sexta-feira, 1 de junho de 2007

Avant-propos*

Umas das coisas que me enfiaram na cabeça, que ouvi repetidas vezes, até à exaustão, desde que me lembro de mim e durante todo o meu crescimento foi: Não faças aos outros o que não gostarias que te fizessem a ti!

Regra simples e sensata de conduta. Forma fácil de distinguir o bem do mal porque, certamente, nós não gostariamos que nos fizessem mal.

O pior é a minha mania para os raciocínios, para procurar significados, interpretações, adaptações. E dei por mim a pegar neste enuciado simples e a fazer-lhe umas adaptações.

Ora, se não devemos fazer aos outros o que não gostariamos que nos fizessem a nós, então... se o outro faz uma coisa que nós não fariamos a ele, então está a fazer-nos mal, é porque não nos quer bem.
Se o outro faz o que eu não lhe faria, não me quer bem, e pronto.
E isto foi causa de centenas de lágrimas, de noites mal dormidas, de refeições sem apetite, de dores de coração...

Mas pode não ser bem assim!
O outro é sempre uma pessoa diferente de mim. Não pode reagir como se fosse eu.
Não posso esperar que haja como eu. Não podemos esperar isto das outras pessoas.
O outro não deve é fazer-me a mim, o que não gostaria que eu lhe fizesse.
E a partir de agora funciona assim (a partir de já há uns dias, confesso), a partir de agora, suponho que esta pequena diferenciação me poupará muitas lágrimas.

* O título acaba por ser influência das leituras a que tenho andado remetida (e vou que vão continuar, e continuar...). A nossa língua é muito rica, mas toda a vida me vou deparando com palavras noutras línguas que têm um significado tão preciso que acabam por dar jeito aqui e ali, em determinadas ocasiões. Não posso é utilizá-las em conversas com o meu pai que detesta misturas de línguas numa mesma conversa.
( e mau mesmo é, por exemplo, nunca me lembrar da palavra correspondente a vanilla -que é uma especiaria de que até gosto - na língua portuguesa. mas nunca! não consigo, não sei porquê!! se me perguntarem não sei!! não consigo lembrar-me!! e sim, a minha língua-mãe é o português, claro!)

8 comentários:

Clara disse...

hum...mas todos avaliamos pelas nossas próprias tabelas. Não me parece que possa ser diferente, como vais avaliar alguém pela tabela dele/a? Isso seria desculpar homicídios, violações, roubos, incestos...se na cabeça das pessoas que os cometem isso estivesse correcto (por absurdo, claro). Lá porque os outros têm uma forma distorcida de ver a realidade, de maneira nenhuma podemos ser arrastados para isso.

Miguel disse...

A dedução está correcta; é isso mesmo.

Atenção ao facto de a diferença entre "mim" e o "outro" não o obrigar apenas a "não fazer" algo, mas a fazer muito. Diferente do que "eu" faria, certo, mas a fazer aquilo que "ele" intui que "eu" gosto.

Não é baunilha?!!!

Margarida Atheling disse...

Clara: eu estou a falar de pequenas variações, de formas de agir, pessoais, mas dentro de um mesmo quadro de valores civilizacionais e mesmo morais.
para essas coisas de que falas, não encontro sequer atenuantes. e se queres que te diga, sou mesmo muito dura, nessas situações.

Miguel: sim, concordo contigo.
mas aqui não estou a falar de um "ele", pode ser ele ou ela, pode ser toda a gente com quem convivo. é o "outro" no sentido lato, o outro que não eu, mas que está próximo de mim, claro.
é!! é isso mesmo!! até parece que respiro fundo quando vejo a palavra em português! mas se me perguntares o que quer dizer vanilla em português, daqui a 5 minutos, já não te sei dizer! não entendo!! mas só acontece com esta palavra!

mixtu disse...

mas é dificil cumprir com essa máxima, a verdade é que somos muito mauzinhos, eu procuro ser uma boa pessoa e sou reconhecido por tal, felizmente nunca prejudiquei ninguém...
continuação de boas leituras, e sim, vai haver continuação...
abrazo europeo, verde y monarquico

Anónimo disse...

Tu interiorizaste bem a norma mas nem precisavas que te tivessem massacrado com ela porque tu és boa por natureza, sabes lindamente distinguir o bem do mal e jamais quererias fazer mal a alguém.
Acho que estás certa no que dizes. Estás a ver por exemplo nós, como somos diferentes, eu faço coisas que tu nunca farias e no entanto somos muito amigas. Eu adoro-te e sei que tu sabes que sim!
Mas espero que não te façam mal a ti nunca, nunca e fico fora de mim quando imagino que isso possa acontecer. Existem amigas-galinhas!? hmmm?! ;-)

Beijos

Catarina

Smas disse...

Olá!!!
Tenho andado longe daqui mas hoje andei a ler os posts atrasados todos!
Num deles em que falas da tua infância e das tuas traquinices achei que tinhamos muito em comum.
Neste volto a achar o mesmo porque também me disseram sempre isso e eu também passava o tempo a achar que não gostavam de mim porque me faziam algo que eu nunca lhes faria...
Bjs

Maria Liberdade disse...

Eu tenho este problema de não conseguir estar calada... e por isso tenho que te dizer... é verdade que o outro é um ser diferente blá, blá... mas de que serve isso, se te faz mal.

Por essa ordem de ideias, não devia essa pessoar trocar os papeis e pensar: isto a mim não me custaria, mas se à M custa vou evitar fazer...

Não é suposto ser assim?

NaRiZiNHo disse...

:))))
Soberbo!!!
Eu penso sempre assim, claro que acabo sempre a levar nas orelhas, as pessoas aproveitam-se!
Acho que isso também depende muito de nós, da nossa sensibilidade, se formos mais sensiveis a determinadas coisas e esperamos que os outros também sejam, o que não acontece, e claro, a desilusão acaba por ser maior.
É a Vida :)
:-*