sexta-feira, 4 de maio de 2007

Flower of Scotland


Havia um velho professor escocês, reformado, que vivia numa pequenina casa, com um gato branco, e brincos-de-princesa nuns vasos à porta.
Gostava das rugas dele. Das rugas da cara e das mãos. E tinha muitas e profundas.
Gostava da calma com que falava, apesar daquele inglês bastante mais aberto do que o da Inglaterra. Falava como se houvesse coisas que não fossem mudar nunca, como se o tempo não contasse para nada, e como se fosse dono de certezas que só ele sabia onde as ia buscar.

Não passei muito tempo com ele. Se calhar enganei-me e, levada, por aquela relação dele com o tempo, achei que o faria mais à frente.
Falava-me sempre como se me conhecesse desde antes dos tempos, e se me conhecesse o destino, que eu desconheço.
Tinha um sorriso doce e calmo, às vezes, segurava-me um bocadinho nas mãos e chamava-me Flower of Scotland, outras ainda, usava uma versão mais doce e chamava-me my sweet flower of Scotland.
Não sei porquê, de cada vez que falava com ele, guardava uma sensação de paz, que me fazia sentir que todas as angústias eram vãs e que o destino se encarregaria de me aplanar o caminho que já tinha tido as suas pedras. Devia ter passado mais tempo com ele...

Morreu. Morreu sózinho, na casa pequenina onde habitava, com o seu gato branco. Foram os vizinhos que notaram a sua falta.
Agora vai descansar, lá, onde crescem mesmo as verdadeiras flowers of Scotland. E eu sinto tanta pena de não me ter dado mais tempo com ele.

9 comentários:

Xuinha Foguetão disse...

Beijos, Maggy.

Anónimo disse...

My sweet flower of Scotland... e és mesmo, minha querida! Talvez ele te conehcesse mesmo para além dos tempos.

Beijos, muitos!!!!

Jantamos?

Catarina

Miguel disse...

Guarda essa sensação de paz na memória, pois se ele te conhecia o destino e sorria docemente, lá onde está, já terá vasos com brincos de princesa e as mãos prontas para te segurar.

[Ariana Aragão] disse...

"É simples, o segredo: só se vê bem com o coração.
O essencial é invisível para os olhos.
Foi o tempo que perdeste com tua rosa, que fez tua rosa tão importante."
Antoine De Saint- Exupéry

É isso, não é Margarida?
Investir em relações que nos fazem crescer por dentro.

um beijo,
ariana

Vilma disse...

Esse tipo de recordação faz bem à alma!
Guarda-a!
Um abraço!

margarida atheling disse...

Xu: obrigada!!

Catarina: és um bocadinho tonta, mas és tão minha amiga...

Miguel: deve ter, sim. que ele era mesmo um homem Bom.

Ariana: é esse o segredo sim. o do príncipezinho...
é mesmo isso, Ariana!

Vilma: faz. muito bem.
mas hoje ainda estou a balançar entre o efeito bom dessas recordações e o efeito mau de não lhe ouvir a voz nem o ver a sorrir para mim nunca mais e, o que é pior, com um grande arrependimento de não tido mais tempo para ouvi-lo.

Anna^ disse...

Engraçado como existem pessoas que nos marcam tanto,não é?E só nos conseguimos lembrar delas com um sorriso de ternura.
Sorte a tua de teres tido alguém assim no teu caminho.

beijinho :)

Alecrim disse...

És tão bonita! (É só o que me ocorre dizer...)

Clara disse...

:(