domingo, 3 de junho de 2007

O mundo lá fora


Tenho um primo que é membro destacado de uma organização internacional, com presença em muitos países e muitos cenários. Especialmente em cenários de guerra.
Na verdade não é um primo, é marido de uma prima. Na verdade, até é só ex-marido de uma prima agora. Mas isso é um assunto entre eles e para mim é tão primo como cresci a pensar que era.



Há uns anos esse primo teve a seu cargo uma missão importante num país que, não estando nessa altura já em guerra aberta, estava no processo de reconstrução ( e pacificação). Quiz levar-me, tentou convencer-me, tentou convencer a minha família que se opôs em absoluto. Eu também não senti uma vontade inegável de ir. Havia um encantamento claro, a visão romântica de ajudar, de poder fazer a diferença, o estar no epicentro dos acontecimentos... Havia, claro, mas o coração não deixava ir assim, simplesmente, mesmo sabendo que, apesar da distância, as viagens seriam frequentes. A família, os amigos, os meus animais, o sítio onde cresci... prendiam-me cá.

Ontem, entre um conjunto de outras pessoas, esse primo esteve cá. Entre um conjunto de assuntos também, este voltou. Não para o mesmo sítio agora. Agora podia ser para lá, ou para outro.

Uns anos passados desde essa primeira abordagem, já não penso que pudesse fazer uma grande diferença, já não acredito que o bem vence sempre o mal, já não acredito em contos de fadas.
Uns anos passados continuo a ter família, claro, continuo a ter animais de quem gosto muito e a quem estou muito ligada, continuo a ter laços com o lugar onde cresci e, talvez o mais importante ainda, continuo a ter amigos, mais amigos e melhores, que nisso sou de facto uma privilegiada.

Mas uns anos passados, ainda penso que posso ajudar um bocadinho. Nem que sejam poucas pessoas, mas podemos sempre ajudar, podemos sempre aliviar um bocadinho o sofrimento de alguém, podemos sempre atenuar um bocadinho as suas dores. A parte da política, das negociações, das estratégias, deixaram de me interessar.
Uns anos passados há uma coisa em mim que me manda sair, fugir, carregar na tecla Delete, correr até ao fim do mundo e mergulhar nos problemas de populações que sofrem para me esquecer de mim (ou do que tenho cá dentro). A contrariar isto existem as pessoas que me querem bem, que me acompanham, que se importam comigo. Há as pessoas de quem gosto, e que também gostam de mim. A contrariar isto há até o facto de me custar apagar isto, este blog, porque com ele, e com essa ida, que é uma fuga, apagaria também todas estas pessoas da minha vida.
Há uma coisa que me manda ir, para sempre. E eu só queria que essa coisa me segurasse a mão e dissesse: Não vás, que eu não quero que vás!
E eu não ia, e não pensava mais nisso, e teria paz.

Nota: É verdade. Não deixa de ser uma fuga. Mas não é uma fuga desesperada. Ainda assim é sempre melhor não termos do que fugir, claro. Mas por alguma razão ouço dizer que a vida é a arte do possível. Agora, parece-me que o post pode dar uma ideia de maior dramatismo do que existe, de facto. Bom... a forma como o post está escrita, e o comentário da minha amiga Catarina que, igual a si própria, dá sempre umas pinceladas de cores carregadas (sejam elas alegres ou sombrias) em tudo! Se como arquitecta fosse como é nas reacções e comentários seria um Gaudi (e não é, felizmente. porque os gostos são discutiveis mas eu prefiro ... o nosso Siza, ou assim).

20 comentários:

Alecrim disse...

Eu só desejo que tenhas paz. E que não fujas. Vás ou fiques, não fujas.

Miguel disse...

Margarida:
Compreendo tão bem!
Mas existe gente a sofrer em todo o lado; até claro no lugar onde cresceste. E o epícentro é o coração de cada uma deessas pessoas. Não fujas...reage!
E vê lá se toda a tua vida é agora condicionada por umas palavras que esperas e não chegam, ainda que esse silêncio seja acompanhado de uma mão dada.

Beijo

Anónimo disse...

Gui, não vás!!! Não consigo já conceber o que seria a minha vida sem ti, sem a amiga mais fiável que tenho, sem a doçura que só tu tens, sem as tuas ripromendas e sem os nossos jantares cheios de risos, sem danças, sem os teus olhos doces e o teu ombro para chorar e a tua paciência para me ouvires quando as coisas me correm mal e a tua alegria quando me correm bem, sem o teu ar de eterna menina. Não consigo imaginar porque só de imaginar fiquei com o coração tão apertado que quase não bate. Eu sei que gostas de mim que és minha amiga mas também sei que não é a minha mão que tem força para te segurar e que não é de mim que precisas de ouvir esse "não vás porque eu não quero", mas não vás POR FAVOR!!!
Queria dizer muitas coisas e não sai nenhuma. Não vás!!!

