sexta-feira, 4 de fevereiro de 2005

Meninos de Luz

Ontem, enquanto a laringite me obrigou a ficar na cama, lembrei-me de um artigo que tinha lido há tempo mas que, tanto pelo momento como como conteúdo, me marcou muito.
Levantei-me fui buscar a revista que, apesar de ter quase um ano, sabia onde estava, e resolvi que hoje não ía falar de mim - ou talvez vá! -, hoje vou deixar aqui um texto dedicado a todas as mães, futuras mães, àquelas que nem pensaram ainda em ser mães... e também aos pais. Mas sobretudo às mães que perderam filhos. Porque há coisas que devem ser ditas e eu nunca ouvia ninguém dizer melhor!
Mas sem tristezas; com um sorrisso cheio dessa... Luz!
Meninos de Luz
Dizem que são as crianças quem escolhe os pais.
Dizem que são pequenos seres de luz que andam pelos céus, a flutuar pelo ar à nossa volta e que observam formas de narizes, avaliam a honestidade dos sorrisos, analisam as intenções de cada olhar ou a forma de uma mão, para finalmente dizerem, na sua linguagem mágica e incompreensível: "Este sim, esta não, este talvez me faça crescer".
Eu acredito nisso. E talvez por isso mesmo tenho pena dos homens.
A força de uma criança na barriga é simplesmente o poder da luz a crescer cá dentro.
Nós sentimo-la desde o primeiro dia.
Uma mulher sabe quando a luz resolveu escolhê-la.
Fazemos amor muitas vezes.
Mas um dia chaga em que aquele acto de amor foi realmente diferente. Por isso damos por nós a chorar. De alegria. Porque sabemos que ela já cá está.
A primeira vez que a luz acontece a uma mulher ela percebe que existem sensações inenarráveis. Aprende o prazer de guardar um segredo precioso. O gozo da surpresa dos outros quando ela já sabia há tanto tempo.
Esta luz estica, abana, dá beleza ou abafa-a egoisticamente só para si. Provoca-nos enjôos, embate contra nós às horas mais disparatadas do dia e da noite, afasta-se suavemente quando pressente que fazemos amor com aquele que ela escolheu para seu ser seu pai.
Quando uma criança nasce e é colocada sobre a mãe, a pele serve de veiculo condutor dessa força que nos electriliza mais uma vez e daí para o resto da vida.
Não é por acaso que as crianças vêem anjos, dizem coisas extraordinárias ou nos confortam em certos momentos como se fossem almas velhas e sabedoras. É que são mesmo.
Eu já perdi uma luz, uma vez.
E foi assim mesmo.
Como se me apagassem por dentro.
Logo eu, que tenho tanto medo do escuro.
"Meninos de Luz", texto de Alexandra Quadros, in Egoísta, nº18, Março de 2004

9 comentários:

39 disse...

Magnífico texto. Apetece guardá-lo para mim...
Obrigada por teres partilhado connosco esse momento de grande beleza.
Beijocas e votos de melhoras rápidas (eu tb estou a recuperar de uma crise dessas... )

Anónimo disse...

Olá Margarida, quero desejar-te as melhoras e obrigado pelo texto! Adorei! Gosto de ser mulher...
Rita (http://asminhascamelices.blogs.sapo.pt)

Anónimo disse...

Tão lindo... não consigo dizer mais nada.
Sofia (Coimbra)

C_de_Ciranda disse...

Lindo, Margarida... Lindo!! Até aquece a alma ler-te, mulher. Um beijinho grande e as melhoras completas dessa coisa que te atirou a cama. Abraços apertados.

*** Ciranda

alma disse...

Gostava mesmo de ter sido eu a escrever este textinho lindo!

sandra disse...

Muito bonito, este texto!

dinorah disse...

ola' linda!
Fiquei impressionada...
Obrigada por partilhares connosco esta pequena maravilha!
Muita força para todas as mulheres que lutam nesta busca!!
beijos a todas e um especial para ti!
bj

mena disse...

espero que já tenhas mandado esse virus dar uma volta :)
beijinhos
t&v

dinorah disse...

ola' Maragrida!
Andas desaparecida?
muitos beijos, volta logo com os teus carinhos!
bj