terça-feira, 26 de julho de 2005

Emilio de Roure


Numa das deambulações ( não muito comuns) pelos cimos de uns monte aqui perto, onde andam a instalar alguns moinhos para produção de energia, encontrei, entre velhas casas de pedra abandonadas um baú antigo, em relativo mau estado, atirado para a beira de um caminho.

Era, notoriamente, do século XIX. Faltava-lhe uma pega, tinha o forro de fora, de cor salmão, semi-destruído, faltava-lhe o de dentro, e tinha duas peças de madeira partidas. Mas tinha, no cimo, uma chapinha de metal pregada com um nome: Emilio de Roure.

Era o nome do dono. E o dono viajava. No século XIX punham aquelas chapas nos baús de viagem para não se perderem nos navios e nas carruagens.
O baú começou a ganhar identidade para mim. Começou a deixar de ser lixo abandonado. Peguei nele e trouxe-o.
O que menos me fazia falta era um baú. Muito menos um baú em tão mau estado. Mas não fui capaz de o deixar ali.

Queria saber porquê que ele estava ali.
O dono chamava-se Emilio de Roure. Viveu no século XIX, era óbvio que andava em viagem mas não sabia de onde nem para onde.
Perdi a noite a tentar descobrir quem era ele.

Era de uma famíla alemã. E sim, viveu em meados do século XIX. Um familiar casou aqui, numa quinta das redondezas. Ele veio cá visitá-lo.
Quando voltou à Alemanha, ficou o baú. Não sei por que mãos passou até ter acabado agora no lixo, tanto tempo depois.

Não sei que voltas mais deu o Sr. Emilio de Roure, não sei se era bonito ou feio, ou sequer inteligente ou burro. Não sei com que espirito viajava. Não sei se era boa ou má pessoa.
Não sei, mas gostava de saber a resposta a algumas destas coisas. Ou talvez seja melhor deixar assim mesmo.

Sei que guardei o baú na arrecadação. Talvez um dia mande restaurá-lo. Não por ser bonito, mas porque acho que merece. Porque gostava que ele falasse e contasse por onde andou e a aventura que era viajar nesse tempo, naquelas condições, em navios e em carruagens, sem comunicações rápidas, quase sem estradas, sem marcações em hotéis, a dormir em locais improvisados, com um ritmo tão diferente. De uma forma tão mais romântica do que hoje...
E está ali quietinho. Tocar nele é quase chegar lá.

14 comentários:

nelsonmateus disse...

quase parece o início de uma das aventuras dos Cinco ... ah! ah! ah!

Xuinha Foguetão disse...

UUUaaauuuu!
Margarida,
tu escreves cada vez melhor e tens sempre "histórias" novas (ou muito antigas) para contar... :)
Adoro ler-te!
Parece que fui transportada para outros tempos.
Um beijo enorme.

Anónimo disse...

Também gostei muito. Acredito que nada acontece por acaso e esse baú estava à espera de uma mulher com uma alma romântica e sonhadora, como tu. Quem mais se daria ao trabalho de tentar descobrir a sua origem? E tb n é coincidência ir parar às mãos de alguém que estuda o passado (História Medieval, não é?)... Quem sabe podes tirar-lhe uma fotografia para juntar à tua caixa de sorrisos!
Um abraço da Guerreira.

Natércia Charruadas disse...

Confesso que também fiquei curiosa. As histórias que esse baú não terá...

Mocas disse...

Adorei o post. E adorava encontrar um baú desses para me fazer sonhar...adoro sonhar com o passado...às vezes quase acredito que o meu sonho foi mesmo a realidade dos outros...

Beijinhos
Mocas

Clara disse...

Se esse baú falasse...
Quem sabe com algumas pesquisas não ficas a saber ainda mais sobre o dono do baú...
Beijinho**

nuvem cor de rosa disse...

Até eu me deixei levar pela tua imaginação :-)
Sabes o k vou fazer a seguir?
Vê se tbm descubro alguma coisa sobre esse her emilio.
Bjnhos grandes

Anónimo disse...

Faz-me lembrar os livros "uma aventura"....lollll.
E também acredito que nada acontece por acaso, há sempre um motivo.
Bejokas

Anónimo disse...

Que descoberta tão interessante! Agora também fiquei curiosa com o cheirinho a aventura! Um beijinho.

Sara MM disse...

Eram outros tempos.. a mim arrepia-me pensar neles... nos tempo e nas pessoas...
Bjs à detective ;o)

Jolie disse...

Estou mesmo a imaginar-te, numa grande secretária de madeira envelhecida, com os olhos enfiada num livro enorme a amarelecido do tempo, e com mais uns quantos espalhados na mesa, à luz trémula de uma vela com uma lareira a crepitar ao fundo e o baú ligeiramente ao lado... ok, a lareira nesta altura é exagero... mas ficava bem ;)

hehehehehe

Beijinhos
Sandra

kikas disse...

Chama-se a isso guardar um baú de historia, bem interessante o teu achado!
Deve haver tanta coisa interessante perdida neste mundo...também tu provavelmente hás-de deixar as tuas marcas...
beijocas
kikas

Margarida Atheling disse...

Não fiques Sofia! Não faltarão ocasiões!
Olha que depois de Novembro então até devem sobrar! Vou voltar a ter tempo para a vida académica - leia-se tarbalho académico. :)
Mas é bem verdade. Temos muita coisa em comum!

tim disse...

Oi,
Lamento não conheço nenhum Português e este é traduzido pelo Google ... estou escrevendo sobre a Irlanda a partir de um blog que você escreveu sobre a procura de uma mala pertencente a Emilio de Roure (julho 2005). Acho que sei quem é Emilio de Roure. Onde você encontra o caso?

Estou fazendo pesquisa para um livro sobre uma pessoa chamada Frank Du Bedat que estava envolvido em um mau negócio com Emilio De Roure. Eles estavam em 1897 em Lourenço Marques, hoje Maputo em Moçambique e foi o acordo para construir um píer em Delagoa Bay. Penso De Roure conned Du Bedat. Du Bedat foi para a prisão, apesar de ele era inocente. Após alguns anos Emilio De Roure escreveu uma carta ao governo da Irlanda que Du Bedat era inocente e que ele foi libertado. Não sei mais nada sobre Emio De Roure. Mas se você encontrar algo mais sobre ele eu estaria muito interessada em ouvir. Onde você encontra o caso?

Tim