Beijos minha querida Margarida

Catarina

Não vás, sim!?

_+*Ælitis*+_ disse...

... é incrivel como ha assuntos que mesmo depois dos anos passarem, eles nao voam para sempre. Voltam como boomerang como se esperassem nos amadurecermos para vermos as coisas de outra maneira...

Que vais decidir?

Sera que é para um pais como o meu?

Boa 2a-feira.

Beijo meu,

A Elite

Clara disse...

Pelo teu post, a tua ida seria aparentemente uma fuga primeiro e depois sim, os outros propósitos. Sabes bem que quando fugimos de qualquer coisa ela acaba sempre por nos encontrar, por isso melhor do que fugir (digo eu), será assumir e resolver. Depois se quiseres ir para fora, começar uma carreira nova e mudar completamente de vida, pois acho muito bem, mesmo tendo pena que te vás. Não creio que seja a função de uma pessoa que gosta de nós impedir-nos de seguirmos o caminho que queremos, bem pelo contrário.
Por outro lado, concordo com o que disse o Miguel, se queres ajudar não precisas de ir longe, pessoas a sofrer há em cada esquina, infelizmente (embora também não te veja com muito tempo para isso agora).
Bjs

Piquinota disse...

É como já aqui disseram ir para fugir não te irá trazer felicidade, apenas a fuga e toda a frustração de ir e deixar a tua vida para trás!:(
E há tanta gente a precisar da nossa ajuda aqui tão perto!! Não deveriamos começar por essas pessoas?

Jinhos

Margarida Atheling disse...

Alecrim: obrigada! :)

Miguel: vou repetir-me: tens razão!

Catarina: tem calma! então tu também não estavas prontinha para ires viver para Milão, assim sem mais nem menos...?!
tem calma...

Elite: é verdade. há coisas que funcionam assim.
não era o teu país, mas era um do nosso grupo, também de lingua portuguesa.
mas agora não sei, para onde seria ou será.

Clara: tal como o Miguel, também tens razão. estás carregada dela! eu sei que não devia ser assim, mas é. o primeiro impulso é a fuga, e não o estou a mascarar. a fuga a várias coisas. é por isso que, quero ir, mas quero que me segurem. eu sei que é contraditório e estúpido, mas infelizmente, é assim. por isso, uma pessoa que goste de nós pode impedir-nos de irmos onde não queremos.
e sim, eu sei que há tanta gente a precisar de ajuda por cá... mas aqui tenho a minha vida, a falta de tempo que tu sabes, lá fora, tenho o tempo todo.

Piquinota: pois eu sei... não é a situação ideal! não é mesmo!
eu faço o que posso por aqui, mas como disse antes à Clara, aqui acabo por ter tantas coisas para fazer que quase não me sobra tempo para o estritamente necessário.

Anónimo disse...

Eu vejo isto como mais uma fase do querer ir,ficando.Sem dramatismos mas com vontade de sentir que fazemos falta.
Um beijo doce Margarida e que a tua escolha,seja ela qual for,te dê a paz que precisas. :)

Me

Jolie disse...

A verdade é que mesmo que fosses quem te quer bem, continuaria a querer da mesma maneira. Tu podes ir, tentar esquecer-te de ti, mas quem fica lembra-te sempre como és.

Há muitas maneiras de fugir, e algumas nem exigem partidas para os confins do mundo...

Há que por essas ideias em ordem, minha querida... o teu coração anda assim a modos que num turbilhão de sentimendos.

beijos grandes!

Anónimo disse...

É que não gostas mesmo do Gaudi! Mas eu não sou nada Gaudi pois não sou! Bem outras linhas... :-)
E não vais, está bem!?

Beijos

Catarina

Clara disse...

Cada turbilhão... que encontres o equilíbrio!

Ana disse...

Como eu sei essa ansia de fugir, de voar para longe.
Ha muitos anos, tanta gente me pediu para ficar...
Ainda hoje se nao fosse a familia que me prende, andava por ai a solta, de um lado para o outro, sem sitio certo.
Se tens vontade de ir, vai, nao olhes para tras, mas lembra-te que ha sempre um preco a pagar quando saimos do nosso canto.
Eu que o diga!!

Anónimo disse...

