quarta-feira, 1 de junho de 2005

Veneza

Uma amiga minha vai a Veneza. Daqui a perto de um mês.
Pediu-me os guias e os mapas. Passou por minha casa ontem à noite, dei-lhe o que me pediu, tomamos chá, conversámos muito e eu tentei convecê-la a não ir nesta altura. Inutilmente.

Quando lá fui, fui contrariada. Mesmo muito contrariada. Resmunguei todo o caminho com os meus botões. Já tinhamos chegado ao Tronchetto e ainda continuava a resmungar. Mas porque raio é que eu havia de ir para um sítio daqueles, apinhado de turistas de máquinas fotográficas em punho, com sorriso idiota a tirar fotografias aos pombos na Praça de São Marcos.
E as gôndolas! Aquela coisa irritante para aparecer em bilhetes postais!
Mas porquê que eu tinha ido?! Ainda por cima a minha prima G. tinha lá ido no Verão e tinha odiado. Os mosquitos que se desenvolviam naquela água com o calor e a maior praga de todas: os turistas!

Chegámos num dia de chuvisco. Agarrámos nas malas e metêmo-las no vaporetto.
Lá fomos nós naquele barco que fazia as vezes de autocarro. Desembarcámos e lá carregámos as malas até ao quarto: um espaço com beliches para quatro pessoas, mas com janela para a Baía de S. Marcos.
Por esta altura já estava bem mais animada.
Não havia mosquitos, a água não era nada estagnada mas, pelo contrário, bem batida. Tanto que os barcos balançavam bastante e molhámos os pés com a água que saltava quando desembarcámos. E também não se viam os magotes de turistas.

Rápidamente nos sentimos em casa. Lárgamos os mapas. Apanhávamos os barcos ao acaso, sem procurar saber para onde iam. Aprendemos a comer nos sítios mais baratos e escondidos, que eram também, de longe, os melhores e os mais verdadeiros. Descubrimos bairros onde os turistas não vão.
Deambulámos por ruas estreitas, escuras e húmidas que, mais cedo ou mais tarde, acabavam num canal.
Descobrimos que Veneza era habitada por pessoas de verdade, com vidas de verdade, bem longe do que se vê nos panfletos turisticos.
Descobrimos que Veneza tem muitas mais ilhas, que tem o Adriático. Que é misteriosa, envolvente e genuína.

Também é verdade que apanhámos uns sustos. Que uma vez apanhámos mesmo o barco errado e que fomos parar sózinhas, de noite, à ilha que é o cemitério, que uma outra noite, de temporal, apanhámos um barco no sentido contrário e nos fomos afastando cada vez mais de Veneza, propriamente dita, que fomos parar a um lugar sinistro sem luz e com gruas abandonadas que pareciam fantásmas, que depois até seguimos por mar batido, que o barco abanava imenso, que uma das minhas amigas estava enjoada, que todas estávamos com medo de dois homens estranhíssimos, que também estavam no barco, e que não tiravam os olhos de nós, provávelmente só por não perceber o que andávamos a fazer por ali e naquelas condições.

E descobrimos, durante o tempo que lá estivemos, uma verdade incontornável. Que quem lá está uns tempos, nestas condições, não vem de lá sem se apaixonar... por Veneza! Mas pela verdadeira!

14 comentários:

Sara MM disse...

BolasBolasBolas!
Se é preciso apanhar sustos desses para gostar de Veneza... ainda bem que não fui nem vou lá tão cedo ;o)
a foto está linda! Mas é no nosso rectangulosinho, não é em Veneza pois não?
BJs
sarammouro :o)

Luna disse...

Olá margarida!
Olha que eu tinha veneza nas minhas proximas viagens.
tenho ver epoca que vou escolher esta dos mosquitos não me agradou
bjocas e brigado pelo miminho do meu blog
Luna

Vilma disse...

