sábado, 26 de novembro de 2005

Six months after

Há seis meses estava a lamuriar-me porque, afinal, tinha que começar um trabalho que, bem vistas as coisas, não queria.
Tinha concorrido só porque sim. Porque nunca me tinha sujeitado a uma prova dessas, porque ou trabalhava para a família ou em coisas que me eram oferecidas. Nunca tinha tido que me sujeitar a uma entrevista, a ver avaliado o meu curriculum e capacidades, nunca tinha competido, à séria, por um posto de trabalho. Era um desafio e... era bem pago.

Foi bom consegui-lo. Fez bem ao ego. Mas só isso.
Foi bom consegui-lo, mas não era bom ter que o fazer. Não me apetecia. Mas afinal...

Seis meses depois, as pessoas com quem não me apetecia trabalhar revelaram-se fantásticas, o ambiente de trabalho era tudo o que se pode pedir, algumas delas tornaram-se muito próximas. O que tinhamos de comum apróximava-nos, o que tinhamos de diferente - e era muito - complementáva-nos.

Durante seis meses usei e abusei da flexibilidade de horário, muitas vezes chegava às duas e meia ou três da tarde, dava meia volta, dizia que tinha de ir almoçar e descia. Mas saía já de noite, quando tudo estava em ordem.

Durante seis meses eu, criatura avessa a números, tive que aprender a avaliar projectos de investimentos, lidar com margens, com encargos fixos e variáveis, com amortizações, e com millhentas coisas relacionadas. Valeram-me o A., com a sua calma e cheio de ideias novas e simples trazidas do MBA em Gestão tirado nos E.U.A. e a dedicação do G. que lá largava a Surf Portugal, lida às escondidas, para correr para a minha sala se me sonhava com uma ligeira dificuldade.

Durante seis meses ensinei-lhes coisas que não sabiam. Afinal era por isso que nos tinham escolhido com formações diferentes.

Durante seis meses rimos como crianças irresponsáveis em reuniões importantes, por detrás de fatos adequados à ocasião. E recebemos os parabéns pelos resultados!

Durantes seis meses andámos de um lado para o outro, por aí, neste país. Para cima e para baixo, no litoral ( não conhecia bem o litoral alentejano!) e no interior. Nos mais variados transportes, em carros de topo de gama novinhos, em carroçarias de pick-ups, em moto-quatros, de tractor...
Limpinhos e arrumados ou sujos de pó e com o cabelo em desalinho ( às vezes cheio de sal, resultado de uma escapadela até ao mar).

Durante seis meses falámos com pessoas absolutamente diferentes. Deparámo-nos com um país que é muito diferente do que conhecemos à volta de Lisboa e das outras grandes cidades. Descobrimos que existem vários países dentro deste, paralelos, encostados e com diferenças abissais. Tivemos acesso a locais e a informações que nos seriam vedadas de outra forma, e aprendemos muito com isso.

Durante mais seis meses deixei a tese parada. Sem lhe mexer para nada, sem lhe dar sequer uma vista de olhos de fugida. Mas durante estes seis meses, não me senti culpada por isso.

Durante estes seis meses foram-se desenvolvendo amizades sinceras. E alguns afectos de outra natureza entre algumas pessoas.
O G., realmente um privilégio para a vista, foi-se tornando próximo. Muito próximo.
As conversas, progressivamente mais cumplices, as festas no cabelo o contacto que não sobressaltava, antes acalmava, podiam ter tomado outro rumo. Mas o coração é dono e senhor e, nestes seis meses, mandou-me sempre outra coisa.

Ao fim destes seis meses ainda tenho umas coisas - outras coisas - para fazer por lá até ao fim do ano. Eu e algumas pessoas. Mas só algumas. É tudo diferente.

