segunda-feira, 6 de março de 2006

Possession

- Vi ontem um filme que tinha tudo a ver contigo. Até fiquei arrepiada!

Foi o que uma amiga me disse, a meio da manhã, ao telefone.
Uma vez disseram-me isso a respeito de um livro. E era verdade. Tirando algumas coisas, quem me conhece bem, encontrava-me numa personagem desse livro, por acaso, com o mesmo nome.

Em relação ao filme há uma parte de verdade, sim. Apenas uma parte; a mais comum, a menos sedutora.

Por acaso vi o filme ontem à noite, e por acaso, gostei muito dele.
Haverá filmes mais bem feitos, mais conseguidos, com melhor enredo... em suma, melhores. Haverá até filmes de que possa gostar mais mas, de facto, neste revi-me um bocadinho.

Sem qualquer pretensão de ser, nem de leve, comparada com a beleza celestial da Gwyneth Paltrow; e sem ter a ilusão de viver um romance de livros de contos, como acaba por ser o dela, identifiquei-me com tudo o resto. E, tudo o resto é, para quem o vive, muita coisa.

Foi bom perceber que não sou um bicho raro.
Que há vidas iguais à minha; pessoas que viram do avesso arquivos, fazem quilómetros e quilómetros, perdem noites de sono, se entusiasmam com um indício - um simples indício - deixado por alguém que, tendo morrido há muito tempo, tentamos trazer de novo à luz do dia.
É normal, pelos vistos. Não me acontece só a mim!

Também são normais as guerrinhas no meio académico, as traições, as rasteiras, a ambição cega... essas coisas que, apesar de toda a paixão pela investigação, me deixaram sem vontade de me deixar enredar por inteiro nessa realidade.
É normal; não sou só eu que as vejo.

Também é normal acabarmos por nos envolvermos com alguém com quem temos cumplicidades académicas, com quem dividimos trabalho, interesses, conhecidos, livros, informações, programas de congressos... por alguém que faz parte desse grupinho fechado.

Também é normal, concluirmos, um dia, que isso se esgotou e que nunca foi bem a mesma coisa para os dois. Olharmos para trás e concluir que demos demais, que essa pessoa até nem é sequer uma boa pessoa. Concluir só; sem sobressaltos.

Assim como é normal tornarmo-nos assim, receosas e com um toque leve de incredulidade, em questãos amorosas a partir daí. Normal que nos defendamos. Até quando defendermo-nos significa evitá-las a partir do momento exacto em que deixam de ser apenas sonhadas, desejadas e se tornam, simplesmente, possíveis (sim prima, tens toda a razão! O longe é a minha defesa preferida: longe no espaço e longe nas possibilidades).

E até é normal ter uma ligação assim, quase telepática, com uma trisavó, descobrir os seus muitos segredos e histórias e quase viver um bocadinho a vida dela.

Afinal... até sou normal!

22 comentários:

Anónimo disse...

E como comentar esta "abertura da alma"? Tb vi o filme e, por incrível q pareça, pensei na Margarida (pela parte de pesquisa histórica). A Margarida pode n ser a actriz do filme, mas deve ser pouco bonita, deve... pela quantidade de fãs a oferecerem os seus préstimos! E a personagem será a Emma do livro da Jane Austen (q por acaso adoro)? Quanto ao envolvimento com pessoas que partilham as nossas paixões, tb isso é normal. Nem sempre é fácil "escrutinar" os sentimentos, mesmo qd sabemos q essas pessoas não são dignas dos nossos afectos. Gostei mto deste post. Muito. Abraço da Guerreira

Dani disse...

Também vi esse filme. Não me inspirou tanto reconhecimento como o fez contigo, talvez por eu trabalhar numa área diferente. De qualquer forma, a forma como se dá a aproximação dos dois, não é assim tão incomum em meios que proporcionam este tipo de proximidade. Não conheço o teu caso, nem pretendo conhecer. Mas, sou levado a crer que começas-te e eventualmente acabaste, pelas razões erradas. Dizer que nem sempre se passa assim, não é como é óbvio o que precisas de ouvir de certeza. Mas o distanciamento de tudo o que te possa fazer sofrer, ou não, não será talvez uma solução demasiado radical? Peço desculpa por me estar a meter onde não sou chamado.

Será talvez melhor não esquecer que "Por trás das nuvens o sol continua a brilhar".
Bjs

reborn disse...

Não percebo quem diz que não és normal !
Tu és normalíssima, jamais te envergonhes daquilo que és !
Beijinhos :)**************

Tamia disse...

Não te conheço, não sei se a história do filme é a tua história, mas ao contrário de outros, ser normal até é bom! Faz parecer que fazemos parte de alguma coisa!

maria disse...

eu acho uma piada a esta conversa da normalidade! e eu que também caio nela muitas vezes? mas afinal o que é normal? e quem é normal? eu quanto mais olho à minha volta menos normais vejo...e isto porque acho decididamente acho mesmo que a normalidade não existe!
Bs

zeliaevora disse...

