Os amigos são uma coisa muito boa. Eu gosto muito dos meus amigos - pois claro, senão não seria amiga deles.
Na verdade tenho muito mais amigas do que amigos mas, tenho que usar o termo no masculino, por respeito a eles, coitados!
E, depois destas verdades de Seigner de la Palice, podia continuar com outras. É verdadeiramente dificil não continuar.
Há também uma diferença subtil entre se ser amiga de alguém, e esse alguém ser nosso amigo. Uma diferença subtil que... faz toda a diferença!
Quando dizemos: O meu amigo, X, ou K, ou Y; não queremos dizer, realmente, isso. Deviamos antes dizer: A pessoa A, B ou C... de quem sou amiga. Porque há diferenças, sim!
O facto de gostarmos muito de alguém, não a transforma automáticamente em nossa amiga, tranforma-nos sim, a nós, em amigos dessa pessoa, e isso pode causar grandes dissabores.
A amizade é como o amor. Quem é que nos meteu na cabeça que, se gostamos de alguém, esse alguém deve gostar de nós, com toda a certeza, do mesmo modo?!
Ah pois, mas isto são divagações. Não era nada disto que me estava a ocupar a atenção agora.
O que tenho andado a remoer desde que fiz um telefonema a desmarcar uma saída, é na quantidade de tempo que é exigido que dispendamos, com regularidade, por cada amigo.
Não chamo amigas a muitas pessoas. Distingo muito bem "conhecidos", com quem até possa ter um bom relacionamento, dos "colegas", e estes dos "amigos", com quem, irónicamente, posso até nem ter um relacionamento muito pacifíco em determinadas alturas.
E também não sou uma amiga disciplinada, que telefona, escreve e visita com regularidade. Posso esquecer-me de aniversários - coisa mais do que comum! - , posso estar meses, e até anos, sem telefonar, responder a um email, ou fazer uma visita; posso não cultivar o hábito de ir em conjunto ao cinema, combinar almoços ou jantares. Posso, e sou assim mesmo.
A minha amizade não se mede através destes parametros. Não se mede pelas horas de chamadas telefónicas, número de linhas de emails, ou horas passadas em refeições. Na verdade, é difícil medi-la; mas quando gosto, gosto! E sou capaz de revirar o mundo por um amigo!
Se for preciso, se sonho que é preciso... largo tudo e reapareço, de mangas arregaçadas para enfrentar o que quer que seja! Que ninguém toque em alguém de quem eu goste!
Não gosto que me cobrem tempo, que me obriguem a dar desculpas e explicações para certas coisas.
Não gosto que, um grupo de algumas pessoas com quem trabalhei durante sete meses, insista demasiado comigo para sair com eles, pelo menos, um dia por semana. Detesto!
Gosto das pessoas mas não quero entrar nesse esquema de obrigações.
Tinha vida antes de os conhecer, não deixei de a ter. Tinha pessoas de quem gostava e com quem estava, de vez em quando, quando calhava, quando queria, quando...
E os meus tempos livres são, religiosamente isso: livres.
Senti-me sufocada quando tive que inventar desculpas para me escapar algumas vezes, senti-me pior ontem, quando telefonei para lhes dizer que hoje não contassem comigo, que precisava do dia para mim (já tinhamos passado o fim-de-semana passado juntos!; já tinham passado cá por casa na Quinta-feira) e me disseram que então iam desmarcar, que passavam para o fim-de-semana seguinte; e quando senti a necessidade de explicar os meus planos para os próximos dias para perceberem que não há espaço.
Não, não quero ser obrigada a sair com eles todos os fins de semana e algumas noites durante a semana.
Não quero, nem posso!
Tenho os outros, quase todos mais amigos do que eles, que não me cobram nada; tenho a família, tenho os meus gostos e as minhas coisas; tenho a necessidade de me sentir durante algum tempo sem correntes e obrigações, que para isso basta a semana de trabalho; preciso de levantar-me à hora que quero, falar com quem me apetece, fazer o que me apetecer, ou até não fazer nada nem estar com ninguém.
Não sou insensível; sou até terrivelmente piegas e sentimental, mas sei que uma amizade não se mede assim, em horas; que uma amizade não é uma obrigação, um peso; que não se exige; que não se cobra, que não sufoca.
