quarta-feira, 1 de março de 2006

"Ainda a M." ou "Post Piegas"

A M., depois de um fim de tarde e de uma noite alucinante para alguém do tamanho dela quis, porque quis dormir comigo.
Eu sei que é pouco pedagógico e bláblá, bláblá... mas atirei as teorias para as urtigas e cedi aos pedidos doces dela.

Deixei-a dormir na minha cama. Hoje dormirá na caminha dela a muitos quilómetros daqui.
Lá a deitei, as duas de pijaminhas vestidos, e lá lhe li uma etória, a da Alice no País das Maravilhas. E ela foi fechando os olhinhos, com as duas mãozinhas agarradas ao meu braço.
E adormeceu devagarinho e eu fiquei a olhar para ela; para o narizinho arrebitado, para os dedinhos tão perfeitinhos, para as unhas pequeninas; passei-lhe a mão nos cabelos fininhos e macios e levantei-me de mansinho.

Fiquei um bocado a olhar para ela sem me cansar de me admirar com a perfeição de uma criaturinha tão pequena e não resisti a ver as fotografias dela desde que nasceu.
Nessa altura admirei-me como, afinal, ela cresceu tanto e tão depressa.
E vi o babette branco, a primeira coisa que bordei de livre vontade, tantos anos depois de ter sido obrigada a aprender essas coisas no colégio. Lembrei-me que comecei a bordá-lo no dia em que soube que ela vinha a caminho, e lembrei-me de como fiquei feliz com a notícia e de ter sabido desde essa altura que seria uma menina.
E fui vendo fotografias, com a girafa que lhe dei, com a mantinha, com a chucha que não aceitava trocar por outra, com o patinho, com o biberon dos ursinhos, com as jardineiras azuis,com o urso , com o casaco dos patinhos, com a camisola das risquinhas laranja, com os sapatinhos azuis, com a saia verde, com o vestido das florinhas, com... e reparei por esses indícios que até tenho estado presente, apesar da distância, o que acaba por ser um nadinha reconfortante.

E voltei a olhar para ela, ali a dormir tão tranquila, tão frágil, tão perfeita. Pensei que vai crescer, que vai aprender coisas novas, que vai gostar de outras pessoas, que um dia se há-de apaixonar e, forçosamente, sofrer. E senti uma vontade enorme que esse dia não chegasse, que a pudesse proteger assim para sempre, que nunca ninguém a magoasse, mas depois... resignei-me.
Um dia vai ser uma menina crescida e, espero, feliz!
Cairá algumas vezes, vai doer um bocadinho, mas terá sempre quem a ajude a levantar-se de novo; e isso, só isso, posso prometer-lhe!

15 comentários:

Marta disse...

Texto lindíssimo, Margarida... Não é nada piegas, é lindo!
Muitas vezes temos tendência para querer proteger as crianças das "quedas" que a vida nos faz dar... Mas, se olharmos para as nossas próprias histórias, percebemos que as quedas só serviram para nos tornarem mais fortes e para nos ensinarem qual o melhor caminho a seguir!

Disseste muito bem: Não podes protegê-la das coisas que a farão cresecer e ser um Ser Humano completo! Mas podes sempre estender-lhe a mão e ajudá-la a levantar-se e a perceber que há sempre um motivo para nos fazer levantar!

Adorei MESMO este texto!!
Beijinhos!

Sara MM disse...

Como tantas coisas na vida... uma realidade linda mas assustadora, né?!

BJs

Piquinota disse...

Fiquei maravilhada com este post (que não considero piegas!)... Picou-me o desejo, meio adormecido de ser mãe...:)

Realmente, tão pequenina e com tanto ainda que viver... tantas situações boas e menos boas para ultrapassar... Mas de certeza que as vai ultrapassar melhor se tiver alguém a ajudá-la e a apoiá-la!

Jinhos e obrigada por este post

gralha disse...

Mal posso esperar para ter uma coisinha assim a chamar-me Mãe e vê-la crescer, tornando-se uma pessoa independente mas sempre um bocadinho de mim :)

Xuinha Foguetão disse...

Apesar dos tropeções, ela vai ser uma menina feliz por ter pessoas como tu na vida dela.
Acredito nisso.
Tenho pessoas especiais na minha vida que me fazem pensar que nada é mau demais para não sermos felizes.

Um beijo grande para ti.

Anónimo disse...

