quinta-feira, 18 de outubro de 2007

[Quase] Exclusividades

Encontrei, por acaso, uma senhora de uma aldeia escondia de Trás-os-Montes. E encontrei-a por detrás de um tear com muitos anos, a tecer um tapete como se fazem há séculos, com a lã dos rebanhos que pastam por aquelas serras de clima agreste, tingida e fiada como há séculos.
Encontrei-a por acaso, aqui pertinho, com esse tear. Amanhã volta ao seu sítio. Hoje perdi [ganhei] mais de uma hora, enfeitiçada por aqueles movimentos e embalada pela sua conversa ritmada e suave.

Deparei-me com um tapete grande, feito assim, e foi amor à primeira vista. Quero um desses para mim, talvez um nadinha maior. Mais tarde, porque agora não tenho onde o pôr.

A aldeia, que ninguém conhece, conheci-a eu, logo no ano em que comecei a trabalhar na tese de mestrado. Encontrei-a num pergaminho muito amarelicido pelos seus mais de setecentos anos. O nome era muito estranho, fixei-o.
Encontrei-a depois, muitas mais vezes.
Conheço-a tão bem que a senhora se admirou com o meu sorriso quando me disse de onde era: De X?! conheço tão bem!
Pois, conheço. Muito bem. Mas nunca lá estive. Mas conheço-a de olhos fechados, há séculos. Se calhar continua quase igual.

Os tapetes são lindos, os materias são os melhores, a forma como são confeccionados uma preciosidade e o sítio onde são feitos, um paraíso perdido. Os preços, até são baixos.
Eu quero um para mim, pois. Mais tarde. E hei-de ir lá buscá-lo, àquela senhora tão simpática, àquele sítio tão longe, onde nunca estive mas conheço tão bem.
Quero um tapete desses e nenhum outro, porque há coisas que se encaixam como peças de puzzles, como se tivessem sido destinadas assim e não de outro modo, mesmo que seja apenas um tapete.

9 comentários:

daqui disse...

tão bonito o que contas! e é isso mesmo, "como peças de puzzle".
beijinhos!

CGM disse...

Ai Margarida, como adoro esses "achados". Sorte a tua descobrires essa aldeia "perdida"...

Já me aconteceu programar com tanto afinco uma viagem, que antes de ir já "comheço" ao que vou. Mas olha que às vezes temos surpresas, mesmo apesar das imagens, das descrições, de tudo. Por isso é que tens de ir mesmo conhecer a aldeia. Vais ver que ainda há-de lá haver coisas para descobrires.

gralha disse...

E que bom teres podido parar essa hora para estar à conversa. Às vezes faz mesmo falta.

beijinhos

Joanissima disse...

Quando falas, quase sempre, sinto assim uma brisa nos meus cabelos, que me devolve a memória da minha Beira Alta, do meu Avô e das minhas lembranças mais belas.

Obrigada, Margarida.
Fazes-me (sempre) bem.

Anónimo disse...

Tão bom, tão bom, tão bom ler-te assim!!!
Sabes o que é pior?! É estar por cá, numa dessas aldeias ou rodeada por elas e não se ter essa relação com as coisas, com essas coisas. É estar cá e não conhecer a terra tão bem como conheces essa onde nunca foste...
Não falo por mim, ainda que pudesse ter uma relação mais próxima. Mas a relação que tenho trouxe-ma o trabalho que faço e que obriga a esse aproximar das pessoas e das coisas. Custa-me que muitos, tantos, não a tenham!
Beijinhos!

Ana disse...

Tenho pena de nao conhecer quase nada do meu pais, sem ser aquelas rotas turisticas pouco ou nada conheco.
Sorte a tua Margarida.

Unknown disse...

É tão bom saber que ainda existem pessoas e lugares assim.

Mocas disse...

Que lindo texto, Margarida.

rosa disse...

também eu tenho uma aldeia perdida em trás-os-montes, onde nunca estive, a aldeia da minha mãe, que eu nunca vi. também ela perdida. e eu.