Em Outubro de 1676 nascia um menino. Chamaram-lhe João; como o pai. Os apelidos, esses, como acontecia nesse tempo, marcariam toda a sua vida.
Não era o primeiro filho; longe disso. Os pais tinham casado 21 anos antes e tinha já irmãos crescidos quando nasceu.
A infância, passou-a, protegido, perto do Cávado, a ouvir histórias de família; daquelas exemplares, que serviam para moldar caracteres. Contavam-lhe como um avô distante tinha preferido morrer, ali tão perto, a entregar o castelo que lhe tinha sido confiado; como ele tinha feito questão de vincar a noção de lealdade, do certo, da justiça, da honra ao filho, e este ao filho dele, e ao filho deste, e ao neto, e...
Contavam-lhe estas e outras histórias, muitas outras, que era assim que eram ensinadas as crianças. E ele aprendeu-as.
Fez-se homem por ali e nas vizinhanças. O seu mundo era limitado pelo Douro e pelo Minho.
E fez-se homem.
Tinha mais irmãos, mais velhos.
A família, ligada por laços estreitos à Casa de Bragança desde a sua origem, apontava-lhe o caminho. O caminho da Corte, que o mesmo é dizer o caminho de Lisboa.
E veio. Já cá tinha primos; as carreiras faziam-se aqui; alguns casamentos também. Era a vida dele, a de tantos na época.
Veio em 1706 e, um ano depois, casou com uma menina da Corte. Parece até que a amava.
Poucas vezes voltou às margens do Cávado. Hoje, 300 anos depois, o laço não se quebrou.
Parece que foi ontem. Os 300 anos são só a medida exacta das saudades que sinto no preciso instante em que volto para baixo.
15 comentários:
Nostálgica :)
Partir, é morrer um pouco...
Saudades das origens...
Bjs
Tambem nao sei que joâo é esse......
Na volta é conhecido meu...loll
Bjokas
Não tou a ver qum é., mas se calhar também não é para eu ver! Mas fiquei curiosa!! Bjocas.
Este João é meu.
Meu 8º avô. O responsável pela vinda da família para Lisboa.
Os apelidos, por questões mais ou menos óbvias, não vou revelar.
Tinha uma personalidade vincada e... eu acho-lhe graça.
Mas estou nostálgica, sim. Não estou triste, mas estou nostálgica. Quando estou lá, de onde ele veio, sinto-me sempre tão bem que me ponho a pensar se não têm razão, e se não devia mesmo voltar para lá.
É de lá que sinto que sou. Que me importa o pormenor da naturalidade no BI, o sítio onde cresci e onde estudei? É estranho haver um sentido de pertença que se sobrepõem a isso.
Admiro essa tua memória prima, eu mal me consigo lembrar do jantar de ontem, quanto mais de antepassados de há 8 gerações.
Bjs da prima
Olá Margarida
Cá estou eu novamente.
Tal como tinha dito, vim à procura do que encontrei ontem. Hoje no entanto, encontrei algo um pouco diferente, mas que não vai ficar sem resposta ;-)
O Minho?!?!
O Douro?!?!
Claro que sim!
Percebo bem, porque sentes que és de cá, é que o Norte - espero não ferir ninguém - tem outra essência, outra intensidade, outras cores, outro aroma no ar...
Mas quem escreve o que escreves sobre o Norte, nunca sai realmente de cá...
Parte de ti, fica!
Bejufas
Carla
Achei muito bonito, este texto... Acho fantásticas estas histórias de família que, mais ou menos emocionantes, todas as famílias acabam por ter...
A minha família, nessa altura, também era da região do Douro e, quando ainda hoje lá vou, sinto-me exactamente da forma que descreves. Como se procurasse qualquer coisinha que me possibilitasse não voltar para Lisboa...
Lisboa, à sua maneira, também tem os seus encantos e, tal como dizes, também foi em Lisboa que nasci e estudei... Mas... Tal como disse a Carla, as regiões de que falas têm uma mística qualquer que nos faz não querer vir embora...
:)
O João continua bem presente. Todos os dias volta a nascer.
Volta, tás perdoada.
;-)
Bj
Bem, mas tu sabes bastante da origem da tua família!
Vou ter de cuscar sobre a minha!
Só sei até aos meus avós...
Bjos
A minha familia é toda de Lisboa, também eu, quando estou fora, quero sempre voltar para "casa", a minha casa é o estrangeiro para ti.
Beijinhos
assim fica mais fácil compreenderes quem és...
uhauu... e já tens material para tese! lol
BJs
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