quarta-feira, 30 de novembro de 2005

Os outros

É muito bonito pensar nos outros.
Pensar no bem dos outros, "não fazer aos outros o que não gostavamos que nos fizessem a nós", como me repetia a toda a hora a minha Avó quando eu era pequena, e coisas que tais.
É muito nobre pôr os interesses dos outros à frente dos nossos, abdicar estóicamente da nossa vontade para não desgradar aos outros.
É muito bonito, pois é. Mas, às vezes, não é bom. E, se calhar, nem é justo.

Levei uma vida inteira assim. A pensar nos outros primeiro. A não fazer o que não lhes agradava.
Anos depois, ouvia dizerem-me: Nunca te proibi de nada! Sempre fizeste o que quizeste!
Pois foi. Nunca me proibiram nada; bastava um olhar significativo e um: Não sei se é boa ideia!
Bastava isso.

Mais tarde ainda, nem era preciso dizer nada. Às vezes adivinhava, às vezes percebia um leve semblante de desconforto e... decidia em função disso.
Decidia sempre em função dos outros. Tanto, que me parece que não foram capazes de perceber que sou uma pessoa com inteiro direito a tomar as minhas opções. Tanto que qualquer decisão que tome causa o abalo de um enorme terramoto no mundinho à minha volta.

Cansei-me que não se alegrem com o que me faz feliz, mas sim com o que julgam que seria bom para mim [ou para a pessoa que julga]. Cansei-me dos silêncios de túmulo e dos semblantes carregados quando decido por mim, sózinha. Cansei-me do desconforto de me sentir mal e culpada por coisa nenhuma para além de tentar viver a minha própria vida, de acordo com as minhas opções.
Cansei-me de me sentir, ao mesmo tempo, sózinha e sufocada!
Cansei-me! Cansei-me, mas nem por isso deixo de me sentir triste por não se alegrarem com o que me podia [ podia, apenas] fazer feliz!

Apetecia dar um murro na mesa, fazer as malas de vez, virar as costas e mudar de continente. Pensar em mim, só em mim, e esquecer!
E lembrar-me que não o fiz, há poucos anos, por causa dos outros...

14 comentários:

Anónimo disse...

Até te percebo. Mas também os percebo.
Imagina que uma filha tua, uma filha que trabalhasse contigo, herdeira de bens suficientes para a ocupar/sustentar, doce, protegida, etc, etc... te dizia, assim do pé para a mão que ía para outro continente, para um lugar exótico, mesmo sendo para a organização e nas condições em que é. Imagina! Ainda para mais, minha amiga, para um lugar com um clima daqueles, logo tu que és tão branquinha.
Não tens com o que te ocupar pela Europa, hum!? Não tens!?
Tu conta até 1000 antes de decidires, por favor! Pensa nos outros, nos amigos!
Vou mas é telefonar-te!

Catarina

André Parente disse...

Gosto muito do vero "ir"...

maria disse...

Eu também te entendo, mas não sei se percebo...eu sempre fiz o que queria porque sou muito teimosa e senhora do meu nariz...mas olha não precisas de ir embora...impõe-te...até pode ser devagar, e até pode ser nas pequenas coisas, mas assm vais marcando pontos...e autonomizando...se calhar não precisas de fazer o corte absoluto, percebes o que quero dizer? Cabeça fria.

Clara disse...

Ando de à um tempo para cá a deixar de pensar nos outros.

Durmo à noite e comecei a ter vida própria.

Aprendi a respeitar-me e aprenderam (ou andam a aprender) a fazer o mesmo.

Mas não mudei de continente, nem de casa.

Tem sido uma metamorfose lenta, sofrida, mas proveitosa.

"..take your time, think a lot, think on all the this you got. Look at me, I am old, but I'm happy..."

Não me lembro do nome da música, mas é 1 balada que nos "encaixa"

Beijos

Anónimo disse...

Olá Margarida. A música a q a Clara Sonhadora se refere chama-se "Father and Son" e foi originalmente cantada pelo Cat Stevens (agora convertido ao Islamismo). A música continua assim: "Take your time, think a lot, think of everything you've got, for you may still be here tomorrow but your dreams may not..." Para pensar! Podia dizer muita coisa aceca deste post, mas ainda o estou a "digerir". Ao ler consegui ver-me a mim e à luta q travo desde sempre para decidir se penso em mim ou nos outros. Doeu-me muito ao ler... Gostei muito dos comentários deixados atrás, especialmente da Catarina que nos vai dando sempre algumas dicas complementares ( e por vezes deixa posts hilariantes!). Lamento q estejas neste dilema, mas SEI q tomarás a decisão mais acertada, para ti e para os que te amam. Um abraço apertado da Guerreira

Sara MM disse...

xiii... como te compreendo. Eu e a minha mami somos assim... antes de decidir qualquer coisa pensamos no que os outros preferem... às vezes temos invejas os que são donos do seu nariz e ponto final... mas isso quem o é é-o desde pequeno, senão esquece, nunca mudarás :o\

BJS

Rui disse...

Desta vez só vou dizer que é mesmo bom ler-te.

39 disse...

Como eu te entendo...

Anónimo disse...

Também pensei muito nos outros mas foi a pensar em mim que mudei de continente.
Seja qual for a escolha será a que te faz feliz.
Bjs

Vilma disse...

É importante pensar nos outros sem dúvida, mas também é sensato e equilibrado pensar em nós. Não de uma forma egoísta, mas em como através disso ainda podemos ser mais utéis para os outros...para não ganhar amargura. Só conseguimos pensar e amar verdadeiramente os outros quando nos amamos também! E isso implica pensar em nós!
E virar a mesa...por vezes!

nelsonmateus disse...

digamos k é algo em k vais ter k pensar e sentir seriamente, pois ... só tu podes tomar essa decisão!

bjos rapariga e cuida d ti!

Margarida Atheling disse...

Pois é Guerreira, a Dona Catarina, às vezes, estica-se um bocadinho!
Mas é uma boa amiga!

Anónimo disse...

Guerreira acho que a minha amiga não me compreende. De vez em quando está a puxar-me as orelhas porque diz que falo demais.
É que a conheço há anos e não estando habituada a estas coisas dos blogs resolvo dizer o que me apetece. Ainda por cima parece-me que é o que toda a gente faz por aqui, alguns comentários parecem-me também quase tão próximos como os meus. E sei que ela, para além de mim, que a conheço há muito, conhece mais duas pessoas que por aqui passam: a prima e outra pessoa, e que não estou a revelar nada que ela não lhes revelasse, mas às vezes esqueço-me que ela não pode controlar toda a gente que lê o blog e nisso tem razão.

Vá lá Margaridinha, não te zangues!

Catarina

Margarida Atheling disse...

Claro que não me zango linguaruda! ;)