Cheguei a casa quase às nove.
A primeira coisa que fiz foi ver a minha égua. Com o dia de calor que esteve...
Já dentro de casa, fui à cozinha, tirei o meu jantar e pus tudo num tabuleiro. Agarrei no tabuleiro e fui para a rua.
- Mas onde é que vais?! Vais para a rua?!
- Vou! Vou jantar lá para fora.
- Sózinha?! Pássa-se alguma coisa?!
Não. Não se passava nada.
Uma vida inteira e ainda não é perceptível que gosto de uma refeição sózinha. Pelo menos de vez em quando - ou frequentemente.
O meu Avô entendia-me. Também gostava destas coisas. Mandou fazer uma mesa para pôr na alameda, era eu uma pirralha, para me satisfazer estes gostos. Mas já não existe essa mesa, e já não tenho a companhia do meu Avô.
O jardim não era boa opção. Não era isso que me apetecia.
Desci as escadas que dão para as laranjeiras, pensei sentar-me lá, mas também não era suficientemente desafogado.
Eram nove e quinze quando me sentei no socalco de pedra que separa as laranjeiras da cerca da égua.
O Sol já se tinha posto e o céu estava de um cor-de-rosa quase vermelho.
Finalmente espaço! E calma!
E o dia a começar a escurecer, e uma águia atrasada a baixar de altitude e a pousar num carvalho da mata, ali perto. Não sabia que ela passava lá a noite. E uma brisa. E o cheiro das tileiras em flôr.
E tempo... para mim. E não ter que manter conversas de circunstância.
Ás vezes gosto de estar assim sózinha: de viajar sózinha, de comer sózinha...Ás vezes!
Sou adepta incondicional do mais vale só do que mal acompanhada. E há momentos em que até sou adepta do mais vale só do que acompanhada. Mas claro que é só às vezes! Porque há ocasiões em que até me esqueço de mim...
11 comentários:
Olá, Margarida!!
Que bom! Um tempinho SÓ para ti!! Fico contente!!
Escreves duma maneira...que eu estava lá, a ver-te (sem incomodar)!!!
Beijos Tia Moky
Deve ter sido um delicia este jantar ao pôr do sol...
E diferente tambem...isto ja faz toda a situação especial! Sim, é otimo ter uns momentos destes somente conosco, o problema aqui é oportunidade [as crianças nunca deixam :)]
bjokas querida
E lá podemos estar sozinhos no meio dessa beleza que descreveste?!
Nem pensar!
Beijinhos
Sandra
"até me esqueço de mim...". Muito fixe.
lembro de, em puto, ouvir o meu avô dizer-me com frequência "existe um tempo para tudo".
na altura era impetuoso para entender essas palavras.
com o passar dos anos e a maturidade que só a experiência da vida ensina as pessoas ... consegui finalmente entender o meu falecido velhote.
"existe um tempo para tudo". um tempo para estar com os amigos, um tempo para estar arrependido, um tempo para ser feliz, um tempo para ter saudades e ... um tempo para jantar sozinho.
Margarida, um pouco de solidão não faz mal a ninguém, até pelo contrário, é a maneira de nos encontrarmos com nós mesmos, sermos a nossa própria companhia, dialogamos com nós próprios, eu até dou por mim a falar sozinho, é para me ouvir melhor.
Adoro esses momentos, são só nossos, dizemos e pensamos o que queremos sem ninguém a interferir. São momentos inspiradores.
Um abraço. Augusto
ai que bom ouvir isso, nem imaginas! É que eu adoro estar sozinha, passear sozinha, comer sozinha, estar sozinha! Mas sempre pensei que isso fosse simplesmente ser "antisocial"... pelos menos é o que os outros acham de nós de certeza! Mas nós sabemos que não é isso, pois não?
BJs
nem imaginas como te compreendo... embora eu agora se estiver sozinha... estou sempre acompanhada!!! Há nove meses que não estou sozinha.
jinhos
Eu ás vezes também sinto muito essa necessidade de estar sozinha!! Faz-nos bem!:) Beijinhos
Olá!
Às vezes tb preciso de tempo e espaço só para mim... só não posso usufruir de um sítio como o teu, mas não falta muito... talvez nas férias! E porque não uns dias sozinha? Tb me vai saber bem! Pôr as ideias no sítio...
Um beijão enorme Margarida.
OLá Margarida!
Eu gosto de estar sozinha, adoro estar sozinha, mas sempre por opção! Às vezes também eu me esqueço de mim! Acho que descreveste perfeitamente aquilo que sinto quando me perco dentro de mim e nem sequer me apercebo disso mesmo. É isso, esqueço-me de mim.
Adorei, ò mulher do norte!
Beijinhos HOPE
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