quinta-feira, 26 de janeiro de 2006

Decisões

O facto de aparentar uma serenidade que não tinha há muito tempo e o de ter deixado de me queixar do que quer que fosse e de levantar o tom de voz, causou alguma estranheza na maioria das pessoas que me são próximas.

A mim, nem por isso. Aconteceu.
Acho que aconteceu no momento em que percebi que a culpa do rumo da minha vida era só minha. E foi mesmo assim, de um momento para o outro, sem explicação.

Percebi que tudo o que existia era resultado das minhas decisões. Até quando decidia, simplesmente, não decidir nada.
Em tudo, a toda a hora, temos que decidir: levantarmo-nos cedo ou deixarmo-nos dormir, vestir casaco ou não, ir depressa ou devagar, por este ou por aquele caminho, arriscar ou não fazer nada, dar rédea solta aos sentimentos ou ser racional, comprar ou vender, assinar ou não, fazer ou mandar fazer...
Sempre, a toda a hora! E a consequência de uma decisão leva-nos a outra, e a outra, e a outra...

A verdade é que, muitas vezes, não decidimos em função do que gostávamos ou do que queriamos, e sujeitamos a nossa decisão à prudência, ao bom senso, à opinião de terceiros... Mas, o facto é que somos sempre nós a decidir.

Percebi isso e, nesse momento preciso, deixou de fazer sentido lamentar-me.
As coisas não estão bem? Não tenho o que quero? Não fiz aquilo que tive vontade? Pois, pode ser verdade, mas fui eu que decidi nesse sentido; fui eu que não arrisquei, fui eu que tomei a opinião de outras pessoas em conta e a coloquei à frente da minha vontade, fui eu que tive medo... fui eu!
E, se fui eu, vou queixar-me de quem ou do quê?!

A verdade é, muitas, muitas vezes, não decidimos como gostávamos mas sim como achamos que deviamos. E também é verdade que temos que decidir entre duas, ou mais, coisas possíveis e que, muitas vezes a nossa alma pede-nos insistentemente o impossível, o que não depende mesmo de nós.
É por isso que nos entristecemos, que baixamos os braços, que nos resignamos.

Numa discussão, noite dentro, com o meu pai - discussão no sentido em que era uma troca de opiniões, por sinal, não coincidentes, mas absolutamente amistosa - , a determinada altura, e tendo ele tomado consciência dessa diferença e do facto de eu ter deixado de ser a menina refilona, que levantava a voz e batia o pé, mesmo que depois acabasse por ceder; disse-me para não tomar em conta a opinião de ninguém, nem mesmo a dele; para decidir em função da minha vontade, para ponderar bem, mas para decidir só em função do que realmente quero ou sinto, mesmo indo contra a opinião dos outros ou a dele.

Uma grande lição! Não tinha, eu própria tido a coragem, de encarar isso de frente. Estava, de facto, a decidir algumas vezes, em função de outras vontades. Depois assumia as consequências, sabia que tinha de viver em função dessas opções, que tinham sido tomadas de uma forma consciente mas resignada.
Não vai ser mais assim.
Vou correr mais riscos? Vou estar menos protegida e resguardada? Posso até sofrer mais?
Pode ser tudo isso, mas serão as minhas decisões, os meus riscos. Se correr mal, correu; se cair levanto-me! Mas decidirei por mim e as minhas decisões, as sérias, as que mexem com a vida, com o que vai cá dentro, vão deixar de ser concessões! Não basta ter consciência, é preciso também ter coragem!

17 comentários:

Anónimo disse...

Nunca acreditei em coincidências, nada acontece por acaso. E leio este post hoje, especialment hoje, em que olhei para um assunto do passado recente que me magoa muito e vi que ninguém podia culpar senão eu. Não existimos "nós", mas sim o "nós e as nossas circunstâncias"... Como diria Álvaro de Campos:

"Multipliquei-me, para me sentir,
Para me sentir, precisei sentir tudo,
Transbordei, não fiz senão extravasar-me,
Despi-me, entreguei-me,
E há em cada canto da minha alma um altar a um deus diferente."

(Peço desculpa por 1 post tão longo. Abraço da Guerreira)

Vilma disse...

Excelente atitude: assumir! Coisa rara hoje em dia! Vai em frente Margarida! :))

Anónimo disse...

Infelizmente às vezes falta-nos essa coragem. Por vezes por não querermos magoar pessoas que nos são queridas, outras porque temos medo do desconhecido de não sermos bem sucedidos...
Vai em frente e coragem.
Que tudo te corra pelo melhor.
Bjs

reborn disse...

E que esse grito do Ipiranga seja o começo de algo muito positivo para ti :))

Força e que nada fique como dantes !

Beijos grandes !!!

Piquinota disse...

