sábado, 3 de setembro de 2005

[In]Decisões...

Há algum tempo que não falava com a minha amiga C. Há muito tempo, para ser toltalmente sincera.
Mandou-me uma mensagem, há uns dois ou três meses, a informar-me do novo endereço de mail. Depois disso uma SMS a dizer que ia, a partir do dia seguinte, mudar de operadora e, consequentemente, de número de telemóvel.
Nem nunca respondi. A nossa amizade é daquelas que dispensam muitas palavras. Ambas sabemos disso. Podemos estar muito tempo sem uma palavra, continuamos amigas como sempre. Se uma precisar, a outra salta imediatemente da sombra e aparece para ajudar.

Telefonou-me. Perguntou se podia fazer-me uma visita, imediatamente. E eu disse que sim, contente com a perspectiva de matar saudades que, afinal, sentia. Mas, lá no fundo, sabia que por detrás desse telefonema devia haver haver alguma coisa que a atormentava. Não era daqueles telefonemas idiotas e despreocupados do costume, às vezes de horas. Este era sucinto, preciso.
Sabia e não estava enganada.

Chegou com um sorriso - o do costume, de há anos - mas os olhos tristes e umas olheiras que a pele clara não permite esconder. Podia não ser nada. Ela é toda sensibilidade... Mas era.
Sentamo-nos por baixo dos ramos da pimenteira. Ela insistia em por os pés dentro da água verde da piscina, que espera em vão ser mudada.

Saltamos de assunto em assunto, mas eu bem sabia que havia de surgir "o assunto", o tal, o que a levou a procurar esta conversa.
Balançava os pés dentro da água e começou por dizer:

-Sabes? O J. vai viver para outro país.

Fiquei calada à espera que dissesse mais, porque me parecia que precisava mais de falar do que de ouvir. Percebi que ia acontecer uma de duas coisas: ou ela o perdia, ou perdia o amor ao trabalho dela, se decidia a viver a milhares de quilómetros da família e dos amigos, fazia as malas e ia com ele.

Falou, falou... Contou que ele estava muito entusiasmado e do quanto isso a alegrava, falou de como não saberia o que fazer da vida sem ele, mas também do medo da mudança, de sentir falta das pessoas, dos locais, até da comida.

Muito tempo depois reparou que eu me limitava a abanar a cabeça e perguntou-me se não dizia nada.
Preferia não dizer. Era ela que tinha que tomar a decisão. Era uma opção que tinha que ser dela - só dela - precisamente por ser difícil e importante.
Respondi-lhe que era ela que tinha que tentar perceber do quê que gostava mais. E que, ainda assim, se fosse viver noutro sítio continuaria a ter família e amigos.

-Mas... tu ias, não ias? Claro que ias!

Pois ia. Claro que ia! Mas isso era eu.
Ela é ela. Não queria empurrá-la para uma situação que não sei se será a indicada para ela.
Riu-se, respirou fundo, e disse que ia. Pediu-me só que a visitasse e eu prometi que sim. Sem sacrifício! Mas fiquei com medo de ter contribuído para uma resolução que nada me garante seja a certa para ela. E não dormi muito tranquila.

10 comentários:

39 disse...

No fundo, a tua amiga estava tentada a viajar e ver até onde conseguia ir...
É preferivel que se arrependa por ter tentado, do que arrepender-se daquilo que desconhece.
Sem culpas Margarida!
Beijocas grandes e bom fim-de-semana!

daqui disse...

achei esta história muito curiosa, sendo eu emigrante também e passando eu a vida a pesar o regresso a casa... Ocorrem-me duas coisas: um bilhete de avião normalmente não é só de ida (poucas coisas na vida são "definitivas"); "experiência não é o que nos acontece mas o que fazemos com aquilo que nos acontece". Felicidades para a amiga!

Anónimo disse...

Decisão muito dificil essa. Por vezes mais para uns, do que para outros. À uns anos vivi uma situação parecida, em que pensei em abandonar tudo para seguir o amor. Iria-me custar muito, não sei se conseguiria... mas não precisei de o seguir, ele veio para o pé de mim.
Quanto à tua amiga, o coração vai-lhe aconselhar e vai falar mais alto do que a razão. Apenas ela poderá tomar essa decisão. Não tenhas medo, concerteza não a influenciaste, apenas foste uma voz amiga que ela precisava de ouvir. Força para a tua amiga!

Jolie disse...

Pois eu acho que podes dormir tranquila. Afinal tu nem lhe disseste algo de novo. Ela já sabia que se fosses tu ias talvez sem hesitar... no entanto, ao procurar-te ela procurou essa tua versão, talvez como apoio na sua tomada de decisão.

Um beijinho
Sandra

Sara MM disse...

E se ía.. se vai... é pq o amor é muito forte... masi forte que tudo! E isso é bom, por muitos males que acarrete...
BJs

Oumun disse...

Olha que agradável surpresa ;) A senhora importa-se de avisar as pessoas que voltou a escrever :) fico contente com a decisão!

No dia em que numa amizade não se dê um conselho sincero então é porque ela vale muito pouco:)

Um bjinho grande para ti e acho que a tua amiga fez muito bem eu fazia o mesmo :)

nelsonmateus disse...

nã sei porkê, mas após ler este post ocorreram-m as seguintes palavras ... "Ev'rything's gonna be alright"

jocas

http://www.bobmarley.com/songs/songs.cgi?nowoman

Lucia disse...

Eu acho que ela bem lá no fundo já tinha tomado essa decisão e procurou-te porque precisa de alguém que a ouvisse e a apoiasse, por isso acho que não deves sentir culpa de nada, pois fizeste o que qualquer verdadeira amiga faria.
Beijinhos

Clara disse...

Voltei a espreitar e reparei que, pelos meses, o teu blog tem 1 ano, ou quase!!! Beijos grandes e parabéns!

Anónimo disse...

Acho que podes dormir descansada, porque afinal de contas tu ouviste-a e aconselhaste-a da melhor maneira possivel.
Mas só mesmo ela é que pode decidir a vida dela, não é verdade.
Bejokas e boa sorte para a tua amiga