terça-feira, 26 de abril de 2005

Não sabia...

Nos últimos tempos tenho tido a sensação de que não me conheço muito bem, que não sou bem a mesma pessoa que conhecia - sim, eu tinha a veleidade de me conhecer bem!
É uma sensação estranha, como se houvesse um "eu" que analisa, conhece, vê, estuda, e um outro que é estudado. Como se estivesse dividida.
Tenho vivido com esta sensação estranha, mas procurando ignorá-la. Tenho procurado pensar pouco e agir mais, porque o movimento "limpa-me" os pensamentos. A velocidade de um carro ou de um galope sempre me obrigaram a deixar de pensar no quer que fosse.

Durante o fim de semana fiz o que se espera num fim de semana, mesmo que não o faça muito. Saí e vim tarde para casa. Muito tarde.
As arrumações que todas as mulheres costumam fazer nos fins de semana, não foram feitas, e eu faço questão de ser eu a limpar e a arrumar as minhas coisas.
Hoje tive que trabalhar, mas consegui despachar-me mais cedo do que esperava. Fui para casa arrumar o que não arrumei no fim de semana.

O meu quarto é pequeno - luminoso, mas pequeno - é efectivamente aquele quarto de um post lá mais para baixo.
Como não gosto de me sentir apertada tenho uma sala nas águas furtadas onde tenho a maioria dos livros, um sofá, uma secretária, uns baús... e uma vista que não pára de me encantar.
Nesses baús guardei coisas desde a adolescência.
Todo o tipo de coisas, bilhetes de cinema, de concertos, embalagens de chocolates, bilhetinhos, desenhos, fotografias, postais, cartas, cassetes, banduletes, canetas sem carga, porta-chaves... Anos de vida!
Resolvi arrumar as coisas para arranjar espaço e porque tinha a noção, embora vaga, de que muitas dessas coisas já não me diziam nada. O tempo tinha feito o seu trabalho, tinha selecionado o que era importante do que não era. E se bem que algumas das pessoas ligadas a esses objectos continuem hoje a ser minhas amigas, os objectos tinham deixado de ter importância. Pelo menos aqueles.
Deitei fora um enorme volume de coisas. Guardei as fotografias e algumas, poucas, cartas.
Não me admirei por conseguir fazê-lo.

Mas fui mais longe. Arrumei gavetas. E lá, estavam coisas bem mais recentes.
Fotografias, recadinhos, cópias de cartas oficiais para entregar na faculdade, anotações sobre as mais variadas coisas, poemas sobre o mar, o amor e cavaleiros medievais. Coisas do A.
Peguei em tudo e deitei fora.
Não o fiz com raiva, nem com dor, nem com saudade. Não sabia que ia fazê-lo.
Não me custou.

Durante cinco anos a minha vida girou à volta dele. Ou eu pensava que sim.
No último ano, apesar de tudo, quando me lembrava dele ainda era assim, como uma "coisa" do passado, mas muito importante. Marcante. Essencial.
E agora... peguei em tudo e deitei para o lixo.
Sem que a respiração acelerasse ou o coração batesse mais depressa. Sem lágrimas, sem saudades, nem raiva, nem nada. Nada!

Fiquei assustada comigo! Por ter deitado estas coisas fora, por ter percebido que eu agora tinha voltado a ser só eu. Realmente sózinha, mas realmente inteira.
Não me custou nada deitar estas coisas fora, mas ainda não percebo como o fiz.
Não sabia que era capaz!
Fiquei tão impressionada que, apesar de ter por príncipio não ligar a internet à noite, estou a escrever a esta hora. Não por ter feito o que fiz, mas por não sentir nada. Mas agora, é sensato que vá fazer um chá de menta para me ajudar a adormecer.

14 comentários:

Xuinha Foguetão disse...

Olá Margarida!
Estás no bom caminho... estás a seguir a tua vida sem guardares rancores!
É uma sensação estranha n sentir raiva, conseguir deitar tudo ao lixo sem pensar duas vezes...
Beijocas gds,
Xuinha

Anónimo disse...

Minha querida Margarida, não estou nem um bocadinho admirada. Já tinha dado por isso. Eu conheço-te há anos...
Já tinha percebido que tinhas sarado tudo. E que eras a mesma de antes de teres tropeçado nele.
Ai se o Nuno me tivesse feito um terço do que ele fez...!
Vida nova!

É a primeira vez que tento comentar num blog. Vamos lá a ver se consigo!

Olha lá! A que horas escreveste?! Uma e tal de manhã! Não é da tarde!
Andas mesmo com os horários trocados!

Não te esqueças do jantar! Oito e meia!
Beijinhos e até logo!

Catarina

Mocas disse...

Gostei muito de ler este post. O tempo não cura tudo, mas cura muita coisa...ou ajuda a curar. É bom sabermos que podemos sempre renascer!

Beijinho muito grande

Mãe Pipoca disse...

Acho que isso é mesmo muito bom. O ser capaz de olhar para trás sem sentir dor. É sinal que estás preparada para seguir em frente com a TUA vida!
Bjs grandes

Ana Rangel disse...

Fico muito feliz por saber que estás bem... chega uma altura em que estamos prontas para avançar (ou que, até, já avançamos) e são estas coisas que nos mostram. :)

Beijinhos, aqui deste lado!

Vilma disse...

Boa, Margarida!

Anónimo disse...

Eu cartas e fotografias guardo todas.... mesmo aquelas que me lembram periodos menos bons da minha vida. Porque quando olho para elas lembro-me de nunca mais fazer o mesmo.
Mas fizeste muito bem. O importante é que tenha significado muito para ti e, que de alguma forma te faça ficar MAIS FELIZ!
jINHOS

carlag disse...

É sinal, que ultrapassas-te! E para a frente é que é o caminho.
Também já passei por uma fase idêntica...
Um beijinho

Anónimo disse...

Querida Margarida!
Fico feliz por ti., por conseguires recordar o passado sem dor.
Significa que estás pronta para recomeçar?!
Um beijinho,
EP

PS: Tenta acabar o "tal trabalho" até dia 29...

Sara MM disse...

Qualquer fruto que amadurece deixa a sua árvore... caindo mas sem dor!

André Parente disse...

Eh, eh

http://www.kwanblog.blogspot.com/#109366368864105947

André Parente disse...

Eh eh. Vê no meu blog o post "O meu quarto"

Oumun disse...

Parabéns! acho que este fim de semana o "primeiro dia do resto da tua vida" sem fantasmas a atravessarem o teu caminho :)
Deve ter sido a inspiração do Dia da Liberdade
Um grande beijinho

C_de_Ciranda disse...

Margarida... é assim mesmo mulher! Venham de lá esses ossos! Estou orgulhosa... :)

*** Ciranda