Olá Margarida
Este foi realmente um post bonito!
Os teus sentimentos pela M...
A forma como a queres proteger, mas sem interferir...
Vou dizer-te um "segredo"...
Um pouco longe daqui, numa das nossas ilhas - uma ilha de flores - existe uma espécie raríssima de orquídea, a "minha orquídea", a minha Inês. Sobrinha e afilhada é a menina mais esperta, doce, traquina, meiga e teimosa que já conheci.
Por ela já chorei muito, de saudade, mas foi também ela que trouxe novo sabor a minha vida, e ao tempo que corre entre a última e a próxima vez que a verei.
AMO-A com todas as minhas forças de tal forma que me sinto mal por não sentir o mesmo por outros sobrinhos… De tal forma que me envergonho de falar constantemente sobre ela quando amigas minhas que são mães, falam sobre os seus filhos.
Mas ela é especial! Ela está ligada a mim - de alguma forma que por vezes não entendo - da mesma forma que eu estou ligada a ela.
Sei disso quando ela acorda a meio da noite e chama por mim, sei disso quando me despeço dela no aeroporto e ela chora convulsivamente porque não quer que me venha embora, sei disso quando fala ao telefone comigo e não quer desligar...
Sei disso nessas alturas e em todas as outras!
E sei que nestes 4 aninhos da vida dela eu estive tão presente quanto me foi possível estar...
Eu sei… mas ela também sabe! Sabe que nunca a deixarei ficar mal, e é por isso, que quando dormimos juntas, o medo que ela tem do escuro desaparece só pelo facto de agarrar na minha mão.
Bejufas
Carla

Dani disse...

Bonito post. Dúvidas e mais dúvidas, mas acima de tudo, o amor.

Rui disse...

Não tem que ser forçosamente, mas vai cair, isso é certo. E vai ser mais forte quando se erguer.

NaRiZiNHo disse...

Foi Lindo Margarida!
Agudizaste ainda mais a suadade que eu tenho do G. e da E. (sobrinho e afilhada). Vi os dois crescer na barriguita da mãe e depois fora da barriguita; foram os dois criados pela Ama Sra. Minha Mãe, vi-os dar o 1º sorriso, dizer as 1ª palavras, gatinhar, equilibrar, enfim...tudo aquilo que faz parte do crescimento natural de um ser humano.
Tenho saudades, muitas saudades, separei-me deles a 4 Setembro de 2004, agora temos 50km a separar-nos...eu sei, é pouco, mas quando a vida se torna complicada e os sacrificios são exigidos no começo de vida, 50 torna-se um nº tão grande como 200 ou 300!
A E., tem 12 anos, passou cá uns dias nas férias grandes, chorou quando chegou a casa, a E. chora quando a visito e depois me despeço dela, a E. chora depois de falar comigo ao telefone, a E. estuda e só pensa em livros porque a madrinha lhe incute a ambição de chegar longe, de um dia ser alguém, e também porque a madrinha e o marido da madrinha se esforçam e ainda hoje, estudam, estudam, para conseguir algo mais.
O G., só tem 2 anos e 6 meses, mas já vai repetindo o que a tia lhe ensina, já fala à sua maneira com a tia pelo msn :) através da webcam e adora os icons do programa. O amigo mais recente do G. é o Sapo, disse-lhe que se chamava Cocas, que ele delira quando vê o spot da BMW ou do Sapo ADSL: olha tiááá o xapo cocas!!!
Margarida, deixaste-me com a lágrima no olho....são lágrimas de saudade. Domingo vou ver a E. e o G.
Obrigada por este momento. :-*

Ana P. disse...

Adorei....
Realmente, as crianças são o nosso maior amor...

Beijos

reborn disse...

Tendo o teu apoio, as futuras e inevitáveis quedas serão certamente mais suaves :)

Beijinhos **************

Dulce disse...

As "nossas" crianças são o amor. As nossas crianças somos nós em estado (ainda) puro.

Anónimo disse...

Que lindo post.
Até fiquei de lágrimas nos olhos.
Percebe-se que a M. é especial para ti e queres para ela aquilo que eu quero para os meus filhotes.
Mas ambas sabemos que não vai ser assim e que provavelmente se irão magoar mas tem de ser e nós estaremos presentes para lhes dar a mão e ajudar a levantar.
Bjs

Clara disse...

É tão bom ler sobre a felicidade de alguém, em especial quando é proporcionado por essas "pequenas" coisas.

É simplesmente fascinante!

Beijinhos

Miguel disse...

Piegas sou eu, ok Margarida?
Tu falas o que sentes e sentes o que falas. Nós sentimos o que tu escreves.
Já te agradeci hoje?
~;-)