Ao fim de seis meses vou fazer um trabalho, na minha área de formação, para uma SA, cujos principais accionistas foram meu colegas até ontem. E vou continuar com as outras coisas e...
Trabalho não falta, e trabalho interessante sem ser enfadonho, repetitivo ou até rigído em horário mas, não sei porquê, não me sinto satisfeita.

Seis meses depois, se calhar é ainda efeito do vinho do jantar e da vodka e do licor de wisky da noite e da minha falta de resistência ao álcool, ou da falta de horas de sono, mas sinto pena. Maldito sentimentalismo português ( e escocês!)!
Foram seis meses muito especiais! Acho que foram os seis meses em que mais aprendi na vida.

15 comentários:

nelsonmateus disse...

LOL!!!
ainda nã acabei d ler este post mas keria ser o primeiro a deixar 1 comment! :)

Sara MM disse...

Foi muito bom, então?! Uma sorte! Ainda bem!
Se tem de acabar, ficam as (boas)recordações e as amizades que sejam mesmo gds! né?

BJS

nelsonmateus disse...

acho k t enganaste ... disseste maldito sentimentalismo português/escocês em vez d bem-dito. ;)

o tempo voa literalmente. 6 meses já passaram e o fim desta novela esta a vista. tal como as novelas fictícias, esta ainda nã acabou k outra já vem a caminho ...

k a próxima novela te seja tão benéfica quanto esta! :)

bjs

Natércia Charruadas disse...

Seis meses de boas recordações e, quem sabe se os próximos não serão pelo menos tão bons? Espero bem que sim.

Anónimo disse...

Foi bom (ainda bem que foi) mas agora é tempo de avançar para outra aventura...
Também sou bastante sentimentalista mas não considero isso um defeito.
Bjs

Anónimo disse...

Para deixarem marcas, os momentos não precisam ser longos mas intensos!
Beijocas

Anónimo disse...

Sortuda!
E durante seis meses tive que me deparar muitas vezes com a tua falta de tempo mas, em compensação, era tão bom visitar-te nesse trabalho. As vistas eram tão boas! Mas tanto quanto me parece vais manter um pé por lá mas o "Deus" é que não, não é?
Tu e o coração! Ai que parva me saiste! Aproveita o que tens! Tens noção de quantas gostavam de estar no teu lugar!? Parva!

Catarina

Anónimo disse...

Sortuda!
E durante seis meses tive que me deparar muitas vezes com a tua falta de tempo mas, em compensação, era tão bom visitar-te nesse trabalho. As vistas eram tão boas! Mas tanto quanto me parece vais manter um pé por lá mas o "Deus" é que não, não é?
Tu e o coração! Ai que parva me saiste! Aproveita o que tens! Tens noção de quantas gostavam de estar no teu lugar!? Parva!

Catarina

Lolla disse...

Eu nunca aprendo quando fico muito tempo tentando aprender. Vai ver você é mesmo uma pessoa muito paciente...

Anónimo disse...

Gostei muito dessa tua descrição durtante 6 meses.....
Aprendemos sempre coisas e ensinamos outras.
a vida é assim mesmo e ainda bem que durante 6 meses foi ebom e que possam ainda ser bem melhores.
BEjokas

maria disse...

Percebo bem o que dizes...eu pego-me tanto às coisas, aos lugares, às pessoas, até quando vou de férias e regresso sinto uma nostalgia por deixar para trás aquele lugar...mas depois o que vem a seguir é sempre tão bom de descobrir que nos adaptamos...

Vilma disse...

Arrepiei-me no final do texto Margarida! Nem tenho palavras para te dizer..simplesmente que vale a pena saber esperar porque nem sempre o que é agradável logo à vista é o melhor!
Que bom!!! Tou "fliz" por ti! :)))

Anónimo disse...

"Sísifo"

Recomeça....

Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...
(Miguel Torga)

Um beijinho da Guerreira.

Clara disse...

Um balanço bem postivo e "regado"


Beijos

Alexandre disse...

6 meses passam ou correr... ou tavez não, certo?