quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

Os Homens

Há homens que nos consomem horas, e dias e noites, e semanas e meses com a cabeça fora do que devia, a tentar perceber o que é que queriam, realmente, dizer quando se calaram, ou quando falaram, quando riram, quando não riram...

Há homens que nos roubam a atenção, a tranquilidade, horas de sono e de trabalho, tudo para tentar adivinhar o que lhes vai na alma. Ou até só para dar uma espreitadelazinha à sua alma, mesmo que fugaz, de longe; qualquer coisa...

Há homens completos, complexos, por quem dariamos trinta voltas ao mundo só para o compreender; mesmo que um dia qualquer, de repente, percebamos que não temos que o compreender e que basta gostar. Que é mais importante gostar e que, na verdade, temos que nos contentar com isso mesmo.

Mas há outros. Ou há contextos difentes, ou qualquer coisa.
Parece-me que há os outros, aqueles que nem é preciso falarem muito, que são tão evidentes... Há os que são o contrário dos outros, que são básicos, se tornam básicos ou, simplesmente, que não despertam em nós esse interesse de querer ver o que não salta à vista.

O G., meu recente ex-colega, acabadinho de chegar de uma viagenzinha à Austália, agarra no carro e vai ter connosco lá abaixo, onde o Alentejo acaba e o Algarve começa. Nós tinhamos ido a trabalho, ele... matar saudades.

Foi uma ida rápida, ao fim do dia voltamos para casa. Fazemos um desvio absurdo para ir jantar a Évora, passeamos os cinco por ruas geladas com cheiro a lareiras a arder, subo um muro para ler umas inscrições na Sé, que não conhecia, rimos um bocado e voltamos para cima.

A certa altura começo a sentir calor, olho para a temperatura marcada e reparo que é um disparate.
Digo-lhe para baixar o ar condicionado. Ele ri e diz que não vale a pena, que tire roupa, como ele, que tinha tirado casaco e camisola e tinha só a tshirt.

Está-se muito melhor assim!, diz-me ele. Não podia estar bom da cabeça!
Como o calor era muito, estico a mão e abro um bocadinho a janela.

- Estás tonta?! Vamos constipar-nos! Fecha a janela!

- Então baixa a temperatura!

- Tira a roupa...! Tira lá! Era muito mais simpático...

- Tu não estás bem, pois não? Achas que eu ia mesmo fazer isso?!

Tirei o casaco. Mais não!
Alguns quilometros à frente, como se as coisas já não estivessem suficientemente absurdas, resolve coroar a noite.

- Estás mais gordinha, não estás?

- Como?!

- Um nadinha mais gordinha. Mais gordinha do que no Verão, não estás?

- Sim, estou.

- Bem que me perecia! Tinha reparado! É que te fica muito bem! Estás muito melhor porque a cintura continua fininha, estás é a usar o tamanho acima de soutien, não estás? Nota-se! Vê-se! Fica-te muito melhor!

- O quê?! Se não paras com essas conversas paras aqui o caro e vou com eles!

- Aqui na auto-estrada?! Está bem eu calo-me. Pronto... esquece! Mas tinha que tentar, não era? Nunca me deste importância, nem deves ter sentido saudades minhas enquanto estive na Austália.

Parou por ali. Isso parou. Aquele tipo de conversa, não o carro.
Não tive saudades, pois não. Quer dizer... até tive. Saudades da ajuda dele, do riso, da boa disposição, das conversas inteligentes (não sei para onde foram!!!), de SMS ´s patetas enviadas durante reuniões importantes, até dos olhos bonitos que tem, da amizade, da paciência... saudades de uma pessoa que não me parece esta.

Que pena!
Que pena que alguns homens se revelem assim, tão básicos, tão elementares.
Se calhar o problema está em mim. Se gostasse dele - se gostasse doutro modo - , se calhar, não teria achado inconveniente nem básico, tinha-o achado espirituoso, encantador ou qualquer outra coisa do género.
Se calhar a diferença nem está nos homens, está em nós!

12 comentários:

Miguel disse...

Ok...Quando assim é, pode-se teorizar, como fizeste agora. Mas não vale a pena perder muito mais tempo com isso. Afinal é um "ex" tudo. Agora importante mesmo, perdoa-me é o que diziam as inscrições na Sé?

maria disse...

Pode até ser básico, mas se ele fosse o tal, se calhar tinhas visto a conversa com outros olhos e até te tinhas rido, não era? Isto está neles e na maneira como nós os vemos...

Anónimo disse...

É como dizes: se ele fosse o tal...
Provavelmente também haveria outro tipo de intimidade que permitiria tal conversa, assim... mais um ex.
Beijinhos e Bom Natal!

Sara MM disse...

ora ora... o problmea está neles, claro! nós somos perfeitas :o)
lol
espero que já tenhas recuperado do balde de água fria... ou do ar de carro quente... ;o)

BJs

Anónimo disse...

Pois, ás vezes é mesmo a maneira como encaramos as situações que muda tudo... mas esse... mais valia estar calado! Bjinhos.

Clara disse...

Primatas, é o que é... ainda os há e não são objecto de estudo...

Fica bem

André Parente disse...

Coitado do rapaz! Tinha que tentar, não é... ;)

Rui disse...

Essa do "tinha que tentar" deve ser alguma coisa lá de down under... vou apontar no meu caderninho, nunca se sabe quando poderá dar jeito.

... já ia teorizar sobre "nós, os homens", ainda bem que não o fiz. :)

Oumun disse...

Bem "até podia tentar" mas ha formas e formas.... essa do aumentar o ar quente para sugerir que se tire a roupa foi a primeira vez que ouvi...

Enfim... homens!!!
Também deixa lá que não tens muita sorte aparece-te cada um ;)

beijoquinhas

Anónimo disse...

Vou ser muito franca contigo! Desculpa lá!
Das duas uma!
Ou tu estás apaixonada, não por ele, claro (nem consigo descubrir por quem), e já não seria de hoje, mas não queres admitir se calhar nem a ti pópria, ou estás doida! Sim porque com o ar condicionado quente ou não aquilo não é um homem é um Deus! É lindo, lindo, ganha bem, é educado, de boas familias, muito requisitado e ADORA-TE caramba! Ah e também gosto do Audi TT, mas já sei que tu nem por isso!
O desgraçado ainda mal tinha aterrado e vai atás de ti lá não sei para onde (para aqueles sítios que nem vêm no mapa mas que tu adoras tanto) e tu fazes isto!?
Ai amiga, amiga...
Pronto agora zanga-te lá comigo, anda!

Catarina

Raquel Vasconcelos disse...

Ahahahahah!
Por vezes a abordagem estraga tudo! Ou talvez nós desejemos que seja a abordagem a estragar tudo...

Mas realmente não foi uma abordagem de homem inteligente... foi de quem está habituado a ter o que quer...

Claro que depois do post anterior fica uma dúvida no ar... Mas cá para mim... deixa-o suar mais um bocadinho ;)

Bom Natal!

nelsonmateus disse...

ah! ah! ah! este post 1 espectáculo!

mais d k isso, nã vou dizer com receio d ser classificado numa categoria k nã foi definida no início deste post. :S