terça-feira, 17 de maio de 2005

A minha estreia culinária

Demorei muito a sentir alguma simpatia pela cozinha.
Sempre tive pessoas em casa e, por isso mesmo, não só não precisava de cozinhar como nem fazia sentido. O que é que eu ia fazer para a cozinha? Comia o que era feito para toda a gente.

Mas se há coisa com que começamos a sonhar quando começamos a ficar crescidinhos é em ficarmos sózinhos, sem adultos.
Também demorou algum tempo até o conseguir. Havia sempre gente em todo o lado!
Até que num Verão, e num intervalo em que os adultos não podiam estar connosco na praia, houve uma prova do campeonato de surf. O meu primo V. bateu o pé e disse que tinha que ir, porque um amigo ia participar. E tinha que ir, porque tinha que ir. Porque estava muito interessado, porque sim!
O meu irmão também! E eu... também!

Os pais do meu primo até acharam normal. Os meus pais até nem estranharam muito o meu irmão. Mas arregalaram os olhos quando eu disse, muito convicta, que também queria ir.
Não era o surf, só por si, que me movia. Na verdade até tinha um bocadinho de medo por causa de uma história complicada que tinha acontecido no ano anterior a uma prima de uma das minhas melhores amigas. Queria ir para lá porque gosto de lá estar e, principalmente, por ir "sózinha".

Foram lá deixar-nos, dessa vez na casa dos meus primos.
Foi a primeira vez que ficámos completamente por nossa conta. Estávamos eufóricos.
Mas foi aí que tive que me estrear na cozinha. Sim porque eles... não tinham tempo! Claro! Ou eram as provas ou eram os amigos! Na verdade eles nem tinham tempo para comer nem dormir.
Foi complicado arranjar tempo para fazer a minha vida normal e garantir a organização da casa. Compras, arrumação, limpeza e... alimentação!
Fui ao super-mercado e comprei daquelas embalagens de bacalhau-à-brás. Farta dos horários deles e já sem quase nada do que nos tinham deixado no frigorifico, lá segui as instruções que na altura me pareciam escritas em chinês.
Lá consegui a proeza de, pela primeira vez, fazer mais qualquer coisas de comer sem ser o pequeno-almoço.

De seguida fui ao frigorifico e tirei a única coisa que restava: arroz de tomate. Aqueci-o. Pus tudo na mesa, servi-me e mandei-os fazer o mesmo.
Vi que eles olharam um para o outro mas não liguei.
Durante a refeição disse-lhes:

Isto era melhor se fosse com arroz branco, mas era o que havia no frigorifico.

Risota geral!

Ó prima! Bacalhau-à-brás com arroz branco?!

Foi só nessa altura que percebi o que estavamos a comer: bacalhau-à-brás com arroz de tomate!!!

Ontem acabei por convidar o meu primo e a sua recém-mulher para jantar. Durante a refeição ele disse:

Quem te viu e quem te vê! O que tu mudaste!
Agora já não fazes bacalhau-à-brás com arroz de tomate, pois não?!

Acho que esse bacalhau me vai perseguir toda a vida. Mas, vários anos depois, ainda tenho saudades. Foram uns dias fantásticos!

7 comentários:

Oumun disse...

ahahaahhaha
olha ao menos fizeste melhor figura que eu ;)
Quando vim para Portugal também não sabia cozinhar e então um dia resolvi perguntar à minha avó como se fazia arroz de tomate .... e ela deu-me a receita ... faz-se o refogado , na na na na junta-se o arroz na na na na e pronto. O quê que ela se esqueceu de me dizer??? que se juntava ÀGUA e pois "tasse mesmo a ver num é?!
Beijocas e bons petiscos ;)

Lucia disse...

Digamos que foi um bacalhau-á-brás diferente, mas o que conta mesmo é a intenção...
Beijinhos

Cláudia disse...

E eu que achava estranho o meu filhote querer pôr ketchup no peixe cozido! Vendo estas comidas dos adultos, acho que percebo-o melhor! ;o)
ehehehe
Beijinhos mimados.

Sara MM disse...

acredito nos teus "dotes" culinários!!! Podes-me convidar um dia!!
Mas eu dispensaria qualquer um dos "arrozes!.... é que a minha mãe e o meu sogro são do Norte (Carago) e quase fazem arroz com arroz todos os dias se fôr caso disso! Imagina! O que vale é que a minha mãe , ao mesmo tempo, tem queda para invenções como as que já viste...
Fico à espera de mais aventuras culinárias!

Mocas disse...

Olá Margarida! Vim aqui deixar um Beijinho Grande...já cá tinha vindo espreitar...mas sem tempo para ler, nem comentar! Só hoje estou mais sossegada uf! e vi que escreveste tanto, e gostei tanto de ler o que escreveste. Gostei da história da culinária que me fez reviver momentos parecidos, quando eu e o mano (tb mais novo, 4 anos) ficávamos sózinhos em casa, eufóricos e a fazer porcarias... e convidávamos a malta toda para dormir hehehe; Gostei da história da holandesa e acho que fizeste o teu papel...alertando e aconselhando. Quanto aos conhecimentos "via-net" acho que é uma realidade muito subjetiva, cada caso é um caso...será talvez mais uma questão parecida com aquela de colocar ou não fotos nos blogs...; e finalmente a Casa Abandonada...A Casa Abandonada! adorei ler aquilo Margarida, adorei porque o que descreveste me acontece milhares de xs desde sempre...desde a infância. Ainda agora, quando vejo uma casa assim (e ainda há para aí muitas) fico numa espécie de limbo...parece que vejos as pessoas, ouço risos...os vestígios daquilo que foram vidas comos as nossas...de pessoas como nós...

Beijinhos e desculpa o hipertestamento ;)

PS: Eu sou licenciada em História e, pelo que tenho lido...tu também deves andar por esses lados :)

André Parente disse...

Tu querias era ver os surfistas! A mim nao me enganas... ;)

Margarida Atheling disse...

Bolas! Eu bem sei que não te engano mas não precisavas desmacarar-me em público!
Claro que o que eu queria era ver os surfistas... fora de casa!
Tive muita dificuldade em não deixar transformar a casa num acampamento de surfistas!