Se a amizade fosse convertida em horas então teria menos tempo ainda para eles porque já existiam outras pessoas.
Bom... posto isto... sim, a amizade é uma coisa preciosa; das coisas mais preciosas na nossa vida, e os afectos são uma coisa e as obrigações outra.
Se bem que nos afectos também nos sentimos obrigados, mas expontânea e agradávelmente obrigados, obrigados pelo coração, só!
23 comentários:
quem isso não compreende, não pode ser amigo. Além disso, a amizade ao contrário do amor, admite partilha com outros, até com muitos outros e portanto deve dar espaço. Acontece é que, por gostarmos muito de alguém por vezes queremos estar muito tempo com essa/essas pessoa/s. Mas o outro pode estar em diferente comprimento de onda. Daí que, até nos afectos o bom senso deva pervalecer. Mas a mim, perdoa-me o abuso, parece-me isso mais o reconhecimento de muita gente na boa amiga que és. E pode sufocar, não é?
Um amigo custa um milésimo de segundo. Um amigo custa todas as horas da nossa vida. Um amigo ´e extraordináriamente caro, e maravilhosamente gratuito. Parabéns. Muito bonito e verdadeiro. bjs leonor
Belo texto, gostei mesmo muito. Nota-se que não és hipócrita e isso é muito raro hoje em dia.
Beijinhos grandes :)************
eh!eh! estamos mesmo sintonizadas no mesmo... passei a semana toda a dizer (em vários blogs e no meu) que a amizade é como o amor... e é, né?! por tantos motivos... têm tanto em comum!
e se os amores que cobram assim como dizes nao resultam, as amizades tb nao...
e como te compreendo! preciso tanto de espaço! gosto tanto de estar sozinha! e não quer conm isso dizer que... tu sabes, né?
BJss
Um amigo não pode cobrar!
Se tu não cobras isso aos teus amigos, será que aqueles que te combram são teus amigos? Não me parece!
Beijinhos!
Gostei do que li, e sinto-o da mesma forma que tu.
Um beijo!
como disseste, a amizade é como o amor.
sinto o mesmo sufoco que tu, a mesma chatice da obrigação, do compromisso. mas, tal como no amor, é preciso haver cedências. há feitios e personalidades diferentes, e da mesma forma que quero o meu espaço, reconheçon que por vezes cedo. cedo, porque também quero que cedam quando for a minha vez de dizer não.
dizer nãom constantemente, vota-nos ao esquecimento. e se há mesmo amizade, então, é para ser preservada. dizer que quem é amigo, é amigo sempre e compreende é facilitismo, quase a puxar ao egoísmo. a amizade teorizada é bem diferente na práctica, pois é feita por seres humanos com defeitos e sentimentos, por vezes, menos bons.
por isso, sou dono de mim, mas às vezes, só às vezes, faço o "frete" e preservo um amigo mais uns anos.
quanto tempo custa 1 amigo?
... nunca tinha pensado nisto
Até me arderam as orelhas quando falaste das "obrigações" da amizade porque sou muitas vezes acusada (com alguma justiça) de nunca ser eu a telefonar, de estar meses sem dar notícias... Sinto que a amizade verdadeira é como se estivesse tatuada em nós, não precisa de constantes confirmações, de "picar o ponto" em cafezinhos; mas o que é certo é que o nosso tempo é provavelmente um dos bens mais preciosos e se há alguém que o mereça - mesmo que seja para um vulgar telefonema - são os amigos de verdade. É um bocadinho complicado de gerir...
Beijinhos e boa semana!
Amigo é aquele que sabe quando tu queres estar com ele, que sente o mesmo que tu sentes por ele, que sabe que se estender a mão tu estás lá, sabe que se te ligar a meio da noite com um grande problema, tu estás lá para ouvir/ajudar... Amigo é aquele que sabe que está no teu pensamento, no teu coração, é aquele que embora não fale contigo no Natal, ambos sabem que o desejo de um Feliz Natal e um Bom ano Novo é mútuo...Amigo é aquele que em determinadas situações do dia, se lembra que existes porque essas mesmas situações o fazem recordar da tua existência e dos momentos únicos que passaram em conjunto....
