Acordei um bocadinho mais tarde do que o costume. Aliás, não acordei, fui acordada pela minha Maria que hoje cá está para lavar as paredes da cozinha.
Acordou-me devagarinho, como quando eu era pequenina. Como se nem me quisesse acordar. Mas perguntou-me, baixinho, se não tinha que ir trabalhar hoje. E tenho!
Eu sabia que ia pagar a factura daquela fuga da semana passada. Mas tenho suportado estóicamente. Só hoje começou a custar realmente.
Dormi mal.
Até dormi muito, porque se não tivesse dormido não tinha sonhado toda a noite. E sonhos estranhos.
Não eram pesadelos, mas eram esquisitos e desgastantes. Daqueles de que se acorda quase com falta de ar e cansada de tentar perceber que pessoas eram aquelas e o que é que ali estavam a fazer, e que sítios e situações eram aquelas.
Acho que é por isso que me sinto cansada e que tive tanta dificuldade em acordar.
Levantei-me ensonada e agarrei na escova do cabelo que tinha deixado em cima da secretária do quarto. Lá em cima está também uma caixa. Tem lá dentro apanas três fotografias. Há anos.
Três fotografias do meu sítio preferido. Abri-a, tirei uma e fiquei a olhar para ela.
Não há imagens que façam justiça àquele sítio!
Longe de povoações e de estradas. Sem sinais da civilização. No meio do nada. eu própria terei alguma dificuldade em encontrar o pequeno caminho que lhe dá acesso.
Não se vê, de lá, sinais do Homem. Só aquelas pedras velhas, com musgos. Mesmo lá dentro não há nada, mas era capaz de jurar que se ouvem os cânticos dos monges que deixaram aquele sítio há tantos séculos.
Cá fora, espera-se encontrar, ocupados nas suas vidas, fadas e faunos, princesas e principes, unicórnios e dragões.
E sentimo-nos invisíveis, como se tivessemos caído, inadvertidamente, numa história de encantar.
E aquele lugar é mágico! Seja lá o que for que a palavra signifique.
Tem uma força estranha que enfeitiça. De longe, há tempo...
Já era considerado mágico antes do cristianismo, continua a sê-lo depois de ter ficado sózinho.
De lá, sai-se a custo, com os olhos cheios de água, só porque alguma coisa nos prende.
Aqueceu-me a alma lembrar-me que este sítio está lá. Que posso lá voltar.
Sinto-o meu! Um tesouro que se guarda. Porque os tesouros não se exibem...
Reparei, admirada, que apesar de ser tão importante para mim, nunca levei lá ninguém. Não levei aquela pessoa que, durante algum tempo, julguei ser muito importante na minha vida. E sei que ele teria gostado.
Não lhe falei sequer neste sítio. Ainda bem!
Um dia levarei alguém. Daqui a pouco ou a muito tempo. Quem sabe?
Mas lá, levarei apenas uma pessoa. Ou nenhuma.
A única certeza que tenho é que, se levar, será a pessoa certa.
Por enquanto é só meu! E vou trabalhar com este sorrizinho idiota de quem guarda um segredo!
4 comentários:
Ora, ora, Someone!
Realmente eu ando muitas vezes na lua! Já vai sendo tempo de assentar os pés na terra!
Tens razão, prima Nádia!
Não tem que ser um namorado. O mais certo é não ser mesmo.
E se calhar não é ninguém, e não há mal nenhum nisso! :)
Bjs!
Querida Margarida,
Tenho passado aqui de fugida sem tempo para comentar...mas sempre com um bocadinho para te ler...a someone tem razão, tb sou sempre levada para outros sítios... inclusivamente até à minha infância. Adorei aquele post sobre a infância, as férias grandes, o mar e as praias...parece até que me revi, palavra por palavra!
Beijinho Muito Grande para ti!
Mocas
Que bom teres aberto essa caixinha com tais fotos... e assim começares o dia com um sorriso nos lábios!!!
Qd acordar "com os pés de fora" vou abrir um álbum de fotos minhas "ao calhas"... de certeza que vai resultar!
BJs
:)!
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