Ora ora, porque não havias de ser normal???? Pareces-me até muito normal... o que não significa que sejas tb especial:)

bjs
Zelia

ps. isso do normal tem muito que se lhe diga, ó se me conhecesses!!!!

NaRiZiNHo disse...

Não vi o filme :(...eu bem queria, mas o Gajo cismou que o do Premium era melhor :(
Agora fiquei tiste
Bahhhhh...e curiosa Maragarida!!!! Não conheço a história. Bjs.

Miguel disse...

Um post de veludo, como de costume. Lamento Margarida, se normal for comun, não te enganes...és bem anormal.

;-)
Bj

Dulce disse...

Gosto de ler.
Gosto de tudo o que foge da norma e se liga mais à NOSSA verdade do que ao que seria conveniente.
Ou, como diz a Adriana Calcanhoto, "não gosto do bom gosto!"

Anónimo disse...

Não vi o filme mas sou como tu: longe da vista, longe da haver qualquer possibilidade...

E normal ou não (afinal o que é ser normal?) eu tenho a certeza que tu és uma pessoa especial pelo que deixas transparecer naquilo que escreves.

Bjs

Vilma disse...

O que é ser normal, afinal? Cada pessoa é única e tem a sua própria identidade e isso é que é importante. E tu és única! :)
Quanto ao filme era para o ter gravado apra ver e esqueci-me...! Tenho que o alugar! Agora fiquei mais curiosa ainda!

gralha disse...

Também vi o filme e tocou-me muito pela imensidão daquele amor romântico, feito de cartas, mensagens, detalhes e pequeninas coisas em comum... E por me ter feito acreditar que isso ainda é possível no séc. XXI. Infelizmente, muitos ainda tendemos a ter a atitude inicial do protagonista, de rejeitar a possibilidade de entrega total numa relação.

amiguita disse...

Parece que o filme foi feito à tua medida.

Beijinhos

Rui disse...

Lembro-me de há uns anos querer ser normal, de perder tempo com isso; é que não sabia como o fazer.
Um erro, claro. Basta sermos nós e limarmos as arestas.

E depois, não faz falta uma quanta anormalidade nas nossas vidas?

kikas disse...

E eu vou ver o filme o mais rápido possivel para te conhecer um pouco melhor :-)
Tenho a certeza que me vou lembrar muito de ti quando o estiver a vêr :-)

Anónimo disse...

Gosto bastante das hostórias com um grande toque de realidade, que nos poderiam acontecer! Acho que nos entram melhor no coração. Bjocas.

Sara MM disse...

bolas.... que te posso dizer perante um texto e sentimentos tao fortes, lindos e esclarecidos/esclarecedores?!??!!

olha... beijinhos!!

Marta disse...

Fiquei super curiosa de ver o filme... Não tenho ido muito ao cinema... (quando tinha tempo chegava a ir mais que uma vez por semana...)
Como não vi o filme, não posso comentar este teu post (lindíssimo) como gostaria, mas posso dizer-te que, por muito estranhos que nos sintamos, há sempre alguém - SEMPRE - com quem nos podemos identificar, que nos faz sentir NORMAL! :)

Muitos beijinhos!!

Xuinha Foguetão disse...

Não vi o filme, mas quando o vir vou pensar em ti.

Margarida,

acho que ser normal é muito relativo...
E nem sei se isso é importante ou n?

Beijocas grandes.

Clara disse...

Tenho de ver o filme.

1 beijo

tomodoro disse...

Não vi o filme. Gostei do teu post. És tão normal quanto todos nós e tão anormal quanto todos nós. Todos nós, principalemente todas nós temos as nossas coisas, as nossas manias, os nossos sentimentos, afinal somos nós. E só nós.

Beijinhos

Mocas disse...

pois é Margarida, o filme não é nada de especial, mas também me soube muitíssimo bem vê-lo...e olha que eu, à hora que ele deu, já estou mais para lá. Estava a arrumar umas coisas no quarto e temos lá uma tv pequenina, o filme já estava a dar...comecei a deitar um olho, depois outro...às tantas estava sentada em cima da cama, com uma "trouxa" de roupa suja no colo...fui fazer um chá à pressa e transferi-me para a sala, para ver aquilo como deve de ser. Adoro quando os filmes me cativam assim, mesmo quando o enredo é cor-de-rosa ou pouco consistente.
Quanto à paixão pela investigação, sei bem do que falas, conheço esse bichinho carpinteiro, que está actualmente adormecido em mim.
Quanto à guerrilha académica, abomino-a simplesmente. E foram essas traiçõezinhas que ditaram parte do meu destino profissional e pessoal.
Quanto ao resto...o que é que é normal. Tudo é normal, é a Nossa normalidade.

Beijinho grande