Talvez a altura não tenha sido a ideal ou então eu vi com outros olhos, mas a verdade é que me apixonei por Veneza assim que entrei...nunca mais me esqueço dessa imagem! foi lindo! E todo o dia foi fabuloso! Mas foi há 15 anos e talvez as coisas tenham mudado...!

Margarida Atheling disse...

Ah! Mouro! Eu só pensava em Mar, mas não fazia sentido nenhum! :)

A fotografia é mesmo de Veneza. Aquele vulto maior, que se vê ao longe, é a Igreja de S. Giorgio Maggiore.

Bjs!

Oumun disse...

Veneza também está nos meus planos mas só quando os pequenotes crescerem, mas agora já sei a quem pedir umas dicas ;)
beijocas

Xuinha Foguetão disse...

Grandes aventuras!
Nunca fui lá, mas qd for vou pedir-te dicas!
Beijocas gds.

Jolie disse...

Irra que agora é que me tramaste... eu que sou doida por ir conhecer esta entre outras cidades italianas, que não gosto de seguir os trilhos turísticos e que adoro andar sem rumo (isto era dantes porque agora com a Joana gosto de tudo muito planeado... mas não deve durar muito para voltar ao antigamente)... pronto aqui estou eu a salivar pelas próximas férias!

Beijinhos
Sandra

Anónimo disse...

Olha, agora fizeste-me ficar cheia de vontade de ir de férias... não para Veneza, claro! Sigo o teu conselho. Mas assim para outro lugar... fresco e bonito!
E ainda falta tanto tempo para as minha férias!!! :(
Beijocas

Anónimo disse...

A minha lua de mel foi em Abrl de 2002 em Itália... Claro que passei por Veneza e gostei imenso. Meso das estúpidas gondolas de postal :) Mas o que me fascinou em Itáia- e meeeeesmo completamente- foi Florença
Um abraço
Sofia& Rafael ( que já tem mais de meio quilo :)))) )

cinderela disse...

Olá Margarida

Costumo ler o teu blogue mas esta é a primeira vez que comento.
Também gostei de Veneza, apesar de ter estado em alturas 'muito turísticas'. (talvez por isso nunca tive sensação de 'perigo'..)
Estive num Carnaval e gostei muito. Apesar de ter muita gente, eram sobretudo italianos, alguns suiços que aproveitaram o domingo e foram até lá. Tal como nós aqui vamos passar o dia a qualquer lado, relativamente perto. Fiquei com a sensação de um ambiente familiar. Nessa altura do ano não havia mosquitos eh eh.. A última vez que fui era início de Junho e apanhei muuuuuito calor. Mesmo nesta altura, não tenho recordações de maus cheiros, nem de mosquitos. Mas o calor, esse sim era abrasador...
É de facto um lugar bonito, um pouco mágico, que vale a pena visitar.

Ah, já agora, também gosto muito de 'te' ler.

Um beijinho

Ana disse...

Veneza sempre foi um sonho distante para mim... mas foi um sonho que se tornou realidade... não vou dizer quantas vezes lá fui, mas posso dizer que de cada vez o cenário era sempre diverso e a saudade, ao regressar, imensa...

Beijinhos...

HOPE disse...

Pronto!! Chegou um dos meus temas preferidos: Viagens!!
Já fui a Itália, há 16 anos...E tenho uma enorme vontade de lá voltar muito em breve. Gostei de Veneza, mas foi Florença que me fascinou. Claro que os olhos que tinha na época eram os de uma adolescente. Hoje sei que irei apreciar Itália de um modo bem diferente. Também não gosto de roteiros turísticos e de visitas guiadas. Adoro perder-me por onde passo! Ai que vontade de ir de férias!!!!!

Beijinhos da HOPE

André Parente disse...

Ora bem... Beliches, comer em sitios baratos e escondidos, bairros, ruas estreitas e humidas, barcos errados, sustos...
És (ou foste) viajante! E não turista. ;)

Margarida Atheling disse...

Talvez tenhas razão. Temo que sim!
O que é uma verdadeira maldição quando não se tem "asas" como tu...