quarta-feira, 11 de abril de 2007

Dos desencontros

Há encontros felizes. Há pessoas que não conheciamos, que nunca imaginávamos que existiam até ali e que descobrimos depois que sempre, durante toda a vida, nos fizeram falta.

Há disso e depois há também os desencontros, os mal entendidos.
Há as pessoas que, por misteriosos desígnios das estrelas, gostam umas das outras, fazem-se falta, fazem-se bem... mas que tropeçam nas pedrinhas que, invariávelmente, todos os caminhos têm. Tropeçam, caiem, e ficam ali enroladas no pó e nos arranhões que a queda provocou. E que, igualmente por um qualquer mistério que não identifico nem domino, ficam ali a discutir acerca da pedra e não olham para o caminho à frente, não a afastam e seguem em frente.
E ficam os dois feridos (às vezes mais um do que o outro), mal tratados, os caminhos interrompidos...

Custa-me ver mais do que uma pessoa das que me são queridas, em situações destas. Custa-me sabe-las a sofrer, custa-me ver as suas vidas presas nestas coisas, custa-me...
E custa-me tanto pelo sofrimento que lhe vejo, como pelo absurdo da situação. São desencontros, mal entendidos pequeninos, coisas quase de nada que se transformam em obstáculos intranponíveis.

Eu também já tropecei em muitas pedrinhas, fiz uma enorme nuvem de pó ao cair, fiz uns arranhões que me doeram muito, gritei contra a pedra, enrolei-me em discussões estúpidas acerca da natureza da pedra. Da pedra, da pedrinha. Já me perdi do caminho por causa disso. Esquecia-me mesmo do caminho por causa disso.
Tive sorte, porque depois do pó assentar, e de ter deixado de olhar para os arranhões, o caminho continuava lá à minha espera.

Não será por qualquer mérito meu que deixei de me preocupar com a pedra, mas sim com o caminho. Aconteceu assim; por sorte ou por ter-me cansado de discussões absurdas.
As pedras estão lá na mesma, tropeço nelas como antes, doiem como sempre, mas não grito, não desespero, não perco o sentido do caminho.
Gostava muito de continuar sempre assim, mas admito que isso talvez não dependa da minha vontade, talvez seja uma dádiva qualquer que pode ser-me retirada a qualquer momento, tal como me foi dada, de surpresa, como um dia reparei que estava aqui.
Gostava de continuar sempre assim, a conseguir ouvir, com os sentidos e com o coração, a entender e aceitar mesmo quando não concordo ou não gosto, a confiar em quem alguma coisa me diz para o fazer.
Gostava de continuar assim, a não bater com portas, não gritar, não deixar de ver o que existe à minha frente.
Gostava, sobretudo, de continuar sempre a conseguir ouvir, falar e compreender. Sempre, sempre.
Gostava de conservar a paz que chega como brinde.
Gostava de ter o dom dos sábios de saber relevar o que não é verdadeiramente importante e a inocência de coração de me sentir iluminada com as coisas simples e inesperadas que me oferecem.
Mas gostava, mesmo, que algumas amigas minhas, de quem gosto muito, muito conseguissem o mesmo! Até porque, ao contrário do que possa parecer, eu sou a mais secundária das figuras deste post.

12 comentários:

Clara disse...

Sou eu? (já fizemos as pazes).

Margarida Atheling disse...

Sim, minha querida. Eras uma das pessoas.
Que bom!!! Nem imaginas como fico contente! :)))
É que estavam ali presos numa pedrinha!
Que bom... :))

Xuinha Foguetão disse...

:)

Ora bem... parecem-me boas notícias.

Sabe tão bem quando vemos amigos a conseguir ultrapassar os obstáculos e seguir o seu caminho.

Beijocas

CGM disse...

Desta vez compreendi-te muitissimo bem nas nossas pedras e também nas pedras de quem amamos.

Beijinho

Carla

Piquinota disse...

Pois é, vermos as pessoas de quem gostamos magoadas (ou a magoarem-se) custa-nos muito! Mas não podemos protegê-las das pedras nem recolocá-las no caminho!!

Mas estamos aí para ajudar a limpar as feridas a ajudar a assentar a poeira!:)


Jinhos

Ana disse...

Se olhar para atras, para o caminho percorrido ate aqui, vejo quantas pedras tive que retirar do meu caminho, umas, tal como tu deitaram-me ao chao, uma das vezes (a maior de todas), nem vontade tinha de me levantar, uma pessoa que me quer muito bem, deu-me coragem para seguir em frente.

Margarida Atheling disse...

Xu: pois é! ver os amigos seguirem em frente, felizes, é uma sensação fantástica! :)

C: é isso! há as nossas e as das pessoas que amamos...
mas insisto em acreditar que quase todos são contornáveis, haja calma, discernimento e capacidade de comunicação... e bons sentimentos, claro! :)

Piquinota: custa. e é como dizes, o que podemos é ajudar a sacudir o pó e a limpar as feridas, para que possam seguir em frente. :)

Ana: eu sei de algumas dessas tuas pedras. tu és um excelente exemplo de como elas são ultrapassáveis!
há ajudas que, em certos momentos, são milagrosas. também sei isso! :)))

Anna^ disse...

Se eu fosse uma dessas amigas,iria ficar de coração cheio com estas tuas palavras!Sorte têm elas também de ter uma amiga como tu :)

beijinho

Sara MM disse...

opá, tu escreves tão bem que eu até me esqueço do conteúdo.. fico a pairar na beleza do texto como se fosse um romance...


que linda visão de algo tão complicado...


BJss

Margarida Atheling disse...

Anna^: obrigada! :)
é verdade que quando sou amiga, sou mesmo! com tudo o que isso implica, mas também tenho sorte com as amizades! :)
e olha que os passarinhos me dizem que tu também sabes muito bem ser amiga! :)

Sara: minha querida, tu deves ser a minha fã n.1!!! ;)))
As únicas pessoas que manifestam mais interesse no que escrevo são o meu orientador e a pessoa a quem tenho de entregar o trabalho de Leiria (um dia..., mas era para "ontem"!), mas eles acho que têm alguma razão... e não será tanto a qualidade literária!;D;D;D

[Ariana Aragão] disse...

Ainda havemos de ser amigas. Distantes é certo, mas a amizade não tem fronteiras, porquês ou entre-aspas.
Tem só pensamentos sábios e verdadeiros [sobretudos verdadeiros].

um beijo

Margarida Atheling disse...

Ariana, se calhar já somos um bocadinho!... :)
Não tem mesmo. A amizade não tem nada a ver com distâncias em quilómetros.
Além do mais, 300kms são a distância certa de 2h30m de viagem e de um rico passeio! :)) E hoje são 300, amanhã não sabemos. As amizades, como dizes, têm a ver com pensamentos verdadeiros, e sentimentos, e afinidades... :)

bjo