quinta-feira, 2 de fevereiro de 2006

Capitulo 6


Pensei que, mesmo tanto tempo depois, no dia em que resolvesse voltar a mexer na tese, tudo seria como antes. Que sentiria o mesmo, que seguiria o mesmo caminho, completaria simplesmente o que faltava. Mas não foi assim.

Liguei o portátil e abri pastas que não abria há... já nem me lembro quanto tempo. Foi antes, antes de tanta coisa. Estremeci e tive uma sensação estranha. Fechei-o e fiz-me uma vontade, fui passar a noite à praia.

Cheguei e enchi os pulmões de ar, daquele ar diferente, mais húmido e carregado de mar, acendi a lareira e os aquecedores numa casa que estava fria e que, de longe a longe, me parece demasiado grande para uma pessoa.

Sentei-me à mesa da sala e voltei a abrir as tais pastas, mas ainda não era ali que me apetecia estar. Subo para o sotão e abro as duas janelas. Podia estar frio, mas era aquilo que me apetecia, aquele cheiro que envolve e nos leva para longe.
Às tantas, surpreendo-me a sorrir de um pensamento qualquer, distante; volto a respirar fundo e os olhos prendem-se, finalmente ao ecrã.

Quando dei por mim o relógio do computador marcava 4:47. O tempo tinha passado, eu tinha retomado as cotas, os índices, os capitulos, as trancrições, os quadros, a bibliografia, as notas de rodapé, os textos, as fichas de leitura...
Tinha deixado de custar, já não resistia.
Tive vontade de aproveitar tudo, a informação toda, mas de alterar-lhe a forma, o tratamento, se calhar até o fim.
Reparei que há notas de rodapé que, por questões pessoais, vou retirar, que há agradecimentos que não serão feitos, que outros, inesperados, vão acabar por ocupar esse lugar.

Faltam coisas, e isso deixou de ser uma maçada, para se transformar numa benção, pelo menos haverá alguma coisa a acrescentar e isso era indispensável nesta altura.
Voltei a sentir a inquietaçãozinha da antecipação da descoberta, como as crianças que tentam adivinhar o conteúdo dos presentes de Natal.
Não adianta querer retomar as coisas como elas eram porque, afinal, nada é imune às mudanças; eu não sou a mesma, a tese também não. Será outra coisa, e ainda bem!

Entretanto, dormi um sono santo nas poucas horas que me separavam do dia, sacrifiquei umas horas de trabalho em troca de um passeio na praia. Mesmo com nevoeiro, mesmo com frio... o contacto da areia sabe bem, gosto de atirar as algas para dentro de água, do barulho das ondas e, reparei que a água parecia bem quentinha...
Agora, é a volta à rotina mas foi um bom começo de dia!

15 comentários:

Vilma disse...

:)) Tu fazes-me viajar...! A Se´rio.. em pensamentos!

Luna disse...

bolas amiga, ai essas insonias!
beijocas
luna

Anónimo disse...

os milagres que o mar faz...
quando tinha tempo também fazia dessas.... noutras alturas em que eu fazia o que queria nas horas que me apetecia... enfim

Miguel disse...

Isso perece-me uma boa luta:
Procurar as condições ideiais para atingir os objectivos traçados.
Claro que com as tuas "pinceladas impressionistas" essa luta ganha a côr de uma historia bonita, tranquila.
Bj

Piquinota disse...

Passear na praia, o ar frio a passar na cara e a arrefecer os pensamentos é uma das coisas que melhor me faz! Normalmente quando deparo com um "muro" dos grandes, acabo sempre na praia...e o "muro" costuma diminuir substancialmente!:)
Jinhos

Xuinha Foguetão disse...

Que bom Margarida!

Deve ter mesmo sido um belo começo do dia... e que bom poderes fazê-lo quando quiseres.

Boa sorte para a tese.

Beijocas grandes.

sonia disse...

Que bom saber isso querida :)))
Adorei ler este post, estive contigo o tempo todo, nas descrições quase senti o cheiro da maresia :))

Anónimo disse...

Que belo começo de dia!
Pois é, a tese altera-se connosco, com as nossas vivências. Também me aconteceu.
Espero que este ano do cão te traga tudo de bom.
Bjs

nuvem cor de rosa disse...

Pronto, acabei de descobrir porque é que a minha tese continua no mesmo ponto em que ficou há, sei lá, qtos meses (anos).... Não tenho aki esse teu mar...
Pronto.
Agora já tenho desculpa...

Sara MM disse...

bem... que emoção... nunca pensei que um fim de tese pudesse ser tão sentido... e ter tantas idas à praia! ih!ih!ih!

se me faltar garra para a minha procuro-te :o)

engraçado essa de mudarem os agradecimentos... entao valeu a pena a pausa ;o)

BJssss e continua!!! com ou sem nevoeiro :o)

reborn disse...

Nada como um belo passeio à beira mar, ganhamos outra noção de nós mesmos :)

Beijinhos grandes :************

Dani disse...

Sofrimentos à parte, que rico começo de dia! :)

amiguita disse...

O tu fizeste foi dar um pouco do teu no "eu" à tese, vais ver que fica bem melhor, pareces agora mais serena.

Rui disse...

Aos (re)começos.

Dulce disse...

Fantástico texto!
Também brindo aos recomeços, como o Rui!