Quando é o próprio patrão a desencaminhar-nos é complicado trabalhar.
Quando o patrão é o pai, torna-se ainda mais dificil.
Depois de alguma insistência, deixei-me convencer e aceitar fazer uma pequena viagem familiar.
O cansaço ajudou a convencer-me mas, foi o facto de sair assim de repente, sem destino determinado que me agradou mais. Soube-me bem a ideia de ser transportada, sem saber para onde e sem preocupações.
Acabei por ir ao Algarve onde não ia desde pequena.
Guardava a imagem de um Algarve doce e bucólico, de mar azul, clima ameno, cheiros doces, vida tranquila...
Da última vez que lá estive de férias ficámos na casa de uns amigos. Perto da praia mas não imediatamente encostada. A água era proveniente de uma cisterna que estava no terraço da casa e era abastecida por um vizinho que a transportava num depósito que colocava numa carroça puxada por uma burra.
À noite os mais velhos sentavam-se em cadeiras no páteo e nós, os que na altura eramos pequenos, corriamos pelos campo vizinhos e apanhavamos alfarroba, figos e amêndoas.
O cheiro era doce. Doce como os figos que as pessoas tinham a secar nas açoteias.
E de dia lá passávamos horas no mar calminho.
E tudo isto não foi há um século...! Fui ainda há tão pouco tempo!!!
Quando estava a chegar pensei que ía encontrar o mesmo. As mesmas árvores, e casas, e pessoas.
Parecia que estava a chegar e... de repente comecei a ver casinhas abandonadas, árvores mortas, campos com mato descuidado, ladeados por milhentas vivendas incaracteristicas, lixo, desordem... e junto ao mar um outro mar, mas de betão.
Fiquei estarrecida! Não conhecia aquilo.
Foi tão estranho sentir que um sitio onde tinha brincado não existia. Tão estranho...
E, tirando o mar, que lá continuava igual... tudo era diferente, estranho e pior. Como se fosse outro país, mas pior!
Não percebo o que leva a pessoas para locais onde não há espaço, onde os parques aquáticos, os hotéis e os campos de golfe estão rodeados de zonas abandonadas ou degradadas. Não percebo!
Senti alivio quando deixei o Algarve para trás, mas senti-me também triste. Como se um espaço onde eu passei algum tempo feliz da minha vida tivesse simplesmente desaparecido. E ficou só a memória... sem suporte físico.
3 comentários:
Olha... então estás como eu que, depois de ter estado muitos e muitos anos sem lá ir, voltei lá para encontrar um Algarve que não conheço e que, hoje em dia, detesto. Agora - por causa da família paterna da Beatriz - vejo-me obrigada a passar lá 2 temporadas por ano e posso-te dizer que ao fim da 1ª semana já não me aguento lá.
Enfim, há gostos para tudo...
;) *** Ciranda
Eu detesto o Algarve! Não tenho essas lindas memórias como tu, por isso, ainda bem que guardas algo. Para a próxima sugiro-te a costa alentejana. Ainda se encontram uns recantos bem bonitos.
Um abraço
Sofia
Caras amigas, para que Algarve voçês andam a ir!? É que eu conheço outro... mais para Oeste.
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