segunda-feira, 13 de junho de 2005

Não há coincidências

É o título de um livro que me ofereceram hoje, de surpresa, porque disse que nunca tinha lido literatura light. Mas não se trata disso.
Não há coincidências...

Até há muitas. Coincidências, encontros, acasos e coisas que tais. Algumas deixam-nos arrepiados só de pensar que podiam não ter acontecido.
Mas há os outros. Os encontros que não são fruto de coincidências. Que são preparados e surpreendem só uma das partes. E foi o que me aconteceu no Sábado à tarde.

Estava num sítio previsível, a fazer uma coisa previsível, com as pessoas previsíveis, às horas previsíveis. Com o conhecimento de várias pessoas. Algumas delas minhas amigas de há muitos anos. Mas amigas também de mais alguém.

Um dia qualquer na nossa vida, algures na adolescência, todos descobrimos sentimentos novos. Um dia qualquer o coração bate mais depressa e o toque de alguém que era um amigo de colégio faz-nos tremer.
Um dia qualquer também, tudo isso passa. Esfuma-se. Consome-se.
E fica a lembrança, embelezada pela distância física e pelo tempo. Uma memória longínqua, doce, calma.
Não se espera retomar nada. Já não se sente nada por essa pessoa. Mas tem-se saudades desse tempo e desse sentimento, que ficou tão longe.
No entanto, ficamos a pensar se não podiamos ter criado um último capítulo a esta estória.

Não o via há anos. Não sabia onde estava a viver, o que estava a fazer, se estava sózinho, se tinha namorada, se tinha casado. E preferia não saber. Simplesmente porque não tinha que saber.
Sim, o coração disparou quando o vi à minha frente. Mas não foi por ele. Foi pelo tempo que tinha passado, pela inocência daquilo tudo que nunca tinha passado de muitas inquietações, algumas insónias, sonhos, mãos transpiradas e meia dúzia de beijos desajeitados.

Não havia nada a fazer nem a dizer.
Custou-me muito tê-lo à minha frente durante o jantar, mesmo havendo muito mais gente à mesa.
Tinha curiosidade em espreitar para dentro daqueles olhos azuis. Mas não queria que ele visse para além dos meus olhos. Tinham passado a ser território que lhe foi vedado.
A mãe já não tem o Porsche, a irmã do meio já casou e tem dois filhos, a pequenina já não é pequenina e é bióloga. Ele mora longe, sózinho, trabalha no que sempre gostou e ganha bem.

Continuas a morder o lábio! Estás incomodada?

Pois continuo. Parece que não mudei tanto assim.
Mas tudo o resto mudou. E há mesmo um tempo para tudo, coisas que devem ficar onde foram deixadas. E não se deve olhar para trás! Até porque me apetece muito mais olhar para a frente...

12 comentários:

Ana disse...

há um tempo para tudo... e depois do tempo passar é sempre a olhar para a frente... jokas

Xuinha Foguetão disse...

HHHuuuuummmm...
Coincidências!
Eu acredito em coincidências!
E se tiver de ser, será! Por muito que às vezes se fuja!
Mas para a frente é que está o caminho, concordo contigo!
Só que de quando em vez há caminhos q se voltam a cruzar lá mais para a frente!
Beijões grandes!

kikas disse...

Tudo o que acontece tem uma razão de ser, resta-lhe perceber esse sinal, se calhar só o facto de querer cada vez mais olhar para a frente é mesmo um sinal no rumo que quer dar à sua vida.
beijinhos

augustoM disse...

Margarida, devemos olhar para trás, transportarmo-nos a um tempo que foi nosso, que foi muito importante nesse tempo. Não devemos, contudo, fazer analogias com o presente, simplesmente saborear esse passado, que naquele momento fomos previsíveis.
Um abraço. Augusto

Vilma disse...

Eu também não acredito em coincidências. Nada é por acaso nas nossas vidas e creio que um dia saberemos essas coisas todas... gostei de teres dito que sentias saudades das emoções, das coisas que sentiste. gostei deste post... de certa forma, identifiquei-me com ele... olhoa sempre para a frente, mas por vezes, há coisas que gostamos de recordar e voltar a sentir...

Anónimo disse...

"E não se deve olhar para trás! Até porque me apetece muito mais olhar para a frente..."

posso estar enganado, mas não é o k sobressai dos teus posts.

mas como acabei d dizer ... posso estar enganado!

Margarida Atheling disse...

Não se deve olhar para trás. Mas é difícil evitar.

E sim, apetece-me muito mais olhar para a frente. Mas para a frente vê-se muito pouco, há demasiada névoa. E não se pode falar do que não se conhece, não é?
E nem sei se teria vontade de falar disso.

Já o presente... tem demasiados espaços livres, que as recordações oportunistas tentam ocupar.

Mas é mesmo verdade: apetece-me muito mais olhar para a frente!

Oumun disse...

Pois eu ao contrário de quase todos , olho muito para trás , não com mágoa nem arrependimento mas porque gosto de recordar , os locais, as pessoas ... as minhas recordações são a companhia dos meus momentos de silêncio ( tão pouquinhos como deves imaginar...) Também já tive desses encontros hehehehe são um bocadito embaraçosos ;) mas nesses casos pergunto logo tudo , mato logo a curiosidade de uma só vez ;) porque no fundo é só isso curiosidade ....
E acredito em coincidências sim :)
E porquê que uma história do passado não pode vir para o presente? e levá-la para o fututo? nunca se sabe , claro que noutros moldes ;)
mas concordo com a tua prima ,não gostei muito desse livro....
beijocas

Anónimo disse...

aí é k esta a beleza do ser, para olhares para a frente terás forçosamente k olhar para trás.

agora, verdade sejá dita! conviver com os nosso fantasmas, nem sempre é 1 tarefa fácil ... felizmente alguns são mais agradáveis k outros.

Anónimo disse...

ai ai... até deu para suspirar!
Jinhos e não mordas muito os lábios.

Anónimo disse...

Margarida, eu acho que andamos na mesma onda... acreditas que tenho pensado exactamente sobre este assunto? Quer sobre aquela situação com a minha amiga, quer com outras, que andam persistentemente no meu pensamento (como ontem e hoje!). Mas ainda não tinha conseguido por o "dedo na ferida". Acho que tens toda a razão: há coisas que é melhor deixar mesmo no sítio delas... especialmente quando se trata de relações. É que corremos o risco de fazer desaparecer a magia de certos momentos...
Beijocas!

C_de_Ciranda disse...

Margarida, my dear... Que já tinha saudades de te ler. :) Quanto a este assunto, também já passei por isso. Complicado mesmo é passar por essas situações incólume. Somo shumanos, afinal de contas. E, coincidências ou não, acho que disseste tudo: «Sim, o coração disparou quando o vi à minha frente. Mas não foi por ele. Foi pelo tempo que tinha passado».

Há mesmo coisas que devem ficar por ali, na prateleira, arrumadinhas. Mas não é uma regra sem excepção, com certeza! No fim, e em última instância, quem decide serás sempre tu. ;)

Beijinhos, muitos, cheios de saudades

*** Ciranda