Margarida, como é difícil encararmos essa verdade, um tanto fria e cruel... Termos consciência que afinal não sofremos ou não estamos revoltados por culpa de outros! Assumir as nossas culpas pela nossa vida não é fácil! E não será fácil a vida daqui para a frente, e não vai ser só preciso coragem...
Força, espero que não percas consciência da decisão e não desistas.
Jinhos,
Lara

Anónimo disse...

eu estou a precisar dessa coragem, de ir contra as opiniões de todos e de concretizar a minha vontade. Se os outros estão errados e eu decidir em função da opinião deles (que prezo imenso) sofrerei eu as consequencias... mas o contrário também é verdade. Mas, dadas as circunstancias, ao formarmos uma opinião é porque faz sentido e não é descabida. Como disse... falta a coragem

Sara MM disse...

Ena!! Bem visto! Muito bem visto, mesmo!!!
Força! Decide tudo... bem ou mal.... decide TU :o)

BJs
PS- e o pai... * * * * *

mixtu disse...

muito bem aplaudo de ´pé... viver a nossa vida e tudo o resto que se dane... mai nada, amiga

amiguita disse...

Ao longo deste tempo até eu daqui de longe, pelas palavras vejo que mudaste, e se essas decisões te fizerem mais segura, mais corajosa, e sintas que o fardo é mais pequeno e leve, porque carregar com as nossa decisões custa menos que com as dos outros, continua, mas não ligues ao que escrevo...hehehe

Beijinhos

gralha disse...

É engraçado, eu já tive de assumir precisamente o contrário para lidar melhor com as minhas frustrações... Porque a verdade é que há mesmo muitas coisas que não dependem de nós, da nossa vontade ou decisão, como acidentes ou decisões inesperadas de outros, que nos afectam implicitamente. Isso é determinante sobretudo nas relações. Já aprendi que, sim, não posso lamentar-me do que foi fruto da minha escolha (ou falta dela), já que não prescindo da minha liberdade e consciência; mas também aprendi que há muitas situações em que não temos as rédeas na mão e aí vale-nos a tranquilidade e coragem que já fomos ganhando com a experiência. Beijinhos e muita força!

Anónimo disse...

As coisas realmente não acontecem por acaso. Adorei ler o que escreveste. Sinto-me como tu muitas vezes. Sim, é preciso a coragem. Mesmo quando há acontecimentos que não dependem de nós, depende sempre de nós a maneira de lidar com essa situação, nós é que escolhemos como reagir. Quem me dera que certas pessoas percebessem isso.
Beijinhos e bom fim-de-semana!

Margarida Atheling disse...

Gralha: é verdade. Algumas coisas não dependem, única e exclusivamente, de nós. Especialmente quando se trata de relacionamentos a dois, porque a dois somos só metade de alguma coisa.
Mas depende muito de nós, depende daquilo que conseguimos - ou queremos - dividir, arriscar, dar; depende de nós virar as costas ou não, depende de nós até o que fazemos quando as coisas, apesar de todo o nosso esforço, não funcionam ou nem sequer existem.
Mas sim, muitas vezes, o nosso coração, ou alma, ou lá o que é, pede-nos o impossível. Nessas alturas, mais uma vez, a solução só existe dentro de nós, por mais que existam pessoas que nos queiram bem!

Rui disse...

Sobre este assunto tenho eu pensado bastante.
Lembro-me de já ter tido certezas, lembro-me de, pouco tempo depois, achar que afinal não tinha assim tanta certeza.
Decido só eu, por mim? Decido em função dos outros, do que me rodeia? e em que medida?
Hoje só sei uma coisa: que decidirei sempre, porque pior que tomar uma decisão errada, é não decidir.

Eu não acredito em coincidências, mas... é que estou a ouvir uma música chamada "O Fio da Navalha", dos saudosos Taxi, e a certa altura a letra diz assim: "nem sempre é fácil decidir...".

nelsonmateus disse...

mmmêêêêê ... mêê ... mêêêêê ... mêêêêêêê!

só peço 1 ovelha. va lá, tu consegues!

eu sei k tu consegues ... 1 pikena, va lá.

Xuinha Foguetão disse...

Boa Margarida!

Coragem e vais ficar muito melhor contigo.

Beijocas grandes e bom fim-de-semana.

Dani disse...

Como eu gostava de ter a coragem de sair mais vezes do casulo do "normal"...

Margarida Atheling disse...

Pois sim Al...
Pois que fique claro que estou ciente disso tudo, e que não tenho a veleidade de ter a minha vida na mão. Bem sei que não.
Decidimos entre o que é possível. Mas, ao menos, que decidamos pela hipótese que mais queremos.
E se isso, às vezes, não altera muito as coisas, há vezes em que faz muita diferença. Há até algumas em que faz toda a diferença!