Amassei os shortbread e cozem no forno a esta hora.
Amanhã, ainda de manhã, vou preparar raspas de laranja e limão, amassar farinha com açucar e ovos e abóbora cozida e aguardente. Depois vou afabar a massa e esperar que levede. Finalmente, já da parte da tarde, e já com mais gente em casa, fritarei as filhoses e o cheiro do Natal, espanha-se já pela casa.
Amanhã, durante a noite, entre a lenha do costume, arderá um tronco grande - tão grande quanto a lareira o permitir - e um resto dele, um pedaço de carvão, será guardado para se juntar ao lume do Natal do próximo ano.
Durante a ceia, arderão velas sobre a mesa, porque é assim que deve ser.
E mesmo que se retire da mesa todas as comidas, e todos os bolos, entres eles os bolos-reis, broas e filhoses, permacerão sobre a mesa os shortbread até ao fim do dia 25.
E no meio da confusão e do desgaste que se instalou nesta época, procuro alhear-me de quase tudo e prendo-me ao Natal através das mãos enfarinhadas.
É de farinha e açucar (entre outras coisas) que é feito o meu Natal, é de farinha e açucar a ponte que me leva às raízes, ao shortbread da Escócia, às filhoses da Beira (da Beira, de perto de Coimbra), aos mexidos do Minho (de Barcelos). E, de mãos assim enfarinhadas, como por magia, não existe distância nem tempo.
Eles, todos os eles, os que partiram há muitos séculos ou há muito pouco tempo, estão aqui, e eu estou lá com eles, eu faço parte deles e eles parte de mim.
E a separação que é feita de tempos e de espaços desaparece. De mãos assim enfarinhadas, não há ausências.
Não sei se são as minhas mãos que amassam ou as deles, nem sei se aprendi a fazer estes bolos, ou se esse saber fazia parte de mim. Faço-os a olho, e repito gestos e rituais como se me fossem inatos.
É de farinha e de açucar que é feito o que me aconchega no Natal, o que junta o passado todo, inteirinho, com todas as pessoas que lá moram, com o futuro feito de risos de crianças de gerações que não conheço, mas que quase ouço, com as mãos enfiadas em farinha e açucar.
É de farinha e açucar que é feito o meu milagre de Natal.
E porque o Natal é feito disto mesmo, de milagres, de luz, mesmo que nem sempre seja fácil vê-los, porque o Natal celebra o milagre da Vida (mesmo quando tudo possa parecer, aparentemente, escuro e sem sentido), porque esses milagres existem mesmo, desejo a todos um muito Feliz Natal!
14 comentários:
Bom Natal também para ti e que o ano de 2008 seja bem melhor que 2007.
Beijinhos
Um bom Natal para ti querida,
Beijos
Isa
Um Feliz e Doce Natal.
Feliz Natal!
(E a fomeca com que me deixaste...)
Mil bjs,
Paula, Pedro, rafael e Matilde
até lhes senti o sabor...
:)
e emocionei-me.
um abraço muito grande, feliz natal!
Uma mão cheia de farinha e outra de açúcar. E um beijo da malta.
Lindo!!
Feliz Natal, Margarida!!
Beijos
Moky
Um Natal cheio de coisas booooaaassss!!!!!!!
***
És tão sensível, Margarida! :) *
Que texto Maragarida! Estou arrepiada :)
um beijinho
Feliz Natal (atrasado) e um Ano de 2008 ESPECTACULAR!!!
Margarida, espero que o Natal tenha sido muito Feliz!:) Doce foi concerteza!:))
Já te deixei um post com a receita de Bolo-Rei!:))
Jinhos
Anda últimamente a azucrinar-me o miolo isto: amo a liberdade de expressão e movimento e todas as outras conquistas políticas e sociais das democracias ocidentais. Não posso com Fidel Castro, o seu apego ao poder a ego trip do sujeito e tudo o resto. Agora estas estatísticas lidas no C.I.A. - The World fact book, não me largam o juízo:
Taxa de mortalidade infantil de alguns democráticos e católicos países da América do Sul - Argentina - 14,20 mortes por mil nascimentos:
-Chile - 8,23 mortes por mil;
- Brasil - 27,62 por mil.
e na oprimida CUBA 6,04. Não menciono alguns países do antigo bloco comunista e Ásia ou África onde estes números são astronómicos. Bom ano novo.
Este texto é lindo, e fez-me pensar nas pessoas que apesar de já não estarem presentes para mim o esão sempre em espírito.
Parabéns pelo dom da palavra
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