Amigo é aquele que não tem a palavra Obrigação no seu dicionário, porque não a reconhece como palavra válida, sabedora e simbólica da vossa amizade.
Bjs (cada vez gosto mais do que escreves)
p.s.: Amigo=Amiga
Mas o amigo também pode ter ciúmes ... mesmo sem cobrar, mesmo sem querer...
Beijinhos
há uns anos atrás sentia-me um pouco sufocada pelos relacionamentos de "amizade" que existiam no meu trabalho.
Mudei de emprego e jurei que nunca mais iria permitir que tal acontecesse. Hoje, felizmente, tenho uma colega que pensa como eu e muitas vezes conto-lhe a ela coisas que não conto a mais ninguém. Incrivelmente não estamos sempre em casa uma da outra, talvez porque o nosso espaço está mentalmente delineado com a ajuda de muito respeito. Bem... não tem muito a ver mas foi só um desabafo!
1bj
Sempe foste assim e eu acho que não me consideras uma "sufocadora".
Mas aproveito para dizer que não se pode ter melhor amiga do que tu. Obrigada por todas as vezes que estiveste presente, mesmo quando eu não me queixava.
Em relação a esses amigos é preciso perceberes que um deles gosta demasiaddo (?) de ti e que provavelmente vê nessas combinações uma possibilidade de estar contigo mais tempo. Mas já sabes o que eu acho sobre ele e tu, que não é sobre vocês porque não queres.
Catarina
pensando bem ... prefiro comparar e avaliar os meus amigos em termo d chocolate
Se não fazes as coisas espontaneamente, é por que não te apetece... e se não te apetece... não as faças! Tanto nas amizades como no amor, tem de haver espaço para nós próprios, senão deixaremos de o ser. Bjocas.
Fonix, melgas do caraças!! Isso não são amigos, são lapas ;)
Não estou com uma das minhas melhores amigas há 8 anos. Nem nunca mais vou estar - nem falar, nem ver, nem ler.
Continua a ser uma das minhas melhores amigas e vai ser sempre.
Margarida, na amizade entram coisas que muitas vezes nao nos apercebemos. O lado subtil. Enfim, desejamos tomar posse sobre alguém (e com a melhor das intenções), sobre a opinião e sobre o tempo dos outros.Na amizade joga-se a liberdade afectiva, a liberdade do espaço. Deixar o outro ser quem é. Nao impor, mas propor.
Há dias li nao sei bem aonde uma frase q me tocou particularmente. Amizade é aceitar que o meu coração fique a bater sozinho para q outro possa ser quem (mesmo q isso passe por nao me escolher em determinadas situações)
Bom, nao quero alongar-me mais. Margarida posso fazer uma sugestão? Só achei o post demasiado longo...mera opiniao pessoal.
Obrigado :)
A amizade também é dar espaço aos nossos amigos! Adorei a sinceridade deste post, Margarida! :) Beijinhos*
Um verdadeiro amigo não cobra o tempo que passamos com ele.
Concordo contigo.
Bjs
Amizade é realmente como o amor... quantidades doseadas de todos os sentimentos, principalmente os de posse, de controlo,...
Amigo é aquele que passa despercebido grande parte dos dias, mas que está lá, que sabe como nos sentimos, que se lembra de nós nas situações mais absurdas, mas que provavelmente sai com outros....
Eu falo por mim... e pela NaRiZiNHo (posso?)... eu sou amiga dela e considero-a minha amiga... Mas se contasse as vezes que ela me liga, ou que saimos juntas ou que ela me fez chorar como uma criança...Seria minha amiga? Mas é! E das poucas a quem considero realmente AMIGA!
Mas acho que cada um vive e sente a amizade do seu modo... (in)felizmente.
Jinhos alemães (estou sempre a mudar!)
Gostei muito do que li, por isso é que tenho poucos. Identifico-me quase em cada palavra do que escreveste, mas penso que cada vez mais, ser amigo, para muitas pessoas, é algo mais superficial.
Paciência. Gosto deste valor que dou à palavra AMIGO e não amigo, como na vou-lhe chamar às tantas ou de certreza erradamente, gíria blogueira se tem verfificado. Mesmo aí, distingo as mais amigas das restantes.
Também nunca disse a ninguém que era normal, ou disse?
beijocas, amiga ;)
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