizmente, que se dispoem a dizer umas coisas quando acha que deve! :)

Maçanica: eu tenho a tendência para dizer sempre o que penso. mas reconheço que, às vezes, é melhor calarmo-nos.
primeiro, porque se calhar é melhor a própria pessoa chegar às suas conclusões, e depois porque podemos ser nós a estar errados.
neste caso, era um erro absolutamente estúpido da minha amiga.