terça-feira, 13 de dezembro de 2005

Heranças

Foram feitas arrumações no sotão e, uma das coisas que saiu do lugar foi o equipamento de mergulho do meu pai.
Parados há anos, lá estavam o fato completo, os pesos para a cintura, a espingarda submarina, vários óculos e respiradores e mais algumas coisas necessárias. Faltavam dois pares de barbatanas que essas param noutro sítio e continuam a ter muita utilização.

De repente lembrei-me de anos e anos a conviver com equipamentos destes, da preguiça do meu pai em prepará-los com antecedência, do aborrecimento da minha mãe por, depois de ter preparado tudo e de estar pronta para sair, ter de esperar que fosse trazido para baixo todo o equipamento, com vários utensílios suplentes, da ansiedade, minha e do meu irmão, à espera sentados no banco de trás do carro.

Lembrei-me de o ver vestir o fato na praia, numa tentativa de equilibrio para não entrar areia, de o ver ir mar adentro e de ficar cheia de vontade de o seguir; de ficar horas a fio de olhos postos no mar, com atenção, à espera dele e de correr para a água quando o via aparecer; de fazer questão de trazer as barbatanas e os óculos e o respirador cheia de orgulho, de - feita patetinha - agarrar o barco para tentar ajudar a tirá-lo da água, mas também de passar dias a tropeçar, literalmente, no fato a secar na casa de banho (ainda não percebo porquê que não o punha a secar noutro sítio!).

Lembrei-me de, já crescidinha, ter experimentado vestir um desses fatos, da sensação estranha de me sentir apertada e de não ter sentido grande vontade de voltar a vestir coisas assim, mesmo que o meu pai me dissesse que era essencial.

Lembro-me de, desde sempre, ter experimenrado óculos de mergulho e de tentar habituar-me aos respiradores (com grande dificuldade, diga-se em abono na verdade).

Lembro-me de crescer assim. De cada ano que passava eu ser maior em relação às barbatanas, que antes eram quase maiores do que eu.

Lembro-me de muitas coisas e são recordações boas, cheias de Sol, de calor, de dias grandes, de mar, da falta de horários para tudo (e sabem tão bem dias assim às crianças!). Recordações de dias alegres e do tempo e disponibilidade que o meu pai, no dia a dia, não tinha para nós.

Engordou um bocadito, tornou-se ainda mais ocupado, perdeu o entusiamo, a disciplina ou a paciência. Deixou-se disso.
Passou um, dois, três anos. O próximo mergulho foi sendo adiado. Entretanto, concluiu que o fato já não lhe serve. Disse-lhe para comprar outro, mas não quer. Não tem tempo, diz ele! E achou que este fato devia ter outra dona, para não acabar assim.
Heranças...

11 comentários:

Anónimo disse...

E porque é que não te aventuras e começas a dar uso ao material. deve ser bem giro... já imaginaste, o silencio do mar? Bjinhos.

Anónimo disse...

São as recordações de tempos felizes que nos permitem ultrapassar os momentos menos bons. Em psicologia diz-se que é nos 1ºs três anos de vida que a criança guarda em si uma bagagem de (in)felicidade que a guiará pela vida. Penso q a Margarida é uma previligiada por possuir uma "herança" tão bonita. E q tal mostrar este post ao papá? (Não necessariamente no blog). Por vezes os q amamos só precisam de ser relembrados da importância de algumas (pequenas coisas)... Um abraço da Guerreira!

Anónimo disse...

A maior herança não é o fato mas essas recordações de criança feliz.
Bons mergulhos!
Bjs

Anónimo disse...

A menina Margarida não é uma estreante nestas coisas!
Não pensem nisso meninas!

Estou mesmo a ver. Qualquer dia acontece como o António disse e se tu e a Vera continuam a levar estas coisas assim a sério começam a dizer que o mar cá não tem visibilidade suficiente e depois gastam uma fortuna em viagens! Como se ele também não fizesse o mesmo! Estou feita com amigos destes!

Catarina

Sara MM disse...

Que belas recordações!
pois o meu engordou e adiou ainda antes de eu me poder lembrar.. mas dizem que sim.. que ia, assim como o teu!
Mas foi ele que me convenceu a fazer o curso de mergulho e já fomos mergulhar juntos mtas vezes :o)
Devias experimentar fazer companhia - ou arrastar - o teu pai... ia seer bom!
:o)

BJs

Margarida Atheling disse...

Já fizemos isso Sara! Foi ele que me arrastou a mim!
Mas tornou-se um preguiçoso! ;)

Ai, ai Catarina! Lá andas tu!!!
Queres que te refresque a memória, queres?!
Olha que tu também fazes cada coisa...! ;)

Miguel disse...

Bonito, bem escrito...tanto sentimento num .. fato de mergulho!

Anónimo disse...

foi das coisas mais lindas que experimentei até hoje.... mergulho em pleno mar da riviera maia.
Sabem bem essas recordações!

Xuinha Foguetão disse...

Bora dar uso ao fato! :)

Beijocas.

nelsonmateus disse...

pior do k vestir o fato é ... tira-lo depois d ter passado demasiado tempo na água e estar completamente exausto :S

acho k vou ligar ao pessoal da pesca submarina ... história d matar saudades.

Mocas disse...

O que ia escrever aqui...já foi dito pela Guerreira. Faço minhas as palavras dela.

Muitos beijinhos
Mocas