Acredito que já escreveste posts mais do coração mas foi com este que me comovi mais, muito!!! A questão do ir, do voltar, ou não, sempre mexeu muito comigo. O Cinema Paraíso é o filme da minha vida por isso mesmo, pela temática!
Sabes, sempre quis voltar ao meu lugar de sempre. Talvez porque a imagem do mundo de fadas que tinhas do exterior eu tinha-a daqui.
Agora ponho muitas vezes em causa a opção. Mas depois passa, porque tenho medo de ir e um dia voltar e não reconhecer os rostos, os sítios, as "minhas" coisas. Ainda que tudo isto por vezes me desiluda...
Entretanto cá vou ficando, até que a decisão mude, ou não. E tu?!!!

:) beijocas

nelsonmateus disse...

escócia? nã m digas k viste mais 1 vez o braveheart!? :D:D:D

Clara disse...

Isto não tem nada a ver mas, como é possível não gostares do Gaudí?????????? São lindas, as coisas dele (eu adoro, adoro).
Também gosto do Siza (uma coisa não invalida a outra). Mas o meu all time favorite é o Niemeyer, sabes porquê? Porque a obra dele é tão extensa e tão diversa que olhando para uma coisa dele sem saberes não lhe consegues identificar autoria e isso para mim é a prova de uma imaginação suprema.

Xuinha Foguetão disse...

:)

Beijos Maggy

mixtu disse...

fugir é ir... ir é caminhar...
li e reli...

ps. se diz na serra que são primos por simpatia...

se fores de comboio... diz-me, qual a cor de papel que gostas ? :)

abraço-te

Joanissima disse...

Não gosto de fugir das coisas que não compreendo. Por isso, talvez seja melhor ouvires-te, nos teus medos e nas tuas fugas e perceberes o porquê que mora no teu coração. Se fores mais feliz indo, vai. Mas se, indo, isso te afastar do que te faz mais feliz, fica.
O mais importante, sempre, é que respeites o teu coração.

m grande beijo.

Margarida Atheling disse...

Me: ando numa fase assim esquisita. bem esquisita. com necessidade de fugir de algumas coisas e de agarrar outras com muita força. com vontade de cortar por completo com umas coisas e enraízar outras. numa fase nada estática!

Costinhas: com muitas pessoas acho que fuciona a máxima "longe da vista longe do coração". mas de qualquer modo, sou eu que preciso esquecer (ou não!!).
e tens razão, talvez não seja preciso ir mesmo para os confins do mundo, até porque ele é redondo e mais um bocadinho e ia acabar no mesmo sítio.
anda, anda, Sandra! por vários motivos. sabes aquele jogo em que nos vendam os olhos, fazem-nos dar muitas voltas em torno de nós mesmos e depois tiram a vanda e nos mandam andar em frente e nós fazemos tudo e andamos em todos os sentidos menos em frente, a direito?! é assim.

Catarina: não é que não goste mesmo, é que me cansa. tu sabes.

Clara: é verdade. obrigada!

Ana: pois, tu sabes bem.
tudo tem um preço. para ganharmos alguma coisa temos de perder outra, não é? o problema é esse!

Maçanica: percebo-te muito bem. muito bem! acredita!

Nelsinho: escócia?? andas muito distraído! bem outra coisa!!
não me fales em ver o braveheart outra vez, que de cada vez que o vejo choro mais (já choro por antecipação) e depois sabes o que te pode acontecer a alguma camisola.

Clara: não é, propriamente não gostar. porque gostar até gosto. olho e gosto. tem mérito, é óbvio. mas cansa-me. é a sensação que me dá.
e sim, o gostar de um não é impeditivo de gostarmos do outro. não tem nada a ver!
quanto ao Niemeyer não conheço... mas vou tratar de conhecer porque fiquei curiosa!

Xu: obrigada!!

Mixtu: é, não é? é ir e caminhar. se calhar não é preciso correr desesperadamente, mas caminhar convém.

Luisa: há coisas que compreendo. e há outras que mesmo compreendendo, não sei lidar com elas. e, por fim, há aquelas que não compreendo, de facto (ou ainda não compreendo). sabes como é? é bom assentar as ideias e definir algumas coisas antes de darmos um passo, porque algum passo vai ter de ser dado, mesmo que não seja uma corrido sem fim nem sentido.
oh Luisa, o meu coração é tão burro...!

Mocas disse...

Bem, já toda a gente disse tudo. Estive quase para ficar aqui caladinha. Já nem vou comentar a suposta "fuga". Sei que a paz vai chegar ao teu espírito. É apenas um momento que estás a viver, muito turbulento (calculo), mas apenas um momento. A paz vai chegar a seu tempo.

Quanto ao Gaudi, gosto de algumas coisas, assim como do Siza (se é que podem comparar-se) ... talvez algumas obras do Gaudi tenham um envelhecer mais bonito :)

bjs Grande

Mocas