Havia um velho professor escocês, reformado, que vivia numa pequenina casa, com um gato branco, e brincos-de-princesa nuns vasos à porta.
Gostava das rugas dele. Das rugas da cara e das mãos. E tinha muitas e profundas.
Gostava da calma com que falava, apesar daquele inglês bastante mais aberto do que o da Inglaterra. Falava como se houvesse coisas que não fossem mudar nunca, como se o tempo não contasse para nada, e como se fosse dono de certezas que só ele sabia onde as ia buscar.
Não passei muito tempo com ele. Se calhar enganei-me e, levada, por aquela relação dele com o tempo, achei que o faria mais à frente.
Falava-me sempre como se me conhecesse desde antes dos tempos, e se me conhecesse o destino, que eu desconheço.
Tinha um sorriso doce e calmo, às vezes, segurava-me um bocadinho nas mãos e chamava-me Flower of Scotland, outras ainda, usava uma versão mais doce e chamava-me my sweet flower of Scotland.
Não sei porquê, de cada vez que falava com ele, guardava uma sensação de paz, que me fazia sentir que todas as angústias eram vãs e que o destino se encarregaria de me aplanar o caminho que já tinha tido as suas pedras. Devia ter passado mais tempo com ele...
Morreu. Morreu sózinho, na casa pequenina onde habitava, com o seu gato branco. Foram os vizinhos que notaram a sua falta.
Agora vai descansar, lá, onde crescem mesmo as verdadeiras flowers of Scotland. E eu sinto tanta pena de não me ter dado mais tempo com ele.
9 comentários:
Beijos, Maggy.
My sweet flower of Scotland... e és mesmo, minha querida! Talvez ele te conehcesse mesmo para além dos tempos.
Beijos, muitos!!!!
Jantamos?
Catarina
Guarda essa sensação de paz na memória, pois se ele te conhecia o destino e sorria docemente, lá onde está, já terá vasos com brincos de princesa e as mãos prontas para te segurar.
"É simples, o segredo: só se vê bem com o coração.
O essencial é invisível para os olhos.
Foi o tempo que perdeste com tua rosa, que fez tua rosa tão importante."
Antoine De Saint- Exupéry
É isso, não é Margarida?
Investir em relações que nos fazem crescer por dentro.
um beijo,
ariana
Esse tipo de recordação faz bem à alma!
Guarda-a!
Um abraço!
Xu: obrigada!!
Catarina: és um bocadinho tonta, mas és tão minha amiga...
Miguel: deve ter, sim. que ele era mesmo um homem Bom.
Ariana: é esse o segredo sim. o do príncipezinho...
é mesmo isso, Ariana!
Vilma: faz. muito bem.
mas hoje ainda estou a balançar entre o efeito bom dessas recordações e o efeito mau de não lhe ouvir a voz nem o ver a sorrir para mim nunca mais e, o que é pior, com um grande arrependimento de não tido mais tempo para ouvi-lo.
Engraçado como existem pessoas que nos marcam tanto,não é?E só nos conseguimos lembrar delas com um sorriso de ternura.
Sorte a tua de teres tido alguém assim no teu caminho.
beijinho :)
És tão bonita! (É só o que me ocorre dizer...)
:(
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